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Há alguns anos, fui intimado a testemunhar em um inquérito de assassinato. O oficial de justiça me fez levantar a mão direita e disse — e você conhece estas palavras: "Você jura solenemente dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade, com a ajuda de Deus?". Eu fiz isso. Sentei e falei.

Houve um dia em que você fez o seu juramento para dizer a verdade, toda a verdade e nada além da verdade, com a ajuda de Deus. Esse é o juramento que precisamos manter — a linha das Escrituras. É difícil, não é mesmo? E fácil ir além da linha ao adicionar nossas palavras às Palavras de Deus. Também estamos suscetíveis a ficar aquém da linha. Estamos suscetíveis a acrescentar à sua Palavra ou a tirar da sua Palavra e, ainda assim, nós juramos defendê-la.

Deuteronômio 4 começa assim:

E agora, ó Israel, ouça os decretos e as leis que lhes estou ensinando a cumprir, para que vivam e tomem posse da terra, que o SENHOR, o Deus

dos seus antepassados, dá a vocês. Nada acrescentem às palavras que eu lhes ordeno e delas nada retirem, mas obedeçam aos mandamentos do

SENHOR, O seu Deus, que eu lhes ordeno (Dt 4.1,2).

Você não acrescenta e também não retira, para que possa manter a linha, a Palavra. A Palavra é a mediadora. Quando você acrescenta à Palavra, esta não está mais mediando. Portanto, você não está mais guardando-a. Não acrescente, não retire, para que possa manter a linha, os mandamentos.

O pregador de Deus no jardim do Éden não manteve a linha

Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o SENHOR

disse: 'Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim'?". Respondeu a mulher à serpente: "Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: 'Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão' " (Gn 3.1-3).

Antes de continuar, quero fazer duas observações a respeito de Satanás e Eva. Há uma distinção decisiva. O uso errado que Satanás faz das palavras de Deus é perverso e mau, mas o de Eva não. O uso errado que Satanás faz das palavras de Deus é intencional. É calculado. É uma distorção que tem a intenção de ridicularizar o caráter de Deus. Martinho Lutero disse algo no sentido de que essa não é uma pergunta sendo feita; é uma acusação sendo anunciada.

Pense nisso deste modo. Eu tenho um filho de quatorze anos. Digamos que eu diga para ele chegar em casa até as onze horas da noite. O seu amigo diz: "A que horas você precisa chegar?". Ele diz: "Eu tenho que chegar até as onze". "O seu pai realmente disse que você precisa chegar às onze?". Ele está fazendo uma pergunta? Não, ele está, na verdade, contestando meu caráter. Ele está dizendo ao meu filho: "O seu pai não é bom" — e isso é mau!

O desejo de Satanás, então, é fazer com que Eva questione a bondade do caráter de Deus. E ao duvidar do caráter de Deus, ela desobedeceria à voz de Deus. Isso é assim em toda a Bíblia e é assim também na sua vida. As táticas de Satanás são previsíveis. Ele subitamente acusará o caráter da bondade de Deus para que você possa abandonar a Palavra. E isso é perverso.

A incapacidade de Eva de permanecer na linha, entretanto, é mais compreen- sível. Encaremos os fatos: Eva não era como Satanás. O acréscimo de Eva é similar ao que os pais dizem aos seus filhos: "Se nunca chegar perto da beira do despenha- deiro, você nunca precisará se preocupar com cair lá de cima". Se nunca puser sua mão no fogão, nunca precisará se preocupar com ser queimado". Eva pensou: Eu

sei que não devo comê-lo, assim vou dizer a mim mesma que não posso tocá-lo. Isso é

compreensível. Ela está construindo salvaguardas. Mas isso tem um fim pernicioso. Eva precisa de um pregador — não necessariamente um que julgará sua rebe- lião, mas que protegerá seu relacionamento com Deus. O perigo de Eva, nesse ponto, é que seu relacionamento com Deus será transformado em uma religião em que ela cumpre regras para satisfazer a Deus. Assim, Satanás está em rebelião, mas Eva está à beira de introduzir a religião.

Não seria excelente se um pregador tivesse estado lá naquele dia? Ah, mas havia. Veja Gêneses 3.6: "seu marido". Deus, em sua providência, sabe que o mundo precisaria de um pregador antes da Queda e ele providencia um. Assim, quando a questão é levantada, ele tem um homem sob juramento que julgará o Maligno de uma vez por todas e que protegerá o relacionamento de sua família — a igreja, naquele ponto da história — e impedir a religião de entrar no mundo.

Perceba, a Palavra dada a Adão em Gênesis 2.16 é anterior à criação da mulher em 2.18. Assim, Deus havia visto a necessidade de um pregador e supriu o mun-

do com seu pregador. Tudo que Adão precisa saber é entrar no tribunal. Ele pre- cisa levantar sua mão direita e precisa dizer: "Eu juro dizer a verdade, toda a verdade e nada além da verdade, com a ajuda de Deus. E a verdade é esta: Satanás, sua palavra é perversa e má. Eu a condeno e a julgo. Você agora aguarda o julga- mento de Deus sobre você. Eva, sua palavra é enganosa e ela introduzirá a religião no mundo. E para proteger você, não permitirei que isso aconteça. Deus não disse: 'Não toque'".

Adão precisa se levantar e pregar. Ele abre um caminho estreito aqui? Ele permanece na linha? Gênesis 3.6 é um dos versículos mais tristes na Bíblia: "Quan- do a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu- o e o deu a seu marido, que" — pregou? Não — ele "comeu também".

Esse é o homem de Deus, que foi criado e chamado para pregar. E é o homem de Deus que, a partir desse jardim, deveria implantar o reino de Deus até os confins da terra. Esse é o homem de Deus que deveria preservar a Palavra de Deus e mediar a vida pela Palavra. Esse é o homem de Deus que deveria ascender ao púlpito, fechar a porta atrás de si, trancar-se ali e dizer a verdade.

Em vez de subir os degraus e falar a respeito de Deus, ele desce até o pecado. Ele sucumbe ao poder de Satanás. Ele participa da enganação de Eva. Ele concede a Satanás a sua vitória. Ele concede à religião um ponto de apoio. E a humanidade foi amaldiçoada desse momento em diante. Há pessoas em nossos dias que cum- prem as ordens de Satanás. Elas estão inclinadas à rebelião abjeta contra Deus, elas odeiam seu caráter e o assaltarão diante de todos. E há pessoas ludibriadas pelo engano de Eva; elas estão inclinadas a satisfazer a Deus pela sua prática reli- giosa.

Naquele dia a linha da Escritura é anulada. A linha é quebrada. Deus não tem um pregador no mundo. Assim, Deus se torna seu próprio pregador e defende sua própria Palavra. Isso é o que acontece em Gênesis 3.14,15. Deus fala e julga a serpente. Ele fala no versículo 16 e julga a mulher. E nos versículos 17-19 ele fala com Adão e o considera responsável por tudo. A terra agora está sujeita à maldição, e o pregador agora está sujeito à terra. E a terra do jardim a partir do qual Adão deveria cultivar o reino de Deus até os confins da terra é um pedaço de cemitério, que o homem precisa deixar até que desça novamente àquela terra no dia de sua morte.

Os pregadores de Deus no Antigo Testamento não mantiveram a linha

Deus não tinha pregador nos capítulos iniciais da Bíblia, fora umas poucas exceções. Você pode citar Enoque. Você pode citar Noé. Mas em grande parte, Deus é sua própria voz. Não há pregador. De fato, ele ainda está falando por ele mesmo quando chama seu povo no monte Sinai. É a sua voz: "Disse Deus...".

Naquele dia, as pessoas ficaram apavoradas quando ouviram Deus pregar. Eles disseram em Deuteronômio 18: Nós vamos morrer se ouvirmos você pregar. Deus diz: Então darei um pregador a vocês, e ele será uma pessoa do seu próprio povo, um profeta. E eu colocarei minhas palavras em sua boca e — o quê? — ele dirá o que eu mandar.

Moisés é esse grande profeta, mas mesmo ele, o grande profeta, tropeça na linha das Escrituras. Em Números 20.8, Deus disse a Moisés: "Pegue a vara [....] e fale àquela rocha...". Esse é um esboço de sermão muito simples. Mas, no versículo 11, Moisés levantou sua mão e bateu na rocha duas vezes. Ele hesitou em relação às linhas das Escrituras. Qual era o dilema? Versículo 12: "Como vocês não confi- aram em mim para honrar minha santidade à vista dos israelitas, vocês não con- duzirão esta comunidade para a terra que lhes dou". A falha de Moisés foi que ele não considerou a palavra e a santidade de Deus para manter o controle sobre o povo. Ele depreciou Deus perante os olhos do povo.

Assim, o grande profeta vacilou. Os grandes sacerdotes do Antigo Testamento vacilaram. Os sacerdotes nem mesmo podiam falar. Eles apenas usavam lingua- gem de sinais. Os filhos de Arão tinham a posição privilegiada da linguagem de sinais perante a congregação, mas eles entraram nisso com um fervor estranho, como está em Levítico 10. Eu estou em uma posição privilegiada. Eu vou assinar desse

jeito hoje. Eles abusaram de sua posição.

Os grandes profetas fracassaram e os grandes reis também. O capítulo 15 de 1 Samuel é um dos mais tristes das Escrituras: "Agora vão, ataquem os amalequitas e consagrem ao SENHOR para destruição tudo o que lhes pertence. Não os poupem;

matem homens, mulheres, crianças, recém-nascidos, bois, ovelhas, camelos e ju- mentos" (ISm 15.3). Isso estava de acordo com as palavras do Senhor. Mas nos versículos 9,13, lemos:

Mas Saúl e o exército pouparam Agague e o melhor das ovelhas e dos bois [...]. Pouparam tudo o que era bom, mas tudo o que era desprezível e inútil destruíram por completo. Quando Samuel o encontrou, Saul disse: "O SENHOR te abençoe! Eu segui as instruções do SENHOR".

"Estou mantendo a linha das Escrituras", diz Saul. Esse dia era ou não era um bom dia para o povo de Deus? Eles estavam felizes quando saíram do culto.

Samuel, entretanto, perguntou:

Então que balido de ovelhas é esse que ouço com meus próprios ouvidos? [...] Acaso tem o SENHOR tanto prazer em holocaustos e em sacrifício quan-

to em que se obedeça à sua palavra? A obediência é melhor do que o sacrifí- cio, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros. Pois a rebeldia é como o pecado da feitiçaria e a arrogância como o mal da idolatria. Assim como você rejeitou a palavra do SENHOR, ele o rejeitou como rei (15.14,

Só mesmo Cristo manteve a linha das Escrituras

Os grandes profetas, os grandes sacerdotes, os grandes reis — eles falharam em manter a linha. Somente quando a eterna Palavra de Deus, presente com Deus desde o início, adotou a carne humana foi que a linha foi mantida. Por meio de Mateus 4, você sabe que esse é o Homem, quando ele vai ao deserto por aqueles 40 dias. Ao passo que Moisés pecou ao manipular a Palavra, extraindo água da rocha de acordo com seus próprios desejos, Jesus não sucumbe à tentação de transformar as pedras em pães. Ao passo que os grandes sacerdotes falharam porque tinham presunção no lugar de sacrifício, pensando que Deus não os mataria, Jesus não sucumbe a isso, e se recusa a se jogar de um lugar alto como se Deus fosse ofuscar sua Palavra e salvá-lo de qualquer forma. Jesus não sucumbiu à tentação de Saúl e Davi nem à de todos os outros reis. Ele não se apropria de um reino humano pela sua própria palavra. Ele não sucumbe à tentação de se submeter às palavras de Satanás para receber o reino. Ele mantém a linha. Ele sozinho realiza o trabalho difícil e oneroso de ser um pregador bíblico.

Veja o quanto isso foi difícil para ele. Não foi um trabalho fácil. Em Mateus 19.3, os fariseus estão se afastando da linha: "É permitido ao homem divorciar-se de sua mulher por qualquer motivo?". Lá está aquela insinuação de novo: qualquer. Veja o que Jesus faz no versículo 4. Em primeiro lugar, ele responde: "Vocês não leram que, no princípio, o Criador 'os fez homem e mulher'?". Ele diz: Eu juro dizer a verdade, a verdade de Gênesis 1. Então ele diz: Eu direi toda a ver- dade, a verdade de Gênesis 2: '"Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne'. Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne". Ele diz a verdade da Palavra de Deus, ele diz toda a verdade e não diz nada além da verdade em Mateus 19.6b: "Portanto, o que Deus uniu, ninguém separe".

Você pensaria que eles ficariam agradecidos por causa de um homem que con- seguia manter a linha das Escrituras. Mas eles não estavam. Observe as palavras dos fariseus no versículo 7: "Então, por que Moisés mandou dar uma certidão de divór- cio à mulher e mandá-la embora?". Eles estão tentando colocar a declaração verda- deira de Jesus, fundamentada em Gêneses 1 e 2, em oposição com a declaração verdadeira de Moisés, fundamentada em Deuteronômio 24. A coisa é sofisticada. A mesma coisa está acontecendo hoje em dia. Esse é um trabalho sofisticado. As pes- soas opõem uma passagem na Palavra de Deus a outra passagem na Palavra de Deus.

Jesus diz: "Eu não estou jogando esse jogo". Nós temos muito o que aprender com isso em relação a como lidar com dilemas como união sexual entre pessoas do mesmo sexo. Sua apologética está aqui em Mateus 19.8: "Moisés permitiu que vocês se divorciassem de suas mulheres por causa da dureza de coração de vocês. Mas não foi assim desde o princípio". Ele diz: Manterei Moisés e a intenção criada por Deus e não permitirei que guerreiem entre si.

De fato, Jesus continua em Mateus 19.9: "Eu lhes digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, exceto por imoralidade sexual, e se casar com outra mulher,

estará cometendo adultério". O que ele está fazendo aqui? Ele está dizendo: Vocês não me colocarão em guerra com a intenção criada por Deus e a exceção de Moisés. Eu os colocarei em guerra com as duas coisas, porque o seu princípio é um divórcio fácil e sem culpa e isso é contra Gênesis 1 e 2 e isso é contra Deuteronômio 24.

É isso que Jesus faz. Você é chamado a fazer a mesma coisa e é assim que você mantém a linha. E por isso que Jesus pode dizer perante Pilatos: Eu vim testemu- nhar a verdade. É por isso que na cruz ele é o grande profeta falando e sua ressur- reição atesta que ele é o rei de Deus.

Deus chama seus pregadores hoje para manterem a linha

O que é maravilhoso é que Deus concede seu ministério a você e a mim. Nós somos pessoas decaídas. Somos filhos de Adão. Mas ele nos pede para pregar. Observe o que 2Coríntios 4.1,2 diz:

Portanto, visto que temos este ministério pela misericórdia que nos foi dada, não desanimamos. Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e ver- gonhosos; não usamos de engano, nem torcemos a palavra de Deus. Ao con- trário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus.

E então 2Timóteo 2.15:

Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade

Diga a verdade, toda a verdade e nada além da verdade, com a ajuda de Deus. Deus ainda precisa de um pregador no mundo.

Capítulo 14

A H I S T Ó R I A D A P R E G A Ç Ã O