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Certa vez, apresentei uma história de um sermão dizendo: "Eu não gosto desta história". Aqui está aproximadamente o que se seguiu:

Fred Craddock conta de um jovem pastor visitando uma mulher idosa no hos- pital. O pastor encontra a mulher bastante doente, ofegante e obviamente se aproximando do fim de sua vida. No meio de tubos, sacos e máquinas hospitalares fazendo diversos tipos de bip, o pastor lê as Escrituras e oferece conforto espiritual. Ele pergunta: "A senhora gostaria que orássemos antes de eu ir embora?", e a mulher sussurra um sim.

O pastor diz: "O que a senhora gostaria que eu orasse hoje?". A paciente responde: "Que eu seja curada".

O pastor engole a saliva. Ele pensa: Essa pobre senhora não consegue aceitar o

inevitável. Isso é como pedir a Deus para que ele evapore as calorias de uma dezena de bombas de chocolate. Ela não está encarando a realidade. O jovem ministro guarda

"Senhor, oramos por sua presença sustentadora para essa irmã doente e, se for da sua vontade, oramos que ela seja restaurada à vida e ao serviço. Mas se não for da sua vontade, certamente esperamos que ela se adaptará às circunstâncias".

Você já fez orações assim? São orações seguras. Elas concedem a Deus uma saída, uma desculpa, no caso de o pedido não ser da sua vontade e ele não apare- cer.

Imediatamente depois que o pastor coloca um amém em sua oração segura, a mulher abre seus olhos e se senta na cama. Então, joga seus pés para o lado e levanta.

"Acho que estou curada", grita ela.

Antes que o pastor possa reagir, a mulher anda até a porta, abre-a e anda pelo corredor do hospital a passos largos. A última coisa que o pastor ouve antes de ela desaparecer são as seguintes palavras: "Olhem para mim, olhem para mim. Estou curada".

O pastor fecha sua boca com a ajuda da mão, levanta e lentamente desce as escadas e sai para o estacionamento. Não há sinal da ex-paciente. Ele abre a porta do carro e pára. Aí olha para o céu e diz: "Por favor, nunca mais faça isso comigo". Não gosto dessa história. Não gosto dela... porque esse pastor sou eu. Posso me identificar com ele.

Essa anedota não é hilária. Entretanto, a história é humoristicamente eficaz. Tem os elementos-chave do que faz alguma coisa ser engraçada.

Três características do humor

O autor, palestrante e comediante cristão Ken Davis, presidente da Dynamic Communications, em uma entrevista para este capítulo, identifica três elementos que tornam uma coisa engraçada: verdade, exagero e surpresa.

Verdade. A história acima contém um elemento da realidade que os ouvintes

reconhecem como verdadeiro. É uma admissão da fragilidade humana. Nesse caso, as pessoas se identificam com o fato de orar por coisas que elas na verdade não esperam que Deus dê.

Exagero. Toda a história é exagerada, desde a superabundância de tecnologia

para manutenção da vida até a ambigüidade da oração do pastor e até a recuperação imediata da mulher. Na vida real, a mulher ainda estaria no andar de baixo pagan- do suas contas.

Surpresa. Esse é o ponto forte da história. À medida que ela se desenvolve,

você não consegue evitar de se perguntar qual será o desfecho. A reação do pastor é completamente inesperada. O final se entrelaça com minha explicação de por que não gosto da história.

E engraçado a não ser que tem uma dessas características. Quão doloroso é estar sob a impressão de estar dizendo algo cômico quando não é. Se suas histórias fracassam completamente, comece a avaliá-las à luz dessas três categorias.

É claro, essas não são as únicas considerações para se usar o humor bem, mas antes de examinar mais essa questão, precisamos nos perguntar se o humor tem algum lugar no púlpito.

Existe lugar para o humor no púlpito?

Haddon Robinson, professor de homilética no Seminário Teológico Gordon- Conwell, em uma entrevista para este capítulo, disse: "Já que a pregação lida com a vida, ela precisa ter algum elemento de humor. Precisamos olhar para a vida como ela é vivida e, às vezes, ver o quão absurda ela é".

Considere algumas das metáforas e declarações de Jesus e logo se torna óbvio que Jesus não se abstinha de inserir um elemento cômico para fazer uma obser- vação. Ken Davis dá o exemplo das palavras registradas por Mateus, Marcos e Lucas de que "é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus" (e.g., Mc 10.25). Davis ridiculariza a tentativa de explicar "o fundo de uma agulha" como um portão de uma cidade, onde um camelo teria que tirar todas as cargas que dificultassem a entrada e se ajoelhar para entrar, ou a explicação de que a palavra para camelo na verdade significava "grande corda". Uma interpretação dessas atrapalha a observação que Jesus quer fazer. Jesus apresentou uma descrição tão exagerada que era engraçada e, ainda assim, o tema da salvação não poderia ter sido tratado com mais seriedade.

Jesus usava o exagero. Elton Trueblood se inspirou a escrever o seu livro The

Humour of Christ [O humor de Cristo] quando leu as palavras de Jesus acerca de

ciscos e traves nos olhos das pessoas, e essa descrição fez o seu filho de quatro anos rir. Quando um samaritano parou para ajudar o homem quase morto depois que dois tipos de religiosos ignoraram a vítima, isso foi um choque. Uma pequena pesquisa das relações entre samaritanos e judeus naquele tempo mostra o quão humoristicamente implausível isso precisa ter parecido aos ouvintes. Jesus falava a verdade com um sorriso. A descrição de Jesus daqueles que "coam um mosquito e engolem um camelo" (Mt 23.24) é tão engraçada quanto penetrante.

John Stott escreve: "Parece que é consenso geral que o humor era uma das armas no arsenal do maior dos Mestres" (1982, p. 287). Se isso é aceito, então a questão de se deveríamos usar o humor está decidida. Talvez uma pergunta melhor a ser feita é: Que tipos de humor não pertencem à pregação?

Humor inadequado

Charles Haddon Spurgeon era famoso tanto por seu poder em seus sermões quanto por seu humor. Certa vez, Spurgeon atendeu a uma batida na porta de sua casa e foi confrontado por um homem que segurava um grande pedaço de pau.

O homem saltou pela porta aberta, e anunciou que havia vindo para matar Spurgeon.

"Você deve estar querendo dizer meu irmão", o pregador disse, tentando acal- mar o sujeito. "O nome dele é Spurgeon".

Mas não havia omo dissuadir o homem. "É o homem que faz as piadas que eu quero matar" (Warren Wiersbe, 1976, p. 195).

Spurgeon, o pregador, não era um contador de piadas, mas ele "tinha um talento para o humor e, às vezes, este entrava em cena enquanto ele pregava" (Arnold Dalimore 1984, p. 76). As críticas que Spurgeon recebeu o impeliram a defender o uso do humor na pregação e esclarecer quais aspectos não pertenciam

ao pulpito. r