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Características dos arranjos produtivos locais

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.5 Arranjo produtivo local

2.5.2 Características dos arranjos produtivos locais

Para Abreu (2002), um APL se caracteriza pela existência da aglomeração de um número expressivo de empresas atuando em torno de uma atividade produtiva principal. Desta forma, a dinâmica do território onde as empresas estão inseridas precisa ser considerada, tendo em vista os aspectos: número de postos de trabalho, faturamento, mercado, potencial de crescimento, diversificação, dentre outros. Assim, a noção de território é fundamental para a atuação em APL. Entretanto, a noção de território não se resume apenas a sua dimensão material ou concreta. Território é um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que se projeta num determinado espaço.

Um APL deve ter ou manter a capacidade de promover uma convergência em relação a expectativas de desenvolvimento, estabelecer parcerias e compromissos a fim de manter e especializar os investimentos de cada um dos atores no próprio território, e promover ou ser passível de uma integração social e econômica no âmbito local (ABREU, 2002).

O SEBRAE pode ser considerado como um grande articulador no desenvolvimento de APLs, e seu objetivo ao atuar neste sentido “é o de promover a competitividade e a sustentabilidade dos micro e pequenos negócios, estimulando processos locais de desenvolvimento.” (SEBRAE, 2003, p. 15).

Para o SEBRAE (2003), os arranjos não são iguais, pois a realidade não é uniforme e a organização da produção é muito diversa. Desta forma, cada arranjo conceberá um modelo próprio de desenvolvimento, devendo sempre considerar: as redes de atores locais; as potencialidades, vocações e oportunidades; os recursos naturais renováveis e não-renováveis; as vantagens comparativas e competitivas; a infra-estrutura existente; o capital humano (conhecimento, habilidades e competências das pessoas); o capital social (níveis de confiança, cooperação, organização e participação social); a cultura empreendedora (níveis de auto-estima, autoconfiança, capacidade de iniciativa); a cultura local (costumes, valores, crenças e tradições locais); a poupança local; a capacidade de atrair investimentos; dentre outros.

Destaca-se ainda, a importância de formalizar uma espécie de conselho, tendo como representantes os atores envolvidos diretamente no desenvolvimento do setor a ser trabalhado, com ênfase nos representantes internos ao arranjo. Cabe a este conselho, definir um planejamento estratégico que seja adequado ao arranjo e

às especificações e exigências de mercado, funcionando como uma espécie de guia das iniciativas de fomento para o setor no território. Devem fazer parte deste conselho, representantes dos empreendedores locais, do poder público, das universidades, centros de pesquisas e educacionais e dos trabalhadores (SEBRAE, 2003).

As características de um APL na visão dos autores Albagli e Brito (2003), são apresentadas no Quadro 8.

Características Descrição

Dimensão territorial

Constitui recorte específico de análise e de ação política, definindo o espaço onde têm lugar os processos produtivos, cooperativos e inovativos (município ou áreas de um município, conjunto de municípios, micro-região, conjunto de micro-regiões, dentre outros). A proximidade ou concentração geográfica leva ao compartilhamento de visões e valores econômicos, sociais e culturais, constituindo-se em fonte de dinamismo local e em diversidade e vantagens competitivas em relação a outras regiões.

Diversidade de atividades e

atores econômicos, políticos e sociais

Os APLs envolvem a participação e a interação de empresas (desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de serviços, comercializadoras, clientes, entre outros) e outras instituições públicas e privadas envolvidas com a formação e capacitação de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, política, promoção e financiamento (universidades, instituições de pesquisa, empresas de consultoria e de assistência técnica, órgãos públicos, organizações privadas e não governamentais, entre outros).

Conhecimento tácito

Nos APLs geralmente verificam-se os processos de geração, compartilhamento e socialização de conhecimentos, principalmente tácitos, por parte de empresas, instituições e indivíduos. Este conhecimento apresenta especificidade local, derivando da proximidade territorial e/ou de identidades culturais, sociais e empresariais. Isto facilita sua circulação em organizações ou contextos geográficos específicos, porém dificulta ou até mesmo impede seu acesso por atores externos a tais contextos, tornando-se, portanto, elemento de vantagem competitiva de quem o detém.

Inovação e aprendizado

interativo

Nesses arranjos, o aprendizado interativo é fonte essencial para transmitir conhecimentos e ampliar a capacitação produtiva e inovativa das empresas e instituições, propiciando a introdução de novos produtos, processos e formatos organizacionais, garantindo a competitividade dos diferentes atores locais, tanto individual como coletivamente.

Governança

Refere-se as diversas maneiras de coordenação entre os agentes e atividades, envolvendo desde a produção até a distribuição de bens e serviços, bem como o processo de geração, disseminação e uso de conhecimentos e inovações. Existem diferentes formas de governança e hierarquias nos arranjos produtivos, representando formas diferenciadas de poder na tomada de decisão (centralizada e descentralizada, mais ou menos formalizada).

Quadro 8 - Características essenciais dos APLs Fonte: Albagli e Brito (2003)

Para Cassiolato e Lastres (2002), a base da competitividade das empresas em qualquer APL não se limita a um setor único, estando associada, fortemente, as atividades e capacitações para frente e para trás ao longo da cadeia produtiva, isto é, os APLs têm uma cadeia produtiva mais completa localmente, tanto para frente da atividade-chave (logística, distribuição, pós-venda, marketing, etc.) como para trás

(matéria-prima, treinamento, máquinas e equipamentos de produção, serviços de apoio etc.).

De acordo com Ruthes (2007), nos APLs há uma forte rede de interação e relacionamento entre os atores que trabalham em torno de uma atividade-chave (especialidade ou vocação local). Essa relação pode ser formal ou informal, de ordem financeira ou não, entre pequenas e grandes empresas, e pode, ainda, acontecer por meio de parcerias baseadas em trocas, como de know-how, de informação, de pessoas, de materiais, de tecnologia etc.

Conforme Pereira e Herschmann (2003), para a formação de um APL é necessário haver um entorno de instituições e agentes públicos e privados, que favoreçam a estabilidade das relações interpessoais e que produzam uma visão sistêmica do coletivo para uma atividade produtiva determinada. Essa estabilidade é facilitada por uma base territorial comum. A intensificação das relações entre as empresas e os atores institucionais públicos e privados em torno de um setor produtivo é um dos pontos-chave para que uma cadeia produtiva aglomerada territorialmente se transforme em arranjo produtivo. Estas instituições devem fortalecer a rede de cooperação, especialização e inovação entre as empresas, prestando serviços como P&D, assistência tecnológica e linhas de financiamento.

Marteleto e Silva (2004) relatam que, para entender a relevância dos APLs no processo de desenvolvimento e a importância da análise do processo de criação de conhecimento e de aprendizado em seu interior, é necessário investigar como o conhecimento é gerado nas empresas e nos processo de interação entre as empresas e instituições. É preciso investigar o quão são inovadoras as empresas localizadas no APL e qual a importância de cada ator, sejam empresas ou organizações, ou os indivíduos associados a elas.

Com base num estudo realizado sobre as características dos arranjos produtivos locais, Cabete e Dacol (2008) chegaram a conclusão que as características essenciais para uma determinada aglomeração ser considerada um APL são: mesma localização geográfica, interdependência e cooperação, e em conseqüência destes processos, aparecem ainda as características competitividade, difusão do conhecimento, inovação e confiança.

O que se observa, diante das características apresentadas, é que a dinâmica de funcionamento dos APLs está relacionada principalmente a três aspectos: a sua localização, ou seja, a proximidade ou concentração geográfica das empresas; os

atores, grupo de pequenas empresas, associações, instituições de ensino e pesquisa, agências de fomento, dentre outros; e as suas características, divisão de trabalho entre as empresas, especialização, colaboração, sinergia, relações de confiança entre os atores, mão-de-obra qualificada, cultura, fluxo intenso de informações, cooperação, aprendizado interativo e capacidade inovativa.

Tão importante quanto as características dos APLs, são as vantagens proporcionadas pelos mesmos, assunto a ser tratado na sequência.