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IV. Hiperligações e referências bibliográficas

2. O conceito de OPC no CPP e na LOIC

4.2. Continuidade da direcção do inquérito

Independentemente da estratégia de investigação adoptada, mostra-se importante o planeamento e concentração das diligências a realizar, devendo manter-se uma perspectiva global do processo e ter sempre em vista a decisão de encerramento do inquérito. De facto, existe uma relação intrínseca entre os actos praticados no decurso do inquérito e a decisão final do mesmo, mostrando-se por isso fundamental a vinculação de cada acto praticado ao fim que se pretende alcançar.

Assim, em momento prévio à realização de cada concreta diligência, deve ser feito um juízo de:

necessidade da mesma para a prova do facto; adequação/aptidão para com ela provar o que se

pretende; eficiência, devendo ser, de entre as possíveis, a forma mais simples de obtenção de prova e esclarecimento dos factos; proporcionalidade entre o interesse em realizar a diligência probatória e a restrição de direitos fundamentais, os custos financeiros envolvidos e o tempo necessário para a sua realização, tendo em consideração os prazos de duração do inquérito88 e das medidas de coacção

eventualmente aplicadas; subsidiariedade, aferindo se os resultados que se pretendem obter com a realização de uma concreta diligência podem ser obtidos mediante a realização de outras que não colidam de forma tão intensa com direitos fundamentais89.

Embora, como se disse, não haja um modelo rígido quanto ao exercício da competência da direcção do inquérito pelo MP, a verdade é que, independentemente de tal exercício assumir mais ou menos intensidade, tendo em conta o caso concreto, deve ser contínuo.

Assim, ao longo de todo o inquérito cabe ao MP90:

– Controlar as medidas cautelares levadas a cabo pelos OPC (artigo 253.º do CPP);

– Orientar a investigação realizada pelos OPC através da delegação de diligências (nos casos em que não lhe é delegada a globalidade da investigação de um crime), emitindo Directivas e instruções específicas sobre a realização de actos (artigo 2.º, n.º 7, da LOIC)91;

88 Cfr. Artigo 276.º do CPP

89 Sessão de Formação Específica de Direito Penal e Processual Penal – Ministério Público – 33.º Curso, ministrada pelo Procurador da República Rui Cardoso.

90 A

LBUQUERQUE, Paulo Pinto de, op. cit., pp. 169-170.

91 Como será o caso de, por exemplo, proceder a inquirições e interrogatórios, devendo o magistrado indicar, com precisão, todos os aspectos a abordar e a esclarecer, além dos que se vierem a mostrar relevantes no momento da realização do acto.

– Fiscalizar a actividade processual dos OPC (artigo 2.º, n.º 7, da LOIC, 3.º, n.º 1, alínea n), 10.º, n.º 2, alínea h), 56.º, alínea e), 58.º, n.º 1, al. e), do EMP), anulando os actos realizados e ordenando a sua repetição quando tal se revele necessário e possível;

– Decidir se preside ou assiste a certos actos ou se autoriza a sua realização;

– Avocar92 o processo ou um acto processual em concreto, a qualquer momento (artigo 2.º, n.º 7,

da LOIC);

– Coordenar a actividade dos OPC (artigo 56.º, alínea d), e 58.º, n.º 1, alínea d), do EMP), definindo as formas de articulação entre os OPC e entre estes e demais organismos (artigo 63.º, n.º 1, alínea f) e n.º 2, alínea e), do EMP);

– Determinar os actos processuais em que se mostra necessário ou vantajoso proceder-se com urgência (artigo 103.º, n.º 2, alínea b), do CPP);

– Intervir por forma a indagar os motivos e as dificuldades que se verifiquem na realização de um determinado inquérito, dando as orientações consideradas oportunas;

– Manter o controlo do modo e do tempo da prática dos actos de inquérito pelos OPC, tendo em conta exigências de realização da justiça num prazo razoável93;

– Intensificar a direcção efectiva nos inquéritos mais complexos, o que se exprime na clara definição do objecto do inquérito e identificação de várias hipóteses a provar, assegurando que são respeitadas as exigências de que a lei faz depender a prática de certos actos;

– Manter contacto directo com os OPC, tanto quanto possível, sem formalismos; – Solicitar informações aos OPC, tendo estes o dever de as prestar;

– Manter estreita cooperação e troca informacional com os OPC;

– Agendar reuniões com os OPC com vista a delinear conjuntamente a estratégia da investigação94, o que se revelará, em regra, mais conveniente nos casos de criminalidade grave e

complexa.

Em termos práticos, cabendo ao MP proferir decisão final no inquérito, quanto mais activa e efectiva for a direcção desta fase processual maior será o conhecimento do magistrado sobre a mesma e, consequentemente, a facilidade com que decide.

De tudo quanto foi dito, conclui-se que na direcção do inquérito o MP não é apenas titular de poderes, cabendo-lhe também deveres, respondendo funcional e institucionalmente pelos resultados alcançados

92 Conforme salienta Damião da Cunha, o sentido técnico-jurídico do conceito “avocação” pressupõe que o órgão avocante chame a si um caso pertencente a outro órgão. Ora, no caso da coadjuvação a matéria que o coadjuvado chama a si já está incluída nas suas competências, pelo que o órgão principal decide assumir a sua titularidade quanto a um caso concreto, in op. cit., nota 45, p. 132.

93 Nos casos em que o inquérito se encontra na posse do OPC investigante podem ser criados, por razões de eficácia e celeridade, traslados em papel, com valor de inquérito, pelo magistrado do MP, permitindo-se que este pratique diligências no traslado (por exemplo, afastamento de sigilo, remessa ao juiz de instrução criminal para admissão da constituição de assistente, etc.) – “Manual de boas práticas, com reporte a Directivas, ordens e orientações de serviço, destinado aos magistrados do Ministério Público da Jurisdição Comum”, 1.ª edição, p. 8, disponível no SIMP.

94 Em conformidade com a Directiva n.º 1/2017, da PGR, deverão ser-lhe comunicadas, via hierárquica, as dificuldades de articulação e obtenção de cooperação e colaboração dos OPC e de outras entidades cuja participação seja essencial na investigação dos crimes de natureza prioritária e que não possam ser ultrapassadas de outra forma.

nesta fase. Assim, não podemos deixar de partilhar o entendimento de que não há direcção do inquérito quando se adopta uma atitude de inércia, ignorância e desresponsabilização95.

IV. Hiperligações e referências bibliográficas Hiperligações https://simp.pgr.pt/ http://www.pgdlisboa.pt/ http://www.dgsi.pt/ http://www.ministeriopublico.pt/ http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/ Referências bibliográficas

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MENDES, António Jorge de Oliveira, MADEIRA, António Pereira, GRAÇA, António Pires Henriques da,

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delegatória do Ministério Público”, Universidade de Coimbra, Janeiro de 2017. [Retirado

de https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/84126/1/Tese%20Final%20-%20PDF.pdf]

6. TRABALHO DE GRUPO

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