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Quando comecei meu ministério pastoral, considerava o preparo e a pregação do sermão de domingo a essência do ministério. Todo o resto era secundário. A noção de compartilhar meu púlpito era impensável, equivalente à negação de meu chamado.

Mas não demorou muito até que eu descobri que era necessário muito mais do que simplesmente pregar para ser um bom pregador. Desde o início, as pessoas me procuravam para muito mais do que um sermão semanal. Elas queriam de mim aconselhamento, orientação, visão, reforço e inúmeras outras habilidades que tinham pouco ou nada que ver com a destreza no púlpito.

E para a minha surpresa, todas aquelas outras coisas realmente importavam. Quando eram bem conduzidas, nosso ministério prosperava. Quando conduzidas com desleixo, avançávamos com grande dificuldade. Foi quando comecei a pensar em fazer o impensável: dividir o púlpito com outro pastor. Quatro anos depois, decidi colocar isso em prática.

A minha idéia era a seguinte: ao passar a outra pessoa parte da tarefa de preparar e pregar sermões, eu teria tempo para dar um direcionamento melhor a todo o ministério. Isso resultaria em uma igreja e um ambiente espiritual mais saudáveis e, a longo prazo, meus sermões seriam mais eficientes, mesmo que menos freqüentes.

Eu estava certo.

Agora, sete anos depois, estou mais convencido disso do que nunca. Duvido que algum dia eu possa voltar aos tempos do shoiu de um homem só. Compartilhar o púlpito tem sido muito benéfico. Ficou provado que foi uma das melhores coisas que já aconteceram para nossa igreja e para mim.

Aqui está a razão para isso — e o que foi necessário para fazer isso funcionar.

O que isso fez à nossa igreja

Uma das coisas mais significativas que isso fez pela nossa igreja foi torná-la mais estável — ao fazê-la menos dependente de mim.

Encaremos os fatos: A freqüência nos cultos e as contribuições, na maioria das igrejas, aumentam e caem com a presença ou a ausência do pastor principal. Qualquer doença prolongada ou mudança para outra igreja resulta em uma queda dramática. Compartilhar nosso púlpito (que em nosso caso significa ter um segundo pastor pregando cerca de 20% a 30% dos cultos de domingo de manhã) ajudou a aliviar o problema ao dar às nossas pessoas a oportunidade de se comprometerem

com dois pregadores — e a maioria fez isso.

Como resultado, quando estou fora para uma conferência, viagem missionária ou férias, dificilmente perdemos o ritmo. Nunca existe uma queda considerável na freqüência ou nas contribuições. As coisas continuam caminhando normalmente.

Isso não quer dizer que minha ausência de longo prazo ou mudança para outra igreja não teria um efeito. É claro que teria. Como o líder inicial de nosso ministério e equipe, sou um dente vital na engrenagem. Mas isso não prejudicaria nosso ministério tanto quanto se as pessoas da nossa igreja conhecessem apenas

um pastor titular.

A igreja também se beneficiou de outras formas. Os membros receberam uma apresentação mais equilibrada das Escrituras que eu jamais poderia dar sozinho. Apesar de Mike (o outro pastor pregador) e eu compartilharmos a mesma perspec-

tiva teológica central, com freqüência enxergamos a vida e as Escrituras de diferente ângulos. Sou mais prático e orientado para a linha de chegada. Ele é mais um intelectual e estudioso. Assim, cada um de nós acaba vendo coisas e alcançando

pessoas que o outro deixa escapar.

Como o pastor principal se beneficia

Entretanto, a igreja não é a única que tem se beneficiado. Eu também tenho, talvez até mais. Para começar, tenho a oportunidade de recarregar regularmente minhas baterias criativas.

Cada um de nós tem um reservatório de criatividade. O reservatório de al- guns de nós é mais fundo do que o de outros. Mas todos têm um fundo. A não ser que possamos enchê-lo periodicamente, mais cedo ou mais tarde ele seca. Quando isso acontece, a alegria desaparece da pregação, tanto a nossa quanto a dos nossos ouvintes.

Certa vez, trabalhei em um ministério em que eu era responsável por ensinar cinco a seis estudos bíblicos diferentes toda semana. Durante um tempo, isso foi divertido. Mas depois de três ou quatro semanas, minhas forças começaram a se esvair. Não que eu não tivesse mais trechos bíblicos ou tópicos para ensinar. Eu não tinha mais criatividade e maneiras inteligentes de apresentá-los. O resultado foi um aumento marcante de obviedades, clichês — e um pouco de plágio — e um tédio por toda parte.

Agora, uso minhas pausas do púlpito para reacender a minha criatividade, para pôr em dia a leitura não relacionada à pregação, para refletir e sonhar novos

sonhos. As pausas são uma injeção de ânimo na minha criatividade de uma forma que outra semana de preparação de um sermão não seria.

Também uso as semanas em que não prego para me refazer emocionalmente. A pregação é um trabalho duro e ele cobra o seu preço emocional. Não é pouca coisa levantar e ousar falar em nome de Deus. Não é de admirar que somos conhe- cidos por tirar sonecas domingo à tarde e folgar na segunda. Entretanto, para mim, a real pregação e preparação de um sermão não é a parte difícil. Amo isso. A parte difícil é saber que tenho outro sermão agendado para alguns dias depois. Isso me deixa sempre tenso e pressionado.

Durante meus primeiros quatro anos na igreja, eu pregava todos os domingos exceto nas minhas férias. Isso significava que, não importa aonde eu fosse ou o que fizesse, o sermão do fim de semana seguinte estava sempre remoendo o meu sub- consciente. Acordava no meio da noite para rabiscar um esboço. Levava blocos de anotações nas férias. Em conferências e seminários, desaparecia por algumas horas para elaborar com muito esforço aquele ponto final ou a ilustração final.

O resultado foi um vazamento lento, mas constante das minhas reservas emo- cionais. Por mais que eu gostasse de estudar e de pregar, a tarefa era exaustiva. Com freqüência demasiada, quando estava na hora das minhas férias, a pregação tinha se tornado uma incumbência desagradável, em vez de um privilégio; eu estava lendo a Bíblia na busca de conteúdo do sermão, não para crescimento pes- soal. Além disso, a maior parte do meu ministério estava no piloto automático.

Atualmente, é muito difícil isso acontecer de novo. Noto que minhas pausas semanais do púlpito me liberam do trabalho árduo de preparação antes de eu ter alcançado o ponto da exaustão emocional. Embora eu acabe trabalhando tão duro ou até mais duro durante as semanas em que não preparo pregação, é a mudança na rotina que faz a diferença. A pregação dificilmente pode se tornar monótona quando há uma liberação periódica dela. De fato, sempre sinto falta dela e invari- avelmente retorno com entusiasmo intensificado para proclamar a Palavra de Deus.

Compartilhar o púlpito também me ajudou cumprir melhor com as minhas responsabilidades como líder da igreja. Como a maioria dos pastores, tenho uma relação de amor e ódio com a administração: amo o que ela consegue realizar; detesto fazer isso. Não entrei para o ministério para equilibrar orçamentos, super- visionar uma equipe, elaborar a filosofia da instituição ou retornar telefonemas. Mas isso faz parte do pacote e, se quero fazer um bom trabalho, tenho de fazer essas coisas com capricho e de uma maneira conveniente.

Ainda assim, elas não são muito divertidas. Se eu puder achar uma meia desculpa, as adiarei para a semana seguinte. E preparar a mensagem do domingo seguinte tem sido sempre uma grande desculpa. E aqui que entram as minhas semanas fora do púlpito. Quando não estou escalado para pregar, não tenho mais desculpas para adiar as coisas. Aquelas questões administrativas importantes, mas não urgentes que foram adiadas, têm uma oportunidade de subir para o topo da minha lista de coisas a fazer. E, milagre dos milagres, elas normalmente são feitas.

Já me disseram muitas vezes que um dos segredos da saúde e do crescimento de nossa igreja tem sido minha ótima administração. Elas mal sabem que aquilo com que elas estão tão impressionadas nunca teria sido feito se eu fizesse as coisas do meu jeito — ou se eu tivesse de preparar um sermão toda semana.

O que ê necessário para fazer isso funcionar

Por mais valioso que compartilhar o púlpito possa ser, pode virar um desastre se for feito de forma desleixada ou ingênua. Todos ouvimos histórias horríveis de um co-pastorado ideal que azedou ou um de um pastor auxiliar que se transfor- mou em um Absalão no portão. Provavelmente seja por isso que tantos dos meus mentores me advertiram contra isso e que tão poucos pastores façam a tentativa.

Mas eu descobri que isso não é nem difícil nem perigoso contanto que eu preste atenção cuidadosa em quatro fatores-chave.

Confiança e respeito mútuos

A primeira coisa que procuro em uma pessoa para compartilhar o púlpito com ela é que seja alguém que eu possa respeitar e em quem possa confiar. Em segundo lugar, procuro alguém que me respeite e confie em mim.

O poder e o prestígio do púlpito são muito grandes para dá-los a alguém sobre quem não estou seguro. Uma vez que a pessoa está naquela plataforma, é difícil tirá-la de lá.

Antes de entregar o púlpito ao Mike, eu o havia conhecido e observado du- rante quatro anos. Como a maioria de nossa equipe, ele foi contratado do nosso meio, de forma que sua integridade e lealdade haviam sido testadas ao longo do tempo e por meio de reais desentendimentos. Eu sabia que estava colocando no púlpito um Jônatas, não um Absalão.

Trazer um estranho é muito mais enganoso. Nenhuma quantidade de entre- vistas e candidatos pode garantir que duas pessoas trabalharão bem uma vez que realmente estejam lado a lado no trabalho. Apenas o tempo dirá. É por isso que eu esperaria pelo menos um ano antes de começar a compartilhar o púlpito com um membro da equipe contratado há pouco tempo. Eu gostaria de antes confirmar que a pessoa que eu pensei que eu contratei é realmente a pessoa que eu consegui. Não se equivoque, compartilhar o púlpito pode ser desagradável em um rela- cionamento fraco. E por isso que as pessoas tendem a escolher lados — mesmo quando não há uma disputa. Tanto Mike como eu descobrimos que, quando algu- mas pessoas nos agradecem e parabenizam pelo sermão, elas sugerem sutilmente uma crítica ao outro: uMike, seus sermões alimentam", ou: Larry, seus sermões são

práticos". Não é que elas estejam tentando ser maldosas ou cravar uma cunha entre nós; é apenas seu jeito de dizer: "Eu gosto mais de você".

Isso não é uma grande coisa, contanto que entendamos o que está acontecen- do e compartilhemos um genuíno respeito e amor pelo outro. Mas se algum de

nós não tiver esse respeito e se começarmos a ver a nós mesmos como competi- dores, em vez de companheiros de trabalho, esse tipo de comentários aumentará a rachadura, servindo de estímulo e de confirmação das coisas horríveis que pensa- mos um do outro.

As divisões e os golpes nas igrejas são feitos dessas coisas. E eu sempre esperarei até que eu esteja seguro no relacionamento antes de compartilhar o púlpito com qualquer pessoa.