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INTERAÇÃO USUÁRIO-PRODUTO/MATERIAL

CONTEXTO DO USUÁRIO-PRODUTO

A proximidade do usuário ao produto, como já visto, solicita maiores interações usuário-produto em diversos níveis, sejam práticos, estéticos ou afetivos

Interface

Uma interface sempre se conecta, soma ou funde duas (ou mais) pessoas ou coisas, segundo Heid- kamp (2007). Bonsiepe propõe um diagrama ontológico do design a partir de três domínios unidos por uma categoria central, denominada interface: primeiro, temos um usuário que irá realizar uma ação efetiva; segundo, temos uma tarefa que o usuário deve cumprir; e, por fim, uma ferramenta, ou artefato, que o usu- ário precisa para efetivar a ação. O acoplamento desses três campos heterogêneos ocorre pela interface que, por sua vez, não deve ser entendida como uma “coisa”, mas sim o espaço no qual é estruturada a inte- ração entre o corpo, o artefato e a ação. E conclui que “é exatamente este o domínio do design” (BONSIE- PE, 1997, p.11).

“O design está ligado ao corpo e ao espaço, particularmente ao espaço retinal, porém não se limita a ele”. Esse espaço ocupa uma posição privilegiada, pois os seres humanos são primeiramente seres viven- tes com olhos. No caso dos produtos – tanto materiais quanto imateriais – “a tarefa principal do design consiste em acoplar os artefatos ao corpo, o que ele denomina de acoplamento estrutural” (BONSIEPE, 1997, p. 16).

A Figura 41 mostra uma interface que se dá no uso de uma mesa de apoio para leitura e trabalho que pode ser acionada pelos passageiros no interior de um veículo. Nota-se a presença dos três campos os quais Bonsiepe se refere: as tarefas (ações), o artefato (mesa de apoio) e o usuário que efetiva as ações.

Figura 41 – Exemplo de interface/interações de um produto. Adaptado de Bassereau (2007)

Para complementar, notam-se quais as modalidades sensoriais requisitadas na interação (tato, visão e audi- ção) e as zonas do ambiente onde as modalidades acontecem.

No caso desse exemplo, as zonas de contato estão destacadas no desenho, tanto no produto quanto nas partes do corpo em que acontecem os contatos táteis. Intrínseca à interface, se coloca o material, o qual é composto do assento do veiculo, mesa de apoio e descanso para os pés.

Bürdek salienta que “quanto mais complexa a estrutura de ação de um produto, mais simples deve ser o manejo na sua superfície de interface” (2006, p. 414).

A escala dos objetos

O progresso da eletrônica, da comunicação e dos materiais torna muitos produtos utilizados em nosso cotidiano mais leves e transportáveis, como por exemplo, os aparelhos de som e imagem, telefones celulares, cartões – “dinheiro de plástico” e computadores de bolso. A disponibilidade dessas espécies de “próteses” – entendidas como extensão de nosso corpo – produz o que Manzini (1993, p. 121) chama de nomadismo high tech – e cria uma nova relação de experiência espaço-temporal. O high tech em choque com o high sensibility, de um lado, introduz a desmaterialização dos produtos, suscita o desejo do “físico”, da relação epidérmica com o meio ambiente; e de outro lado, graças à leveza, ao peso quase inexistente do produto “prótese”, pode “mergulhar” na “naturalidade” do ambiente.

A miniaturização conduz à imaterialização dos produtos, segundo (Bürdek, 2006), sendo evidencia- da por formas achatadas ou quase planas. Essa é uma tendência minimalista com relação à redução de mate- riais e já presente em uma série de produtos, tais como os laptops, tabletes, monitores de vídeo e telefones celulares, conforme exemplo da Figura 42 (a).

Conforme mencionado por Bonsiepe, o design acontece no espaço retinal, ou seja, os objetos são muito próximos ao homem ou mesmo acoplados ao seu corpo. Com isso, os materiais estão presentes e influenciam, não somente na percepção do objeto, mas na satisfação de todas as suas funções.

O objeto é caracterizado por suas dimensões, que variam de acordo com a escala humana (Figura 42). Na prática, o domínio dessas relações (entre milímetros e alguns metros) pode ser dividido em quatro diferentes níveis da percepção, sendo a tátil a de maior relevância, como define Moles (1981, p. 26):

Figura 42 – As dimensões dos objetos na escala humana. Proposto pela autora

1) Objetos nos quais se entra – automóvel, casa, barraca– a que se poderia chamar de maxi-objetos; 2) Objetos de nossa dimensão e na esfera do gesto – moto, bicicleta, cadeira, cama e outros;

3) Objetos suportados pelos usuários, ou contidos neles e que se podem ser levados pelas mãos – como o prato, mala, telefone celular;

4) Microobjetos – que podem ser seguros entre os dedos, ou que se possa levar ao corpo: como a ca- neta, talher, óculos.

Podem-se acrescentar, à lista de Moles, modalidades de objetos mais recentes que estão na escala epidérmica e intracorporal, como abaixo. Essas relações também são mostradas na Figura 43.

5) Objetos intracorpo (próteses, conforme Manzini) – que podem ser aplicados, ou instalados em partes epidérmicas, como: olhos, ouvido (fone de ouvido, aparelho de surdez, lente de contato e outros) e os constituem próteses internas (implante dentário, ponte safena, prótese mamária). Como veremos a seguir, a tecnologia avança e, cada vez mais, penetra em nosso corpo;

6) Nanoobjetos – que estão na escala atômica. Embora essa escala nem seja compatível – do ponto de vista antropométrico – com objetos de uso humano, a nanotecnologia está presente no desenvolvi- mento dos materiais (polímeros, cerâmicas e compósitos) e nas diversas aplicações ligadas aos produtos: automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos, óticos, tintas, corantes, aromas, sendo am- plamente utilizada na área na saúde.

(a)

(b) (c)

Figura 43 – Exemplos de dimensões dos produtos: (a) microobjeto – iPod shuffle da Apple; (b) intracorpo – lente de contato; e (c) e-textil

Essa miniaturização dos produtos não quer dizer que a escala humana não seja considerada, como adverte Bürdek (2006). Num passado recente, alguns produtos foram produzidos em dimensões mínimas, sendo necessária a utilização de outros artefatos para manuseá-los, como foi o caso da minicalculadora co- mo função adicional ao relógio de pulso e de alguns telefones celulares. Esse artifício de redução, aquém da escala humana, historicamente vem resultando em fracasso dos produtos.

Em consonância, Santaella (2004) acredita que com a miniaturização e desmaterialização há neces- sidade da produção de materiais biocompatíveis para fabricar dispositivos que possam tornar-se mais ínti- mos, próximos do corpo e até alojar-se nas superfícies do corpo.

Outro fenômeno relativo ao hábito das pessoas na atualidade é o individualismo com relação aos bens, como já mencionado no item 1.6. Produtos que no passado eram compartilhados entre a família ou por um grupo de pessoas passam a ser de uso individual, como por exemplo, os televisores, equipamentos

de som portáteis, telefones fixos e móveis, computadores e automóveis. Um dos problemas mais graves desse hábito é o ambiental uma vez que a maioria destes produtos de consumo possui uma vida útil reduzida e são suscetíveis aos efeitos efêmeros da moda.