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Quando me juntei ao corpo docente do Instituto Bíblico Moody depois de nove anos de ministério pastoral, constatei que a minha experiência do evento da pregação mudou radicalmente. Levou apenas alguns domingos no banco da igreja para descobrir com quanta competição o pregador se depara durante a mensagem. Em um domingo, o barulho do fundo na igreja parecia estar especialmente alto. Estava certamente mais alto que qualquer coisa que eu havia encontrado durante meus anos no púlpito. Quase não conseguia ouvir o que o pastor estava dizendo por causa do ruído constante de folhas sussurrantes, das canetas rabiscando e dos passos de pessoas circulando. "Como você pode louvar com todo esse barulho"?, perguntei à minha esposa. Ela simplesmente riu. "Bem-vindo à congregação", disse ela.

A fim de impactar meus ouvintes, preciso antes conseguir sua atenção. Uma vez que consegui a atenção dos meus ouvintes, preciso dizer algo que mereça man- ter essa atenção e dizer isso de um modo que os leve a responder. Minha regra de pregação: enuncie o seu princípio, descreva esse princípio e depois mostre aos seus ouvintes como esse princípio pode se expressar nas situações de vida deles. Faça isso para cada ponto de sua mensagem e aumentará a probabilidade de levar os ouvintes com você.

Enuncie o seu princípio

Os ouvintes de hoje são condicionados por milhares de horas de histórias altamente produzidas e orientadas pelo aspecto visual, que foram comprimidas em segmentos de quinze minutos ou menos. Algumas dessas histórias são construídas sobre uma estrutura de enredo simples que levanta o problema e o resolve em trinta a cinqüenta minutos.

A resposta óbvia a essa tendência cultural poderia parecer sermões curtos, narrativos, afetivos e não proposicionais. Entretanto, a verdadeira pregação bíbli- ca, mesmo quando sua estrutura é primariamente narrativa, precisa ser preposi- cional em sua essência. Isso é inevitável porque é a comunicação da verdade. A linguagem do Novo Testamento é absolutista, repetidamente enfatizando que a pregação bíblica é a transmissão da verdade.

Em vista disso, o primeiro passo na pregação precisa ser determinar o âmago proposicional do sermão. Qual é a verdade primária que espero transmitir ao ou- vinte?

Não podemos ignorar o impacto da televisão em nossos ouvintes, mas não podemos nos dar ao luxo de sacrificar conteúdo bíblico em uma tentativa de tor- nar os nossos sermões mais atraentes. A mensagem precisa ser fundamentada em verdade proposicional, e ela precisa ser afirmada claramente.

Descreva o seu princípio

A verdade proposicional é fundamental para o sermão, mas não garante re- sultados. Nós freqüentemente encontramos aqueles que entendem as verdades que pregamos e até as afirmam, mas continuam a agir contrariamente ao que conhecem e dizem acreditar. Cognição não é o problema, motivação sim.

A linguagem visual e a metáfora ajudam a construir a ponte entre a cognição e a motivação. Warren Wiersbe diz: "Quando você se depara com uma metáfora, pode perceber que está se lembrando de experiências esquecidas ou desenterrando sentimentos enterrados e, então, juntando-os para descobrir novos discernimen- tos. Sua mente diz: 'Eu vejo!'. Seu coração diz: 'Eu sinto!'. Assim, naquele mo- mento de transformação, sua imaginação une os dois, e você diz: 'Estou começando a entender' ".

As metáforas são importantes na pregação porque elas estão na própria essên- cia do entendimento humano. De acordo com George Lakoff, professor de lingüís- tica na Universidade da Califórnia, e Mark Johnson, professor de filosofia na Universidade do Sul de Illinois: "Nosso sistema conceituai comum, em termos do que pensamos e agimos, é fundamentalmente metafórico em sua natureza". A metáfora nos ajuda a entender uma coisa ao apontar para alguma outra coisa e dizer: "Isso é aquilo".

As histórias funcionam como metáforas. Assim como a metáfora expressa "a é b" (Deus é uma rocha), assim as histórias sugerem que a "experiência individual é experiência universal" (Moisés bateu na pedra quando estava irritado — nós agi- mos assim também). Quando pregadores usam histórias, usam uma comunicação holística que toca a mente, a imaginação e os sentimentos. As histórias capturam meu interesse porque lidam com a "realidade". Posso não estar interessado em teologia, mas estou interessado em vida real. Uma história tem o poder de tocar meu coração porque posso me identificar com os problemas, circunstâncias ou emoções de suas personagens centrais. Assim, as histórias podem motivar ouvintes a mudar seus valores centrais.

Mostre como o princípio se expressa na vida real

O objetivo final em minha pregação é a ação. Para facilitar a resposta em ouvintes, preciso ajudá-los a ver como a resposta se expressa em suas próprias situações de vida.

Com a aplicação do sermão, luto entre dois extremos. Quando minhas apli- cações são muito gerais, os ouvintes afirmam a verdade do que estou dizendo sem

ver como precisam agir conforme isso. Enquanto Nata pregava a Davi em parábo- las, Davi podia afirmar a crueldade do pecado do profeta que ele havia descrito sem se referir a si próprio. Apenas quando o profeta passou para a aplicação e declarou: "Você é esse homem", foi que Davi disse: "Pequei contra o SENHOR!"

(2Sm 12.7,13).

Todavia, quando as minhas aplicações são muito específicas, é fácil os leitores se desqualificarem ao notar que eles não se encaixam em condições específicas descritas em meus exemplos. A aplicação eficiente precisa ser tanto geral como específica. A melhor maneira de realizar isso é usar exemplos. Eles sugerem manei- ras específicas de viver princípios gerais, embora não esgotem as possibilidades.

Acima de tudo, a aplicação precisa ser relevante. Enquanto preparava uma mensagem sobre Hebreus 2, pensei em Joyce, uma mulher em minha congre- gação que estava morrendo de câncer. Sua face esquelética, devastada pelos efeitos da doença, vieram à minha mente enquanto eu meditava sobre Hebreus 2.15, que diz que um dos propósitos da encarnação era "[libertar] aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte". Eu havia acabado de terminar dois ou três parágrafos de clichês, assegurando à congregação que verdadeiros cris- tãos não têm medo da morte.

"Você acha que a Joyce acredita nisso?", uma voz interna parecia estar me dizendo. Não consegui estar certo da resposta. Como eu me sentiria se estivesse morrendo e tivesse que ouvir o meu próprio sermão?

A pergunta seguinte era ainda mais perturbadora. "Você acredita nisso?". Eu tinha que admitir que não — ao menos não como uma questão de experiência pessoal. Eu poderia afirmar isso como um item da fé. Mas se eu fosse honesto, tinha de admitir que, mesmo como cristão, eu freqüentemente lutava com o medo da morte. De repente, o tom de meu sermão mudou. Lugares-comuns já não serviam. O ouvinte atento enxergaria através deles e saberia que eu estava apenas assobiando no escuro. Se quisesse pregar esse texto honestamente, eu teria que passar algum tempo do lado de Joyce e enfrentar o meu próprio medo da morte. Para pregar com eficiência, preciso primeiro levar em consideração a perspec- tiva da platéia.

Capítulo 32

P R E G A N D O P A R A P E S S O A S C O M U N S