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CAPÍTULO 4: A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: FUNDAMENTOS

4.3 A Ciência da Informação no Brasil

4.3.2 A Institucionalização do Campo Científico

4.3.2.2 Associação, Eventos e Publicações Técnico-Científicos

As associações ou sociedades científicas, para Meadows (1999), correspondem a um dos principais elementos da comunicação científica na medida em que seu êxito depende da existência de grupos de pessoas envolvidos tanto formal quanto informalmente15. Essas associações são responsáveis pela coordenação e pelo encontro de pesquisadores-membros que compõem determinados domínios do conhecimento. Além das comunicações informais, as reuniões periódicas das sociedades científicas resultam em publicações que expressam o pensamento da comunidade veiculando resultados de estudos, pesquisas e debates.

15 As primeiras sociedades científicas, que também podiam ser designadas de academias, segundo os seus

enfoques organizacionais, foram fundadas na Europa no século XVII, com destaque para a Royal Society (1662), na Inglaterra, a Academie Française (1635) e a Royal des Sciences (1666), ambas na França (MEADOWS, 1999).

Além disso, “um objetivo importante mantido por essas organizações é o de representar politicamente os interesses de seus associados junto aos órgãos governamentais e à sociedade” (ANDRADE; OLIVEIRA, 2005, p. 48). Essas sociedades científicas promovem a dinâmica mais imediata, por assim dizer, e a institucionalização do campo científico por intermédio de sua atuação político-científica.

No campo específico da Ciência da Informação brasileira, foi fundada em 1989 a ANCIB16. Trata-se de uma sociedade civil sem fins lucrativos, formada por pessoas jurídicas e físicas, respectivamente, programas de pós-graduação em Ciência da Informação e professores, pesquisadores, profissionais, estudantes e egressos daqueles programas. A Associação tem como “[...] finalidade acompanhar e estimular as atividades de ensino de pós- graduação e de pesquisa em Ciência da Informação no Brasil”. Nesse sentido, as principais atividades da Associação correspondem à organização dos Fóruns de Coordenadores dos Programas de Pós-Graduação e do Encontro Nacional de Pesquisadores em Ciência da Informação (ENANCIB) que vêm sendo realizados desde 1994 e se apresentam como importante espaço para debate das pesquisas do campo. A partir de 2005, o evento passa a ser promovido em periodicidade anual e a ser organizado em Grupos de Trabalho (GTs).

A literatura evidencia a ampliação dos GTs do ENANCIB com o intuito de contemplar áreas do conhecimento em emergência no Brasil, tal como aconteceu neste ano, o acréscimo do GT 11. Em Oliveira (1998) e Lara e Smit (2010), foram elencados oito, em Marteleto (2009) nove e em ANCIB (2011) onze GTs. Embora exista inter-relação entre as temáticas contempladas, é importante considerar que essas alterações apontam para um processo de ampliação do campo de conhecimento. Segundo Lara e Smit (2010, p. 18), “desde a sua instalação, em 2005, os Grupos de Trabalho têm sofrido ajustes na designação de sua temática e ementa, visando adequá-las à realidade da pesquisa”. As ementas atuais se encontram no Anexo A.

Atualmente, o ENANCIB é organizado com base em 11 (onze) GTs:

• GT 1: Estudos Históricos e Epistemológicos da Ciência da Informação; • GT 2: Organização e Representação do Conhecimento;

• GT 3: Mediação, Circulação e Apropriação da Informação; • GT 4: Gestão da Informação e do Conhecimento nas Organizações; • GT 5: Política e Economia da Informação;

• GT 6: Informação, Educação e Trabalho;

• GT 7: Produção e Comunicação da Informação em CT&I;

16 No período de sua fundação, a ANCIB abarcava também a pós-graduação em Biblioteconomia, contudo, com

a extinção da pós-graduação stricto sensu dessa área na década de 1990, a palavra “Biblioteconomia” foi retirada do nome da Associação, mantendo, porém, a mesma sigla (ANCIB, 2011).

• GT 8: Informação e Tecnologia; • GT 9: Museu, Patrimônio e Informação; • GT 10: Informação e Memória;

• GT 11: Informação e Saúde (ANCIB, 2011).

O número de trabalhos apresentados nas edições do ENANCIB correponde a outro indicador desse processo de institucionalização. Houve uma ampliação de 23 (vinte e três) em 1994 para 151 (cento e cinquenta e um) em 2008 (LARA; SMIT, 2010).

Além das discussões realizadas nos ENANCIB, é importante destacar o processo de produção e comunicação científica que o envolve. Cada edição tem uma temática específica proposta pelo comitê organizador e todos os trabalhos enviados para o evento são avaliados pelos pares e publicados em anais. Embora o ENANCIB seja considerado o evento mais importante, os primeiros eventos realizados no campo foram as Reuniões Brasileiras de Ciência da Informação promovidas pelo IBICT, nos anos de 1975 e 1979 (PINHEIRO, 2000). Segundo Pinheiro (2007), no final da década de 1990, foi iniciada a realização de outros eventos técnico-científicos nas esferas nacional, regional e local, tais como o Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Ciência da Informação (CINFORM), promovido pelo Instituto de Ciência da Informação da UFBA (ICI/UFBA), e o Workshop Brasileiro de Inteligência Competitiva e Gestão do Conhecimento, inicado em 1999. Vale destacar que outros eventos existentes há mais tempo passaram a incluir a Ciência da Informação no seu escopo, a exemplo do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CBBD), que vem sendo realizado desde 1954.

O periódico científico corresponde a outro importante componente do processo de institucionalização do campo científico. A partir de Pinheiro (2000), pode-se considerar que os periódicos científicos da Biblioteconomia e da Ciência da Informação no Brasil seguem de perto o processo por que passaram os cursos e os programas de pós-graduação.

Mueller, Campello e Dias (1996) analisaram os periódicos que se constituem nas principais fontes de comunicação da produção científica da Biblioteconomia e da Ciência da Informação, sendo que, de um total de 32 (trinta e dois) mapeados, apenas 6 (seis) foram efetivamente considerados espaço dedicado à publicação científica, uma vez que os demais se tratavam de boletins e revistas desativadas: B & C Revista de Biblioteconomia e Comunicação (1986-2000), Ciência da Informação (1972-), Informação & Sociedade: Estudos (1991-), Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG (1972-1995), Revista de Biblioteconomia de Brasília (1973-) e Transinformação (1989-).

Com efeito, os periódicos científicos brasileiros nesse campo de conhecimento estão em consonância com a prática de pesquisa, pois se encontram, na sua grande maioria,

vinculados aos cursos e programas de pós-graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação e padecem das irregularidades e descontinuidades características das políticas de IC&T. Os lançamentos destes se deram basicamente em dois momentos, no início da década de 1970 e em meados da década de 1990 (MUELLER; CAMPELLO, DIAS, 1996).

Outra questão importante destacada por Mueller, Campello e Dias (1996) diz respeito às áreas de interesses dos periódicos, que retratam, em certa medida, a produção do campo científico. Eles se caracterizam pela ampla área de concentração editorial, não havendo preferências por assuntos específicos. Ademais, constataram assistematicidade e amadorismo na produção desses periódicos científicos.

Considera-se, contudo, que esse quadro foi bastante transformado com o processo de editoração eletrônica e das exigências das agências de financiamentos e qualificações, tais como CNPq e CAPES. Pinheiro, Bracher e Burnier (2005) apresentam um quadro dos “periódicos científicos brasileiros em Ciência da Informação” composto por 10 (dez) publicações. As autoras se dedicam, especificamente, à análise do periódico Ciência da Informação, mas destacam a dificuldade de manutenção de periódicos na área de Ciência da Informação e Biblioteconomia. Consideram ainda que o periódico analisado “[...] reflete bem as questões da área e, de um modo geral, as pesquisas desenvolvidas no Brasil estão direcionadas aos mesmos temas estudados no exterior, aparecendo diferenças de ênfases, por circunstâncias históricas, sociais e científicas nacionais” (PINHEIRO; BRACHER; BURNIER, 2005, p. 36).

É preciso considerar que há uma ampliação nos últimos anos. Pinheiro, Bracher e Burnier (2005) acrescentam 6 (seis) periódicos científicos brasileiros em Ciência da Informação àquele rol apesentado por Mueller, Campelo e Dias (1996): Data Grama Zero – Revista de Ciência da Informação (1999-); Perspectivas em Ciência da Informação (1996-), Encontros Bibli – Revista Eletrônica de Biblioteconoma e Ciência da Informação (1996-), Morpheu: Revista Eletrônica em Ciências Humanas: Conhecimento e Sociedade (2002-); Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação (2003-); e Em Questão: Revista da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) (2003-). Desse conjunto, duas questões precisam ser observadas: primeira, exceção feita ao útimo dessa lista, os demais periódicos são publicações eletrônicas; segunda, todas as 4 (quatro) últimas publicações apresentam áreas de concentração editorial compostas, incluindo, principalmente, a Biblioteconomia e a Comunicação. Acrescente-se a isso que o segundo e o sexto periódicos são apontados como substitutos, respectivamente, da Revista da

Escola de Biblioteconomia da UFMG (1972-1995) e da B & C Revista de Biblioteconomia e Comunicação (1986-2000).

A CAPES como órgão que credencia os programas de pós-graduação no país mantém uma política de avaliação de publicações periódicas coordenada aos processos de aprovação, credenciamento e avaliação dos programas de pós-graduação. Essa política tem contribuído para o aumento e a qualificação de periódicos científicos na Ciência da Informação. Segundo Lara e Smit (2010), até o ano de 2008, 6 (seis) periódicos compunham a lista Qualis dos melhores periódicos especializados na Ciência da Informação: Ciência da Informação, Data Grama Zero – Revista de Ciência da Informação, Encontros Bibli – Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Informação & Sociedade: Estudos, Perspectivas em Ciência da Informação e Transinformação17.