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Processo de estruturação do modelo de observatório para APLs

CAPÍTULO 4 – ESTRUTURAÇÃO DO MODELO DE OBSERVATÓRIO

4.1 Processo de estruturação do modelo de observatório para APLs

As necessidades dos representantes do setor TIC pelo desenvolvimento de um observatório foram identificadas em reuniões realizadas durante o desenvolvimento das atividades da meta número 10, do Projeto PLATIC, cujo objetivo era o mapeamento da cadeia TIC de SC e o desenvolvimento de um observatório tecnológico.

Estas reuniões ocorreram no período de agosto de 2005 a maio de 2006. Nestas ocasiões, além dos aspectos relacionados ao mapeamento da cadeia de TIC de SC, os representantes manifestavam algumas necessidades específicas relacionadas a informações estratégicas sobre o setor e já entendiam o observatório como um instrumento centralizador e disseminador dessas informações.

Desta forma, já se identificavam e coletavam os elementos que deveriam ser contemplados no observatório.

Nestas reuniões, a autora da pesquisa apresentava ao grupo as proposições referentes às etapas e atividades do modelo de observatório, para serem avaliadas, discutidas e validadas. Os resultados obtidos em cada reunião eram apresentados na reunião seguinte, gerando uma visão de conjunto e fortalecendo a tomada de consciência e o comprometimento de todos os integrantes da equipe, envolvidos com o processo de estruturação do modelo.

Com base nestas discussões dos atores do setor de TIC e na pesquisa inicial na literatura foi elaborada a primeira versão do modelo de observatório, apresentada na Figura 6.

Figura 6 – Versão 1 do modelo de observatório

Em reunião realizada com os representantes do comitê gestor do Projeto PLATIC, em maio de 2007, este modelo foi apresentado e foram feitas sugestões de melhorias, tais como os tipos de produtos e serviços que o observatório poderia oferecer, as formas de patrocínio do observatório, a infraestrutura, a forma de funcionamento e como seria a gestão do observatório.

Em paralelo ao aprofundamento da revisão de literatura, foi realizada uma pesquisa na Internet, visando identificar exemplos de observatórios existentes. Nestes observatórios identificaram-se características organizacionais e funcionais dos mesmos e conhecimentos demandados para elaborar um modelo de observatório.

Na intenção de proporcionar maior fluidez na leitura e compreensão do processo de estruturação do modelo de observatório, a análise desta pesquisa é, devido à sua extensão, apresentada no item 4.4 (página 158). Em contraponto, releva discutir mais a fundo as contribuições que esta pesquisa trouxeram ao modelo, de modo que não seria recomendável suprimi-la do corpo do trabalho.

Com os insumos da revisão de literatura e da pesquisa realizada na internet, o modelo passou por melhorias, ganhando novo formato.

OBSERVATÓRIO REDES DE INTELIGÊNCIA INTELIGÊNCIA COMPETITIVA ARRANJO PRODUTIVO LOCAL SUSTENTABILIDADE - Cadastro de coletores e analistas

- Estrutura enxuta, acionada por pesquisa

- Modelo de negócios que gere múltiplas fontes de financiamento

- Participação ativa das empresas e entidades patronais do setor - Automação de processos - Serviços de informação - Produtos de informação - Monitoramento e alerta - Atendimento especializado por APL - Geração de cenários prospectivos

Foram incorporados elementos que não haviam sido considerados no primeiro modelo. As variáveis contempladas no modelo inicial foram transformadas em fases, gerando uma nova configuração da proposta de modelo de observatório, visando estruturar melhor o processo de desenvolvimento do modelo.

Acrescente-se aos fatores apresentados, as oficinas realizadas no Projeto ODI-SC, no período de março a maio de 2008, onde os representantes do setor estavam presentes e levantaram várias necessidades informacionais, que foram vistas como gargalos que poderiam ser contemplados pelo observatório, como por exemplo, o foco de atuação de atuação e as linhas de pesquisa.

As oficinas realizadas foram:

 Oficina 1: Mudanças, rupturas e inércias;  Oficina 2: Identificação das variáveis chaves;

 Oficina 3 – Competências e qualificação de mão-de-obra no setor de TIC.

As Oficinas realizadas duravam cerca de 8 horas e eram conduzidas por um animador (condutor), com o apoio dos integrantes da equipe do Projeto ODI-SC. Várias ferramentas foram utilizadas para o desenvolvimento das oficias, tais como planilhas, flip chart, word, excell, post it, dentre outras. Participaram destas Oficinas, representantes (atores) do setor de TIC do Estado de Santa Catarina.

As atividades da Oficina 1 compreenderam a identificação de inércias, de mudanças e rupturas e a proposição de ações para o enfrentamento das mudanças e rupturas e inércias identificadas, em relação ao setor de TIC em SC. Os conceitos relativos a temática foram apresentados aos atores pelo animador, para reflexão e para que pudessem identificar as mudanças, rupturas e inércias, as quais, por meio de rodadas sucessivas, foram apresentadas e consensadas pelo grupo. Dentre as principais mudanças e rupturas destacam-se:

• visão de gestão dos empresários do setor;

• competição acirrada por mão-de-obra qualificada;

• reconhecimentos das empresas da importância do coletivo para obtenção de dados pesquisas, etc.;

• ambiente propício para instalação e fortalecimento das empresas do setor/estruturas já existentes do P&D, laboratórios etc.

• possível mudança na política tributária nacional (impactos federal, estadual e municipal);

• articulação do setor de TIC com o governo;

• maior velocidade no lançamento de novas tecnologias de impacto para o setor de TIC (games, wi-max etc.);

• definição e fomento de política para TIC; • adequação dos modelos de financiamento.

Em relação às inércias identificadas, as principais são:

• baixa adesão das empresas em iniciativas conjuntas/cooperação em redes/cultura individualista do setor;

• política e incentivos incipientes para formação de mão-de-obra para o setor de TIC (Federal/Estadual/Municipal);

• baixo nível de organização/integração do setor (empresas e pólos);

• inadequação da política tributária do setor de TIC (guerra fiscal, bitributação, encargos sociais elevados etc.);

• dificuldades na sustentabilidade das instituições de apoio ao desenvolvimento tecnológico;

• carência e falta de alternativas para prospecção de mão-de-obra;

• baixo nível de formação em gestão para os diversos níveis de

maturidade/ciclo de vida das empresas (empreendedores /

empreendimentos).

Após a realização das atividades da Oficina a equipe do Projeto ODI-SC conseguiu melhorar o entendimento em relação as mudanças, rupturas e inércias identificadas pelos atores participantes e que, efetivamente, impactam sobre o tema/problema de estudo e horizonte prospectivo para o estudo que está sendo realizado no Projeto, facilitando o estabelecimento de uma análise e de proposição de ações para gerenciar tais impactos.

No tocante às atividades relacionadas à Oficina 2, destaca-se a organização e validação de variáveis estruturantes. A oficina foi iniciada com uma reflexão individual, por parte dos atores presente, a fim de identificar e classificar as variáveis mais relevantes. O passo seguinte foi o registro das variáveis estruturantes

identificadas e classificadas. Por fim, realizou-se a validação coletiva, com os representantes do setor, e registro final das variáveis estruturantes reagrupadas por área de implicação (mercadológica, econômica, social, política, tecnológica, ambiental, regulatória e de gestão). Destacam-se as variáveis:

• alianças estratégicas; • concorrência; • cultura; • networking; • formação de redes; • inclusão digital; • governança do APL.

Na Oficina 3 foi possível identificar as principais mudanças relacionadas à empregabilidade do setor de TIC, destacando-se:

aquecimento dos setores: energético (petrolífero), games, ERPs, alimentos, transportes etc.;

• políticas de incentivos (federais, estaduais e municipais) à capacitação; • inovações tecnológicas radicais (mobilidade, convergência digital,

segurança, personalização);

• melhoria/degradação do ensino médio;

• valorização e ampliação de cursos profissionalizantes;

• tendência/mudança cultural para valorização do ensino técnico; • novos entrantes (empresas) se instalando no mercado de SC; • redução das áreas de desenvolvimento para áreas de serviços; • evasão da mão-de-obra para fora do estado e país;

• organização da atividade produtiva através de arranjos produtivos; • trabalho em rede de instituições associadas à capacitação.

Não é objetivo desta pesquisa, o detalhamento das oficinas realizadas e sim, mostrar em linhas gerais, os assuntos que foram abordados e onde, a autora desta pesquisa estava presente, objetivando coletar insumos para auxiliar no desenvolvimento do modelo de observatório para APLs.

Com base nesses subsídios, foi preparada a segunda versão do modelo de desenvolvimento de observatório para APLs, que foi apresentada na defesa do exame de qualificação desta tese, em julho de 2008, conforme Figura 7.

Figura 7 – Versão 2 do modelo de observatório

Após a defesa do exame de qualificação, e para complementar a pesquisa realizada na internet sobre observatórios existentes, foi enviado um questionário aos observatórios, visando identificar elementos que pudessem ser incorporados ao modelo que estava sendo desenvolvido. Foram selecionados 25 observatórios da lista dos 50 pesquisados, apresentados no Apêndice A.

Justifica-se a escolha desta amostra, levando-se em conta os observatórios citados pelos autores como bons exemplos de observatórios e, ainda, aqueles que apresentam ligação, mesmo que indireta, com a área de ciência e tecnologia. Os endereços eletrônicos (e-mails) foram coletados nos sites dos observatórios.

Dos 25 e-mails encaminhados, 5 apresentaram problemas no envio (endereços inválidos/inexistentes), 4 responderam ao questionário e os demais não responderam. O questionário ficou disponível no Google docs, sendo que o link para

acesso foi enviado com a mensagem de solicitação de participação na pesquisa (Apêndice B).

No questionário (Apêndice C), foram consideradas as variáveis: modelo de gestão, definição do objetivo e público alvo, rede de relacionamento, perfil da equipe executora das atividades, dificuldades encontradas na concepção e implantação do observatório e plano de sustentabilidade

As respostas obtidas foram analisadas e incorporadas na melhoria do modelo, principalmente nos aspectos ligados a equipe de operacionalização, modelos de gestão e formas de sustentabilidade do observatório. Esta pesquisa foi realizada de outubro a novembro de 2008.

Em março de 2009, foram realizadas visitas a três observatórios na Espanha (Observatorio Tecnológico de Instituto de Tecnologia Elétrica (ITE), Observatorio del Plástico e Observatorio Nacional de las Telecomunicaciones e de la Sociedad de la Información).

Nestas visitas foi possível ampliar os conhecimentos relacionados às variáveis pesquisadas nos observatório encontrados na Internet, além de conhecer outros aspectos ligados ao desenvolvimento e funcionamento dos observatórios, tais como infraestrutura, perfil dos usuários e da equipe de trabalho (funções e competências), detalhes relacionados ao portal do observatório, dentre outros. Justificam-se estas visitas pelo fato de alguns autores citarem a Espanha como uma das referências em observatórios e pela participação da presente autora, em um evento da área.

Os elementos identificados nestas visitas, na complementação da pesquisa realizada via questionário, nas necessidades apresentadas pelos atores dos APL durante as oficinas do Projeto ODI-SC e nas contribuições apresentadas pela banca, quando da defesa do exame de qualificação da tese, serviram para auxiliar na estruturação das etapas da versão três do modelo de observatório para APL, apresentada na Figura 8.

Figura 8 – Versão 3 do modelo de observatório

Na versão 3, foi acrescentada mais uma fase denominada diagnóstico, por ter sido considerada essencial para identificar a necessidade de desenvolvimento do observatório para o APL e também aspectos relacionados a esta necessidade, tais como contexto, tipo de observatório, recursos e características do APL. Esta fase não era contemplada na versão 2 do modelo.

Salienta-se ainda, que houve um maior detalhamento das atividades das demais fases, considerando as necessidades dos atores do APL, identificadas nas oficinas do Projeto ODI-SC, visando, desta forma, tornar o modelo mais abrangente, auto-explicativo e, na medida do possível, considerar todos os elementos necessários para o desenvolvimento de um observatório para APLs.

Esta versão do modelo foi encaminhada a gestores de observatórios, para avaliação e validação, acompanhada do detalhamento das fases e etapas que o compõe. Para efeito de padronização nominal, os gestores são denominados “especialistas”.

Em relação ao perfil desses especialistas, salienta-se que alguns atuam como gestores do observatório e outros desempenham funções tais como, elaboração de produtos, coleta e análise de informações, dentre outras atividades ligadas ao observatório. Alguns já não atuam mais em observatórios, mas possuem experiência na estruturação e desenvolvimento de observatórios. Dos sete especialistas que responderam a avaliação, dois são da Espanha e cinco são do Brasil.

O detalhamento desta atividade é apresentado na sequência.