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DESIGN INDUSTRIAL, MATERIAL E CONHECIMENTO

1.1 MATERIAL, PRODUTO E USUÁRIO

1.2.1 A FORMA SEGUE A FUNÇÃO E SEGUE A MATÉRIA

Em artigo escrito em 1907, o arquiteto Hermann Muthesius (2007) explica que o conceito de arte industrial se fundamenta numa máxima definição – do objetivo de cada objeto – para dar origem a uma forma. Uma vez que a imitação exterior2

foi abolida, novas exigências emergiram; como a predominância dos materiais e suas condições particulares de conformação. Assim, um objetivo é agregado à conformação e esta se dá segundo a natureza do material. A escolha do material acompanha o respeito pela estrutura correspondente. Objetivo, material e conexão natural são, portanto as diretivas dos novos objetos, acres- centando-se, aos três fundamentos, o elemento afetivo – também presente na nova arte industrial. Apesar da preocupação demonstrada por Muthesius, já nessa época, a questão do material, no domínio do design,

2 O autor faz referência ao período anterior – final do século XIX – quando os estilos produziram as “maiores aberrações no sentido das decorações irracionais e das simulações de todo o gênero”: se imitava a madeira com o cartão, a pedra com o estuque ou com o zinco laminado, o bronze com o estando. Surge assim a “veracidade intrínseca”, os princípios mais importantes e significativos da produção da época, onde a exigência primordial era da pureza e da solidez dos produtos industriais.

deixou de ser considerada importante; ou deixou de ter a importância com que merecia ser tratada. Até os anos 80, o fio condutor do design era baseado na máxima funcionalista – “a forma segue a função”

al de Santa Catarina – UFSC, “M

te da matéria no design industrial, Reis (2003) propõe que a forma de um a

enfoque, Ashby e Johnson (2002) dedica um capítulo sobre a questão "A forma segue a matéri

o do produto

. Ou seja, baseado em necessidades sociais, se desenvolvia conceitos de funcionalidade para os produtos, cujo objetivo principal era atender aos requisitos da função prática e técnica (manejo, ergono- mia, construção e produção) e, em muitos casos, a dimensão comunicativa do produto era secundária. A lógica desse argumento é que todos os objetos – com a mesma finalidade – deveriam ter a mesma aparên- cia. Mas “é óbvio que esse não é o caso, que pode ser verificado, por exemplo, na variedade de xícaras produzidas com formas diferentes” (FORTY, 2007, p. 21).

Na tese defendida por Alexandre Amorim dos Reis, na Universidade Feder

atéria, forma e função: a influência material no design industrial” o pesquisador aprofundou-se na teorização sobre materiais, procurando extrair desse estudo reflexões próprias para as ações do design. Reis (2003) parte da premissa de que o desconhecimento acerca dos materiais pelos designers provoca uma lacuna na formação e prática desses profissionais. São poucos os designers que cultivam o respeito à especificidade material, utilizando a matéria como ponto de partida em seus projetos e, quando o fazem, de modo geral, agem sem o devido embasamento teórico. Ele comenta que nas artes plásticas se revela maior comprometimento com os materiais do que no design, de maneira que o artista adota um material, não somente como matéria-prima, mas como inspiração para a sua criação. “Este ato de adoção é, em primei- ro lugar, um verdadeiro e próprio diálogo do artista com sua matéria, no qual o artista deve saber interro- gar a matéria para poder dominá-la, e a matéria só se rende a quem souber respeitá-la” (PAREYSON, 1989 apud REIS, 2003, p. 161).

Sobre a potencialidade influen

rtefato seja determinada, não apenas pelas propriedades físicas do material, como, também, pelo estilo de representação de uma cultura; em que os diversos valores semânticos e simbólicos passem pela compreensão adequada dos materiais. Ou seja, são muitas as questões tratadas simultaneamente, como resumidas por Krippendorff e Butter (1984): "o design é a criação consciente da forma para atender ne- cessidades humanas”.

Com o mesmo

a". Para os autores, um produto é a realização de um conceito, com formas e características que po- dem ser vistas e tocadas ao mesmo tempo. Simultaneamente, é feito por processos, usando materiais que en- cerram, neles próprios, comportamentos visuais e táteis. Os autores acrescentam que uma característica é um aspecto do design que contribui para a funcionalidade, usabilidade e personalidade de um produto.

As características tangíveis pressupõem requisitos topológicos (que definem a configuraçã ), geométricos, dimensionais, pelas exigências técnicas (resistência, estabilidade, eficiência) ou por conveniências do usuário (sobretudo ergonômicas). As características definem as restrições pelas quais a forma e os materiais devem agir. As soluções são combinações destas características, que incorpo- ram o conceito, tornando-o real, e dando-lhe formas seguindo as intenções do designer.

Os mesmos autores Ashby e Johnson (2003), em outro trabalho, “The art of materials selection” incluem

res: material, forma, função e process

Figura 7 – Fatores que se relacionam em um produto, (a) conforme em Ashby (1992) e (b) funções ampliadas proposta pela autora

que além dos materiais, os processos de fabricação e os acabamentos superficiais influenciam em muito o design. Ambos têm expressões próprias, como por exemplo, o encaixe aparente (processo da marchetaria) da madeira em uma caixa, a costura decorativa no vestuário ou uma chaleira que muda de cor à medida que aquece, acrescentando uma função indicativa ao produto.

Para efeito deste trabalho adota-se a seguinte relação dos quatro fato

o, cujo esquema foi proposto por Ashby (1992), conforme mostra a Figura 7 (a), numa abordagem para a engenharia, em cuja área de conhecimento a função era considerada uma finalidade prática. Acres- centa-se ao esquema as diferentes funções mostradas anteriormente na Figura 6, e assim se tem uma rela- ção (b) mais adequada ao escopo desta pesquisa.

Ashby e Johnson (2002, 2003); Karana (2004, 2006), Kesteren (2004, 2008); Kindlein Júnior (2006);