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Pregação evangélica e diversidade crescente

Michael Quicke

Período 4: Pregação evangélica e diversidade crescente

Entre os protestantes, a pregação explosiva inflamou o surgimento do evan- gelicalismo durante os séculos XVIII e XIX com muitas ênfases diferentes. George Whitefield (1714-1770) popularizou a pregação ao ar livre e carregada de emoção e, viajando entre a América e a Grã-Bretanha, influenciou outros pregadores im- portantes. Entre eles estavam João Wesley (1703-1791), o fundador do metodis- mo, um notório pregador mensageiro, e Jonathan Edwards (1703-1758), um intelectual de peso cujos ensinamentos puritanos conduziram ao Primeiro Grande Avivamento (1726-1750) na América do Norte.

Whitefield também encorajou a pregação negra com uma sucessão notável de pregadores afro-americanos chegando a Andrew C. Marshall em Savanah (1812-

1856). Pregadores negros freqüentemente usavam a pregação narrativa para habil- mente recontar as Escrituras e entrelaçar as suas próprias.

O século XIX foi uma época de ouro para a pregação mensageira. A maioria das denominações afirmava possuir "pregadores estrelas", como Charles Simeón (1759-1836), anglicano, C. H. Spurgeon (1834-1892), batista e Catherine Booth (1829-1890), do exército da Salvação. Charles Finney (1792-1875) e Dwight Moody (1837-1898) usaram técnicas de evangelismo de massa. A pregação men- sageira também floresceu entre pregadores americanos liberais, como é represen- tado por Philip Brooks (1835-1893), episcopal.

No século XX, houve diversidade adicional. O movimento de teologia bíblica encorajou a pregação teológica, como em Karl Barth (1886-1968), que endossou o modelo do mensageiro. A pregação indutiva adotou a psicologia para aconselhar pessoas do púlpito, como acontece em Harry Emerson Fosdick (1878-1969). Ou- tros, respondendo evangelisticamente às necessidades espirituais, usaram comuni- cação de massa. Billy Graham (nascido em 1918) se tornou o pregador evangelístico mais ouvido e visto de todos os tempos. Martin Luther King Jr. (1929-1968) ga- nhou importância internacional, já que a sua pregação chamava a atenção para a pobreza, o sofrimento e a opressão.

Mais recentemente, tem havido também uma maior análise de algumas das principais tradições da pregação, como a pregação negra (freqüentemente narrati- va no estilo) e a pregação feita por mulheres (freqüentemente pastoral), que, embora representada por algumas grandes figuras no passado, como Hildegard de Bingen (1098-1179), tem crescido dramaticamente desde a década de 1920.

. A evolução eletrônica e a ênfase nos recursos visuais têm diversificado os

estilos de pregação e intensificado o uso da narração de histórias.

Os pregadores das megaigrejas refletem estilos diferentes, embora a atual adoração sensível à busca das pessoas se encaixe no modelo indutivo, indo ao encontro das pessoas onde elas estão.

Uma advertência

Freqüentemente, a pregação tem sido analisada de um ponto de vista que omite muito da riqueza da história, incluindo-se aí o impacto da pregação da América Latina e da Ásia. A igreja mundial de hoje tem visto um tremendo cresci- mento na parte sul do mundo — América Latina, África e Ásia. Além de tudo, muito da "igreja do norte" da América do Norte e da Europa ocidental parece estar em declínio, enquanto a "igreja do sul" (alguns a chamam da "igreja da maioria") mostra um significativo renascimento que se assemelha ao período de vitalidade espiritual e ao impacto missionário do Novo Testamento.

A história da pregação é imensamente rica, e pregadores podem aprender uns com os outros. É essencial reagir a um crescente conjunto de experiências das práticas dos pregadores negros, hispânicos, asiáticos e das pregadoras femininas, assim como continuar aberto à pregação narrativa e outros estilos.

Pontos e questões práticos

A história da igreja mostra uma conexão vital entre pregação eficiente e mis- são de igreja saudável. Do Novo Testamento em diante, a pregação desencadeou cada expansão missionária da história. Os pregadores do início causaram "alvoroço por todo o mundo". Algumas pregações têm impacto imediato. Crisóstomo con- frontou questões de estilo de vida de sua congregação urbana e criticou aspectos do Império Bizantino; Lutero se dirigiu aos alemães com respeito a cada questão de importância moral, política e social. Os efeitos duradouros da pregação com freqüência são dramáticos. A reforma começou a era moderna para a civilização ocidental, moldando a Europa cristã e semeando o movimento missionário moder- no. Ela promoveu renovação e a vida de igreja reformada e afetou a sociedade.

A pregação é uma questão espiritual, caracterizada desde os seus primordios no Novo Testamento por vitalidade espiritual (ITs 1.5), clareza do evangelho (lCo 15.3, 4), relevância transcultural (ICo 9.19-23) e ousadia (At 4.13; 9.27). Toda pregação necessita de vitalidade espiritual. Existe agora menos crença na presença de Deus no evento da pregação? Existe menos ousadia hoje em dia? Hoje, a "igreja do sul" parece estar crescendo por meio da pregação, mas a "igreja do norte" defronta-se com a necessidade crítica da redescoberta da autenticidade e coragem espirituais por meio da oração.

Existem tradições da igreja hoje que a pregação deveria desafiar? Em vários pontos de sua história, a pregação precisou reformar a igreja em suas práticas e doutrina. A Reforma foi, em parte, precipitada por um ataque corajoso à riqueza e privilégio da igreja romana que vendia garantias (indulgências) para a abreviação do purgatório. João Wesley pregou por preocupação pela vida santificada e fun- dou o metodismo.

A igreja pode ser facilmente desviada por riqueza, privilégio e complacência em degradar a doutrina. A pregação envolve liderança, já que se foca a vontade de

Deus para sua igreja expressa pela correção, repreensão e encorajamento (2Tm -.2: cf. 3.16). Essa continua sendo uma tarefa difícil, mas necessária para o século XXI.

Quão necessário é o ensino doutrinário hoje? Reforma e renovação são sempre associadas com redescobrimento pessoal do texto e doutrina bíblica depois de um :empo de analfabetismo bíblico. O exemplo mais claro é a descoberta de Martinho Lutero das convicções paulinas a respeito do pecado, da graça e da justificação pela :e. Sempre que pregadores estiverem pessoalmente comprometidos em pôr em prática a Bíblia por meio da explicação e aplicação de sua verdade, a pregação rormará "pessoas do Livro". Entretanto, quando a pregação se torna mecânica e rotineira, ela perde seu poder, como na Idade das Trevas.

Onde a pregação apologética é necessária hoje? Pregadores apologéticos ten- tam entender e confrontar falsos ensinamentos atuais. Um tipo antigo de movi- mento da Nova Era chamado gnosticismo foi seguido de uma série de ataques às crenças ortodoxas sobre a divindade de Cristo, a natureza da salvação e as reivindi- cações de exclusividade do cristianismo. Agostinho continua sendo o melhor exem- plo de um pregador cujo intelecto, exegese e perspicácia doutrinária defenderam a ortodoxia contra vários rivais, como a heresia pelagiana, que diminuía o papel de Cristo na salvação. No relativismo e diversidade espiritual de hoje, os pregadores precisam responder aos formadores de opinião rivais com apologética clara para fundamentarem as reivindicações de exclusividade do cristianismo.

Os pregadores podem ser mais relevantes? A pregação evangelística começa com pessoas perdidas onde elas estão. George Whitefield desenvolveu pregações ao ar livre com grande talento dramático. Como Paulo no Areópago, a pregação recente, sensível à busca das pessoas, está fazendo conexão com autoridades con- temporâneas a fim de estabelecer a credibilidade das afirmações cristãs. Bill Hy- bels, na igreja Willow Creek, representa essa abordagem. A pregação pastoral, em que os pregadores respondem a necessidades específicas entre os membros da con- gregação, como acontece com Fosdick, pode cativar apropriadamente. Será que há maneiras novas de assegurar que as boas novas foram tornadas relevantes?

Como a mídia e as formas de comunicação em transformação afetam a pre- gação? A fim de serem ouvidos e entendidos, os pregadores sempre precisaram se relacionar com a cultura contemporânea. Na cultural oral de Jesus, o papel da narrativa era especialmente importante. A pregação clássica adotou princípios retóri- cos. Mais tarde, a pregação da Reforma se aproveitou da imprensa e ganhou in- fluência anteriormente impensada.

Existe uma concordância geral de que a modernidade ocidental, influente pelos últimos 250 anos, está dando lugar ao pós-modernismo, o que chama para nova atenção aos estilos de comunicação. Hoje em dia, os pregadores precisam usar todos os recursos tecnológicos disponíveis e se apropriar dos meios de comu- nicação.

Em que medida os pregadores fazem uso de meios de apoio para a pregação? Ao longo da história, pregadores sempre se beneficiaram de meios de apoio para a pregação. O livro-texto de Agostinho foi seminal. Na Idade Média, as univer- sidades européias publicaram um grande número de livros elementares — temos cerca de 80.000 remanescentes deles dos dois séculos que se seguiram a 1150. John Broadus (1827-95) teve influência no começo do século XX e, mais recente-

mente, Fred Craddock (nascido em 1928) e outros têm introduzido novos estilos de pregação bíblica — especialmente pregação indutiva e narrativa. É importante ficar atento a vários desenvolvimentos na teologia e prática da pregação.

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