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Como dominar profundamente cinco fundamentos tão esquecidos da boa comunicação

Fred Smith

Todo verão você pode encontrar anúncios para campos de basquete ou de futebol americano onde estrelas de grande renome, por um certo valor, instruem jovens que sonham com a fama atlética. Questiono-me o quanto de aprendizado realmente ocorre quando um zagueiro de grande renome, que passa a maior parte de seu tempo predizendo e manobrando com primor defesas sofisticadas, tenta ensinar alguém na faixa etária dos 12 aos 15 anos que ainda está tentando desco- brir como segurar a bola com mãos ainda pequenas para isso.

Suspeito que, com freqüência, um efeito similar acontece naqueles que querem alcançar equilíbrio e eloqüência de grandes estrelas no púlpito. A chave é não focalizar nas técnicas esplêndidas, mas nos fundamentos. O progresso surge de nos concentrarmos nas coisas básicas até podermos realizá-las automaticamente. Aqui estão algumas áreas fundamentais que observo que os oradores negligenciam

quando tentam melhorar.

Estabeleça uma atmosfera amigável

Em grande medida, a atmosfera que estabelecemos determina o quanto o nosso sermão será eficiente. A atmosfera é criada tanto por nossas mensagens ver- bais quanto por nossas mensagens não-verbais.

Ouço muitos pregadores, por exemplo, que são bastante descuidados e relaxa- dos em seus comentários iniciais. Talvez isso aconteça porque eles não pensaram sobre eles, mas o clima que eles já criam desde o início faz com seja difícil ao ouvinte se beneficiar do restante do sermão.

A maioria de nós sabe que você não quer começar com um comentário nega- tivo. "Espero que todos vocês me desculpem por minha voz esta manhã. Estive resfriado a semana inteira."

Ou: "Eu realmente fico grato por todos vocês terem vindo em um dia ruim e chuvoso como hoje".

Ou: "Pessoal, nós simplesmente não estamos conseguindo reunir pessoas su- ficientes. Quando eu levanto e olho para esta congregação...".

Que tipo de impressões essas apresentações causam nos ouvintes? Provavel- mente, não uma impressão boa. Você não está começando da necessidade deles. Está começando de sua necessidade, e essa não é a forma de engajar as pessoas com a expectativa pela palavra que você tem para transmitir.

É por isso que gosto de começar com algo como: "Essa foi uma semana ma- ravilhosa" — as pessoas querem saber por que ela foi maravilhosa. Elas tiveram uma semana detestável. Mas há poucas semanas em que não tenha havido ao menos alguma coisa que a tornasse boa. — "Não fui processado nenhuma vez essa semana". E as pessoas riem.

Ou: "Não tive nenhum acidente automobilístico nessa semana, nem mesmo um arranhão". E, a seguir, você pode dizer: "Não, realmente. Foi uma boa semana. Falei com alguns amigos ao telefone e fui simplesmente lembrado do maravilhoso presente da amizade". Isso constrói uma atmosfera atraente. Isso transmite um sentimento com que qualquer um pode se identificar. As pessoas podem dizer a si mesmas: Sim, eu falei com alguns amigos nesta semana também. E às vezes esqueço

como isso é bom.

Essa é uma forma de estabelecer uma atmosfera afetuosa, amigável. Existem outras formas, mas o importante é evitar começar negativamente ou a partir de interesses próprios ou insegurança. Quero comunicar disposição, o fato de que estou aqui para servir essas pessoas.

Esse preparo da atmosfera, é claro, começa antes de eu falar a primeira pala- vra. Podemos mostrar afetuosidade pelo nosso comportamento na plataforma. Tento escolher certas pessoas e sorrir para elas. Isso não apenas confirma essas pessoas, mas também mostra a toda a congregação que estou contente em estar ali.

As pessoas precisam saber como você se sente antes de começar a falar. Elas querem saber se você está cordial, preocupado ou furioso. Para mim, a disciplina mais difícil na fala é subir ao púlpito com a atitude correta. Se não quero falar, é difícil para mim falar bem.

O controle da atitude é necessário. Preciso subir lá com uma atitude cordial, com um desejo genuíno de ajudar aquelas pessoas, dar-lhes algo que será benéfico.

Encoraje a participação, não a observação

Outro modo em que podemos melhorar é lembrar que nosso objetivo não é simplesmente ter uma platéia de pessoas sentadas calmamente enquanto falamos, mas queremos que ocupem sua mente com nosso tema. Uma das chaves para ocupar as pessoas é usar um estilo de conversação. As pessoas prestam atenção nisso sem antipatia. Quando levanto a minha voz, as pessoas tendem a colocar uma barreira para meu volume intensificado. É como aquela história daquele menino que contou à sua mãe que havia decidido tornar-se pregador.

"Por quê?", a mãe perguntou.

"Bem", disse o menino, "se eu vou freqüentar alguma igreja a minha vida inteira, prefiro ficar em pé e gritar a ficar sentado e ouvindo isso o tempo todo"

No instante em que alguém começa a gritar, as pessoas se distanciam mental- mente. Muitos pregadores pensam que estão fazendo isso para enfatizar, mas geral- mente isso não funciona assim. Na verdade, isso tira a ênfase.

Se quero dizer algo realmente importante, abaixo o volume da minha voz — e as pessoas quase que se inclinam para a frente para ouvir o que estou dizendo. Em certo sentido, estou colocando intimidade ao abaixar o volume da voz. Com isso, estou dizendo: "Esse ponto é realmente importante para mim. Estou contan- do algo a vocês que vem do meu coração".

O que mais podemos fazer para encorajar a participação? Não necessaria- mente providenciar entretenimento. Se as pessoas só estão prestando atenção porque estão esperando a próxima história ou a próxima piada, eu me transformo em animador de platéia. Meu objetivo não é que as pessoas digam: "Nossa, você é um grande orador". Então eu sei que fracassei. Se elas estão conscientes de minha habilidade de falar, elas me vêem como um orador. Elas não participaram. Meu objetivo é que as pessoas digam: "Sabe, Fred, eu tive esse tipo de idéias a minha vida inteira, mas nunca consegui expressá-las em palavras". Então sinto que lhes dei uma alavanca. Cristalizei seus pensamentos e experiências em uma afirmação ou história e os tornei reais para eles. Eu os capacitei a transmiti-los para outros. É claro que o orador é que deve dar o discurso, mas você pode deixar os ouvintes "falar" também. Você fala por eles. Se estou falando a respeito de um ponto controvertido, direi: "Posso saber pela cara de vocês que realmente não concordam com isso". Ou: "Vocês estão dizendo para mim: 'Você pode até dizer isso, mas isso não se encaixa em minha situação". E concordo com você, porque não somos iguais.

O que eu fiz é dizer as palavras que eles pensaram para eles. Eles estão pensan- do: Ele entende. Ele não está tentando enfiar isso nossa goela abaixo. E eles querem que eu continue a conversa. A chave aqui é termos certeza de que estamos vendo o processo como uma conversa, e não uma apresentação.

Mostre que você é confiável

Mantenho uma vigilância constante em minha credibilidade. Preciso praticar o que prego. A menos que eu possa confiar em mim quando faço uma afirmação, não a faço.

Suponhamos que tive uma discussão com a minha esposa antes de pregar. Não usarei uma ilustração ou afirmação a respeito do amor matrimonial porque Mary Alice não acreditará em mim se eu disser algo assim — nem eu acreditaria. Mesmo que a afirmação seja completamente verdadeira, eu não poderia dizê-la e acreditar nela.

Agora, se tenho uma conversa com Mary Alice e digo: "Querida, eu estava errado", ou: "Você estava errada", ou ainda: "Nós estávamos errados", e resolvemos a questão, então eu posso acreditar em mim dizendo algumas coisas sobre casa- mento. Mas não pedirei aos meus ouvintes que acreditem em algo em que eu não consigo acreditar.

Para mim, isso significou desistir de dizer algumas coisas que eu adoraria me ouvir dizendo. Não posso usar de forma eficaz um material que tenha que ver com mudanças "miraculosas" repentinas porque acredito tanto no processo. Embora eu acredite nos milagres da Bíblia, tenho dificuldade em ensinar as pessoas a esperar por eles.

Não posso ser um pregador inspirador que diz: "Você pode fazer qualquer coisa que se ache capaz a fazer... e o que sua mente puder conceber, o corpo pode realizar". Não sou assim.

Também não posso pregar de maneira eficaz sobre profecia. Embora eu con- siga ouvir outros fazerem isso e aprecie sua aptidão para tal, não posso fazê-lo de maneira confiável porque tenho tantos receios pessoais. Eu não me sentiria em terreno sólido. Teria de citar uma outra pessoa. Como oradores dignos de crédito, temos que estabelecer alguma autoridade ou não há razão alguma para alguém nos ouvir.

Você pode estabelecer sua autoridade sendo um pesquisador ou um estudioso da Bíblia ou ao relatar certas experiências de vida. Mas qualquer que seja sua autori- dade, você tem de ter cuidado com a extrapolação — apropriar-se de um princípio de uma área que você não conhece e aplicá-lo a uma área que você não conhece.

E na extrapolação que a maioria dos oradores mostra sua ignorância, e isso mina sua autoridade genuína. Ouço alguns pregadores extrapolando o seu conhe- cimento no mundo empresarial, e eles fazem isso bem. Outros, entretanto, con- tam uma história relacionada a negócios e revelam como sabem pouco a respeito de negócios.

Assim, sou cuidadoso quando extrapolo. Estou me apoiando em coisas que de fato sei? Quando as pessoas vêem que estou fingindo estar familiarizado com algo que não conheço, isso prejudica minha credibilidade.

Torne a sua voz imperceptível

Poucos oradores têm uma grande voz, mas a maioria tem uma voz perfeita- mente adequada se as pessoas podem entender suas palavras. Mas eu descobri que as pessoas desconectam quando o pregador usa um dialeto do seminário e desen- volveu uma pronúncia intelectual, ou fala como se estivesse recitando Shakes- peare. Digo imediatamente: "Ele está representando".

Se estou consciente da voz de um orador depois de ouvi-lo por dois minutos, então a voz se tornou uma distração. Nos dois primeiros minutos, as pessoas deve- riam se decidir em relação à voz do pregador e, depois, não pensar mais a respeito

dela. É exatamente como acontece com sua roupa. Quando você levanta para pregar, se as pessoas reparam na sua roupa depois de vê-lo uma vez, tem alguma coisa errada com ela. Você está vestido de maneira exagerada ou de maneira desleixada. Não está vestido adequadamente para pregar. A mesma coisa é verdade em relação à voz. Ela deveria soar natural.

Mas sempre existe mais que isso. A voz sempre deve ter algum fogo — con- vicção, animação. Fogo na voz significa que a mente e a voz estão engajadas no ato da fala. Existe uma relação direta entre uma mente ativa e uma voz ativa.

Por exemplo, se não estou totalmente interessado em um ponto, o omitirei porque minha voz será insípida. Minha voz me trairá: "Esse ponto não é impor- tante", independentemente das minhas palavras. Ela comunica aos ouvintes que, na verdade, não estou interessado. Se eu tentar disfarçar, os que são sensíveis acabam por perceber isso. Assim, é contraproducente tentar convencer as pessoas de um ponto em que você não acredita.

Gosto de ouvir as pessoas dizerem certas palavras. A maneira que as pessoas dizem "Deus" sempre me intrigou. Em alguns casos, você pode quase sentir o relacionamento. Em outros, isso é majestoso. Em outros, é severo e irritadiço. O fato de que isso é tão diferente entre diferentes pessoas significa que ali existe um relacionamento diferente, e a voz está dizendo o que a mente sente.

Fogo na voz não tem nada que ver com uma voz boa ou uma voz ruim. Algu- mas da^vozes mais lastimáveis que eu já ouvi vêm dos melhores pregadores. Mas os ouvintes prestam atenção em uma voz ruim contanto que ali haja fogo, porque logo que os ouvintes percebem que a voz é real, adaptam-se a ela.

Use gestos deforma eficaz

Os gestos têm o seu próprio vocabulário. O pintor espanhol Goya colocava tanta intensidade para pintar as mãos quanto para pintar o rosto, porque as mãos são a parte mais difícil do corpo para ser pintada. Delsarte estudou por vários anos como as mãos mostram emoção. Ele se tornou tão bom nisso que podia sentar em um parque e dizer se um bebê estava sendo segurado por uma criada ou por sua mãe pela intensidade das mãos.

Também me tornei interessado no que as mãos podem dizer. Quando assisto a um orador, observo as mãos. Quero ver se os gestos são espontâneos ou progra- mados. Quero ver se os gestos espontâneos são repetidos ou variados. Meu amigo Haddon Robinson tem o melhor repertório de gestos de mãos que eu conheço. Tentei contar os diferentes formatos que sua mão faz, e o número é astronômico. No entanto, os gestos são completamente espontâneos e estão em harmonia com o que ele está dizendo e com o som de sua voz. Ele tem um grande vocabulário tanto de gestos como de palavras.

Descobri que oradores não podem desenvolver perícia com gestos rapida- mente, mas se dedicar ao progresso. Aqui está uma dica para começar. Se você

proferir uma afirmação mais veemente, em vez de se tornar intenso muito cedo, é melhor relaxar seu corpo e se afastar meio passo do público. Então, exatamente antes de você fazer a afirmação mais veemente, ande um passo em direção aos ouvintes e se endireite. Dessa forma, tanto seu corpo como sua voz projetam a mensagem.

Entre os gestos, você precisa incluir também mostrar às pessoas os seus olhos. Na fala, os olhos são quase tão importantes quanto a voz. Todo mundo sabe a im- portância do contanto visual, mas a tentação que eu tenho é de me concentrar em algumas pessoas na frente que estão prestando atenção. Talvez eu me sinta inseguro, mas é mais fácil falar a essas pessoas. Tenho que me lembrar de não negligenciar aquelas nos cantos ou alas laterais. Como o fazendeiro que está alimentando as gali- nhas, você precisa arremessar o milho por toda a parte para que todo mundo consiga um pouco. Assim, eu digo a mim mesmo: lembre-se das galinhas menores mais afastadas. Quero que saibam que também estou pensando nelas.

Capítulo 37

A B R I N D O A M E N T E F E C H A D A D O S O U V I N T E S