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Composição e manutenção de redes

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.4 Redes

2.4.3 Composição e manutenção de redes

Para Carvalho e Marcial (2004), a criação de uma rede se inicia a partir da identificação da necessidade de informação que precisa ser atendida em um determinado período. Identificam-se os componentes necessários à rede; depois realiza-se o mapeamento das redes que já existem e que têm relação com o assunto objeto da rede que está sendo montada. Após essa etapa, verifica-se se há necessidade de criar uma nova rede ou se é possível fazer a integração entre as redes existentes. Os componentes da rede devem ter modelos mentais diferenciados e suas funções devem ser identificadas na rede. Desta forma, pode-se aproveitar melhor o conhecimento gerado.

Para Castells (2002), dois atributos são fundamentais para que uma rede tenha bom desempenho:

conectividade: capacidade estrutural de facilitar a comunicação sem ruídos entre seus componentes;

coerência: quando os interesses são compartilhados entre os objetivos da rede e os componentes.

A formação de redes nas organizações ocorre de diversas maneiras, desde uma conversa informal com um colega no café, em encontros após o expediente, reuniões, congressos, listas de discussão, portais corporativos, até situações criadas formalmente com o propósito de alcançar resultados específicos (TOMAÉL; ALCARÁ; DI CHIARA, 2005).

Horácio (2008) destaca que as redes precisam aproximar e aumentar as sinergias entre os atores que apresentam potencial para se complementarem em torno de algum objetivo comum.

Carvalho e Marcial (2004) comentam que a importância em identificar, formar e manter uma rede se deve aos seguintes fatores:

• garantia de fluxo contínuo da informação;

• acesso rápido à informação qualificada, utilizando-se o conhecimento dos

gatekeepers;

• facilidade para obter informação privilegiada, diretamente de fontes confiáveis;

• facilidade para disseminar e se apropriar da informação antes das vias normais, como publicação de pesquisas, livros, artigos etc.

No tocante aos papéis a serem desempenhados na rede, Castells (2002) relaciona os seguintes: animadores, gatekeepers, indivíduos, nós de rede. Para este autor, especialistas no assunto devem ser convidados a participar do grupo e a se dividir entre estes papéis.

Stephenson (2003), por sua vez, relata que há três papéis típicos na rede: centros irradiadores, guardiões e termômetros.

No Quadro 5 são apresentados estes papéis e seu detalhamento, segundo a visão destes autores.

Autores Papeis Descrição

Animador

Principal elemento da rede, responsável pelo mapeamento e cadastro dos integrantes do grupo, além de ser a pessoa que vai provocar as interações, animar o grupo, colocar as pessoas em contato. A sua função é manter a rede viva, fazendo o papel de relações públicas da rede, mantendo-a em movimento contínuo. É sua responsabilidade também, recompensar e reconhecer a colaboração dos integrantes, mantendo assim, o fluxo da informação.

Indivíduos

São as pessoas que podem estar sozinhas ou organizadas em subgrupos. Quando estes indivíduos detêm o conhecimento demandado em determinado momento, podem também assumir o papel de líderes da rede.

Nó É a pessoa que interliga duas redes diferentes, pois detém conhecimento dos assuntos tratados pelas duas e que interessam a uma e a outra. Castells

(2002)

Gatekeeper

É um especialista que conhece diversas fontes de informação. Seu papel na rede é vital, pois possui ampla rede de contatos formais e informais. Quando determinada coisa está para acontecer, ele avisa. Neste caso, desempenha o papel de alerta corrente e de ligação entre diferentes níveis de hierarquia ou divisões na organização. Às vezes, pode também exercer o papel de animador.

Centros irradiadores

Pessoas com um grande número de conexões e que ficam parte do tempo conversando com os outros na empresa. São fáceis de serem identificados nas representações gráficas das redes de confiança, pois são parecidos com o centro de uma estrela cheia de pontas.

Guardiões

Profissionais que se posicionam de modo que a informação passe sempre por eles antes de chegar aos outros. Costumam ficar entre os irradiadores ou entre as diferentes áreas da empresa e não possuem muitos relacionamentos, embora suas conexões sejam estratégicas e fortes.

Stephenson (2003)

Termômetros

Cultivam relações indiretas, a fim de monitorar a saúde e a direção da organização. Essas pessoas são difíceis de serem identificadas, pois suas conexões são esparsas e seguem um padrão matemático muito particular.

Quadro 5 - Papéis desempenhados nas redes Fonte: Castells (2002) e Stephenson (2003)

Stephenson (2003) ressalta a importância de identificar cada um desses papéis, pois, devido ao fato de funcionarem como engrenagens de um sistema, podem barrar os fluxos de comunicação ou reforçá-lo e podem também, serem utilizados para aumentar a eficiência, gerar inovação ou boicotar tentativas de mudança. Com o conhecimento de cada um desses papéis, o gerente da empresa consegue utilizar a sua força de maneira favorável à sua estratégia. Por exemplo, para mandar um determinado recado para a corporação, ele deverá se aproximar dos irradiadores e precisará também, convencer os guardiões a não bloquear o fluxo de informações. Algum tempo depois, poderá checar com os termômetros se a mensagem foi entendida ou não.

Para Carvalho e Marcial (2004), é preciso dar muita atenção ao processo de composição e manutenção das redes. Além das necessidades e objetivos compartilhados, a matéria prima das redes é justamente a vontade das pessoas, bem como sua disponibilidade de vivenciar novas experiências, sempre preservando as diferenças de identidade.

Para que a rede tenha movimento e sustentação, é preciso preparar as pessoas para as tarefas a serem realizadas. Os integrantes da rede, independente dos seus papéis (facilitadores, gatekeepers, nós de rede, centros irradiadores, guardiões ou termômetros), precisam desenvolver competências, dominar conhecimento, instrumentos e técnicas de comunicação e mobilização, além de serem continuamente motivados.

Lipnack e Stamps (1994) destacam que as pessoas ou grupos participantes das redes, constituem os nós, independentes das mesmas. A interdependência entre as pessoas, bem como a geração de benefícios mútuos depende da adesão voluntária das pessoas. As diferentes necessidades da rede são concretizadas com os benefícios gerados, os propósitos unificadores e a multiplicidade de líderes, resultando na interação em diversos níveis entre os participantes.

No Quadro 6, estes autores apresentam cinco princípios fundamentais para que as redes façam a transposição de fronteiras convencionais para o benefício mútuo.

Princípios Descrição

Propósito unificador

Independentemente de seu tamanho, para funcionar uma rede precisa ter sinergia ou um propósito comum, que deve ser claro, a fim de ser almejado por todos os integrantes, pois é ele que legitima as pessoas nas redes. Ao contrário das estruturas hierárquicas tradicionais onde ganha-se legitimidade a partir da estrutura de cargos e poder, nas redes essa legitimidade é alcançada por meio da contribuição para o propósito compartilhado. E a colaboração não é obtida por meio de autoridade ou ameaças, ela é resultado do desenvolvimento sistemático do propósito em nível apropriado de detalhe e clareza.

Participantes independentes

São os grupos ou as pessoas que integram a rede voluntariamente, dentro das organizações ou entre elas. Cooperam com suas competências específicas, compartilham informações e conhecimentos únicos e diferenciados, gerando uma sinergia que permitirá o alcance do propósito. A autonomia dos participantes é característica fundamental de uma rede, significando que os mesmos são partes independentes, pois possuem sua própria integridade e seus próprios métodos de trabalho e de sobrevivência. Respeitar a individualidade e a autonomia de cada participante é essencial para o bom desempenho dos trabalhos na rede.

Sistema voluntário de

interligação

A composição e o sucesso das redes dependem dos relacionamentos, e para que ocorra o compartilhamento na rede é preciso que haja interligação entre as partes que a compõe. O relacionamento se baseia na confiança e seu amadurecimento requer a convivência proporcionada pela presença física. A confiança é um dos maiores obstáculos a serem trabalhados, a fim de que a rede alcance seus objetivos. Vencido esse obstáculo, as ligações na rede tornam-se mais transparentes e firmes.

Multiplicidade de líderes

Todos os participantes das redes são líderes, em determinado momento, e seguidores, em outro, e contribuem com seus talentos e conhecimentos para o objetivo da rede. A existência de liderança múltipla, talvez seja uma das características mais surpreendentes das redes. Isso fica mais claro quando se nota a multiplicidade de papéis, especialidades e conhecimentos requeridos para o tratamento de assuntos abordados pelos grupos. Os líderes devem reduzir as variáveis que impactam o processo, evitar que as diferenças entre as pessoas do grupo atrapalhem a busca dos objetivos e devem mapear as necessidades e os recursos para a concretização do trabalho. Embora na maioria das vezes a liderança não segue necessariamente a hierarquia da empresa, em algumas ocasiões as redes também possuem líderes formais, com autoridade e desempenhando funções tradicionais. Nas redes mais complexas, os líderes exercem o papel de facilitadores, mediadores e incentivadores na administração de relacionamentos entre os diferentes níveis de hierarquia.

Interação entre diferentes níveis

As redes não podem ser compreendidas plenamente sem a existência de níveis, pois são constituídas de formas agrupadas e seus integrantes executam muitas funções, atuando em vários níveis da organização. A interação entre estes diversos níveis é necessária para o bom funcionamento das redes, que precisam interagir em múltiplos níveis hierárquicos e com outras áreas no ambiente da empresa.

Quadro 6 – Princípios da transposição de fronteiras convencionais para o benefício mútuo Fonte: Lipnack e Stamps (1994)

Carvalho e Marcial (2004) salientam que cada um dos princípios citados no Quadro 6 é característica básica em todas as redes de sucesso. Assim, uma rede deve ter uma razão de ser, isto é, seus objetivos (propósito), pessoas interessadas e empenhadas em participar da rede (participantes), uma ampla rede de relacionamentos (interligações), além de pessoas com energia, bom relacionamento,

capacidade de estimular, visão holística e capacidade de assumir responsabilidades (líderes) e intercâmbio fácil e interativo entre os seus diversos níveis.

Para Gonçalves (2005), ao longo do tempo as redes mudam e o relacionamento entre os atores deve ser claramente compreendido. A capacidade de coordenação e o estabelecimento de instrumentos de ligação entre os atores da rede dependem de uma atmosfera, que garanta transparência na troca de experiências e conhecimento.

Desta forma, é importante que as pessoas que compõem uma rede, tenham vontade de participar dela, além de disponibilidade para trocar experiências. Além disso, é essencial considerar os avanços tecnológicos, pois quanto mais sofisticadas forem as tecnologias, mais valor tem o fator humano, exigindo maior compromisso com os projetos, maior capacidade inventiva e maior rapidez de resposta.

E neste cenário das tecnologias como facilitadoras da promoção de redes. Ugarte (2007) salienta que é fundamental pensar nas relações sociais propiciadas pelas redes, considerando a comunicação entre os atores e levando em conta que há uma diversidade de agentes ativos, de posições e identidades. Por conta disso, a convivência em rede supõe aceitar e conviver com esta diversidade.

A seguir, apresenta-se uma abordagem voltada às redes que compõem o processo de IC.