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CARTAS E HOMÍLIAS PARA OS CONVERTIDOS T

PedAgogiA e P aíxão : ditos de

CARTAS E HOMÍLIAS PARA OS CONVERTIDOS T

portanto, depois da primeira viagem missionária de Paulo (At 13 e 14) e antes do Concilio, que ocorreu no ano 50.6 Não temos cartas de Paulo do período entre sua conversão, em meados da década de 30 do primeiro século, e o ano 49; e, na verdade, Gaiatas é a única carta endereçada a pessoas convertidas por Paulo em sua primeira viagem missionária. O restante de suas cartas são de um período posterior à segunda viagem missionária, que ocorreu em 50-52. Obviamente, cartas escritas às igrejas fundadas durante aquela viagem missionária não poderíam ter data anterior a 52.

Gálatas é uma carta crucial em muitos aspectos, e um dos principais é o fato de que ela enuncia alguns dos mais importantes temas de Paulo, como a justificação pela graça, através da fé, “Cristo e este crucificado”, o fruto do Espírito, a lei de Cristo, a visão de Paulo sobre a lei mosaica, a imitação de Cristo, Abraão como modelo, o papel do Espírito na vida cristã, a autoridade apostólica de Paulo, a importância da missão aos gentios, o relacionamento de Paulo com Pedro, Tiago e Barnabé, entre outros, a conversão de Paulo, a fé/fidelidade de Cristo e a liberdade que os crentes têm em Cristo. Ela também revela Paulo em sua face mais polêmica, proporcionando, assim, uma visão do que o movia, quais eram suas paixões. Na mesma carta, temos o extraordinário comentário, encontrado em Gálatas 3.28, sobre a unidade batismal dos crentes em Cristo, que transcende e transforma todas as distinções ou divisões de ordem social, sexual e racial ou étnica. Essa carta também enuncia claramente a noção do que, mais tarde, seria chamado ortodoxia, isto é, de que existem concepções e representações do evangelho, sendo que algumas são certas e outras erradas, e há princípios inegociáveis envolvidos. Essa ortodoxia envolve questões tanto teológicas quanto éticas. É possível ultrapassar os limites da ortodoxia, não apenas no modo como a pessoa pensa a respeito do evangelho, mas também no modo como se comporta. Paulo se esforça bastante nessa carta para impedir que os gálatas se submetam à circuncisão e à exigência de obedecer à lei mosaica, que estava sendo insistentemente recomendada a eles por cristãos judeus agitadores, provavelmente oriundos de Jerusalém.

Uma das chaves para a leitura dessa ou de qualquer outra carta paulina é analisar sua estrutura retórica e identificar a proposição básica ou tese (conhecida, em termos retóricos, como propositio). Em Gálatas, a tese se encontra em 2.15-21, que diz o seguinte:

Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios, sabemos, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, mas sim pela fé em Jesus Cristo. Nós também temos crido em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois pelas obras da lei ninguém será justificado. Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também encontrados pecadores, seria por caso Cristo

6 V. a discussão extensa em meu livro Grace in Galaria: A Commentary on St. Paui s Letter to the Galatians (Grand Rapids: Eerdmans, 1998), p. 8-48.

60 ❖ A HISTÓRIA DO NOVO TESTAMENTO

ministro do pecado? De modo nenhum. Ora, se reconstruo aquilo que destruí, demonstro que sou transgressor. Pois, pela lei, eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo. Portanto, não sou mais eu quem vive, mas é Cristo quem vive em mim. E essa vida vivo agora no corpo, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim. Assim, não cancelo a graça de Deus; pois se a justiça vem por meio da lei, então Cristo morreu inutilmente.

Paulo parece estar preocupado com duas coisas principais. Primeiramente, quais são as implicações do fato de que os crentes são salvos pela graça por inter­ médio da fé (subjetivamente) e (objetivamente) da fidelidade de Cristo até a morte de cruz? Em segundo lugar, como devem viver, então, os cristãos, em vista do fundamento e fato da salvação? É nesse último assunto que Paulo gasta a maior parte de sua verbosidade argumentativa nessa carta. Num mundo que achava que a essência da religião tinha a ver com sacerdotes, templos, liturgias seguidas à risca e sacrifícios, Paulo proclama uma religião cuja essência é o pensamento reto e a vida reta, onde os rituais têm papel secundário.7 O tema do comportamento e dos rituais surge novamente na segunda carta mais antiga que temos, escrita por um dos autores do NT, isto é, a carta de Tiago aos convertidos gentios na Diáspora, redigida no Concilio Apostólico, no ano 50 (e encontrada em At 15). Essa carta foi levada por Paulo e seus colaboradores na segunda viagem missionária. Passa­ remos, agora, a essa carta e à carta canônica de Tiago.

AS CARTAS DE T lA G O

Eu gosto sempre de verificar se meus alunos estão realmente alertas. Por isso, costumo perguntar-lhes quantas cartas de Tiago existem no NT. E claro que eles sempre respondem: “Só uma”. Essa resposta, porém, não está muito certa. O veredicto de Tiago, citado em Atos 15.19-21, transforma-se numa carta de Tiago e dos outros apóstolos e anciãos de Jerusalém, escrita no ano 50 (At 15.23-29). A carta é importante porque transmite uma decisão que, em essência, exige que os gentios evitem ir a templos pagãos e, portanto, evitem todo tipo de imoralidade e idolatria associadas àqueles locais.8 A carta reconhece que os gentios convertidos eram atormentados por cristãos judaizantes e também a necessidade de não sobre­ carregar os gentios com muitas exigências do ritualismo judaico. Essencialmente, o que se exigia deles era que cumprissem o cerne dos Dez Mandamentos — não praticar a idolatria e a imoralidade. Nem a circuncisão nem as prescrições alimen­ tares em si são impostas aos gentios. A questão aqui se resume ao fato de comer

7 Observe como Paulo fala pouco sobre o batismo nessa carta e como ele enfatiza a vida no Espírito (cf. G! 3 e 5).

8 V. o livro The Brother ofJesus: The Dramatic Story and Meaning of the First Archaeological Link to Jesus and His Family, que escrevi juntamente com H. Shanks(San Francisco: HarperCollins, 2003), p. 132-9.

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