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Unindo a consciência observadora a um acontecimento corporal O foco perceptivo da consciência pode ser vivenciado em uma condição de não

its self-imposed limits.

1.4.2 Unindo a consciência observadora a um acontecimento corporal O foco perceptivo da consciência pode ser vivenciado em uma condição de não

intencionalidade motora, o que causa uma espécie de união entre a consciência e o movimento. A fenomenologista Elizabeth Behnke trabalha essa questão em um de seus textos, intitulado Matching (BEHNKE, 1995). Nesse texto, Behnke considera que essa união é uma técnica da Educação Somática utilizada com o propósito de causar mudanças espontâneas no sistema neuromotor envolvendo o todo cinestésico corporal. A espontaneidade, no caso, é referente ao fato de ocorrerem mudanças sem haver a participação da vontade, sem que haja intencionalidade motora. A essa técnica ela deu o nome 'matching'. O verbo inglês 'to match' tem as seguintes traduções para o português (dentre outras): "1. igualar, emparelhar. 2. casar, unir-se. 3. equiparar [...] 7. combinar"130. Optei por usar 'união' nos momentos em que faço referência a essa técnica usando o português. Observemos uma explicação que sinteticamente apresenta o processo que corresponde a essa técnica:

Em sua forma mais esquemática, pode-se considerar que a técnica matching consiste de três partes: (1) consciência [atenção] de algo no nosso próprio corpo; (2) um ato interior de unir ou alinhar nós mesmos com isso; e (3) permitir que algo mude. Na prática, essas partes podem fluir juntas (BEHNKE, 1995, p. 319, tradução nossa131).

Essa técnica, segundo Behnke, é a chave para a sabedoria do deixar fluir. Tem-se como prerrogativa a realidade de que, quando a consciência se une a algo corporal, o corpo sempre irá procurar, espontaneamente, os melhores caminhos rumo aos possíveis ajustes tônicos e posturais referentes a esse algo. Analisando detalhadamente as etapas do procedimento (as quais podem ocorrer também simultaneamente, conforme colocado por Behnke), observamos que na primeira etapa o matching consiste em uma espécie de identificação, por parte da consciência, de alguma faceta da experiência corporal vivenciada no momento. Há algo que se identifica, como uma forma, uma tensão ou um movimento -

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[...] a process that constitutes its own unity and continuity by constant self-regulation. The

externalized 'body' seen by the third-person observer is the living product of this continuous somatic process.

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Michaelis Dicionário ilustrado, v. 1.

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In its most schematic form, the matching technique may be said to consist of three parts: (1) awareness of something in one's own body; (2) an inner act of matching or aligning oneself with this; and (3) allowing something to change. In actual practice these can flow together

algo do qual se está consciente. Direciona-se a consciência para esse acontecimento, a fim de observá-lo. Observa-se, por exemplo, a forma que uma parte do corpo está ocupando no espaço. Se a parte do corpo for a perna, a pessoa poderá identificar a forma circunstancial que a perna está configurando em determinada posição corporal, ou a forma da própria perna. Se a auto-observação é voltada para o tônus de determinada parte do corpo, a pessoa irá identificar e observar a qualidade desse tônus. Se o foco da auto-observação for um movimento, poder-se-á identificar se ele é fluido, ou se é obstruído. As possibilidades de identificaçãou ou reconhecimento são muitas. Nas palavras de Behnke:

Digamos que eu tenha decido praticar matching. Talvez eu comece por deixar de lado tudo o que eu estiver fazendo, passando apenas a permitir que o sentimento do meu próprio corpo tome mais profundamente minha consciência [atenção]. Eu não tento, de nenhum modo, relaxar ou corrigir minha postura, mas simplesmente deixo-me tornar-me consciente do que quer que exista para ser sentido, exatamente como isso é, recebendo isso com uma atitude calma - "oh, que interessante" - ao invés de ter uma atitude crítica ou que tente detectar erros. Normalmente, uma coisa ou outra irá despontar - um sentimento de retesamento em alguma parte do corpo, por exemplo, ou uma consciência [atenção] relacionada a alguma forma particular, assim como o sentimento de um ombro estar levemente virado para a esquerda. (BEHNKE, 1995, p. 319, tradução nossa132).

Nessa fase inicial do processo de matching, conforme enfatizado por Behnke, deve- se apenas reconhecer o que se passa, sem interferir. Identifica-se percepções boas, identifica-se percepções desagradáveis; "goste eu disso, ou não" (BEHNKE, 1995, p. 320, tradução nossa133). A segunda fase do processo de matching se desenrola quando, apesar de nos sentirmos impelidos a fazer algo, a interferir na paisagem identificada, não interferimos, e passamos a considerar que aquilo que está acontecendo está sendo realizado por nós: aquilo está acontecendo em mim porque eu estou fazendo aquilo (apesar de sentir que aquilo está acontecendo independentemente da minha vontade). Colocamos a consciência em uma condição de autoria, como se ela estivesse fazendo aquilo de propósito, como se aquilo não fosse um produto de nossos automatizados hábitos neuromotores. No geral, após a identificação de algo que se destaca na paisagem perceptiva corporal, temos a tendência de agir: ou nos massageamos, ou respiramos muito profundamente, ou nos mexemos um pouco etc. Quando se trata da prática do matching,

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Let us say, then, that I decide to practice matching. Perhaps I begin by setting aside whatever I am doing and allowing the feeling of my own body to come more fully to awareness. I do not try to relax or to correct my posture in any way, but simply let myself be conscious of whatever there is to feel, just as it is, welcoming it with a calm, 'oh, how interesting' attitude rather than a critical, fault-finding attitude. Typically, something or other will stand out - a feeling of tightness somewhere in my body, for example, or an awareness of a particular shape, such as the feeling of one shoulder being slightly turned to the left.

não fazemos nada, apenas observamos, considerando, entretanto, que o que está acontecendo - involuntariamente - está a ser feito por mim. Procuramos sentir isso. Nas palavras de Behnke:

ao fazer matching, eu não tento mudar a forma [disposição espacial] ou o retesamento [tensão] identificado: eu me uno a isso [...] eu adentro a forma ou o retesamento, sentindo isso de dentro, tão nitidamente quanto sou capaz, e começo a me apropriar disso como algo que estou voluntariamente fazendo - retesando-me precisamente aqui, ou mantendo-me exatamente nesta disposição corporal. (BEHNKE, 1995, p. 320, tradução nossa134).

A tarefa teórica à qual Behnke se dispôs, de falar a respeito dessa apropriação do sensoriomotor reflexivo por parte da consciência, não é simples, e à primeira vista, isso pode ser um pouco confuso. No entanto, esse é um tema crucial para a Educação Somática. É um processo grandemente complexo que transcorre em uma instância aparentemente simples, e difícil de ser tratada descritivamente. Consiste em voltar-se para a coisa identificada - e que está ocorrendo sem que eu a esteja causando - encarando-a não como algo que observo (abordagem que por si só já carrega consigo um sentido de afastamento), mas como algo que estou fazendo, um algo que sou. Eu mesma cheguei a isso, eu mesma me mantenho nisso, e não faço nada para alterá-lo. A consciência se une a esse algo, não mais diferenciando-se dele, e sem impor-se sobre ele.

Outro fator interessante e importante nessa história consiste no seguinte: aquilo com o qual eu me uno não possui uma natureza congelada, estanque, mas encontra-se em fluxo. Como colocado por Behnke: "Eu não tento controlar isso. Eu simplesmente me junto a isso. Não enquanto um fato estático, mas como algo em curso, e que, dessa maneira, continua a ser. E eu faço isso não como um espectador, mas como um participante" (BEHNKE, 1995, p. 320, tradução nossa135).

A terceira fase do matching diz respeito ao que acontece após a consciência se unir àquilo que foca. O que acontece? Behnke comenta sua experiência própria:

Às vezes nada. Mas, frequentemente, o que acontece é que eu sinto a mim mesma mudando, espontaneamente. Relaxando ou reorganizando-me, levemente, de um modo diferente; me dispondo espacialmente de uma

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[...] in matching, I do not try to change the shape or the tightness: I match it. [...] I enter the shape or the tightness, feeling it from within as clearly as I am able, and I begin to appropriate it as something I myself am doing - tightening myself precisely here, or holding myself in exactly this shape.

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I do not try to control it. I simply join with it, not as a static fact, but as something ongoing, something that is continuing to be just this way. And I do so not from the vantage point of a spectator, but from that of a participant.

maneira diferente e com um sentimento corporal novo" (BEHNKE, 1995, p. 321, tradução nossa136).

A alternativa de nada fazer ao identificar-se o acontecimento, pode nos conduzir a 'lugares' novos, e lugares novos conquistados diretamente pela propriocepção, sem que a vontade participe. Quando isso acontece, algo de muito potente se passa: um hábito, espontaneamente, deixa de ser dominante e cede lugar a outro acontecimento. Logo, em matching, os hábitos não são combatidos ou contornados intencionalmente, mas ainda assim, eles se modificam, pois sua natureza dinâmica passa a falar mais forte que sua cristalização.

De acordo com Behnke, as mudanças que ocorrem se dão, na maior parte das vezes, em áreas diretamente relacionadas àquilo que se observa. Se era um retesamento em certa região do corpo, a tensão vai se abrandando, o local vai se liberando; se era um movimento, ele começa a ganhar uma qualidade diferenciada ou uma nova relação com os pontos de apoio utilizados etc. No entanto, segundo Behnke, o matching pode ter sido feito com uma parte específica do corpo, e acarretar uma mudança em outra parte, tal qual uma reverberação, o que aponta que o tipo de mudança em questão nesse processo se dá em níveis bem profundos, onde o todo é envolvido, havendo comunicação entre as partes (BEHNKE, 1995, p. 138). Quando isso ocorre, de acordo com ênfase dada por Behnke, a mudança vinda dessa reverberação é, geralmente, uma mudança na direção de uma maior abertura proprioceptiva e cinestésica, de uma desenvoltura corporal integrada. A pessoa tem a possibilidade então de fazer o matching com essa parte na qual o primeiro matching reverberou, e conferir se isso a levará a uma nova reorganização.

A dinamicidade espontânea referente à união da consciência com o acontecimento corporal é algo que requer, daquele que a pretende experimentar, a capacidade de aceitar um tempo diferente, um tempo perceptivo. É preciso ter tranquilidade para contemplar os ajustes espontâneos nascidos do matching. Essa brandura não deve ser confundida com insignificância, pois é potente o alcance desses sutis ajustes, uma vez que eles dinamizam o todo sensoriomotor remexendo padrões e hábitos.

A união da consciência com um acontecimento corporal chama a atenção para uma diferenciação que é preciosa para a Educação Somática: a diferença entre: 1) causar mudanças motoras no corpo a partir de uma interferência da consciência focada e 2) deixar que a consciência focada testemunhe mudanças motoras advindas diretamente da

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Sometimes, nothing happens. But often, what happens is that I feel myself spontaneously shifting, releasing, or reorganizing myself in a slightly different way, with a new shape and a new body feeling.

inteligência intrínseca ao sistema sensoriomotor. No que concerne a essa distinção, Behnke observa:

É claro que podemos usar os "momentos de ouro" da consciência [atenção] para experimentar novas maneiras de organizar nosso corpo, primeiro, sentindo o que está se passando, e então, conscientemente mudando em direção a uma nova configuração. Mas a técnica matching que estou descrevendo é um processo no qual permitimos a nós mesmos mudar espontaneamente, ao invés de tentar direcionar o processo para determinado caminho. Às vezes, a mudança será algo familiar; pode ocorrer a mim até mesmo aquilo que eu esperava que fosse ocorrer. Mas se, no entanto, sou capaz de colocar de lado tanto minhas expectativas específicas sobre o que irá acontecer em seguida, quanto meu desejo de controlar aquilo que está em curso, as mudanças espontâneas podem ser uma surpresa, assim como um deleite. (BEHNKE, 1995, p. 321, tradução nossa137).

Em relação ao final dessa fala de Behnke, uma questão merece destaque: o aspecto prazeroso das mudanças espontâneas proprioceptivas. É óbvio que o prazer do movimento não se restringe a esse contexto do matching, pois o movimento intencionado também porta prazer, com suas forças de afeto. No entanto, vale abrir aqui um parêntese, a fim de que seja pontuada essa tão importante questão do 'deleite'. Sentir/reconhecer que somos um corpo, e que o corpo é naturalmente fluido; é devir, fluxo; que é, em si mesmo, movimento, e movimento inteligente, que busca espontaneamente harmonizar-se, sem que nossa vontade precise direcionar isso, é algo impactante, ainda que esse impacto seja manso. E nesse ponto, há que se notar que o 'manso', assim como o 'simples', muitas vezes, é por nós negligenciado ou despercebido.

A sensibilidade própria do estado de matching reconhece que todos os acontecimentos percebidos, seja um formato e sua disposição espacial, ou uma tensão de tensão é um fenômeno que temporalmente encontra-se em curso. Não é estanque, não é estático. Aquilo que parece ser estanque, que persiste em manter-se, parecendo algo congelado, envolve hábitos bem arraigados, mas hábitos são hábitos apenas porque foram muito reiterados. De acordo com Behnke, o matching relativiza essas reiterações, pois nós adentramos o hábito e nele ficamos reconhecendo-o como algo em curso. Ao fazer isso,

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One can, of course, use the 'golden moments' of bodily awareness to try out new ways of organizing one's body, first sensing what is there and then consciously changing into a new configuration. But the matching technique I am describing is a process in which one allows oneself to change spontaneously, rather than attempting to direct the process in a particular way.

Sometimes the shift will be a familiar one; I may even get what I expect. If, however, I am able to set aside both my specific expectations about what will happen next and my desire to control what is going to happen, the spontaneous shifts can be a surprise as well as a delight.

devolvemos essa 'congelada' parte corporal à dimensão da continuidade. Deixamos "a porta aberta", para que novas possibilidades possam emergir.

Com "as portas abertas", um matching ocorrido pode desencadear outro matching, em uma retroalimentação. O matching pode ir se expandindo pelo corpo: algo desponta do plano de fundo da experiência proprioceptica/cinestésica, ocorre um matching; pode-se dar continuidade a isso, realizando-se um novo matching em outra parte do corpo. A diversidade vai ganhando terreno. Diferentes impressões vão ocorrendo, diferentes sentimentos vão surgindo. Behnke dá um exemplo:

Posso começar com algo que se salienta - por exemplo, certo sentimento em algum lugar em torno do meu tornozelo - e ao invés de fazer o matching apenas com o gesto [movimento] que estou realizando nessa articulação, posso prosseguir e me unir à forma de toda a minha perna, talvez seguir subindo e adentrar o como estou em meu torso, no outro lado da minha pélvis, e assim por diante. (BEHNKE, 1995, p. 321-322, tradução nossa138).

Quando sentimos que o formato com o qual nos unimos é, em realidade, parte de um formato maior, podemos nos unir a esse outro formato. Uma união com o osso sacro passa a ser uma união com todo o complexo ósseo da pélvis. Segundo Behnke, por meio dessas passagens de um matching para outro, vamos ganhando um sentido maior de integração (BEHNKE, 1995, p. 322). Vamos deixando de nos sentir como uma soma de partes separadas para nos sentirmos um todo, e nos sentirmos em movimento como um todo; um todo constantemente remodulado por sinergias. O esqueleto pode ser sentido como uma única estrutura, ao invés de um conjunto de ossos com movimentações específicas; o sistema muscular pode ser sentido como um expesso e multidirecional músculo: "um único largo músculo, elegantemente diferenciado em muitos detalhes intrincados, contraindo-se aqui, e expandindo-se ali" (BEHNKE, 1995, p. 329, tradução nossa139). A experiência de sentir-se um todo integrado pode ser estimulante e transformadora.

No entanto, parece óbvio que nem todas nossas partes corporais sejam fáceis de ser acessadas e espontaneamente dinamizadas pelo processo do matching. Temos áreas que não sentimos, que são vazios em nossa percepção, o que Hanna chamou de 'amnésia sensoriomotora' (HANNA, 1995, p. 349-350). Essas áreas são como lacunas existentes entre áreas ativas. Para esses casos, Behnke esclarece que uma abordagem frutífera,

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I can begin with something salient - for instance, a certain feeling somewhere around my ankle - and then instead of matching only the gesture I am making at this joint, I can begin to match the inner "felt shape" of my whole leg, perhaps even following this up into how I am in my torso, at the other side of my pelvis, and so on.

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[...] one large muscle, elegantly differentiated into many intricate details, contracting here and lengthening there [...]

possível de levar a um progresso dessas situações, é a realização do matching com as fronteiras dessas áreas, as bordas dessas áreas. Procura-se perceber essas áreas obscuras por meio da identificação de seus limites. Outra estratégia seria imaginar essa área e fazer o matching com isso que se imagina. Conforme imagina, a pessoa vai se "enchendo" dessa área, se deixando unir a ela. Nesse ponto, observamos o uso da vizualização no matching. Por essas estratégias, é possível ir modificando a condição dessas áreas "vazias", até que elas sejam "preenchidas" por nossa percepção consciente (BEHNKE, 1995, p. 322). Desse modo, a 'assinatura corporal' mencionada por Behnke vai aos poucos se alterando. Os padrões habituais posturais e de movimento vão cedendo lugar a novos padrões, de modo que o matching pode ajudar a melhorar a capacidade da percepção.

Behnke faz uma ressalva para uma possibilidade de matching diferente daquela que inicia-se com o reconhecimento de algo que se salienta do fundo da experiência. Essa outra possibilidade consiste em identificar o próprio fundo da experiência proprioceptiva/cinestésica, estando esse ambiente em estado de calmaria, sem nenhum 'algo' despontando, e se unir a ele. Nas palavras de Behnke:

[...] ao invés de começar com algo que já encontra-se saliente, posso fazer o matching com o pré-sentimento (i.e., o ambiente geral de certa área ou do todo, antes que qualquer coisa em específico esteja despontada; ou seja, o fundo em sua normalidade) (BEHNKE, 1995, p. 321-322, tradução nossa140).

Essa pacata aventura nas terras do 'fundo' exige uma atitude ainda maior de abertura, um estado de sensibilidade aguçada; lúcida embriaguez perceptiva/sensitiva. A mente reflexiva deve estar passiva e receptiva. Não se sabe o que virá. A cada instante, não se sabe. Uma mudança ocorre sem anunciar-se, ocorrendo simplesmente. Estar nesse 'lugar', ser esse 'lugar' é algo que, normalmente, não estamos acostumados a vivenciar. Uma experiência que pode ser considerada semelhante a isso é a meditação, pensando-se nesta enquanto prática de observação passiva do pensamento. Quem medita, o faz porque acredita que isso lhe faça bem, que isso seja positivo, agregador de saúde, equilíbrio/harmonia e sabedoria. O mesmo pode ser dito em relação ao matching. Como ressalta Behnke, ter a mente no estado de matching, "não apenas significa assumir que

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[...] instead of starting with something that is already salient, I can match the pre-feeling (i.e., the general ambience in a certain area or in the whole of me before anything specific stands out, the background normality) [...]

posso confiar em meu todo somático, como também ajuda-me a realmente experienciar a mim mesma enquanto um todo articulado" (BEHNKE, 1995, p. 328, tradução nossa141).

Essa confiança que se pode depositar na experiência da união da consciência com um acontecimento corporal acompanha uma concepção de ser humano que acredita que o corpo sabe, espontaneamente, aproveitar as melhores oportunidades e reconhecer os melhores caminhos quando a paisagem se abre. O corpo, quando em estado de união consciência-acontecimento, tem a chance de identificar as possibilidades existentes na paisagem, e de reconhecer o melhor caminho, o mais harmônico, mais saudável. É preciso deixá-lo fazer as mudanças, exercer sua sabedoria, seu senso de otimização. Nas palavras de Behnke, esse "é um caminho que permite ao todo conduzir a si mesmo" (BEHNKE, 1995, p. 327, tradução nossa142). É de extrema importância que não saibamos o que irá acontecer, pois isso significa que não lançaremos mão de nosso repertório já conhecido de possibilidades. Usar esse repertório é o mesmo que reafirmar um padrão, ao passo que não usá-lo é proporcionar as condições necessárias para que esse padrão possa alterar-se espontaneamente. Dito isso, é certo que a técnica matching nos coloca em contato com as dúvidas perceptivas, e que podemos cair no engano perceptivo143. Penso que, ao praticarmos o matching, devemos aceitar que possivelmente iremos forçar o caminho algumas vezes.

Finalizando esse tema do matching, vale destacar que o toque pode ser praticado no contexto dessa técnica. O que Behnke sugere é que utilizemos o toque como