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FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO SUBJETIVA DE PRODUTOS

3.4 SÍNTESE E CONCLUSÕES SOBRE AS FERRAMENTAS

Os métodos foram comentados à medida que foram apresentados com as considerações positivas e negativas referentes a cada um deles. Devido à grande quantidade de métodos estudados, optou-se por apre- sentar essas considerações deforma resumida, em dois quadros. Ambos apresentam os métodos agrupados, conforme a proposta inicial, demonstrada no Quadro 9, que são métodos para medir: as características sen- soriais, a expressão/significado do produto, a reação emocional e definir as características dos produtos.

O Quadro 12 (Parte I) relaciona os métodos com o seu objetivo principal, modalidades sensoriais envolvidas, técnica de pesquisa utilizada, técnica de medida e tipo de resultado proposto pelo método.

O Quadro 12 (Parte II) relaciona os mesmos métodos com o número de participantes e de amostras envolvidos, tipo de apresentação do produto durante a avaliação (amostra, imagem ou produto real), uso potencial dos métodos, fases do projeto em que os métodos são aplicados e recursos necessários à aplica- ção.

Com base nesta análise, é possível concluir que os aspectos mais importantes e interessantes para a definição do modelo “Percepção dos Materiais pelos Usuários (PERMAT)” são os seguintes:

1. A análise sensorial é um método que requer recursos humanos especializados, laboratórios e referen- ciais para as medidas táteis – como o Sensotact. Esses fatores tornam análise sensorial uma abordagem de difícil acesso a grande parte das empresas brasileiras, de médio e pequeno porte. Além disso, o nível de precisão, ao qual conduz a avaliação sensorial, é, freqüentemente, excessivo para os objetivos desta pesquisa.

2. O “Sensotact” apresenta um sistema de descritores relacionados à exploração tátil das superfícies que, em conjunto com outros métodos identificados na revisão da literatura, são potencialmente úteis para esta pesquisa, como os descritos por Revész (1960 apud Mazzeo, 2003) e Klatzky e Lederman (1987).

3. O método deve ter uma abordagem mais holística e menos analítica. A avaliação sensorial tem a

desvantagem de não considerar o conjunto do produto. Qualquer pesquisa de avaliação sensorial, apli- cada a um produto não homogêneo (é o caso dos produtos existentes no mercado, exceto certos produ- tos agroalimentares ou cosméticos), afirma ser capaz de explicar o "todo", pela soma das suas partes, conforme explica Rouvray (2006). Mas, a teoria Gestalt nos faz lembrar que o produto deve ser avaliado como um todo: cada parte assumindo seu sentido de unidade, em um todo integrado, e, por sua vez, de- ve exceder a soma das partes (Monö, 1997). Assim a avaliação sensorial, em razão de sua natureza ana- lítica, é uma abordagem inadaptada para avaliar produtos de caráter polisensorial.

4. O método Matrix é o mais detalhado quando se trata das texturas superficiais. Uma das suas ferramen- tas, mais interessantes e úteis para esta pesquisa, é o vocabulário (léxico) para a descrição das texturas em quatro dimensões – geométrica, físico-químico, emotiva e associativa –, pois é bem completo e su- pera todas as demais referências encontradas na literatura. O método permite, ainda, avaliar as texturas, sob duas condições: a textura do material na forma de amostras, e a textura do material aplicado a um

produto, em seu contexto de uso. Zuo acredita que há uma forte relação entre os parâmetros físicos dos materiais e nossa percepção subjetiva deles. Conhecer melhor os princípios da ciência dos materiais e confrontar os aspectos objetivos e os subjetivos torna o designer mais sensível e mais seguro, para esco- lher os materiais que melhor correspondam aos sentimentos positivos do usuário. Em suma, os aspectos mais positivos do Matrix são: o vocabulário já desenvolvido, o diálogo usuário-material e a consideração do contexto de uso do material. A limitação desse método é se restringir apenas às texturas dos materiais. 5. O método Atlante tem como característica positiva a experimentação e vivência, para se obter respostas

perceptivas dos materiais, numa abordagem fenomenológica. O objetivo do projeto é didático, para que os estudantes de design possam familiarizar-se e sensibilizar-se com materiais. O método deixa claro que a experimentação dos materiais é fundamental para ampliar a percepção do uso dos materiais.

6. O Diferencial Semântico é a técnica mais aplicada no conjunto de todas as abordagens; em razão da sua flexibilidade e facilidade de uso. Além disso, a apresentação dos resultados por meio de perfis (indi- viduais, coletivos e comparativos) e de mapas perceptuais facilita, não somente a compreensão dos re- sultados, como sua comunicação com os demais envolvidos no projeto. O ponto negativo, apontado por diversos autores, é a seleção dos adjetivos apropriados e significativos, para cada projeto em particular. É fundamental, pois, a participação de especialistas e de representantes do público-alvo na elaboração dessa escala. Com base na literatura, a elaboração de uma base de dados, contendo descritores – gené- ricos ou específicos – é uma prática que permite economizar recursos.

7. A escala Likert é amplamente utilizada e testada em inúmeras modalidades de pesquisa. Não são utili- zados adjetivos, mas sim afirmações pertinentes ou não à atitude estudada. A escala Stapel é conside- rada muito simples, quando se necessita de resultados comparativos rápidos. É fácil de administrar e não precisa ser testada quanto à polaridade dos adjetivos, como as escalas de Diferencial Semânticas. As vantagens de ambas são a simplicidade de utilização e facilidade de interpretação por parte dos partici- pantes.

8. O estudo para elaborar os modelos “Product e Material Experiences Evaluation Model” revelou

algumas similaridades com o método a ser desenvolvido nessa pesquisa de tese. O objetivo do estudo foi verificar como os indivíduos descrevem os materiais ao avaliarem um produto e como os descrevem, i- soladamente. Foram considerados produtos de categorias diferentes e escolhidos pelos próprios partici- pantes do estudo. As descrições foram agrupadas em sete parâmetros: uso, função, materiais, proprie- dades sensoriais, percepções, associações e emoções. Os resultados obtidos mostraram que: os indiví- duos são capazes de descrever – ainda que de forma simples – os materiais, quando relacionados a um produto; os produtos portáteis e aqueles preferidos pelos usuários são mais facilmente descritos; e, os aspectos não físicos dos materiais são percebidos. Verificaram-se alguns problemas no estudo, já men- cionado neste trabalho, como, por exemplo, a seqüência dos testes, a pequena amostragem de partici- pantes e a ambigüidade de alguns termos adotados pelas autoras. O estudo de Karana e Kesteren (2006) não é conclusivo a respeito da percepção dos materiais. Ele apresenta falhas e, portanto, pode ser aprofundado com enfoques complementares e diferentes ao deste estudo.

9. As ferramentas para medir a reação emocional são diversificadas e cada qual tem seu enfoque parti- cular para: medir componentes fisiológicos – que são pontuais e caros; avaliar e medir reações emocio- nais, com base em expressões corporais e faciais; automedições, com base em sistemas de classificação (Russell, Plutchik), organizações das emoções e medições de reações emocionais contínuas. A comple- xidade das ferramentas varia de simples anotações de auto-avaliação a aplicativos elaboradas com a fina- lidade de avaliar produtos em especial (o caso do PrEMO). As conclusões a respeito das ferramentas, neste momento de definições, são: deve-se utilizar um método de automedida simples – pois não há ne- cessidade da medição contínua –, que seja intuitivo e de fácil entendimento pelos usuários. Alguns ins- trumentos são flexíveis e possíveis de serem adaptados às situações particulares do projeto, inclusive pa- ra avaliar as emoções evocadas na interação dos indivíduos com determinados materiais, estejam esses presentes em um produto ou em amostras do material.

10. A Engenharia Kansei apresenta modalidades distintas, com graus de complexidades em razão das

formas de implementações. Visto na sua versão mais simples, o método permite relacionar as necessida- des emocionais dos usuários com as características do produto. Com isso, é possível verificar quais são os elementos que mais impactam a percepção dos usuários, bem como inter-relação com os demais e- lementos. A aplicação do método requer certo domínio da equipe de projeto, especialmente para elabo- rar o espaço semântico, definir a coleção de produtos e suas propriedades, bem como exigir a análise estatística dos dados, mais avançada. Tendo em vista que se utiliza o Diferencial Semântico, como méto- do de medida, os problemas que lhe são pertinentes, devem ser considerados. Nesse caso, além de ser recomendável elaborar um banco de dados (léxico), deve-se incluir outros com os elementos de design. Os tipos de Kansei Híbrido, Virtual e Colaborativo são implementações mais especializadas e requerem maior aporte de recursos específicos, como já mencionados. Todavia, são os métodos que mais se iden- tificam com a proposição da gestão do conhecimento aplicada ao processo de desenvolvimento do pro- duto. A Engenharia Kansei também facilita sua adesão conjunta em outras metodologias de gestão da produção e da qualidade adotadas, usualmente, pelas empresas. Ainda que o método utilize, com maior freqüência, as imagens dos produtos (especialmente para os Tipos III a VI), é possível aplicá-lo ao pro- duto real, com a possibilidade de os usuários expressarem suas sensações (palavras Kansei) envolvendo, além da visão, os demais sentidos – tato, audição, olfato e paladar.

11. O método SEQUAM é o que apresenta melhores idéias e potenciais para ser aplicados nesta pesquisa, que são: valoriza as modalidades sensoriais na análise; mede as reações subjetivas, sempre relacionadas aos parâmetros do produto (sendo uma abordagem similar à Engenharia Kansei neste aspecto); consi- dera a interação do usuário com o produto durante todos os testes; é flexível, uma vez que permite reali- zarem-se somente as etapas necessárias em cada caso; e tem como objetivo, transformar as avaliações em dados objetivos para o projeto, em todas as suas etapas. Uma característica do método é fazer a cor- relação entre os dados objetivos e as opiniões subjetivas dos usuários, de forma similar ao método Ma- trix. Outra idéia interessante do SEQUAM é de tomar como exemplos outros produtos similares, para que sejam experimentados para avaliar pontos favoráveis ou desfavoráveis, com o propósito de ter refe-

renciais tangíveis, mesmo que ainda não se tenha um modelo para testes. Por fim, esse método é o que melhor se alinha aos objetivos desta tese, embora o foco da avaliação seja o produto e não os materiais.

12. O método Materials in Products Selection (MiPS) é direcionado para a definição dos requisitos

sensoriais para a seleção dos materiais. Contudo, seu direcionamento aponta para objetivos adversos a esta pesquisa, ou seja, quem decide sobre as necessidades sensoriais dos produtos são o cliente e o de- signer, não contando com a participação do usuário final. Os pontos de interesse para esta pesquisa já foram mencionados, destacando-se a adoção do “Ciclo de Interações” do produto que permite uma vi- são mais abrangente das interações possíveis entre os usuários e os produtos.

Ao término deste estudo, foram identificados, avaliados e selecionados os métodos que mais se ali- nham aos objetivos da pesquisa. Esse levantamento possibilitou a análise dos pontos favoráveis e desfavorá- veis de cada um desses métodos e propiciou a seleção daqueles mais relevantes e condizentes com a questão originária. O propósito é aplicar os métodos selecionados, ou parte deles, e, em conjunto com outros ele- mentos – igualmente importantes – extraídos da revisão bibliográfica, propor uma inovação nos critérios de avaliação perceptiva dos materiais, concernentes aos usuários.

Pode-se concluir que, apesar de certas semelhanças de alguns métodos avaliados com os objetivos desta pesquisa, nenhum deles atende integralmente a estes.

O próximo Capítulo 3 apresenta o modelo proposto, denominado “Percepção dos Materiais pelos Usuários (Permatus)” para a obtenção de informações subjetivas a respeito dos materiais.

Capítulo 3

Modelo - Percepção dos materiais