• Nenhum resultado encontrado

Paciência: a graça de perguntas não respondidas

O quarto aspecto necessário é a paciência. A impaciência me instigou a procurar uma explicação rápida e fácil para o sofrimento que sobreveio à minha família. Minha maior tentação no púlpito é ver meu chamado para pregar como uma ordem para oferecer explicações definitivas. Eu me sinto muito mais confortável concluindo um sermão com um inspirador desafio à batalha do que com pergun- tas não respondidas e talvez irrespondíveis. A tragédia pessoal me ensinou que a resposta ao sofrimento humano não pode ser encontrada imediatamente — se é que ela pode ser encontrada.

Quando um pai é confrontado com o diagnóstico de câncer de seu filho, a pergunta inevitável: "Por quê?", precisa ser ouvida. Como eu poderia conciliar o câncer de minha filha de três anos com um Deus todo-poderoso, que tem amor infinito, que, conforme acredito, governa este mundo? Em um sermão, chamei a atenção para o porquê do mal e da bondade de Deus mostrando as tentativas

clássicas e contemporâneas de resolver o conflito. Pessoas de fé que se deparam com uma injustiça trágica tendem a uma das opções seguintes:

• dualismo, com o seu universo governado por deuses bons e deuses maus, co- iguais

• rebaixamento, em que existe apenas um Deus, mas ele é visto como limita- do, poderoso, mas não todo-poderoso, fazendo o melhor que pode diante do mal

• negação, como em religiões como a ciência crista, que nega as realidades cruéis da doença, da morte e do mal

• desespero, que desiste de Deus quando ele não vive à altura de nossas expec- tativas ingênuas e mágicas dele

• autocondenação, com sua pergunta carregada com culpa: "Deus está me punindo?".

Entretanto, uma opção final existe, que, conforme acredito, seja a única escolha coerente com a revelação e a realidade. A existência simultânea de Deus e do mal é um dilema insolúvel. Jó, Habacuque e inúmeros outros que afundaram em dor e confusão pessoais tentaram usar a teologia para controlar a situação, mas, no final, nossas explicações humanas acabam de mãos vazias. Entretanto, existe uma graça nesse por que irrespondível, pois ela nos leva ao próprio coração da fé, a confiante espera paciente em Deus.

Lembro-me de uma conversa que tive com um homem algumas semanas depois do sermão em que eu "entrei com uma ação" contra Deus. Essa era uma pessoa compassiva cujo coração ficara comovido com a morte de Laura, e ele tam- bém queria uma resposta para o porquê do sofrimento de minha filha. Ele recapi- tulou uma parte daquele sermão em que eu acusei Deus de se recusar a curar minha filha voluntariamente. Então, ele confessou: "Eu tenho tido conflito com a fé toda a minha vida. Meu conflito com Deus se intensificou com a doença de Laura. Mas agora eu continuo pensando novamente no que você disse sobre nós querermos o controle absoluto de Deus e a liberdade absoluta da vida. Eu nunca pensei nisso dessa forma. Queremos duas coisas de Deus que, por natureza, não podem coexistir. Estou começando a ver que ter fé não significa ter todas as respos- tas. Fé é agarrar-se em Deus apesar da confusão".

Que presente maior um pregador pode dar a uma congregação do que um retrato de confiança no Senhor mesmo que o luto e a confusão permaneçam?

Conhecendo nossas limitações — e as deles

Tendo explicado algumas qualidades necessárias da pregação em meio ao sofri- mento, preciso oferecer uma palavra de advertência acerca de quando não levar crises ao púlpito. Durante três meses anteriores à morte de Laura, à medida que sua condição deteriorava rapidamente, eu não era capaz de fazer referência a ela no

pulpito. Em outros estágios de sua doença, as lágrimas eram algo sob o meu controle. Nesse estágio, entretanto, minhas emoções estavam no limite de tal maneira que eu temia não conseguir recuperar a compostura se as lágrimas começas- sem a cair. Eu sabia que minha congregação receberia bem as minhas reflexões sobre o estado da Laura, mas quando a dor é muito fresca ou intensa, a sabedoria adverte a evitar referências ã nossa condição pessoal.

Outra ocasião em que não é recomendável pregar é depois que a crise já pas- sou. Eu não percebi que o luto da minha congregação em relação à morte de minha filha não durou tanto quanto o meu. Tendo conduzido inúmeros funerais e tendo me envolvido com o luto de muitas famílias, eu estava bem consciente dos estágios de luto que diferentes pessoas experimentam. Entretanto, quando a pes- soa falecida foi a minha filha, eu, de alguma forma, pensei que as regras mudari- am. Certamente, outros teriam a mesma intensidade e duração de sentimento que eu trazia! Tal não era o caso.

Depois de um sermão que eu preguei depois de passado muito tempo da minha perda, um membro da igreja disse polidamente à minha esposa: "Eu acho que o Dan falou a respeito da morte de Laura por tempo demais depois da sua morte".

Logo que ouvi isso, senti que a pessoa estava sendo injusta com os meus sentimentos. Entretanto, agora percebo que o tratamento prolongado de meu luto era injusto para com os sentimentos da congregação. Se o pregador de Eclesi- astes tivesse previsto o tema desse artigo, ele teria acrescentado esta frase à sua descrição dos ciclos da vida: há tempo de pregar em meio ao nosso sofrimento, e há tempo de pregar além dele.

Eu preguei de tal maneira no dia em homenagem aos soldados mortos na guerra, aproximadamente dois anos após a morte de Laura. Eu li uma nota que havia recebido de uma jovem mãe. Ela havia perdido um filho no nascimento e um segundo filho que tinha o mesmo tipo de tumor que levou Laura. Essa mãe incluiu a seguinte oração, que serve como um bom lembrete quando precisamos pregar em meio à nossa própria dor: "Querido Deus, ensine-nos a rir novamente, mas nunca nos deixe esquecer que choramos".

Capítulo 23

U M P R O F E T A E N T R E V O C Ê S