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Nós estamos em uma cultura de igreja que coloca muita ênfase na liderança. Pastores pensam não apenas em termos de pastorear pessoas, mas também em termos de liderar a igreja, o corpo corporativo de Cristo. Ainda assim, enquanto pensamos em ser líderes e pastores competentes, precisamos pensar a respeito da tarefa da pregação. Este artigo examina a interseção entre a liderança e a pregação. O discernimento entre os papéis dos pastores de liderar e ensinar é essencial. Precisamos discernir quando estamos pregando simplesmente para promover um

programa e quando estamos pregando para promover o reino. É importante man- ter essas coisas claramente distintas.

A natureza da vida da igreja global e a natureza da batalha espiritual exigem que reconheçamos nossa tarefa não simplesmente como reunir pessoas e ensinar a Bíblia a elas. Grupos pequenos podem fazer isso — sem haver ali qualquer tipo de congregação ou um pastor especificamente designado para isso. As pessoas podem fazer isso em sua casa com sua própria família, e essas coisas devem acontecer. Mas um pastor, por definição, é uma pessoa que não está apenas alimentando o rebanho, mas também está levando as pessoas a algum lugar.

Pastores de ovelhas fazem isso. Eles conduzem e alimentam. Essa é a essência do trabalho pastoral. Qualquer um de nós que pastoreou descobriu que as pessoas preferem ser alimentadas a ser conduzidas. Pessoas que estão com fome da Palavra, como deveria ser o caso das boas ovelhas do rebanho de Cristo, gostam de apren- der. Elas gostam de experimentar novidades, coisas que aquecem sua alma, as encoraja, as estimula e lhes dá discernimento e instrução. Mas quando você começa a dizer: "Gente, é tempo de nos mexermos, não apenas sermos alimentados", o rebanho começará a rosnar e a murmurar, porque as ovelhas preferem se assentar e comer ali por um bom tempo. Mas há tempo e lugar em que o ministério da pregação do pastor precisa apontar a direção para a igreja.

Por exemplo, há muitos anos eu preguei uma série de mensagens a respeito de uma questão que minha igreja estava enfrentando. Os anciãos da igreja recomen- daram a aquisição de um grande imóvel. Nós compramos um imóvel inteiro de uma igreja que seria acrescentado ao campus que já tínhamos. A quantia de dinheiro envolvida nessa aquisição era um salto enorme para nós.

Eu senti o Senhor mover meu coração para que adquiríssemos esse novo cam-

pus mesmo antes de qualquer coisa ter sido apresentada à congregação e, aliás,

antes de nós sabermos ao certo se podíamos realmente comprar a propriedade. Eu me senti conduzido a pregar uma série de mensagens com base no livro de Josué. Assim, preguei uma série intitulada: "Aproprie-se dos seus amanhãs".

Eu examinei o texto em que Deus disse a um grupo de pessoas em tempos antigos: "Eu tenho um lugar para vocês e um propósito prometido para vocês nesse lugar". Esse propósito exigiria todo um conjunto de passos a fim de que isso acontecesse. Isso não aconteceria sem empenho. Não aconteceria sem visão e fé. Não aconteceria sem falhas ao longo do caminho. Assim, aquela série "Aproprie-se dos seus amanhãs" se tornou o cartão de visita para o novo campus.

Mas o meu papel como líder não ultrapassou meu papel como alimentador. Quando introduzi a série, eu não disse: "Estou pregando essa série de mensagens porque nós estamos pensando em comprar uma propriedade". De fato, aquela série de mensagens nem sequer tratou da aquisição de propriedades. Eu preguei a série de mensagens porque sabia que cada pessoa em minha congregação estava em algum lugar de sua vida em que Deus estava apontando para novas possibilidades.

A posse dos amanhãs de sua vida tinha seus princípios estabelecidos em dar passos para frente a fim de realizar a esperança e as possibilidades dessas promessas. Meu primeiro interesse era nutrir as pessoas, para que, onde quer que elas estivessem em sua vida, encontrassem alguma coisa que as alimentaria com princípios para se apropriarem do que Deus tinha para elas.

Eu acredito que aquela série preparou corações para se expandirem além de onde estavam. Quando veio a visão para um campus adicional, eu pude fazer menção daquela série e imediatamente as pessoas conseguiram fazer a conexão com o que Deus estava nos chamando a fazer como igreja. Eu pude expandir a percepção da prontidão de Deus para fazer mais do que pensamos, mas também pude ajudá-los a reconhecer que nós teríamos um preço a pagar, um caminho a percorrer. Para mim, aquele era um caso clássico de liderar e alimentar. De certo modo, aquela série de sermões se transformou em pontos cardeais pelos quais a igreja podia navegar. Ela se tornou um sistema de referência de valores, crenças, de um modo de olhar a vida de forma que, quando tivessem de agir, estariam prontos.

A responsabilidade da liderança

Todo pastor tem uma responsabilidade de liderança. O pastor não pode sim- plesmente ser um camaleão que se adapta a tudo que as pessoas querem. Eu com- preendo que você pode ter todos os tipos de problemas políticos em potencial e até mesmo perder seu emprego, mas existem momentos em que o pastor precisa elevar a sua voz. Se tenho coisas a dizer que trazem consigo um potencial de discordância em algumas pessoas, eu normalmente me encontro com líderes na igreja antes e faço com que fiquem sabendo o que estou sentindo. Então eu posso ir perante as pessoas com um sentimento de companheirismo e a parceria dos líderes reconhecidos para falar com a autoridade da Palavra de Deus.

E claro que os diferentes graus de liderança com que cada pastor é capacitado — e eu acredito que as capacidades de liderança são simplesmente parte dos dons de uma pessoa — comumente serão proporcionais à dimensão do pastoreio para o qual Deus chamará esse pastor. Quanto maior uma igreja, obviamente maior é a necessidade do dom de liderança.

Liderando grupos ao liderar indivíduos

O principal chamado do pastor como líder e alimentador não é apenas liderar a igreja como um corpo, mas liderar cada indivíduo como uma ovelha. Lemos em Isaías 40.11: "Como pastor ele cuida do seu rebanho, com o braço ajunta os cordeiros e os carrega no colo; conduz com cuidado as ovelhas que amamentam suas crias". A tarefa pastoral não é apenas dizer: "Ei, rebanho!", e esperar que todas as ovelhas sigam. Há ovelhas que às vezes precisam ser carregadas nos braços. Há algumas que, como as ovelhas-mães, são formidáveis com as novas. E preciso ter sensibilidade para liderar pessoas que estão passando por uma crise ou uma fase de

transição na sua vida. Há um foco de liderança pessoal, assim como há um foco de liderança grupai ou corporativa.

Para mim, o valor principal é o meu chamado para nutrir o propósito criativo de Deus. Com "propósito criativo", quero dizer o propósito para o qual Deus inventou uma pessoa, aquilo para o que a pessoa foi feita. Sou chamado para nutrir esse pro- cesso em cada indivíduo na igreja. No púlpito, esse indivíduo é meu alvo; quero nutrir essas pessoas para cumprirem o propósito para o qual Deus as fez e ajudar a conduzi-las nos passos de bebê para toda a visão que Deus tiver para suas vidas.

Eu faço isso esperando que em algum lugar ao longo do caminho elas captem a visão de Deus para sua vida e se alinhem com ela. Eu não vejo meu ensino como simplesmente instrucional, educacional ou informal. Ele é sempre profético, apontan- do para a frente, chamando para algum ponto de avanço. Ele está conduzindo as pessoas a se superarem.

Eu lidero as pessoas com cada mensagem. Mas o alvo é nutrir o propósito bondoso de Deus na vida delas. Hoje não insistirei em que satisfaçam alguma exigência ética. Não quero fazê-los atingir algum objetivo da nossa igreja local. Mas quero ajudar essa pessoa a se tornar aquilo para o qual ela foi criada.

Nesse contexto, então, o maior desejo que eu tenho é — por meio da minis- tração da Palavra — conduzir as pessoas à convicção acerca de três coisas. A primeira é que percebam o compromisso absoluto de Deus em seu amor por elas, o amor que nos justificou por meio do sangue de Jesus Cristo. A segunda convicção é que elas saibam que esse mesmo amor é o amor que está comprometido com o cum- primento da visão de Deus para elas. E a terceira é chegar à firme confiança de que haverá um triunfo, independentemente de seu ambiente presente, sua luta ou seus medos. Eu quero que elas percebam que haverá uma vitória. Aquela vitória pode assumir diferentes variações do que a pessoa pensou quando começou a jor- nada, entretanto, no final todos vencerão triunfantemente.

Assim, esse é o meu objetivo: liderar as pessoas com essas convicções. Primei- ra, Deus criou você com elevado propósito e destino específico. Isso pulsa por meio da paixão da minha pregação. Segunda, o amor de Deus o envolveu e o conduzirá até lá. Deus está com você e nunca o abandonará. O Senhor está cuidando de você. Terceira, qualquer que seja o ponto de conflito ou a evidente reversão, haverá uma vitória final.

Conduzir as pessoas até essa visão de si mesmas é, em si, alimentá-las, mas também é liderá-las, porque nossa tendência é pensar: "Você pode dizer que eu sou uma pessoa com um propósito especial, mas eu ainda não sinto isso. Eu sei que Deus me ama, mas é simplesmente difícil sentir isso hoje — e especialmente tão imerecido se olho para como me comportei nessa semana". Elas pensam: "Es- tou lidando com algumas coisas difíceis e eu sei que você está falando sobre vitória na frente, mas é melhor que você me lembre disso, porque no momento está sendo difícil pensar nisso".

Todo mundo precisa ser liderado constantemente por essas coisas. E a essên- cia da ação do pastor, como a passagem de Isaías diz, é liderar graciosamente o rebanho, mas com um braço sensível que acompanha aqueles que são jovens e lidera aqueles que estão prestes a liderar cordeiros — aquelas pessoas que estão em transição, que estão carregando a possibilidade de novo propósito e nova vida. Ainda não é um tempo confortável para elas.

Esse é o papel de liderança do pastor. Toda alimentação dever estar centrada ao redor destas prioridades: ajudar as pessoas a terem uma percepção do propósito de Deus, uma percepção de seu amor e uma percepção de seu compromisso com a vitória final.

Escolhendo temas de pregação para a liderança

Às vezes, eu presto atenção em eventos atuais e seleciono assuntos de pregação de acordo com isso. Por exemplo, a minha igreja fica em uma área da Califórnia com muitos terremotos. Durante o terremoto de 1994, que foi terrivelmente devastador para a nossa região, preguei sobre questões como o sofrimento e a providência de Deus. Outro exemplo foi quando preguei sobre questões referentes aos tumultos de Los Angeles em 1992.

Aquelas coisas exigiram ministração da Palavra de Deus voltada para um tópi- co predominante e que ocupava grande parte de nossa vida. Qualquer pastor nes- sas circunstâncias que não interrompesse uma série bem idealizada com a qual estivesse ocupado não seria realista com as Escrituras, sem mencionar que também não seria realista com o mundo. A Bíblia se dirige a pessoas em necessidade, em desordem e em momentos críticos de sua vida. Esses momentos apresentam um desafio de liderança ao pastor. Como eu conduzo o rebanho durante esse tempo horrível de mudanças drásticas e respondo aos questionamentos que essas mudanças causam na sua mente? Como posso liderar as oportunidades de ministério para um crente pensante? O que eu posso ser no ambiente dessa crise?

Quando a Guerra do Golfo ocorreu, preguei dois domingos de manhã sobre a atitude dos crentes com respeito à guerra. Líderes chamam a atenção para questões em pontos de crise.

Nesse tipo de pregação de liderança, também tive de liderar em momentos que senti que Deus estava falando a nós como uma congregação em relação às nossas atitudes. Lidei com coisas como atitudes étnicas. Preguei uma série sobre como lidar com a aparência de Los Angeles visto que ela mudou radicalmente nos trinta anos em que eu tenho pastoreado aqui. Tivemos de decidir se faríamos uma espécie de migração e mudaríamos de local para sermos a congregação branca que éramos quando assumi a igreja há muitos anos. Chegou um ponto em que senti que precisávamos dizer, como corpo, que seríamos uma congregação que se com- prometeria com a multietnicidade em nossa igreja. Precisávamos decidir que não teríamos preferências; seríamos tolerantes em nossa vida de igreja. Não estávamos

em uma cruzada política para sermos multiétnicos, mas em uma cruzada do reino para sermos pessoas que mostram o que significa ser um grupo composto de "to- das as nações, tribos, povos e línguas".

Assim, preguei uma série intitulada "Superando o Mundo".1 Nós queríamos

passar à frente do progresso da sociedade em relação a isso e não ser controlados pelas atitudes raciais e étnicas com as quais cada um de nós havia sido doutrinado pela sociedade em que estávamos inseridos. Quando pregamos esse tipo de men- sagem, não apenas as pregamos no domingo de manhã. Elas são anunciadas com bastante antecedência. Elas são uma espécie de marco, e a igreja fica lotada quan- do as pregamos. E são sermões longos; não raro, nessas ocasiões, os nossos pastores pregam um sermão de uma hora e quinze ou uma hora e vinte e cinco minutos sobre um tema significativo. Pregar sobre tópicos de interesse e relevância atuais é uma boa maneira de liderar por meio das Escrituras e, ao mesmo tempo, alimen- tar as pessoas. Quero encorajar a você, pastor, a manter principalmente a visão de que você está lidando com pessoas que têm seus próprios desafios a encarar. Pre- cisamos nutrir o rebanho e, então, com base nessa saúde, ver o corpo de Cristo se mover de forma saudável em direção à realização de seus objetivos.

Capítulo 8

J O Ã O 3 . 1 6 N A C L A V E D E D Ó