FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO SUBJETIVA DE PRODUTOS
3.3 ANÁLISE DAS FERRAMENTAS
3.3.1 FERRAMENTAS PARA MEDIR AS CARACTERÍSTICAS SENSORIAIS
As onze ferramentas identificadas para medir as características sensoriais são direcionadas a objeti- vos distintos. Algumas são mais genéricas, como é o caso da “Análise sensorial”, que se aplica a todas as cin- co modalidades sensoriais. Outras são mais pontuais, como o “Matrix”, “Sensotact”, “SynTex”, “Surface Tex- tures for Affective Communication – AFTEX” e “Emoção e cor”; que avaliam reações de sentidos específicos, cada um a seu turno. Dentre estes, a primeira, avalia características subjetivas das texturas (visuais e táteis); a segunda, é um referencial para a análise sensorial tátil dos materiais; o Syntex e o Aftex estão relacionados às medidas sensoriais das texturas; e a última, mede somente o atributo da cor e sua relação com as emo- ções.
A “Visual scanning and assessment” é uma ferramentas que faz a análise sensorial visual, e merece destaque por sua simplicidade. Ela proporciona uma varredura rápida, direta e compreensível de um deter- minado produto, resultando na identificação e exibição dos elementos visuais e suas características. Com essa leitura, é possível avaliar a importância visual ou peso de cada elemento com relação aos outros.
Dentre as onze ferramentas identificadas nesse tópico, quatro são aplicadas especialmente aos mate- riais. Contudo, deve-se fazer uma distinção em suas abordagens: uma delas, consiste em avaliar o material isolado, assim como numa amostra, e a outra, em observar o material aplicado a um determinado produto.
O método “Matrix” serve para avaliar texturas e aplica as duas abordagens. A “análise sensorial” a- nalisa o material, isoladamente, e realiza grande parte dos procedimentos dos testes em cabines especial- mente projetadas para essa finalidade. O “Sensotact” funciona como um referencial de medida e pode ser utilizado para comparar um material isoladamente, sendo utilizado, também, com alguma freqüência, para compará-lo com materiais aplicados em um protótipo ou produto real. É comum utilizar-se este método para fazer a análise tátil cega (com os olhos vendados) e, na seqüência, proceder à análise tátil e visual, com o propósito de comparar os resultados. O instrumento “Atlante”, por sua vez, aborda somente os materiais na forma de amostras, e não aplicados.
Dessa primeira etapa da seleção foram extraídos quatro métodos que serão mais detalhados a se- guir, com destaque aos seus pontos positivos e negativos. São eles: “Análise sensorial”, o referencial “Senso- tact”, “Matrix” e o “Atlante”.
Comentários sobre as ferramentas para medir as características sensoriais
A análise sensorial deriva dos trabalhos da psicofisiologia e é utilizada no desenvolvimento de no- vos produtos, na reformulação de produtos já estabelecidos no mercado, na determinação das diferenças e similaridades entre produtos concorrentes, na identificação das preferências dos usuários e, finalmente, ser- ve de referência na otimização produtiva e melhoria da qualidade dos produtos.
A Figura 46 ilustra a arquitetura básica da análise sensorial de materiais adotada pelo Laboratoire de Conception de Produits et Innovation – Ecole Nationale Supérieure des Arts et Métiers, Paris/França (Basse- reau, 2007). A arquitetura é composta de: (a) o espaço dos avaliadores, os peritos (experts nesse tipo de teste) que fazem a análise descritiva e discriminativa, e dos leigos – (avaliadores inexperientes, mas repre- sentativos do público-alvo), que fazem a avaliação afetiva ou hedônica; (b) os materiais que serão analisa- dos; (c) as cabines de análise; (d) uma lista de descritores; e (e) os referenciais sensoriais.
A análise sensorial é um método que requer recursos humanos (peritos e avaliadores inexperientes) e recursos financeiros significativos. Para sua aplicação, é necessário dispor de cabines de análise que per- mitem controlar as condições ambientais: taxa de umidade, iluminação e temperatura. Entretanto, o que tor- na o método complexo é a necessidade de treinamento para se formar um painel de avaliadores, realmente experientes. Esses fatores tornam a análise sensorial uma abordagem de difícil acesso a grande parte das empresas brasileiras, de médio e pequeno porte.
O método permite qualificar e quantificar os atributos concretos do produto, em relação ao materi- al, com alto grau de precisão, sofisticação e segurança. Contudo, mostra-se insuficiente, quanto aos critérios para escolha dos atributos, bem como no que diz respeito à participação da equipe de desenvolvimento do produto antes e depois dos testes. Rouvray (2006) enfatiza que a escolha dos atributos concretos do produto podem não corresponder, necessariamente, às reais expectativas do usuário. O perigo é, portanto, focalizar na caracterização de uma parte do produto que não seja fundamental para o usuário. Para Rouvray (2006), a presença dos designers na definição dos atributos tem papel fundamental; do contrário, a análise sensorial pode se tornar um instrumento de informações muito precisas, porém fora do contexto real do produto.
Figura 46 – Arquitetura básica do método da análise sensorial. Adaptado de Bassereau (2007)
O nível de precisão ao qual conduz a avaliação sensorial é freqüentemente excessivo, na medida em que a habilidade sensorial dos peritos é largamente desenvolvida e em níveis superiores aos dos usuários
leigos. Esse fato pode dificultar a comunicação e a tradução entre aquilo que o usuário prefere e a caracteri- zação dada pelos peritos, segundo Rouvray (2006).
O Sensotact é eficiente, somente quando utilizada em conjunto com a análise sensorial; e é justa- mente para essa finalidade que elas foram criadas. Além disso, assim como já comentado, a aplicação da análise sensorial é cara e exige pessoal especializado. Contudo, devem-se destacar seus pontos positivos: sis- tema de descritores (Figura 47) e protocolos de testes relacionados à exploração tátil das superfícies, de interesse para o modelo aqui proposto.
Figura 47 – Sensotact – referencial tátil e Kit de testes. Fonte: Sensotact (2005), informações disponíveis em http://www.sensotact.com
Os pontos mais interessantes do Matrix – aesthetics and material research são: o vocabulário (léxico) para a descrição das texturas, que é bem completo e supera todas as demais referências encontra- das na literatura; a proposta da investigação sistemática dos materiais; a atualização freqüente dos resultados na base de dados; e a disponibilidade de acesso a esse conteúdo para os designers e arquitetos (no site: http://www.material-aesthetics.com). Certamente, essa base de dados é uma fonte de inspiração, que pode apoiar e complementar as informações disponíveis nas materiotecas que foram mencionadas no item “Fontes de informações para a seleção de materiais”. Esse método permite analisar as texturas em dois aspectos: sua percepção fora e dentro do contexto de produto. Essa flexibilidade é um fator positivo, porque torna as res- postas perceptivas menos exatas em relação aos dois métodos analisados anteriormente: a análise sensorial e os referenciais sensoriais. Podemos afirmar, então, que, dentre os métodos apresentados, este é o que mais se identifica com esta pesquisa.
Zuo et al (2001), Zuo; Jones (2005), Zuo; Hope; Jones (2004) consideram haver uma forte relação entre os parâmetros físicos dos materiais e nossa percepção subjetiva deles. Assim, compreender a relação entre os parâmetros objetivos e subjetivos ajuda a identificar que processos técnicos – inerentes a um mate- rial e à sua superfície – são mais apropriados e correspondem aos sentimentos positivos do usuário. Esse entendimento, como nota Zuo, é complexo para o designer, porque requer mais conhecimento científico e técnico dos materiais, contudo, tem forte influência no êxito da escolha do material e da textura. Por fim, no
contexto desta pesquisa, os aspectos mais positivos são o diálogo usuário-material e a consideração do con- texto de uso do material. A limitação deste método é se restringir apenas às texturas dos materiais.
O instrumento Atlante, apresentado por Rognoli e Levi (2004), é focado na área didática do ensino do design e se caracteriza por sua abordagem fundada na fenomenologia. O método fenomenológico – pre- conizado por Husserl3
– preocupa-se com a descrição direta da experiência, tal como ela é.
A caracterização do material do Atlante é determinada na relação e integração entre os aspectos fenomeno- lógicos com aspectos físicos dos materiais, ou seja, os aspectos técnicos que podem ser mensurados. A Figu- ra 48 mostra dois exemplos de utilização do método fenomenológico para avaliar: os aspectos táteis, na par- te superior da figura, e os aspectos fotométricos, na parte inferior. Em ambos, o atributo é medido a partir de uma atividade cognitiva e perceptiva (apalpar, ver, pesar); em seguida se dá a sensação (da pressão, da for- ça, da forma) que corresponde a uma determinada propriedade do material (quente, liso, pesado). Todo o processo deve respeitar as influências pertinentes a cada atributo, conforme mostra a figura.
Figura 48 – Método fenomenológico para avaliação sensorial de materiais. Adaptado de Rognoli e Levi (2004)
O projeto Atlante tem como característica positiva a experimentação e vivência para obter respostas perceptivas dos materiais. Trata-se de um método com foco no ensino e sensibilização dos alunos dos cursos de design acerca dos materiais.
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Edmund Husserl (1859-1938) que consolida a fenomenologia como ciência dos fenômenos, com o objetivo de descrever os modos típi- cos como os fenômenos se apresentam à consciência. A realidade é construída social-mente e entendida como o compreendido, o inter- pretado, o comunicado. Estas modalidades típicas são precisamente as essências ou significações, dos objetos visados pelos atos inten- cionais da consciência. Toda consciência é consciência de alguma coisa. Assim sendo, a consciência não é uma substância, mas uma atividade constituída por atos como percepção e imaginação.