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HISTÓRIAS DF-JESUS FORA DOS EVANGELHOS

HistóriAs d.A ÍAmíliA de Jesus

HISTÓRIAS DF-JESUS FORA DOS EVANGELHOS

nas cartas de Paulo. Também não existe em Atos o mesmo tipo de cristologia que temos no início e no fim do evangelho de Mateus — a da presença do Emanuel sem interrupção ou fim. Em outras palavras, a cristologia de Lucas parece mais simples e mais primitiva que a encontrada nas cartas de Paulo ou na teologia da incorporação do quarto evangelho — fato esse que pode ser confirmado por meio do exame de alguns resumos de sermões cristológicos do livro de Atos (v. adiante).

A perspectiva histórica de Lucas evidencia-se totalmente, se compararmos o modo como o termo “Senhor” é usado em Atos e no evangelho de Lucas. Lucas chama Jesus de “Senhor” nas partes narrativas dos dois volumes de sua obra (cf. Lc 7.13 com At 23.11), de uma maneira que os autores dos outros sinóticos evitam fazer. Também parece que Jesus chama a si mesmo de Senhor, indiretamente, em Lucas 19.31-34, mas esse uso do termo também aparece nos outros sinóticos e pode significar pouco mais que “amo” ou “dono”. Entretanto ninguém mais chama Jesus de Senhor no evangelho de Lucas, a menos que seja uma pessoa sob inspiração (Lc 1.43, 76) ou que a palavra seja dita pela boca de um anjo (2.11). Uma vez ocorrida a ressurreição, várias pessoas podem chamar e de fato chamam Jesus de Senhor, e o fazem, no curso comum dos acontecimentos (cf. Lc 24.34 com At 10.36-38).

O mesmo tipo de fenômeno pode ser visto nas referências à filiação divina. No evangelho, Jesus só é chamado de Filho por vozes que não são humanas (Lc 1.32, 35; 3.32; 4.3ss.; 8.28). Mas em Atos 9.20 e 13.33 Paulo o chama assim clara e abertamente. Da mesma forma, referências a Jesus como salvador ou como aquele que salva, no evangelho, só são encontradas em lábios sobre-humanos (2.11, 30; 3.6); mas, após a ressurreição e ascensão, essas declarações passam a fazer parte da confissão da igreja (At 4.12; 5.31; 13.23). Lucas está extremamente cônscio da diferença que a ressurreição fez, em termos do que Jesus realizou e do que ele havia se tornado para seus seguidores. Ele não poderia cumprir verdadeiramente seu papel cristológico — nem seus seguidores o teriam confessado como Cristo — se não tivesse ressuscitado dentre os mortos. Para Lucas, a ressurreição é o divisor de águas, tanto da cristologia quanto da eclesiologia.

Não é de todo surpreendente que, nesses dois volumes tão firmemente alicer­ çados em considerações históricas, não haja uma clara linguagem de preexistência aplicada a Cristo, embora alguns textos possam transmitir implicitamente essa noção. É interessante notar, porém, que Atos 2.31 sugere que Davi anteviu a ressurreição de Jesus, mas não diz nada sobre Davi ter visto ou previsto o próprio Jesus. De qualquer modo, a preexistência de Cristo (que não está ligada à sua manifestação histórica) não é um assunto que Lucas queira debater ou sequer abordar. A preocupação de Lucas como historiador é contar a história de Jesus, desde seu nascimento até sua atual e contínua exaltação no céu, onde reina como Senhor sobre todas as coisas. Lucas também se refere a Cristo como o juiz vindouro (At 3.20ss.; 17.31), embora esse assunto também não seja uma de suas preo­ cupações centrais em nenhum dos dois volumes. Veja o foco da descrição que

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Pedro faz em Atos 2.22-36, em que todo o escopo do ministério de Jesus é historiado, desde seu nascimento como homem (2.22) até sua exaltação e coroação, nos versículos de 33 a 36.

A humanidade de Jesus é enfatizada em Atos por meio da constante referência a ele como “o nazareno” (3.6; 4.10; e outros), como ocorre no evangelho. Observe que essa procedência é freqüentemente destacada juntamente com o nome Jesus Cristo, e não apenas Jesus. Em vários aspectos, Atos 10.36ss. é um dos textos mais importantes de Atos para a discussão cristológica, pois nessa passagem vemos não só o Cristo exaltado — aquele que é Senhor de todos — , como encontramos, também, a chamada noção cristológica baixa, segundo a qual Deus esteve com Jesus e o ungiu com Espírito e poder enquanto ele esteve sobre a terra. A questão é que Lucas pretende enfatizar a humanidade de Jesus, mas, ao mesmo tempo, revelar seus papéis divinos.

Atos 2.30 e 13.33 colocam em evidência o Filho de Deus de descendência davídica que reina sobre Israel nos últimos dias. Essa não é uma das imagens principais de Atos, mas é importante porque deixa claro que Lucas não tem intenção de retratar Jesus como simplesmente um homem ou um salvador genérico, mas sim como judeu — de fato, o Messias judeu. Isso condiz com a utilização do material de Isaías em Atos (At 3.13; 4.27-30), que revela que Jesus é o servo de quem falou o profeta.

Com base em textos como Atos 2.36 (em que é dito que Deus fez Jesus Senhor e Cristo), muitos têm afirmado que Lucas conta a história de Cristo de uma forma que sugere que, na ressurreição, ele se tornou algo que não era anterior­ mente. Essa interpretação menospreza o fato de que Lucas opera num modo histórico e narratológico, e discute tais assuntos sob uma perspectiva funcional. O que importa para Lucas não é quem Jesus é antes e depois da ressurreição, pois ele é “esse mesmo Jesus” em ambos os casos. Lucas quer, na realidade, esclarecer quais os papéis ou funções que Jesus assume após a Páscoa e que não poderia assumir antes dela, pelo menos não plenamente. O ponto central para Lucas é o fato de que, somente após sua exaltação, Jesus poderia assumir verdadeiramente as funções de Senhor sobre todos e Messias e Salvador para todos. Em outras palavras, Lucas não é dado a especulações ontológicas; esses textos se referem a papéis e funções e quais incumbências Jesus tinha em que época. O autor, simplesmente, conta os fatos como historiador e numa estrutura histórica.

Embora seja verdade que não há muita reflexão sobre a natureza expiatória da morte de Cristo em Lucas—Atos, não se pode negar que alguma reflexão existe. Uma das formas que essa ponderação assume encontra-se no texto problemático de Atos 20.28, na boca de Paulo. O texto, provavelmente, quando diz “seu próprio sangue”, refere-se ao sangue de Cristo. Outro exemplo está na discussão sobre o sofrimento de Cristo a fim de libertar as pessoas de seus pecados, ou proporcionar- lhes perdão (cf. At 13.38 com At 2.38).

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Examinemos um pouco mais detalhadamente dois títulos-chave usados em Atos: kyrios(Senhor) e christos(Cristo). O primeiro é de longe o mais usado ao longo de Lucas—Atos, ocorrendo com freqüência quase duas vezes maior que

christos.Aliás, a maioria das referências a Cristo como kyriosestão em Lucas— Atos (210 vezes) e nas cartas paulinas (275 vezes), de um total de 717 ocorrências no NT. O conceito básico de Lucas sobre kyrios parece ser “aquele que exerce domínio sobre o mundo” e, particularmente, sobre a vida e os acontecimentos humanos. Em outras palavras, o termo é sempre usado relacionalmente, porque para alguém ser considerado senhor é preciso haver súditos.

O termo kyriosocorre em Atos 104 vezes, das quais apenas 18 são referências a Deus Pai e 47 definidamente referem-se a Jesus. A maioria das restantes refere-se ou a Jesus ou a Deus, embora não esteja sempre claro o que o autor quis dizer em alguns desses textos. A referência a Jesus é patente em alguns textos porque kyrios

está combinado com o nome Jesus (1.21; 4.33; 8.16; 15.11; 16.31; 19.5, 13, 17; 20.24, 25; 21.13), ou com o nome Jesus Cristo (11.17; 15.26; 28.31). Também está claro que, quando temos theose kyrioscombinados, o texto não está se referindo a Jesus (2.39; 3.22). Em Atos 2.34, que se baseia em Salmos 110.1, tanto Deus quanto Jesus são chamados de Senhor. Seria errado concluir de um texto como esse que Lucas vê Cristo apenas como o Senhor dos crentes, pois Atos 10.36 torna tal afirmação impossível.

Lucas, até mesmo em Atos, parece saber muito bem que, à medida que o tempo passava, a terminologia “Senhor” era cada vez mais usada em relação a Cristo. É impressionante que a grande maioria das referências em que Deus, e não Jesus, é chamado de Senhor encontram-se em Atos de 1 a 10 (2.39; 3.19, 22; 4.26; 7.31; 10.4, 33) ou nos lábios de judeus ou prosélitos do judaísmo. Quanto mais longe avançamos no livro de Atos, mais os cristãos falam por si mesmos; e, quando fazem isso, a palavra “Senhor” quase sempre significa Cristo. Depois do concilio, em Atos 15, só um texto usa claramente kyriosem referência a Deus, e não a Cristo: Atos 17.24. Lucas não se esquiva do paradoxo de falai- de um Senhor ressurreto (Lc 24.34); na verdade, é dito que foi a ressurreição que fez dele Senhor, num certo sentido (At 2.36). O que isso sugere é que Lucas algumas vezes usa o termo para indicar quando Jesus começou a atuar como Senhor, e outras simplesmente como a forma cristã de se referir a Cristo no contexto gentílico do autor.

O modo como Lucas usa christosem Atos é mais unívoco. O termo ocorre 26 vezes, e em todos os casos, como era de esperar, refere-se a Jesus. Textos como Atos 3.18 ou 4.26, que têm o adjetivo possessivo “seu”, mostram que Lucas conhece o significado original do termo christose também compreende seu caráter relacionai. Se alguém é “o Cristo”, é porque outra pessoa o ungiu, isto é, Deus. Conseqüen- temente, em Atos Jesus é o Cristo, ou Ungido de Deus; mas é o Senhor dos crentes (e de todas as outras criaturas). A expressão completa “nosso Senhor Jesus Cristo” (15.26) inclui essas duas relações. Lucas deixa explícito em duas passagens que ser

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um cristão envolve confessar Jesus como “o Cristo” (9.22; 17.3). No testemunho dentro da sinagoga esse assunto se torna mais premente. Para fins de generalização, podemos dizer que o termo “Cristo” funciona principalmente como nome quando os ouvintes são gentios, mas pode ser usado como título quando os ouvintes são judeus (embora passagens como 2.38; 4.10; 8.12; 10.48 e 15.26 deixem evidente que isso nem sempre é verdade). O mais crítico para os judeus era confessar que Jesus era o Cristo, o Messias judeu (5.42; 17.3), enquanto para os gentios o mais difícil era confessar Jesus como Senhor (15.23-26). Lucas também ressalta que estava no plano de Deus que o Cristo sofresse (17.2, 3) e fosse ressuscitado (2.31 citando SI 16.10). Por último, o batismo no nome de Jesus Cristo é visto como o rito de entrada característico dos cristãos (cf. At 2.38; 10.48).

Esses são os elementos da história de Cristo que se encontram espalhados em pequenas frases e breves comentários no livro de Atos. Os pedaços da história são reunidos, porém, em alguns dos resumos de sermões, três dos quais estudaremos agora. Em sua maioria, os sermões cristológicos focalizam o final da vida terrena de Jesus. Em Atos 2, a história começa com o fato de que Jesus era um homem aceito por Deus, como demonstravam os milagres que ele fazia. Lemos, então, que foi Deus quem entregou Jesus aos oficiais judeus, quem o colocou nas mãos dos gentios para ser julgado: “e matastes a ele, que foi entregue pelo conselho determinado e presciência de Deus, crucificando-o por mãos de ímpios” (2.23). Deus, entretanto, reverteu essa situação ressuscitando-o dentre os mortos. Um tempo considerável é gasto explicando que a morte não podia reter Jesus, e que Davi anteviu sua ressurreição (2.24-32). Depois, no versículo 33, lemos que Jesus foi exaltado à destra de Deus, recebendo a promessa do Espírito Santo, que ele, então, derrama sobre seus seguidores. No momento da exaltação, Jesus assumiu as posições de Senhor e Cristo. Até esse momento, ele não podia salvar ninguém porque não podia derramar o Espírito, que é o agente da transformação. Observe como Lucas conta a história de modo que ela culmina onde Jesus está agora, no céu, exaltado e derramando ativamente o Espírito sobre várias pessoas. Cristo não é visto como o ausente proprietário da igreja, mas como alguém ativamente envolvido no processo salvífico-histórico.

O sermão de Atos 3.13-16 também se concentra no final da vida de Jesus, mas com detalhes diferentes. Mais uma vez, os judeus ouvem que eles entregaram Jesus; dessa vez, Pilatos é mencionado especificamente, mas o texto diz que ele havia decidido deixar Jesus ir embora. “Mas vós negastes o Santo e Justo, e pedistes que um homicida fosse libertado. Matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos.” Os paradoxos da história são enfatizados nessa narrativa, e o tom é mais acusatório, embora o sermão diga depois que os judeus agiram assim por ignorância (3.17).

O sermão na sinagoga, em Atos 13.16-41, é muito mais longo e contém uma revisão um tanto extensa da história da salvação, bastante semelhante ao discurso de Estêvão em Atos 7. No versículo 24, ouvimos que João pregou o batismo de

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arrependimento a Israel. João afirmou que não era Aquele que havia de vir, decla­ rando-se indigno de desatar suas sandálias (v. 25). O sermão diz que o povo e as autoridades de Jerusalém não reconheceram Jesus, mas, na verdade, ao condená-lo eles simplesmente cumpriam as Escrituras. Eles não encontraram motivo que justificasse sua execução, mas o mandaram a Pilatos assim mesmo. Observe que o versículo 29 diz que, depois de cumprirem tudo o que a respeito dele estava escrito, eles o colocaram num túmulo, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos e ele foi visto durante muitos dias por aqueles que o acompanharam desde a Galiléia até Jerusalém. Depois disso, nos versículos de 33 a 37, temos uma demonstração tirada de Salmos, mostrando que Jesus seria ressuscitado e que seu corpo não sofreria decomposição, de forma muito semelhante à que encontramos no sermão de Pedro, em Atos 2. O versículo 39 transmite a noção de que, por intermédio de Jesus, todo aquele que crê pode ser justificado, até mesmo de pecados que a lei mosaica nunca perdoaria. Nesses discursos resumidos, vemos que o ponto central é a narrativa da parte da história mais importante para a salvação efetuada por Jesus Cristo. Esses sermões são evangelísticos e, portanto, o foco tem de ser a morte e ressurreição de Cristo, e o fato de que esses eventos faziam parte do plano de Deus para salvação do mundo, incluindo tanto os judeus quanto os gentios. São usados vários títulos e há diversas referências ocasionais a milagres ou ensina­ mentos de Jesus, mas, basicamente, o ponto central é a Paixão e ressurreição. Em alguns sermões há uma introdução que aborda os acontecimentos anteriores à época do ministério de Jesus, em vez de uma expansão da história para contar mais sobre o ministério. Um modo um tanto diferente de contar a história encontra-se em Hebreus; mas, como veremos, ali também o foco está no Jesus exaltado e no que ele pode fazer, e efetivamente faz, por seu povo enquanto está no céu.

A h i s t ó r i a d e Cr i s t o n a h o m í l i a d e H e b r e u s

A contribuição de Hebreus para a história de Cristo é a discussão sobre sua função de Cristo como sumo sacerdote celestial do crente. Contudo, essa homilia revela mais a respeito do final da vida de Jesus do que normalmente se encontra nas cartas de Paulo. Em Hebreus também temos breves sumários da história de Jesus. Por exemplo, Hebreus 12.2 fala sobre Jesus, o autor e consumador da fé, que suportou a vergonha da cruz e se assentou à destra do trono de Deus no céu. Em Hebreus 13.12, lemos novamente: “Por isso, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, Jesus também sofreu fora da porta da cidade”. Existe uma forte tendência nessa homilia de interpretar o final da história de Jesus à luz das passagens do Pentateuco que falam sobre sacerdotes e sacrifícios. Embora se concentre mais na exaltação de Cristo, o autor também fala sobre sua ressurreição (13.20). Essa ho­ milia, porém, tem um prólogo em forma de hino não muito diferente do que encontramos em João, em que o autor menciona a preexistência do Filho por

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intermédio do qual o universo foi formado (1.2). O prólogo também afirma que o Filho, que é a própria imagem e resplendor de Deus, agora sustenta todas as coisas por meio de sua palavra e é o herdeiro de todas as coisas. O texto acrescenta ainda que, depois de fazer a purificação dos pecados, ele se sentou à destra de Deus, tornando-se o braço direito do Pai. O mesmo padrão em V que vimos no hino de Filipenses 2 repete-se rapidamente em Píebreus 2.9, ao dizer que Jesus foi feito um pouco menor que os anjos, transformado-se em Filho do homem, mas agora está coroado de glória e honra por ter padecido na morte.

A completa humanidade de Jesus é enfatizada. Flebreus 2.17 diz que ele foi feito semelhante aos humanos em todos os aspectos para que pudesse ser, ao mesmo tempo, o fiel sumo sacerdote e o sacrifício expiatório. O texto diz que ele sofreu quando foi tentado (2.18). Aliás, 4.15 diz que ele passou pelas mesmas tentações que nós enfrentamos, mas não pecou. Em Flebreus 5.7-9, temos uma impactante descrição da experiência de Jesus no Getsêmani: “Nos dias de sua vida, com grande clamor e lágrimas, Jesus ofereceu orações e súplicas àquele que podia livrá-lo da morte, e tendo sido ouvido por causa do seu temor a Deus, embora sendo Filho, aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu. Depois de aperfeiçoado, tornou- se a fonte da salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.

O autor de Flebreus meditou profúndamente no significado da morte de Jesus como parte da história que ainda está em andamento, e teve algumas percep­ ções singulares. Ele vê o céu como o reino da perfeição e, portanto, o sofrimento e a morte constituem um processo de aperfeiçoamento que conduz o indivíduo ao reino perfeito. A morte de Jesus é um sacrifício perfeito que torna qualquer outro sacrifício posterior absolutamente supérfluo. Ao atravessar o véu, Jesus entra no santuário celestial como um sumo sacerdote e não só oferece a Deus os resultados do sacrifício, fazendo deste modo a expiação, mas também, com base no sacrifício, intercede junto ao Pai pelos que estão aos seus cuidados (cf. Hb 4— 10). Além disso, a história é contada em Hebreus 11 de tal modo que Cristo se torna o ponto máximo da galeria dos heróis da fé. O pioneiro e modelo de como ser fiel até a morte (Hb 12.1, 2).

Em Hebreus, a história não é contada numa seqüência linear, sem rodeios. O autor, como bom pregador, se repete, mas a exposição é poderosa e profunda, e lança mais luz sobre o papel de Cristo no céu do que todos os outros livros do NT. Diz mais, também, sobre o sacrifício expiatório de Cristo na cruz do que as outras explanações do NT. Nesse livro encontramos, portanto, o Filho divino preexistente, o Filho do homem inteiramente humano, o servo sofredor e o sacerdote, o filho obediente e devoto, o perfeito sacrifício expiatório, o sumo sacerdote celestial que intercede e o herdeiro de todas as coisas. Em alguns aspectos, dentre todas as narrativas da história de Jesus, essa é a de maior abrangência e profundidade.

Mas, no último livro do NT, há outra explanação igualmente impressionante, embora escrita de maneira e estilo completamente diferentes.

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A h i s t ó r i a d e C r i s t o n a s v i s õ e s d e Jo ã o d e Pa t m o s

João conta a história de Cristo de forma apocalíptica e, até certo ponto, mitológica.'’ Consideraremos a história contada em Apocalipse 12 como uma retrospectiva, e depois examinaremos a narrativa em Apocalipse 5, que fala do papel de Cristo atualmente no céu. Por último, veremos o que é dito em Apocalipse 19 sobre o cavaleiro montado no cavalo branco, que se refere ao futuro papel de Cristo quando ele vier para julgar o mundo.

Apocalipse 12.1 começa contando que o autor viu um grande sinal5 6 ou pro­ dígio aparecendo no ouranos. A pergunta que surge é se ouranos é o céu atmosférico ou o céu invisível. Qualquer uma das duas opções é possível, mas, à medida que a história prossegue, a última parece ser a mais adequada. O texto fala de uma mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa (stephanos) de doze estrelas. Muito se tem discutido se essa coroa representa as constelações ou, mais especificamente, os doze signos do zodíaco. O ponto importante é que nessa mulher repousa o destino de toda a humanidade, com base na noção de que as estrelas controlam o futuro ou destino. Porém, a questão é: Quem é essa mulher?

A hipótese ainda defendida pela maioria dos estudiosos católicos diz que ela é Maria. Isso não é impossível, mas dois fatores geralmente se consideram como contrários a essa conclusão: (1) o versículo 17 fala sobre “os restantes da sua descen­ dência” (sperma, aqui significando semente). É certamente pouco provável que isso seja uma referência aos outros irmãos consangüíneos de Jesus. Ao contrário, é

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