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HIS TORIAS DA FAMÍ1.1A DF JESUS 'S*

HistóriAs d.A ÍAmíliA de Jesus

HIS TORIAS DA FAMÍ1.1A DF JESUS 'S*

dados acessórios e vislumbres que temos a respeito desses personagens os mostram como pessoas normais, com falhas humanas, mas, ao mesmo tempo, como uma fé crescente e, por vezes, forte e corajosa. No caso de Tiago, vemos alguém que venceu a descrença e se tornou seguidor de seu irmão, ou, melhor dizendo, alguém cujas dúvidas foram dissipadas após uma experiência pessoal com o Jesus ressurreto.

Particularmente tocante é o retrato de Maria, tanto no evangelho de Lucas quanto no de João. No evangelho de Lucas, ela é mostrada como discípula em treinamento. Mas, em João, ela é retratada como uma pessoa integrada na família da fé aos pés da cruz. Ela, assim como seu marido José e seu filho Tiago, é mostrada como uma judia extremamente devota que luta para entender Jesus e seu ministério. É a esse significado de Jesus, conforme exposto no que poderiamos chamar de cristologia narrativa, que nos dedicaremos nos últimos dois capítulos deste livro. Passemos, então, às histórias do próprio Jesus.

Ex e r c í c i o s e q u e s t õ e s p a r a e s t u d o e r e f l e x à o

d* Descreva num texto de uma página como você imagina que seria sua vida, se Jesus fosse seu irmão mais velho. Inclua nessa descrição como seria se você fosse Tiago e se tornasse o chefe da família porque José faleceu e Jesus vive viajando. Isso teria tornado mais fácil ou mais difícil para os irmãos de Jesus crerem nele?

*r Descreva o modo como Maria é retratada no evangelho de Lucas e no de Marcos. Quais são as diferenças entre essas duas representações? Como você explicaria as diferenças a alguém que estivesse intrigado com os vários relatos? Na sua opinião, Maria já era discípula de Jesus antes de sua morte e ressurreição? *:• O que Mateus quer dizer com a afirmação de que José era “homem justo” e

“decidiu separar-se [de Maria] secretamente? Por que o autor usa o verbo “separar”, se eles ainda não eram casados? O que você acha que tinha acontecido com José, na época em que o ministério de Jesus começou?

T Por que os escritores dos evangelhos não se preocuparam em contar o final das histórias de José, Maria e Tiago?

d* O que fez com que Tiago se tornasse discípulo? Descreva seu papel na igreja primitiva, à luz de Gálatas 1 e 2 e Atos 15 e 21. Na sua opinião, qual a impor­ tância de Tiago para o movimento cristão primitivo, em comparação com Pedro e Paulo?

HisIórÍAs de Jesus forA

dos evAngelHos

amarei a linda história de Jesus...”, diz o hino, e, nos últimos dois capítulos deste estudo, é isso que pretendemos fazer. São histórias que foram gravadas em pedra, esculpidas em altares, forjadas em aço, pintauas em vitrais, escritas em oratórios e impressas na nossa memória. Ouvi- las novamente é como estar em St. Chapelle, em Paris, e olhar extasiado a história da Bíblia contada com riqueza de detalhes nos magníficos vitrais do salão superior. Gostaríamos de examinar tanto as formas mais simples de contar essas histórias, quanto as mais grandiosas. Assim, examinaremos neste capítulo as várias narrativas encontradas fora dos evangelhos, começando com os escritos de Paulo.

Je s u s n a s c a r t a s d e Pa u l o

Como muitos já observaram, Paulo não gasta muito tempo falando sobre o ministério terreno de Jesus. Gálatas 4.4 diz que Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei. Portanto, Paulo afirma tanto a origem judaica de Jesus quanto sua humanidade. Romanos 8.3 diz que Cristo foi enviado em semelhança de carne pecaminosa para ser uma oferta pelo pecado. Essa descrição deixa claro que sua aparência não era diferente de nenhum de nós, mas, de fato, ele era sem mácula e sem pecado, podendo, portanto, efetuar a expiação perfeita. Romanos 1.3, 4 diz que Jesus é de origem davídica, e Romanos 9.5 o coloca na linhagem dos patriarcas. Paulo também narra sucintamente a história da última ceia, em ICoríntios 11.23, mostrando ter conhecimento, tanto da traição de Jesus, quanto do anúncio da nova aliança feito por ele na última ceia. Mas nenhum desses textos é tão revelador quanto os que se baseiam no material sobre Jesus contido em hinos cristológicos, como veremos adiante. A história de Jesus é vista por Paulo segundo uma perspectiva extensa fornecida não só pela história da salvação, mas também pela história do divino Filho de Deus que preexistia à criação de todas as coisas.

190 H I S T Ó R I A S D O N O V O T E S T A M E N T O

Nas cartas de Paulo, as histórias de Cristo e dos cristãos estão intimamente entrelaçadas de várias maneiras, de modo que elas começam contando a história de como o mundo está sendo restaurado. A história de Cristo éo fulcro, o ponto crucial que leva as histórias anteriores a um apogeu e define o modo como tudo terminará. De fato, a história do povo de Deus se contrai, restringindo-se à história de Cristo, a semente de Abraão, quando ele vem ao mundo; mas depois se expande novamente para incluir os seguidores de Jesus. Assim, do mesmo modo que ocorreu com o surgimento de Moisés, a história da humanidade sofre, mais uma vez, uma reviravolta decisiva quando Cristo entra em cena. Porém, quando Moisés desceu do monte, ele trazia atrás de si nuvens de glória. Ironicamente, Cristo decidiu deixar sua glória para trás para poder assumir integralmente a forma humana — na verdade, a forma de servo entre seres humanos. A história do Cristo — os acontecimentos que com­ puseram o curso de sua vida— é resumida de forma extremamente hábil e imponente no material do hino cristológico encontrado em Filipenses 2.5-11.1

Talvez seja bom dizer, antes de tudo, o que não constitui o objetivo desse fragmento de hino. Seu objetivo não é estabelecer uma comparação entre a história de Cristo e a de Adão. Diferentemente, por exemplo, de lCoríntios 15.45-49, a linguagem do último Adão, ou Adão escatológico, que dá origem a uma nova linhagem de seres humanos, não existe aqui. Um judeu cristão monoteísta como Paulo nunca teria achado adequado que um mero ser humano como Adão fosse adorado como Senhor exaltado, como vemos no final desse hino. É preciso, também, explicar que glória ou posição era essa que Jesus possuía e do qual abriu mão, e que os outros humanos não tinham. Além disso, a história do Gênesis não diz nada sobre Adão e Eva desejarem igualdade absoluta com Deus; diz apenas que eles queriam ser como Deus. Por fim, os versículos de 5 a 7 dizem que Cristo fez opções que afetaram sua forma e condição terrenas. Cristo optou por abandonar uma forma para assumir a forma humana — na realidade, um servo entre os humanos. A frase “na forma de homem” é inexplicável se ele nunca tivesse sido nada além de um ser humano. Portanto, o que temos nessa sinopse da história de Cristo é uma narrativa sobre uma pessoa que existia antes de assumir a forma humana e continuou existindo no céu, após a morte.

Filipenses 2.6-11 é uma história dividida em duas partes. Na primeira metade do hino, que tem um padrão em V (onde a preexistência, a existência terrena e a existência no céu após a vida na terra são os três pontos nodais que formam o V), Cristo é o ator que pensa, escolhe e vive uma existência terrena planejada. Na segunda metade do hino, entretanto, a história diz respeito ao que Deus fez por Cristo como resultado de sua atitude e de seus atos, inclusive sua morte. Temos

1 Esse material aparece numa forma um pouco diferente em meu livro Paul) Narrative Thougbt World: The Tapestry ofTragedy and Triumph (Louisville: Westminster/John Knox, 1994).

H I S T Ó R I A S D E J E S U S F O R A D O S E V A N G F . I H O S 191

nesse hino uma interessante justaposição das imagens ligadas a preexistência, servo sofredor, sabedoria, humildade e exaltação.

É importante ressaltar que o versículo 5 faz um paralelo deliberado entre a disposição de ânimo e a tomada de decisão do Filho de Deus preexistente e o processo semelhante que ocorre com os cristãos. Esse sublime fragmento de discurso teológico tem, curiosamente, uma função ética, cujo objetivo era fazer com que Cristo fosse imitado pelos crentes. Cristo abdicou de sua posição, não se valeu de suas prerrogativas divinas, assumiu posição inferior e se submeteu até à morte na cruz — tudo isso por vontade própria. É claro que a analogia traçada aqui entre o comportamento de Cristo e o dos cristãos é apenas isso — uma analogia. Mas é poderosa. A essência da analogia está em que nós devemos seguir o exemplo de auto-sacriíício de Cristo, para que outros possam ser beneficiados. A primeira metade do hino tem um ímpeto parenético. Pode ser, também, que a segunda metade esteja insinuando que Deus fará pelo crente o mesmo que fez por Cristo: proporcionar-lhe a ressurreição, dizendo: “Sobe para cá, irmão ou irmã”, e coisas do gênero. A história do vencedor crucificado deve ser recapitulada na vida de seus seguidores, como estava ocorrendo com o próprio Paulo, de várias maneiras. Nessa mesma carta, Paulo diz: “para conhecer Cristo, e o poder da sua ressurreição, e a participação nos seus sofrimentos, conformando-me a ele na sua morte, para ver se de algum modo consigo chegar à ressurreição dos mortos” (Fp 3.10, 11). Paulo menciona isso, em grande parte, porque vê a si mesmo como alguém seguindo o exemplo de Cristo para que seus convertidos façam o mesmo. Isso fica bem claro em 3.14-17, onde Paulo apela explicitamente: “Irmãos, sede imitadores” (cf. lC o 11.1). No entanto, é preciso lembrar o contexto. Não se trata de arrogância; é o exemplo que um bom mestre deve dar. Paulo não está dizendo que ele é o modelo, mas apenas um bom exemplo de como seguir o modelo.2

Podemos argumentar que Paulo acreditava que o cristão obtinha de Deus uma justiça extrínseca por meio da fé em Cristo e independente de obras (Fp 3.9). Certamente é verdade, mas isso não anula de forma alguma a motivação ética dessa narrativa da história de Cristo. De fato, Paulo supõe que o dom da reconciliação com Deus é a plataforma ou base para exortar seus leitores a procurarem ser semelhantes a Cristo e prometer-lhes a conclusão do processo, se eles permanecerem fiéis até o fim. A expressão “ganhar Cristo” (3.8) não significa apenas conquistar uma posição correta diante de Deus; é alcançar a completa semelhança com Cristo na ressurreição (3.10, 11).

Alguns detalhes da narrativa revelam muito acerca do que Paulo pensa sobre o personagem central da história. Por exemplo, a palavra morphõ, que deu origem a vocábulos como metamorfose, sempre significa uma forma externa que expressa fiel e precisamente o verdadeiro ser que está por baixo dela. Isso significa que

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