• Nenhum resultado encontrado

Ed Dobson

Os ouvintes no nosso programa de evangelismo, no sábado, à noite são com- postos por um terço de indivíduos sem igreja, um terço de pessoas que saíram de alguma igreja e um terço de pessoas não ligadas a nenhuma igreja, de forma que a maioria tem um ponto de vista secular. No final do culto, respondo às perguntas escritas; não faço idéia o que elas serão de antemão. As perguntas vão desde sobre predestinação à masturbação, do aborto ao suicídio, e minhas respostas nem sem- pre são o que as pessoas gostariam de ouvir.

Em uma noite, alguém escreveu: "Eu sou gay e sempre fui gay. Está tudo bem com isso?".

"O que você realmente está perguntando", respondi, "é: 'O que a Bíblia diz a respeito da sexualidade?'. A Bíblia ensina que a sexualidade é um presente de Deus para ser experimentado dentro do compromisso do casamento heterossexu- al. Meu entendimento da Bíblia é que todas as expressões da sexualidade fora desses limites não estão dentro do plano criativo de Deus".

"Você está me perguntando se está certo ter sentimentos homossexuais? Sim, está. Mas as Escrituras não permitem que você leve à prática esses sentimentos como uma expressão legítima da sexualidade. Se você tenta ignorar esse fato, há conseqüências, uma das quais é desagradar a Deus".

Respostas assim podem irritar pessoas que não aceitam um padrão absoluto de verdade. Um homem me disse: "Realmente gosto de sábado à noite, mas quan-

do você responde àquelas perguntas, gostaria que você deixasse de se referir à Bíblia e me dissesse o que realmente pensa".

Elogiei o homem por ser tão perspicaz. O ponto de nosso culto atraente para os que buscam não é dizer às pessoas o que eu penso, mas ajudá-las a se conectar com a verdade bíblica. Em uma cultura marcada pelo relativismo, hostil em relação às noções de verdade imutável e fundamental, o evangelho pode ser ofensivo, não importa o quão positiva seja a minha apresentação. As vezes, isso não pode ser evitado.

Mas, às vezes, pode. Descobri que posso fazer com que ouçam a verdade do evangelho, mesmo em uma cultura relativista. À medida que conduzi os cultos abertos para os que buscam e me tornei amigo de não-cristãos, reuni vários princí- pios para alcançar os céricos corn a verdade.

Explique a razão

O espírito do individualismo, mais do que o de comunidade, domina nossa cultura, concedendo ao relativismo um forte atrativo. "Você acredita no que quer e eu acredito no que quero" é o espírito dos nossos tempos. Se um casal em um programa de televisão diz: "Estamos casados há 60 anos e ainda estamos felizes", o auditório aplaude. Mas se eles disserem: "Acreditamos que todo mundo deveria permanecer casado a vida inteira", eles serão vaiados e tirados de cena.

O individualismo penetrante tem um lado positivo. As pessoas estão à busca do que pode melhorar seu estilo de vida, de forma que posso alcançá-las se eu demonstrar que os valores que ensino são verdades benéficas para qualquer um. Preciso mostrar aos céticos modernos a sabedoria prática dos princípios bíblicos, particularmente aqueles princípios que parecem rígidos ou intolerantes.

Por exemplo, para a maioria dos leigos, "não se ponham em jugo desigual com descrentes" é a idéia mais ridícula e mais bitolada que já ouviram. Em sua mente, se duas pessoas se amam, isso é tudo que importa. Eles pensam que é tolo, até mesmo trágico, a religião interferir no amor.

Quando falo sobre esse assunto, concentro a atenção nas razões lógicas por trás do princípio bíblico: "Você não pode construir uma casa se baseando em dois conjuntos de plantas. No casamento, se uma pessoa dirige a vida conforme valores enraizados nas Escrituras; e a outra, conforme outro conjunto de valores, é apenas uma questão de tempo até que eles colidam em relação a como criar filhos, gastar dinheiro ou usar o tempo de lazer. Mais cedo ou mais tarde, conjuntos de valores rivais baterão de frente. Deus sabe disso. Ele adverte contra estar em jugo desigual porque quer que os casais evitem conflitos dolorosos".

As pessoas do mundo secular normalmente são sensíveis a uma argumentação assim. Uma vez que entendem que Deus é a favor delas, não contra elas, ficam mais abertos a obedecer a Deus a partir do amor e submissão, não meramente porque a obediência oferece uma recompensa neste mundo.

Apele à curiosidade das pessoas a respeito da Bíblia

Embora muitas pessoas do mundo secular rejeitem a noção de valores absolu- tos, elas são curiosas a respeito do que a Bíblia diz. E se vão à igreja, eu tomo por certo que elas têm ao menos algum interesse nos ensinamentos da Bíblia ou não estariam ali em primeiro lugar.

Quando respondo aos céticos ou a pessoas em busca, sempre introduzo meus comentários com a seguinte observação: "Se você está perguntando o que a Bíblia diz, aqui está a resposta". Se eu uso rodeios e fico inventando coisas em torno da Bíblia, meus ouvintes não me respeitarão. Às vezes, preciso dizer francamente: "Posso não gostar da resposta da Bíblia, vocês podem não gostar dela, mas aqui está o que ela diz".

Em um sábado à noite, uma pergunta dizia: "Sou cristão. Meu irmão não era cristão quando cometeu suicídio. Assim mesmo acredito que ele estará no céu. O que você pensa a respeito disso?".

"O que você está perguntando é se a Bíblia mostra várias opções em relação a como ir para o céu", respondi. Tenho que ser honesto com você. As Escrituras dizem que Cristo é o único caminho para o céu e não existem outras opções. Você provavelmente está pensando: Mas o que isso significa para o meu irmão? Já que você é cristão, sem dúvida teve alguma influência sobre ele; talvez antes de ter tomado essa decisão horrível, talvez ele tenha se arrependido e entregue sua vida a Cristo". Eu teria adorado dar a ele a segurança de que o irmão está esperando por ele no céu, mas eu não podia. Concluí: "Se você está perguntando se as pessoas po- dem ir para o céu sem ter aceito a Cristo — não, elas não podem. Gostaria de dizer a você que isso não importa, mas se eu dissesse, eu seria desonesto com a Bíblia". As pessoas respeitam esse nível de integridade.

Tento satisfazer a curiosidade natural das pessoas a respeito da Bíblia de duas formas. Prego versículo por versículo domingos de manhã, e, sábados à noite, uso a Bíblia para responder a perguntas tópicas. Ao passar por um livro versículo por versículo, a certa altura darei de cara com uma questão que interessa a um indi- víduo. As perguntas de sábado à noite me forçam a lidar com preocupações ur- gentes dos ouvintes.

Conheça o que é essencial e o que não é

Conseguimos fazer com que os ouvintes do mundo secular nos ouçam quando não confundimos coisas essenciais com não essenciais. Tento distinguir entre três tipos de verdades: absolutos são verdades essenciais à fé, verdades que nunca mudam (como a salvação somente por meio da graça), convicções são crenças em relação às quais os cristãos ortodoxos podem diferir (como a forma de governo eclesiástico); preferências são tradições ou costumes (como gostos musicais) que podem ser compatíveis com a Bíblia, mas não são baseadas na Bíblia e podem mudar de cultura para cultura e ao longo do tempo.

Naturalmente, às vezes as pessoas diferem a respeito de qual categoria a que um assunto pertence, mas a maioria das questões parece cair em uma categoria ou outra.

Não pule os temas difíceis

Quando você está tentando fazer com que ouvintes seculares lhe dêem ouvi- do, é tentador diluir temas densos ou evitá-los completamente. Temos medo de que as pessoas desconectem do nosso sermão.

Mas descobri que isso é um erro. Justamente quando penso que sei o que a cultura quer ouvir e o que não quer, sou completamente surpreendido novamente. Nossa série de sábado à noite mais popular era intitulada: "O que significa ser cristão?". Sob qualquer aspecto — o número de pessoas presentes, a resposta dos ouvintes e a manutenção de contato — foi a série de quatro noites mais bem- sucedida na história de nossos sábados. Até então eu havia lidado com temas como depressão, amargura e perdoar os pais. A última coisa que eu esperava era uma reação a um tema tão simples e franco.

Aprendi uma lição valiosa. Não preciso trocar mensagens bíblicas e francas por alguma coisa que está na moda. As pessoas têm uma fome espiritual básica que apenas a pregação bíblica fiel pode satisfazer.

Descobri que posso pregar até mesmo a respeito do assunto mais complicado, contanto que eu o equilibre com boas novas. Realizamos uma série de duas partes no sábado à noite, uma sobre o céu e a outra sobre o inferno.

Começamos o assunto da vida após a morte contando experiências de quase morte provenientes da literatura popular. Não estava preparado para dizer que essas experiências eram reais, mas apontei que elas freqüentemente encontravam paralelos no ensino bíblico sobre a morte e a vida após a morte. A noite sobre o céu foi bem recebida.

Mas na outra semana, disse: "O que eu não disse a vocês na semana passada foi que há outras experiências de quase morte descritas na literatura que não são tão agradáveis. De fato, é incrível como muitas dessas experiências encontram paralelos no que a Bíblia diz a respeito do inferno". Pude perceber que as pessoas estavam desconfortáveis com essa segunda sessão, mas elas ouviram atentamente.

Estabeleça a autoridade

Acredito que, em gerações anteriores, a maioria dos pregadores podia tomar por certo que os ouvintes lhes conferiam um certo grau de autoridade. Muitos pregadores também podiam tomar por certo que sua congregação tinha um mínimo de conhecimento bíblico. Hoje em dia, não tomo nada por certo. Considero como certo que quase todo mundo questionará praticamente tudo que digo. Além disso, tomo por certo que a maioria dos ouvintes sabe pouco, senão nada, a respeito da Bíblia.

Mas como você estabelece a autoridade com um grupo que cresceu segundo a máxima: "Questione a autoridade"? Eu descobri que pessoas assim me verão como digno de crédito se eu fizer o seguinte:

Deixar as pessoas falarem- um pouco. Nos sábados à noite, sempre usamos cinco

a oito minutos para deixar alguém compartilhar o que Deus fez em sua vida. Os ouvintes aceitam minha mensagem se eles virem que ela faz diferença para alguém que não é pago para propagar a religião.

Recentemente renovei os votos de um casal que estava perto do divórcio. O marido havia vivido com outra mulher por um ano. O divórcio estava para ser oficializado quando os dois começaram a freqüentar os sábados à noite, indepen- dentemente um do outro. Ambos acabaram entregando sua vida a Cristo.

O marido logo terminou o relacionamento com a mulher com que estava vivendo. O casal distanciado começou a se falar novamente. Eles finalmente de- cidiram: "Ei, se Deus pode nos perdoar, podemos perdoar um ao outro. Vamos começar de novo".

Assim, na frente dos seus amigos incrédulos, eles renovaram seus votos. Fui à recepção depois. Era fascinante ouvir seus amigos não salvos tentando descobrir o que havia acontecido com esse casal. Devido a essa experiência, muitos deles começaram a comparecer ao culto do sábado à noite. Eles não podiam negar a diferença que Cristo havia feito na vida dessas duas pessoas.

Praticar o que prego. As Escrituras dizem que podemos silenciar a tolice de

pessoas ignorantes com nosso bom comportamento. Isso envolve ir a lugares que Cristo iria e passar tempo com pessoas com que ele passaria tempo. E, do púlpito, digo que, se Cristo estivesse em minha cidade hoje, provavelmente não estaria presente em minha igreja. Ele estaria lá entre os pobres e os marginalizados.

Essa é uma razão pela qual nos envolvemos ajudando as pessoas que estão morrendo de AIDS. Quando o centro de recursos para a AIDS realiza sua festa anual de natal no centro, alguns membros de nossa igreja comparecem. Eventos desses são uma grande oportunidade para ministrar. Em uma dessas festas, encon- trei uma mulher em estado avançado da doença que tinha dois filhos também diagnosticados com o vírus. Pude falar com ela a respeito do amor de Jesus Cristo. Nossa igreja doa dinheiro para cobrir os custos dos que morrem da doença e não têm recursos. Além disso, todo Natal, o centro de recursos para a AIDS nos dá uma lista de nomes de pessoas sofrendo por causa da doença e uma lista de pedi- dos que distribuímos à nossa congregação. Reunimos as doações, e os receptores sabem que foi a nossa igreja que doou os presentes.

Nosso envolvimento com os que sofrem por causa da AIDS tem construído credibilidade. Não é incomum que nossos cultos do sábado à noite atraiam adep- tos da comunidade gay. Mulheres têm ficado em pé e dito: "Sou uma ex-lésbica. Cristo mudou minha vida por meio desta igreja".

Aceitar as pessoas como elas são. Em um domingo de manhã, um homem en-

trou no nosso culto da manhã com a palavra de baixo calão que começa com "f" estampada em sua camiseta. Muitas pessoas tiveram dificuldade de engolir isso. Como ouvi depois, quando as pessoas se levantaram para cantar a primeira músi- ca, muitos não conseguiam parar de pensar nessa camiseta.

Mas assim como era inapropriado vestir essa camiseta, também era impor- tante que nós aceitássemos aquele homem da forma como estava. Quando a igreja exige que as pessoas ponham em ordem a sua vida e ajam de um determinado modo para que, depois, possamos amá-las, perdemos o respeito da nossa cultura.

Manter o nível comum. Alguém uma vez reclamou que nossa igreja logo ficaria

repleta de homossexuais. Respondi: "Isso seria extraordinário. Eles poderiam sen- tar do lado dos fofoqueiros, dos invejosos, dos gananciosos e de todo o resto de nós pecadores".

Tento transmitir a mesma atitude em minha pregação: todos nós estamos sob o julgamento de Deus e todos precisamos desesperadamente da sua graça. Deixar as pessoas saberem que não estou falando a elas de alguma posição moral elevada as ajuda a ouvir o que tenho a dizer.

Não fingir ser Deus. Tenho que ser honesto com as pessoas quando não sei as

respostas às suas perguntas. Uma vez uma mulher perguntou: "Onde Deus estava quando meu pai estava me molestando?".

"Eu gostaria de saber onde ele estava durante sua enorme provação", respon- di. "Simplesmente não sei. Mas sei disto: Deus a ama e quer curar as feridas do seu passado". É irônico, mas não ter todas as respostas ajuda as pessoas a acreditar mais nas respostas que tenho.

Usar a cultura para apresentar as boas novas. As pessoas do mundo secular

conhecem a música popular, o entretenimento e a mídia. Assim, usei esses mun- dos para defender o cristianismo. Em minhas mensagens no sábado à noite, cito estudos seculares, leio jornais e revistas e cito músicas ou parte delas para fazer a ponte entre o mundo dos ouvintes e as Escrituras.

Uma noite, usei a música famosa do John Lennon Imagine. Eu pedi aos ou- vintes para que imaginassem um mundo sem religiões competindo entre si, sem guerras e sem brigas, onde a paz e a harmonia completa reinariam. "Será que algum dia existirá um mundo assim?", perguntei. "Um mundo assim é possível unicamente por meio de Jesus Cristo, que nos dá paz pessoal e transforma o ódio em amor".

Elimine os estereótipos

Pessoas em nossa cultura têm noções erradas a respeito do cristianismo. Quando elimino esses estereótipos negativos, primariamente com humor e satirizo de vez em quando os defeitos dos cristãos, ganho credibilidade.

Em uma manhã de Páscoa, sabendo que muitas pessoas não ligadas à igreja estariam entre os ouvintes, vesti minha toga doutorai no púlpito. Apontei para

varias partes dessa toga bonita — as cores, o capuz, as mangas — e expliquei o que cada uma simbolizava. Então, abri o zíper da toga e saí dela com uma camiseta e jeans azul. As pessoas suspiraram.

"No Domingo de Páscoa, todos nós colocamos nossas togas", expliquei. "Por meio disso, quero dizer que todos nos vestimos. Todos nós colocamos a nossa melhor imagem. Mas por baixo de todo o engano, no nivel do jeans azul, freqüente- mente somos pessoas bem diferentes. Precisamos perguntar: 'A páscoa faz alguma diferença'?".

Tentar alcançar incrédulos convictos é um grande desafio que requer criatividade e dedicação. As vezes, os resultados vêm lentamente; às vezes, temos de agüentar muitos mal-entendidos e hostilidades. Mas, às vezes, os resultados são extraordinários.

Capítulo 38

T R A N S F O R M A N D O A P L A T É I A E M U M A I G R E J A

Como transformar consumidores em pessoas