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INTERAÇÃO USUÁRIO-PRODUTO/MATERIAL

1 Os pesquisadores americanos Richard Axel e Linda B Buck especializaram no estudo na biologia molecular da percepção, em especial do sistema olfativo, o que lhes valeu o Prêmio Nobel em Medicina no ano de 2004.

2.1.7 SÍNTESE DAS MODALIDADES SENSORIAIS

2.1.7.1 Importância do sentido visual

‚ Dentre os sentidos, o visual é o mais complexo. Ao se relacionar com os outros sentidos, a eles se sobrepõe, quando se trata de registrar fatos objetivos. No que tange a um ambiente iluminado, por exemplo, os olhos registram informações que nenhum outro sistema pode detectar, especialmente, as cores das superfícies (GIBSON, 1966);

‚ Quando se refere a um produto atrativo ou a seu estilo visual, raramente nos referimos ao seu som, cheiro ou tato, pois a percepção humana é amplamente dominada pela visão. A atratividade de um produto depende, então, basicamente de seu aspecto visual (BAXTER, 1998, p. 25);

‚ A visão, se comparada aos demais sentidos, é mais eficaz quanto à codificação da forma e dimensão dos produtos.

2.1.7.2 Importância do sentido tátil

‚ O tato é o mais analítico dos sentidos e o mais afastado da visão. As mensagens que envia servem de pano de fundo ao nosso sistema de representações (MANZINI, 1993, p. 208);

‚ Existe certo número de propriedades que dificilmente se pode perceber através de outro sistema que não seja o háptico, como é o caso da temperatura, o peso e a dureza dos objetos, conforme Klatzky e Lederman (1987);

‚ Katz demonstrou, em seus experimentos, que o tato é superior à visão na percepção da espessura e na detecção de vibrações. Klatzky e Lederman (1987) também concluíram que a textura e a dureza são atributos mais bem detectados pelo sentido háptico do que pelo visual.

‚ Outros resultados indicam que o tato ultrapassa a visão, na percepção da rugosidade da superfície; ‚ Baseado em pesquisas médicas, o sentido háptico é melhor, segundo os argumentos: (a) a pele é o

elemento mais sensível de nossos sentidos; (b) é nosso primeiro meio de comunicação; (c) é nosso protetor mais eficaz; e (d) é responsável pela proteção de todos os nossos membros. Ela reveste nossos olhos – inclusive a córnea – orelhas, boca, nariz e outros (MONTAGU, 1988);

‚ Pallasmas (2006, p. 10), no livro “Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos”, comenta que a es- colha do título foi proposital no sentido de criar um “curto-circuito conceitual entre o sentido do- minante da visão e a reprimida modalidade sensorial do tato”. Todos os sentidos, incluindo a visão, são prolongações do sentido do tato, os sentidos são especializações do tecido cutâneo e de todas as experiências sensoriais são modos de tocar, portanto, estão relacionados ao tato.

‚ O tato é a modalidade sensorial que integra nossa experiência do mundo com nós mesmos. As per- cepções visuais se fundem e integram em um “continuum háptico do eu – meu corpo me lembra quem eu sou e em que posição eu estou no mundo” (PALLASMAS, 2006, p. 10).

A relação entre o sentido tátil e o visual, é controversa. Enquanto, alguns autores pontuam a relação intrínseca entre esses sentidos, outros reconhecem diferenças e, em algumas situações, até superioridade de um sobre o outro.

‚ De acordo com HALL (2005, p.74), as experiências visuais e táteis do espaço estão tão entrelaçadas que não podem ser separadas. O artista plástico Braque fez a seguinte distinção: o espaço tátil sepa- ra o observador do objeto, enquanto o espaço visual separa os objetos uns dos outros;

‚ O tato e a visão em combinação fornecem um input redundante de informação com dupla garantia, Gibson (1966);

‚ O tato é a aferição do visual. A curiosidade tátil é que nos faz aferir com os dedos aquilo que é visualmente percebido. Muitas das importâncias atribuídas à visão são, na verdade, relativas ao tato (SCHMID, 2005). ‚ A importância da percepção táctil é sentida a partir do design de um produto, conforme reflexão de

M. Le Quement, diretor de design do grupo Renault e adepto da filosofia nomeada “Touch Design”. Essa é fundada sobre o fato de o conceito de um produto rico e complexo, deve traduzir-se num produto simples e intuitivo. Para apreender um produto, o sentido visual é o primeiro a ser solicita- do, mas deve suscitar o desejo de tocar o produto. Uma vez que a mão ou a parte do corpo em con- tato, a função do produto deve ser compreendida intuitivamente (Sensotact, 2005).

2.1.7.3 Síntese comparativa das modalidades sensoriais

O Quadro 5 sintetiza as relações entre as modalidades sensoriais com atributos gerais dos produtos: propriedades estruturais, propriedades dos materiais e situação (posição, distância e movimento). Nota-se no quadro que as modalidades variam de importância com relação ao grau de percepção do atributo pelo usuário.

O Quadro 6 relaciona informações de cada uma das cinco modalidades sensoriais, destacando as suas particularidades e as suas divergências a fim de melhor compreender os seus respectivos papéis na per- cepção dos materiais.

A quantidade e a qualidade de informação transmitida ao sistema nervoso central por um órgão sen- sorial dependem da sua idade evolutiva. Os centros cerebrais dos receptores imediatos – olfato, tato e pala- dar – são mais antigos e mais primitivos, porque a capacidade de reagir a estímulos é um dos critérios bási- cos da vida. A visão foi o último sentido e o mais especializado a se desenvolver no ser humano por influên- cia da consciência sobrepondo sobre os instintos primários. O olfato se torna menos essencial uma vez que com a visão mais desenvolvida o homem é capaz de varrer um campo mais vasto em redor dele (Hall, 2005). O raio de ação das cinco modalidades tem relação com a capacidade do homem de perceber um es- tímulo mais ou menos próximo a ele, e será tratado no item da percepção ambiental. De acordo com Hall (2005), a distância tem relação com a implicação emocional de modo que: quanto mais distante, mais ra- cional se faz a informação e quanto mais próxima, mais emocional. O paladar e o tato são as modalidades mais ligadas à emoção.

Quadro 6 – Síntese de características e especificidades das cinco modalidades sensoriais. Adaptado de ROUVRAY (2006, p. 45) e HALL (2005)

Um estudo da Universidade Rockefeller (Nova York) revelou, em 1999, que o ser humano é capaz de lembrar-se de 35% dos odores, 5% daquilo que vê, 2% do que ouve ou come e 1% daquilo que toca.

A estimulação sensorial é um terreno fértil a ser explorado pelo designer, mas exige um maior co- nhecimento e concentração nos outros órgãos sensoriais que não seja somente o da visual. Além disso, os sistemas perceptivos, quando agem em conjunto, são órgãos susceptíveis de aprendizado e com a prática, podemos refinar nossa percepção: ouvir com mais detalhes, cheirar com mais atenção às nuances, orientar com maior precisão, olhar com mais atenção, apalpar com maior sensibilidade, comenta Santaella (2004).