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DESIGN INDUSTRIAL, MATERIAL E CONHECIMENTO

1.3 MATERIAL NO CONTEXTO DO DESIGN INDUSTRIAL

1.3.3 MATERIAIS E NOVOS PRODUTOS

O design industrial procura fazer uma ponte entre as novas tecnologias e as formas de aplicá-las na prática. Segundo Fiell (2001), o design industrial procura consistentemente desmistificar a tecnologia e ofe- recê-las em formas acessíveis (produtos concretos) ao maior número de pessoas.

Como conseqüência das novas tecnologias aplicadas aos materiais e processos, os novos produtos deixam transparecer as inovações em seu conceito. A figura 11 aponta algumas das implicações da tecnolo- gia sobre os produtos contemporâneos, que serão tratados a seguir.

Figura 11 – O papel da ciência no desenvolvimento dos novos produtos. Fonte: Ashby e Johnson (2002, p. 9)

São implicações que mantêm uma visível inter-relação entre elas por estar ligadas às questões tecno- lógicas e ambientais comuns em alguns casos, como: a imaterialidade se relaciona com redução produtos leves, que por sua vez relaciona-se com baixo impacto ambiental, que tem relação com a vida útil dos produ- tos e todos relacionados com baixos custos.

Em geral, qualquer ganho de desempenho se dá, graças à redução da quantidade de material e, em conse- qüência, a redução de massa e peso é um ganho econômico.

Para alguns objetos, o fator peso é imperativo: os veículos de todos os tipos, os satélites, cúpulas ge- odésicas, as estruturas tencionadas, sendo que para essas áreas a resistência e a leveza são objetivos perse- guidos mesmo que a custos elevados. Para outros objetos cuja referência essencial é um sistema lingüístico, como: o trono de um rei deve ser imponente e pesado, não por razões funcionais, mas sim pelo seu aspecto simbólico. Segundo Manzini (1993), a relação de importância do peso dos objetos não é aplicada a todas as culturas da mesma forma – os nômades, por exemplo, utilizam objetos mais leves e transportáveis; os japo- neses têm a cultura e tradição de produzir objetos leves, justamente o contrário da cultura européia.

A valorização do leve, conforme lembra Manzini (1993) é outra tendência. Ele nota que algumas famílias de objetos atingiram o limite na relação peso-desempenho, ou seja, não há mais como reduzir a ma- téria, aspecto valorizado pela “estética do leve” ou “nostalgia do pesado”. Um exemplo recente dessa ten- dência foi o lançamento MacBook Air (Figura 12), o novo laptop ultrafino da Apple, que pesa 1,36 kg e tem 4 mm de espessura na parte mais fina, que segue a "obsessão magra da Apple".

Obter produtos com menor peso é uma tendência resultante da redução dos componentes físicos dos produtos: a microeletrônica, os nanomateriais, a incorporação de softwares nos produtos e a obtenção de materiais com propriedades de maior desempenho com menor massa.

Figura 12 – A valorização do leve vista no produto MacBook Air– Apple

Kazazian (2005), no livro “Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentáveis” enfatiza a importância de intensificar o uso do produto e desmaterializar o consumo, passando do produto ao serviço. Segundo o autor, esses são os caminhos de uma estratégia para uma economia mais leve.

Baixos custos: a redução da quantidade de recursos utilizados na fabricação dos produtos reflete na redução de custos. Isso pode ser aferido na redução das escalas dos materiais, na redução do peso e massa, na opção de materiais recicláveis, recuperados e reusáveis. Entretanto, os custos de desenvolvimento das novas tecnologias também refletem, e nesse sentido negativamente, na redução do valor final do produto.

Vida longa: a durabilidade de um produto tem relação com a qualidade, o prolongamento das fun- ções e sua adequada utilização. A vida de produto também sofre influências econômicas e culturais, como obsolescência planejada e a cultura de consumo de uma população. É importante lembrar que dentre os problemas que o design deve atender na contemporaneidade, um deles é “criar objetos, promover serviços e

comunicação, mas também quando necessário, exercer com energia a tarefa de evitar produtos sem sentido” (BÜRDEK, 2006, p. 16).

Zaccai (1999) ressalta que a eficiência na produção, distribuição, utilização e inutilização de enor- mes quantidades de produtos, freqüentemente medíocres, ameaçam provocar danos catastróficos ao planeta. E concluí que se produtos e serviços forem duráveis, eles satisfarão às necessidades individuais mantendo desperta a sensibilidade para com preocupações de ordem social, cultural e ambiental.

Baixo impacto ambiental: a questão ambiental complementa algumas das idéias mencionadas nos itens anteriores. Todos os materiais provocam um impacto ambiental (uns mais e outros menos) e sua res- trição de uso, reduz, consideravelmente, os danos dele decorrentes. Tal redução deve ser vista, no entanto, de forma conjunta com outras considerações; seja de contexto, de uso ou do ciclo de uso do produto. É re- comendável que se usem, preferencialmente, materiais e fontes de energia renováveis, bem como processos que causem menor emissão do CO2 na atmosfera. Além disso, a disponibilidade de energia e dos materiais, o mais próximo, geograficamente, é igualmente, desejável.

Manzini e Vezzoli (2003) defendem que minimizar o conteúdo material de um produto é uma das metas a serem alcançadas. É necessário definir, criticamente, as funções de um produto; e vê-las no contexto cultural e econômico, para que haja o mínimo, possível, de prejuízo aos demais fatores que envolvem a rela- ção homem-progresso-natureza. Medidas como: a redução de espessura das paredes; o uso de estruturas geométricas para favorecer a rigidez do material, assim como a desmaterialização – própria e verdadeira – (análoga à substituição de hardware por software), têm favorecido ao enriquecimento dessa relação, o que redunda em ganhos para todo o universo em que esses elementos estão presentes.

Os recursos despendidos na distribuição dos produtos, especialmente para as embalagens dos pro- dutos de consumo e o para transporte, em todos os estágios do ciclo de vida, merecem maior atenção dos designers. Evitar o excesso e o desperdício de materiais, bem como valorizar o uso coletivo e compartilhado dos produtos, são estratégias que reduzem, sobremaneira, o consumo de recursos.

Maior apelo visual e tátil: os avanços tecnológicos, tanto dos materiais quanto dos processos, permitem uma melhoria da função prática do produto, conforme os itens anteriores, ao mesmo tempo em que criam novas possibilidades para que o design melhore as funções subjetivas do produto – as simbólicas e estético-formais. Ao longo deste trabalho, essa questão será abordada em vários aspectos.