• Nenhum resultado encontrado

other people; how we get in touch with them; how we speak to them; how we help a person to rest

1.4 Desdobramentos conceituais

A Educação Somática lida com dados subjetivos e com conceitos pragmáticos diretamente relacionados aos seus modos de trabalho. Além de ter desenvolvido um vocabulário próprio, também usa vocabulário de outras áreas do conhecimento. Desse modo, é importante abordar algumas delimitações semânticas para os termos herdados de outras áreas do conhecimento.

115

Principles are fundamental 'sources of discovery' that 'enable the inspired person continually to invent creative strategies for working with others [...].

1.4.1 Consciência no 'estar atento, estar ciente' e consciência no 'estar consciente'

Para Hanna (HANNA, 1995, p. 344), discutir a importância da primeira pessoa do discurso enquanto lugar de observação consiste em discutir que a observação humana é capaz de ser internamente autoconsciente, além de ser externamente consciente. O termo em inglês utilizado no discurso da Educação Somática para se fazer referência à auto- observação perceptiva/sensitiva do movimento é 'awareness'. Nos dicionários inglês- português, a tradução que normalmente se dá para 'awareness' abarca: "qualidade ou estado de ser cônscio, ciente, a par, informado"116. 'Awareness' é um substantivo relacionado com o adjetivo 'aware'. A tradução que normalmente se dá para 'aware' abarca: "1. atento, acautelado, advertido. 2. cônscio, ciente, a par, informado"117. No entanto, traduções de obras literárias referentes à Educação Somática usam 'consciência' como tradução de 'awareness', talvez por influência do modo como algumas linhas da Psicologia conceitualizam esse termo. Então, existe uma problemática nessa questão, porque é utilizada uma palavra de significação mais ampla - consciência - para se fazer referência a algo muito específico. E essa problemática se desdobra em outra: o termo 'consciousness' também é traduzido como 'consciência'. Com isso, um mesmo termo é utilizado como tradução de dois termos diferentes. Na literatura da Educação Somática, 'consciousness' é algo distinto de 'awareness'.

É interessante reparar que alguns dicionários não usam o termo 'consciente' como tradução para aware, e nem o termo 'consciência' como tradução para 'awareness'. Observemos que 'estar atento a', ou 'estar ciente de' soa diferente de 'estar consciente de'. Quando dizemos "Estou ciente disso" ou "Estou atento a isso", estou me referindo a algo. Quando dizemos "Estou consciente disso" normalmente, não estou me referindo a uma coisa, mas a um fato ou circunstância.

De acordo com Hanna, 'awareness' é a consciência direcionada que seleciona algo no corpo para focar (HANNA, 1995, p. 348). Penso que ela é uma espécie de atenção. Quando o foco dessa consciência atentiva é lançado sobre o todo perceptivo/sensitivo, um acontecimento é priorizado em detrimento de outros, e quanto mais o restante (o que não faz parte do foco) for silenciado, mais o foco poderá se ajustar e mirar com nitidez. Hanna aborda isso como sendo uma função excludente intrínseca à consciência atentiva. Ele considera que esse processo de contrastar algo do todo em que este algo se encontra "É a

116

Michaelis Dicionário ilustrado, v. 1.

117

maneira mais útil de alguém exercitar controle voluntário sobre seu repertório de habilidades sensoriomotoras" (HANNA, 1995, p. 348, tradução nossa118).

Com o objetivo de elucidar para o leitor os momentos em que a palavra 'consciência' aparece nas transcrições desta tese como tradução de 'awareness' (e não de 'consciousness'), coloco a palavra 'atenção' entre chaves após a palavra 'consciência', como no trecho abaixo:

A consciência [atenção] é uma função de isolamento, ela isola 'novos' fenômenos sensoriomotores a fim de aprender a reconhecê-los e controlá- los. É apenas pela função excludente da consciência [atenção] que o involuntário é tornado voluntário, o desconhecido, conhecido e o nunca feito, realizável. A consciência [atenção] serve como uma sonda, recrutando novos materiais para o repertório da consciência voluntária (HANNA, 1995, p. 348, tradução nossa119).

Percebe-se que o foco da auto-observação perceptiva/sensitiva do movimento, da forma e do volume corporal é o que possibilita dar a uma parte ou área corporal um circunstancial aumento de importância, no que concerne à reverberação da presença dessa área no todo da consciência:

o aprendizado somático começa pelo focar da consciência [atenção] no desconhecido. Esse focar ativo identifica traços do desconhecido que podem ser associados com traços já conhecidos do nosso repertório consciente. Por meio desse processo o desconhecido torna-se algo conhecido pela consciência voluntária. Em uma palavra, o não aprendido torna-se aprendido. (HANNA, 1995, p. 348-349, tradução nossa120).

Na fala de Hanna identificamos que é pelo foco da consciência atentiva que a consciência se expande. Sem a estratégia do foco, a consciência não poderia se expandir: "A consciência, enquanto um estado de aprendizados sensoriomotores alcançados pelo soma, não pode atuar para além dos seus limites autoimpostos" (HANNA, 1995, p. 347-348, tradução nossa121). Então, a consciência é o resultado de todo o trabalho já feito pela

118

It is a most useful way of exercising voluntary control over one's repertoire of sensory-motor skills.

119

Awareness is the function of isolating 'new' sensory-motor phenomena in order to learn to recognize and control them. It is only through the exclusionary function of awareness that the involuntary is made voluntary, the unknown is made known, and the never-done is made doable. Awareness serves as a probe, recruiting new material for the repertoire of voluntary consciousness.

120

[...] somatic learning begins by focusing awareness on the unknown. This active focusing identifies traits of the unknown that can be associated with traits already known in one's conscious repertoire. Through this process the unknown becomes known by the voluntary consciousness. In a word, the unlearned becomes learned.

121

consciência atentiva ao longo da vida. Tudo que a consciência atentiva já identificou e destacou ou sublinhou fica disponível, em alguma medida, para a vontade e o juízo. E em relação a isso, é importante acrescentar que essa disponibilidade ocorre em diferentes graus, e que algo pode ser desutilizado durante o passar do tempo, a ponto de perder boa parte do contraste que outrora lhe foi dado. Hanna, quando pensando a consciência em relação ao soma, afirma que ela é: "o repertório de aprendizados sensoriomotores disponíveis ao soma" (HANNA, 1995, p. 348, tradução nossa122). Ela "designa as funções sensoriomotoras voluntárias adquiridas com a aprendizagem" (HANNA, 1995, p. 347, tradução nossa123). Nesse processo de aquisição de funções sensoriomotoras, "as habilidades motoras vão expandindo o reconhecimento sensorial, e uma maior riqueza sensorial vai potencializando novas habilidades motoras" (HANNA, 1995, p. 347, tradução nossa124).

A consciência é 'voluntária' porque a gama de habilidades correspondentes a ela é aprendida e, portanto, disponível para uso como padrões familiares. Aprender uma habilidade é aprender a empregá-la de acordo com a vontade. A consciência não deveria ser mal compreendida; não é uma faculdade estática da mente, nem um padrão sensoriomotor fixado. Pelo contrário, é uma função sensoriomotora aprendida. O alcance desse aprendizado determina 1) o quanto podemos ser conscientes das coisas, e 2) quantas coisas podemos fazer voluntariamente. (HANNA, 1995, p. 347, tradução nossa125).

A consciência atentiva, quando aplicada na auto-observação motora, dinamiza os padrões neuromotores que nos conferem movimento, e desse modo vai atuando na plasticidade cerebral. Ao irmos adquirindo mais possibilidades, vamos nos tornamos mais autônomos, o que implica em uma melhoria não só de nossas escolhas conscientes, mas também das escolhas automatizadas de nosso sistema neuromuscular. Isso significa que o exercício da auto-observação e exploração perceptiva/sensitiva do movimento 'recicla' a base perceptiva da consciência. A auto-observação faz com que nos tornemos conscientes de padrões automatizados, a ponto de podermos um dia contornar sua ocorrência. Como coloca Hanna: