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Desafios para o desenvolvimento de arranjos produtivos locais

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.5 Arranjo produtivo local

2.5.4 Desafios para o desenvolvimento de arranjos produtivos locais

Ao estimular processos de desenvolvimento de APLs, deve-se considerar que qualquer ação nesse sentido propicie a conexão do arranjo com os mercados, a sustentabilidade por meio de um padrão de organização que se mantenha ao longo do tempo, a promoção de um ambiente de inclusão de micro e pequenos negócios num mercado com distribuição de riquezas. E também, a elevação do capital social por meio da promoção e cooperação entre os atores do território (ABREU, 2002).

Além disso, Abreu (2002) ressalta que deve-se observar a democratização do acesso aos bens públicos como a saúde e a educação, a preservação do ambiente, a valorização do patrimônio histórico e cultural, o protagonismo local, a integração com outros atores, a mobilização de recursos públicos e privados aportados por agentes do próprio arranjo e a atração de recursos privados ou públicos complementares aos aportados pelos atores locais.

Na visão de Cassiolato e Lastres (2003), a proposição de políticas para mobilização de APLs deve considerar dois aspectos fundamentais: o primeiro se refere à importância de identificar e desenhar políticas que considerem as especificidades e requisitos dos diversos ambientes e atores locais. O segundo aspecto diz respeito à consideração de que as políticas serão mais efetivas e bem sucedidas se forem focadas no conjunto dos agentes e seus ambientes. Assim, o

foco em APLs pode ser visto como um formato potencializador das ações de promoção, por focalizar agentes coletivos, seus ambientes, suas especificidades e requerimentos e não somente como prioridade de política.

Estes autores ainda enfatizam que as políticas de promoção de APLs não devem ser implementadas de forma isolada. Elas devem representar os rebatimentos locais dos setores, cadeias produtivas e outras prioridades elencadas por um projeto nacional de desenvolvimento nacional de longo prazo.

Como bem coloca Lastres (2004), o principal objetivo das políticas de promoção de APLs é o apoio à geração, difusão e incorporação de conhecimentos que estimulem o crescimento e a sustentabilidade nos diferentes tipos de empresas de pequeno porte, tanto as de base tecnológica como as de atividades tradicionais. Os mecanismos que possibilitam o estreitamento das relações entre MPEs e as instituições do conhecimento para atender suas necessidades (produtivas, gerenciais, de marketing e comercialização) incluem:

• estímulo à pesquisa conjunta e às atividades de patenteamento; • conscientização sobre o papel da inovação;

• disponibilidade de serviços de consultoria;

• intercâmbio entre os pesquisadores das universidades e institutos de pesquisa e os colaboradores das empresas

• organização e participação em redes.

Botelho, Carrijo e Kamasaki (2007) defendem que é preciso promover a interação entre as empresas e as universidades e centros de pesquisa, pois ainda é muito reduzido o número de empresas que estabelecem essa interação. Desta forma, essa interação deve ser um dos focos principais das políticas voltadas aos APLs.

Estas autoras ainda salientam que a interação com instituições de ensino e pesquisa garante a qualificação e atualização permanente da mão-de-obra, a utilização dos laboratórios por parte das empresas e possibilitam a rápida difusão de informações necessárias às aglomerações produtivas.

Para Cândido, Silva e Costa (2006), a especialização, complementada pela cooperação existente entre as diversas aglomerações, constitui a base tecnológica dos APLs. Entretanto, a formação dos APLs, mesmo representando avanço se

comparado ao funcionamento isolado e disperso, não deve ser objetivo definitivo, e sim a transição para uma forma de organização superior, mais sistêmica, sustentável e com maior grau de interdependência entre os agentes, ou seja, os sistemas produtivos locais.

Na visão de Stelmacki Júnior (2008), há vários problemas que dificultam o desenvolvimento de um APL, destacando-se: falta de vontade política da administração central (municipal, estadual e/ou nacional); falta de veículo de ligação entre o mercado e a academia; falta de encontro que promova o compartilhamento de informações entre os agentes e as instituições envolvidas no processo; falta de estágios dos professores de nível técnico e superior nas empresas, o que pode gerar a alienação em relação a realidade vivida no mercado onde o APL encontra-se inserido; falha dos recrutores na busca por novos talentos habilitados e capazes de organizar o negócio, baseado na cooperação, como pré-supõe o sistema APL.

Uma abordagem interessante, e que também pode ser encarada como um desafio para os APLs aparece no trabalho de Ruthes e Nascimento (2006). Trata-se da importância da prospecção para os APLs. Segundo estes autores, com os estudos prospectivos podem-se identificar as prioridades de investimentos e ações que devem ser tomadas no presente para almejar o futuro desejado. A identificação de cenários que representem as possíveis oportunidades e demandas futuras, e também as ameaças e riscos, pode ser um fator que subsidie a tomada de decisão de forma mais coerente com as tendências internacionais e, por conseguinte, promova o desenvolvimento local de uma maneira mais estratégica. A articulação e coordenação das políticas em nível local, regional, nacional e até supranacional é essencial para que as mesmas obtenham sucesso.

Na mesma linha de pensamento, Schenatto et al. (2009) mencionam que os estudos prospectivos beneficiam os APLs, na medida em que emergem e implicam na construção de uma visão compartilhada acerca de suas identidades; na maior coesão estratégica dos atores envolvidos; na conscientização acerca da relevância e visibilidade regional do aglomerado; num posicionamento mais acertado das empresas que integram os APLs, em seus mercados-alvo; em ganhos decorrentes da sinergia gerada com a consciência e uso das competências internas; e na identificação de cenários futuros para os quais o APL deve preparar-se para competir.

Estes autores alertam que os estudos prospectivos não se constituem na única forma de responder aos desafios inerentes aos APLs, bem como não podem respondê-los de forma integral. Contudo, observam que, a partir de suas características conceituais e metodológicas, apresentam grande compatibilidade à problemática ou desafios enfrentados pelos APLs, uma vez que buscam a construção compartilhada de ações estratégicas, decorrentes da antecipação de futuros possíveis ou desejados, tendendo a conduzir ao desenvolvimento e à sustentabilidade dos APLs no longo prazo.

Para Pereira e Herschmann (2003), o envolvimento das diversas instituições em torno de ações específicas que demonstram preocupação com o desenvolvimento regional/local, deve evidenciar o modo de compreender o desenvolvimento como resultado da interação entre os diferentes atores. Essa valorização do inter-relacionamento dos diversos atores aponta para a necessidade de encaminhar propostas que dêem conta dos conflitos de interesses, da abertura de espaços e mecanismos de negociação, de conhecimento das dificuldades e possíveis soluções. É necessária ainda, a viabilização de instrumentos que estabeleçam compromissos entre estes atores, a fim de que suas ações encaminhem-se na direção da sustentabilidade do processo de desenvolvimento a ser estimulado.

Por fim, como bem coloca Stelmacki Júnior (2008), o sucesso do APL está intimamente ligado à sociedade onde está inserido. Desta forma, os APLs devem ser vislumbrados como formas modernas de organização institucional que possuem características próprias (flexibilização, desenvolvimento sustentado, função social, cooperação e responsabilidade social), geralmente refletindo os anseios mais contemporâneos da sociedade.

Verifica-se que as políticas de promoção de APLs devem ser focadas na interação entre os agentes econômicos, a fim de incentivar a discussão em torno de questões que propiciem a difusão da inovação e do aprendizado, considerados requisitos essenciais para aumentar a competitividade.

2.5.5 Considerações gerais

Neste item foram abordados aspectos relativos a arranjos produtivos locais, tais como conceitos e características dos mesmos. Foram apresentadas algumas vantagens obtidas com o desenvolvimento de APLs e, para finalizar, foram discutidos os principais desafios para o desenvolvimento desse tipo de arranjo.

As MPEs são importantes para o desenvolvimento da economia, pois geram renda e empregos. Entretanto, mesmo com grande flexibilidade e alto potencial inovador, possuem dificuldades para sobreviver no mercado altamente competitivo.

Uma alternativa para sanar esta dificuldade, é a inserção destas empresas em aglomerações, pois o aglomerado estimula o processo de aprendizagem devido a proximidade territorial, fator que propicia a troca de conhecimento entre as empresas. As MPEs precisam adotar estratégias associativas, envolvendo relações de parceria e cooperação com os vários tipos de agentes, sem o apoio dos quais, certamente teriam dificuldades para vencer os desafios existentes no mercado onde atuam.

Vários enfoques ressaltam a importância da articulação de empresas, e parte deles incorpora a dimensão territorial. A abordagem de APL se caracteriza particularmente por ressaltar a importância do aprendizado interativo, envolvendo diversos conjuntos de atores em âmbito local, como elementos centrais de dinamização do processo inovativo. E nesse sentido, os arranjos e sistemas produtivos ganham força e cada vez mais estão em pauta nas políticas públicas e de desenvolvimento.

Destaca-se, neste sentido, o SEBRAE, o MDIC e a Câmara de Gestão do Desenvolvimento das Aglomerações Produtivas e Redes de Empresas como propositores de ações e políticas voltadas especialmente para apoiar as micro e pequenas empresas, estimulando a formação de APLs, estimulando o desenvolvimento regional e local, buscando o aumento da competitividade dessas empresas por meio de ações setoriais, locais e regionais.

Os aglomerados de empresas em uma região recebem várias denominações, tais como distrito industrial, sistemas produtivos locais, arranjos produtivos locais,

clusters, cadeia produtiva, pólos e parques científicos e tecnológicos e redes de

empresas. Apesar das distinções existentes entre eles, a ênfase está na existência de mecanismos sociais de confiança e cooperação entre os agentes envolvidos.

Diante dos vários conceitos de APLs identificados na literatura, percebe-se que há destaque para o papel da inovação e do aprendizado interativo, como fatores de competitividade.

Como características dos APLs, destacam-se: capacidade de ter e manter uma convergência em relação às expectativas de desenvolvimento; estabelecimento de parcerias e compromissos entre os atores envolvidos; divisão de trabalho entre as empresas; compartilhamento de visões e valores econômicos, sociais e culturais; participação e interação entre as empresas e outras instituições públicas e privadas, envolvidas com P&D, financiamento, políticas, formação e capacitação de pessoas; geração, compartilhamento e socialização de conhecimento tácito; relações de confiança entre os atores; colaboração; sinergia; capacidade inovativa e aprendizado interativo e proximidade ou concentração geográfica.

No tocante as vantagens proporcionadas pelos arranjos produtivos, foi possível identificar que são muitas. Entre elas destacam-se: aumento da competitividade; aprendizado coletivo; menores custos na transação e difusão de informações e na estocagem, comercialização e distribuição de produtos; prospecção de oportunidades; monitoramento de novos mercados; intensificação do processo de inovação; aumento da competitividade; favorecimento da cooperação e sinergia entre as empresas; promoção de novas políticas de incentivo ao desenvolvimento regional; aumento da influência política das empresas; maior acesso às linhas de financiamento.

Para que estas vantagens sejam obtidas, os responsáveis pelo desenvolvimento de políticas voltadas aos APLs precisam pensar neles como uma organização, precisando, portanto, de planejamento e todas as técnicas necessárias para facilitar seu gerenciamento.

Por outro lado, quando se trata de desenvolvimento de APLs, muitos são os desafios a serem enfrentados. Inicialmente, é preciso considerar que qualquer ação nesse sentido deve gerar a conexão do arranjo com o mercado e a sua sustentabilidade ao longo do tempo. Além disso, ressalta-se a preocupação com políticas que considerem as especificidades e requisitos dos vários ambientes e atores locais. Essas políticas terão mais efetividade e serão mais bem sucedidas se forem focadas nesse ambiente e no conjunto dos atores. Desta forma, as políticas de promoção de APLs devem ser focadas na interação entre os agentes econômicos, visando incentivar discussões em torno de questões que propiciem a

difusão da inovação e do aprendizado, considerados requisitos essenciais para aumentar a competitividade.

Outro desafio, apresentado pelos autores está relacionado a interação entre as empresas e as universidades e centros de pesquisa, pois ainda é muito reduzido o número de empresas que estabelecem essa interação. Com essa interação, mais conhecimento poderia ser transmitido, permitindo solucionar mais problemas, gerar mais conhecimento, incentivar e auxiliar no desenvolvimento de processos de inovação.

Mesmo diante destes desafios, pode-se concluir que a aglomeração de empresas e o aproveitamento das sinergias geradas pelas suas interações fortalecem suas chances de sobreviver e crescer, constituindo-se em fonte de vantagem competitiva essencial.

A participação em APLs auxilia as empresas, principalmente as MPEs, a ultrapassarem as barreiras ao crescimento, a produzirem mais eficientemente e a comercializarem os seus produtos e serviços em mercados nacionais e internacionais, expandindo sua atuação e aumentando sua vantagem competitiva.