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Capítulo III. O PEC Formação Universitária Municípios

3.4. As novas tecnologias no currículo do PEC Municípios

3.4.2. Conteúdo do ambiente virtual: a Sessão 4 do LS

De todas as atividades propostas aos alunos-professores no ambiente digital de aprendizagem (ADA) do PEC (o LS), a “Sessão 4 – O papel da escola na sociedade da informação” foi a que se voltou com maior ênfase para a discussão das transformações sociais relacionadas à disseminação das tecnologias de informação e comunicação e de sua relação com a educação36. O trabalho com essa sessão, de acordo com o proposto, foi guiado pela seguinte pergunta: “Que papel deve a escola desempenhar hoje na sociedade da informação, considerando o processo de exclusão social a que muitos podem estar sujeitos?” (Orientações

para Professores Assistentes da Sessão 4, p.1). A Sessão 4 acompanhou as atividades desenvolvidas no “Módulo 2 – Formação para a docência escolar: cenário político- educacional atual, conteúdos e didáticas das áreas curriculares” que, conforme visto, foi o espaço dedicado a essa mesma temática nas apostilas do Programa. Seu objetivo, explicitado no material Web, era de “aprofundar estudos e estabelecer relações entre os diversos aspectos envolvidos nas reformas educacionais e mudanças curriculares, tendo em vista o contexto sócio-histórico mundial dessas reformas e seus impactos na escola”.

A complexidade e a extensão de tal tema parecia exigir, assim, grande atenção e forte fundamentação teórica. De fato, uma vez proposto o trabalho em torno da temática, apresentou-se aos alunos-professores um conjunto considerável de textos, tarefas e questões a

36 Uma Sessão correspondia a um conjunto de atividades que abordavam uma mesma temática, propostas aos

fim de operacionalizá-lo. É difícil ignorar, porém, que a maior marca da Sessão 4 talvez tenha residido muito mais na forma de tratamento desses conteúdos do que dos conteúdos em si. Isso porque, a complexidade da discussão parece ter sido confundida com e pela “complicação” das tarefas. Mesmo para os PA, o Programa já advertia: “Como se vê, esta é uma Sessão complexa, que supõe a realização de tarefas diferenciadas que requerem habilidades e competências diversas”. (Orientações para Professores Assistentes da Sessão 4, p.3)

Com efeito, o grau de complexidade das atividades propostas não teve equivalência em nenhuma outra ocasião no TM On-line. A Sessão foi dividida em 4 Momentos distintos, em que diversas tarefas foram propostas concomitantemente e/ou sucessivamente, tais como leitura orientada e livre, produção de textos de vários gêneros, trabalho individual e em grupos, participação em Fórum direcionada e livre, compartilhamento de produção textual, entre outros. Tudo isso, aliado à exigência de realização do trabalho em um ambiente virtual, com suas especificidades ainda pouco familiares aos usuários, já que não se passava muito tempo desde o início do curso quando a Sessão 4 foi apresentada aos alunos-professores do PEC Municípios.

Sendo assim, ainda que se pudesse mostrar a melhor das intenções em se disponibilizar várias fontes de informação e em se propor variadas formas de trabalho a partir de tais informações, é possível afirmar que o tema foi tratado com certo grau de

superficialidade, justamente porque a atividade pressupunha a realização de muitas tarefas em curto espaço de tempo: previa-se o desenvolvimento das Sessões do TM Online em um período de uma semana para cada Momento, em média. Diga-se de passagem, entretanto, que se reservava apenas quatro horas semanais para o desenvolvimento dessas atividades.

Contrariando a própria orientação do Programa de que, “para o material Web, é mais apropriado a utilização de textos breves, com linguagem mais direta e assertiva” (Orientações

para elaboração de material e apoio, p.3), os textos que davam base para o desenvolvimento dessa Sessão eram, quase todos, longos e densos e nem sempre traziam uma formatação agradável à leitura na tela37. Além do mais, tratava-se da apresentação de dois ou mais textos de autores, enfoques e argumentações diversas, apenas para iniciar as atividades, no Momento 1.

37 Como veremos no Capítulo VI, a extensão dos textos disponibilizados/indicados no LearningSpace não foi

particular a uma Sessão específica e a dificuldade da leitura na tela era uma queixa freqüente dos alunos- professores. Mas a quantidade de informação e a complexidade da proposta foi, sem dúvida, mais marcante na Sessão 4.

Para dar conta da amplitude da tarefa propunha-se, então, a divisão das leituras entre os alunos, de forma que se formasse grupos de leituras, divididos por sub-temas (por si só, bastante complexos) e que, nos Momentos seguintes, essas leituras fossem compartilhadas por meio das sucessivas produções textuais: “Cada grupo de alunos lerá apenas os textos relativos a um dos temas indicados (...). A idéia é que entrem em contato com os demais temas apenas por meio dos pequenos ensaios que os trios elaborarão” (Orientações para Professores

Assistentes da Sessão 4, p.2). Assim, conceitos como globalização, sociedade da informação e do conhecimento e discussões importantes tais como revolução tecnológica, organização do trabalho na sociedade atual, inclusão e exclusão digital, tendiam a perder a densidade original e ao final das atividades, ficavam reduzidos a uma questão de opinião: haja vista o objetivo final da Sessão, a saber, a produção de artigos de opinião e registro de opinião pessoal, no Fórum, sobre as atividades realizadas (OPA Sessão 4, p.3). Sem menosprezar a importância desse tipo de produção, chama-se a atenção para a maneira como se organizou a Sessão 4 que, investindo na formação de opinião dos alunos-professores dispensou a solidez da argumentação, tanto de cursistas quanto do próprio Programa.

No TM On-line do PEC Municípios a temática é tratada com um ecletismo conceitual que confunde, ao invés de esclarecer. Os conteúdos dos textos apresentados e o direcionamento das atividades propostas para alunos-professores sugerem certa “neutralidade” por parte dos organizadores do Programa, que já haviam se recusado a aprofundar a discussão no material impresso. A justificativa para tal postura seria a necessidade de “oferecer aos alunos informações que possibilitassem a conceituação dos aspectos a partir de diferentes pontos de vista, e que possibilitassem a crítica a alguns conceitos mais ou menos hegemônicos em alguns círculos, a partir da apresentação de textos que polemizassem a questão discutida” (Orientações para Professores Assistentes da Sessão

4, p.4).

Nesse sentido, ainda que a tentativa de neutralidade não seja de qualquer forma possível, reforça-se o argumento de que, na Sessão 4, a forma de apresentação dos conteúdos mostrou-se muito mais marcante do que a própria temática tratada. Se a intenção era de “aprofundar conhecimentos” ou mesmo de “polemizar a questão” que já vinha sendo abordada em outros momentos e por outros meios, o objetivo inviabilizou-se pela maneira como as atividades foram propostas: ligeira e confusa. Ao final, são os conteúdos organizados no material impresso e a própria operacionalização do próprio Programa que preenchem a “lacuna” deixada no LS, com a predominância de uma forma muito particular de compreensão da relação entre “revolução tecnológica e currículo”.

Capítulo IV. Novas tecnologias de informação e