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Bem-intencionados ou não, os pastores estão em uma batalha diária e, às vezes, levamos essa batalha à nossa pregação. Frustrações podem sangrar em nossos sermões e influenciar nossa paixão negativamente. Pregamos com paixão, mas es- tamos queimando o combustível errado.

Lembro-me de pregar depois de ter sido profundamente machucado por al- guém. Eu não estava processando meus sentimentos corretamente, e minha raiva vazou no sermão sem que eu percebesse. Pessoas até mesmo vieram mais tarde e perguntaram o que estava errado — elas conseguiam ouvir a raiva na minha voz.

Também podemos ter problemas quando usamos a congregação como um disfarce para pregarmos a nós mesmos. Lembro-me de um episódio de um pastor que pregava veementemente contra a pornografia, e mais tarde descobrimos que ele mesmo estava enroscado nela. Sua pregação resultou da sua motivação de querer resolver seus problemas pessoais.

E também me lembro de um tempo cinco anos atrás quando estava exausto e tentei pregar um sermão motivacional, para reagrupar a tropa. Achava que estava rentando encorajar a igreja, mas eu estava realmente tentando encorajar a mim mesmo. Soei falso, pois simplesmente não tinha nada a oferecer.

Joe Stowell conta uma história de mais um poluente. Enquanto estava em uma igreja em Michigan, decidiu que algumas pessoas na congregação precisavam de uns acertos e consertos e que ele usaria o púlpito para alcançá-las. Mas Deus invariavelmente protegeu aquelas pessoas de suas exortações — toda vez que ele estava preparado para descer o chicote nelas, elas não iam ao culto naquele domin- go. Ele finalmente percebeu que o Senhor estava lhe mostrando a não repreendê- las severamente, mas a amá-las e lavar seus pés. Toda congregação tem seus membros irritantes, mas usar o púlpito para pegá-los é uma má motivação.

Existe uma atitude subjacente na história de Joe que é comum entre nós. Os pregadores podem ficar tentados a pensar que as pessoas aí fora não se importam

ficar sentadas. Esse tipo de pensamento cria a tentação de malhá-las. Vamos ao povo de Deus com a pressuposição de que não são o que deveriam ser e, a menos que os alcancemos com a vara homilética, nunca serão.

Um colega meu, agora com mais de sessenta anos, disse que essa tinha sido a abordagem de seu primeiro pastorado logo depois que saiu do seminário. Todo domingo, ele malhava a igreja do púlpito. Não era uma coisa movida pelo ódio; teológicamente, ele apenas sentia que o povo precisava ser motivado pela vara. Depois de seis ou sete anos, percebeu que a igreja não gostava dele e ele não gostava da igreja e teve de deixá-la. Ele agora olha para isso no seu passado e diz a seus estudantes: "Em tudo que fizerem, nunca ajam com essa atitude".

A conseqüência de uma pregação dessas é que as pessoas não sentem que as amamos. Na maioria das áreas urbanas dos Estados Unidos, se as pessoas não gostam do tom da nossa igreja, se não sentem que alguém se preocupa com elas, vão a outro lugar. Obviamente, isso machuca. Além disso, cria uma mentalidade de culpa. A culpa é um motivador medíocre para a vida cristã e não inspira mudança transfor- madora verdadeira. Normalmente, você se sente mal por quinze minutos, mas então pára no McDonald's e vai para um jogo de futebol, e a culpa se dissipa rapidamente. Talvez o resultado mais perigoso de queimar gasolina ruim é que isso cria apatia. William Barclay disse que não existe nada mais perigoso do que a experiên- cia repetida da emoção sem a tentativa de colocá-la em prática. Toda vez que alguém sente um impulso nobre sem agir, torna-se menos e menos apto para fazer qualquer coisa. Descarregar emoção na congregação é pernicioso se o seu propósi- to não é encorajá-los a fazer algo construtivo com essa energia. A menos que você dê às pessoas algo para fazer, você involuntariamente cria apatia.

Onde conseguimos o combustível certo para a paixão de nossa pregação? Um combustível limpo para a pregação apaixonada é o desejo de ver o reino de Deus progredindo. Haddon Robinson chama isso de "pregando o ideal em vez do padrão". Levantamos a barra e desafiamos as pessoas ao mais elevado ideal — até que queiram fazer parte disso, até que queiram fazer sua vida ter valor.

Várias ilustrações bíblicas mostram fontes de pregação apaixonada. No final de Lucas 11, Jesus interage com um grupo de fariseus, e quase dá para sentir a fúria transbordando da página. Os fariseus estavam machucando e enganando outros, e Jesus ataca sua visão falsa da religião. Onde Deus vê falsa religião ou espiritualidade inautêntica, ele se torna intenso em relação a isso, e nós também devemos fazer o mesmo.

Nos primeiros dois capítulos de Gálatas, Paulo também se torna muito intenso acerca da doutrina. O que pensamos sobre Deus e como ele interage conosco impor- ta muito. Importava tanto para Paulo que ele estava querendo ficar em pé sobre a sua caixa de sabão e gritar. É como o pai que vê seu filho fazendo algo que o machucará. O historiador Paul Johnson escreveu: "Idéias têm conseqüências". Se vemos as pessoas se desviando bíblica, teológica ou moralmente como ovelhas para o abis- mo profundo, isso deveria incitar em nós um ardor divino.

Precisamos distinguir entre indignação correta e raiva impura em nosso coração. Quando eu estava pregando sobre aquela passagem de Jesus com os fariseus, falei com paixão enquanto pregava sobre a religião autocentrada e auto-enganada. Mas eu usei meu próprio exemplo como ilustração, citando casos em que eu fora auto- centrado ou auto-enganado. Em vez de apontar o dedo e dizer: "Você é autocen- trado", compartilhei a partir da nossa condição humana comum.

Também me perguntei: "Estou crescendo em meu amor por Deus e pelos outros?". Todas as igrejas têm problemas, confusões e fraquezas. Mas se estou crescendo no meu amor pela igreja e quero vê-la se tornar o que Deus pretende e, se tenho uma preocupação crescente com os pobres, oprimidos e negligenciados, minha paixão será pura porque é um reflexo da paixão no próprio coração de Deus.

Capítulo 25

C O M O P R E G A R Q U A N D O C O M E Ç A A F A L T A R O X I G Ê N I O