• Nenhum resultado encontrado

Consideram-se órgãos de polícia criminal de natureza específica o Serviço de Estrangeiros e Fronteira (SEF), a Polícia Judiciária Militar (PJM), a Polícia Marítima (PM), a Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE), tendo competência específicas, conferidas nos termos das leis.

2.4.1. Serviço de Estrangeiros e Fronteiras

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) é um serviço de segurança, organizado hierarquicamente na dependência do Ministro da Administração Interna, com autonomia administrativa e que, no quadro da política de segurança interna, tem por objectivos fundamentais controlar a circulação de pessoas nas fronteiras, a permanência e actividades de estrangeiros em território nacional, bem como estudar, promover, coordenar e executar as medidas e acções relacionadas com aquelas actividades e com os movimentos migratórios, constituindo um órgão de polícia criminal, nos termos do artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 252/2000, de 16 de Outubro (LOSEF). São autoridades de polícia criminal o director nacional, os directores nacionais –adjuntos, os directores de direcção central e os directores regionais, os inspectores superiores e inspectores, os inspectores-adjuntos principais, os inspectores- adjuntos, quando exerçam funções de chefia de unidades orgânicas, nos termos do artigo 3.º, n.º 1, da LOSEF. Constitui atribuição do SEF, para além do mais, proceder à investigação dos crimes de tráfico de seres humanos e crimes auxílio à imigração ilegal, bem como investigar outros com ele conexos, sem prejuízo da competência de outras entidades, nos termos do artigo 2.º, n.º 1, alínea g), da LOSEF. Traduz- se, assim, num órgão de polícia criminal de competência específica não reservada. A sua competência investigatória está atribuída à Direcção Central de Investigação (DCINV), a quem compete, nos termos do artigo 23.º da LOSEF desenvolver acções no âmbito da prevenção e investigação da criminalidade da competência do SEF quando esta envolva criminalidade organizada ou em casos cuja investigação se revista de especial complexidade, em especial no âmbito do disposto nos artigos 183.º a 188.º da Lei n.º 23/2007, ou ainda quando a acção a desenvolver abranja a área de intervenção de duas ou mais direcções regionais, em qualquer dos casos no domínio das competências do SEF e assegurar a coordenação técnica da prevenção e investigação criminal desenvolvida pelos departamentos regionais de investigação e fiscalização, cabendo–lhe centralizar e acompanhar os inquéritos registados e as investigações desenvolvidas no SEF.

2.4.2. Polícia Judiciária Militar

A Polícia Judiciária Militar (PJM) é um corpo superior de polícia criminal auxiliar da administração da justiça, organizado hierarquicamente na dependência do membro do Governo responsável pela área da defesa, constituindo um serviço central da administração directa do Estado, dotado de autonomia administrativa, nos termos do artigo 2.º da Lei 97-A/2009. A missão deste órgão de polícia criminal é coadjuvar as autoridades judiciárias na investigação criminal, desenvolver e promover as acções de prevenção e investigação criminal da sua competência ou que lhe sejam cometidas pelas autoridades judiciárias competentes, ao abrigo do artigo 3.º, n.º 1, da Lei n.º 97-A/2009.

As suas competências em matéria de investigação criminal encontram-se previstas no artigo 4.º da Lei n.º 97-A/2009 e no artigo 118.º do Código de Justiça Militar (CJM) e traduzem-se na competência específica para a investigação dos crimes estritamente militares previstos no CJM, como é o caso do crime de deserção, previsto e punido nos termos do artigo 75.º do Código de Justiça Militar46 47,

podendo ser agentes do crime os militares ou qualquer cidadão em geral. A Constituição da República Portuguesa e o Código de Justiça Militar referem-se a crimes estritamente militares, caracterizando-se pela exclusividade do bem militar em causa, ou seja, encontrando a sua essência na natureza dos bens jurídicos violados. Assim, visa-se a protecção de bens jurídicos militares que, na esteira do que defende FIGUEIREDO DIAS daquele “conjunto de interesses socialmente valiosos que se ligam à função militar

específica: a defesa da Pátria, e sem cuja tutela as condições de livre desenvolvimento da comunidade seriam pesadamente postas em questão”48. Este interesse militar específico protegido pela incriminação em causa, terá de transcender a mera tutela indirecta e mediata da disciplina das Forças Armadas pois que, “para que uma conduta possa ser qualificada como crime essencialmente militar, e não apenas

acidentalmente militar, é necessário algo mais que a referida conexão; é necessário que haja uma ligação estruturalmente indissolúvel entre a razão de ser da punição do acto ilícito e interesses fundamentais da instituição militar ou da defesa nacional”49. Razão pela qual se afasta o crime de furto praticado por militar contra militar, integrando-o no conceito de crime acidentalmente militar. A PJM detém, ainda, competência reservada para a investigação de crimes cometidos no interior de unidades, estabelecimentos e órgãos militares, sem prejuízo da possibilidade de deferimento da competência à PJ nos termos previstos no artigo 8.º, n.º 3, da LOIC e da competência conferida à GNR pela LOIC ou pela respectiva Lei Orgânica para a investigação de crimes comuns cometidos no interior dos seus estabelecimentos, unidades e órgãos.

46 Em conformidade com a Circular da PGR n.º 13/2008-DE, foi adoptada a doutrina constante do Parecer n.º 91/2006, do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República. Anteriormente, praticava o crime de deserção quem incumprisse o serviço militar obrigatório. Actualmente, integra o crime de deserção quem, sendo militar não se apresentar ao serviço. 47 cfr. Parecer CCPGR n.º 4/2003, no âmbito do qual se determina “1.ª – Nos termos da Constituição e da lei, o punctum saliens dos crimes essencialmente/estritamente militares reside na violação de bens jurídicos militares, entendidos como os valores que tutelam e constituem fundamento da organização militar e os interesses militares da defesa nacional; 2.ª – No âmbito do processo criminal militar, a investigação está regulada nos artigos 332.º a 341.º do Código de Justiça Militar e tem por fim a indiciação de crime essencialmente militar e dos seus agentes ou a recolha de elementos que possibilitem a determinação do foro competente para o conhecimento da infracção [alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo 332.º]”.

48 DIAS, Figueiredo; justiça militar, in Colóquio Parlamentar Promovido pela Comissão de Defesa Nacional; Edição da Assembleia da República; 1995; pág. 25.

49 Cfr. Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 347/86.

Constituem autoridades de polícia criminal da Polícia Judiciária Militar o director-geral, o subdirector- geral, os directores das unidades territoriais e os oficiais investigadores, conforme determina o artigo 9.º, n.º 1, da LOPJM.

2.4.3. Polícia Marítima

A Polícia Marítima (PM) é uma força policial armada e uniformizada, dotada de competência especializada nas áreas e matérias legalmente atribuídas ao Sistema da Autoridade Marítima (SAM) e à Autoridade Marítima Nacional (AMN), composta por militares da Armada e agentes militarizados, nos termos do artigo 15.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 43/2012.

É um órgão de polícia criminal de competência específica não reservada. Só tem competência para crimes cometidos nos espaços marítimos sob jurisdição nacional, ao abrigo do disposto no artigo 15.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 43/2012, artigos 5.º e seguintes da Lei n.º 34/2006 e artigo 3.º da Lei n.º 54/2005, mas nem todos os crimes aí cometidos são de sua competência. Constituem autoridades policiais inspectores, subinspectores e chefes, nos termos do artigo 2.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 248/95, de 28 de Setembro e ainda os órgãos de comando da Polícia Marítima, nos termos do artigo 4.º, n.º 2, do Decreto-Lei n.º 248/95. A competência da Polícia Marítima para a investigação criminal define-se assim pela conjugação de um critério territorial (espaços marítimos sob jurisdição nacional) e de outro material (tipos de crime que se enquadrem nas descritas atribuições do SAM e confronto com a competência de outros órgãos de polícia criminal).

Assim, à Polícia Marítima enquanto órgão de polícia criminal compete:

• Desenvolver actos, medidas e demais diligências averiguatórias, em âmbito judicial, sob a direcção do Ministério Público (MP) e executar mandados e ordens judiciais, designadamente em matéria de apreensões, arrestos e demais medidas cautelares;

• Efectuar diligências de investigação relacionadas com matéria processual que lhes esteja cometida em cumprimentos de decisões judiciais e garantir a salvaguarda e protecção de todos os meios de prova relacionados com infracções detectadas;

• Sob direcção do MP, desenvolver diligências de averiguação e de investigação designadamente quanto aos crimes de poluição marítima, furtos de motores, crimes a bordo (agressões, furtos, reféns), crimes contra a segurança da navegação, crimes de captura ou desvio de navio, atentado à segurança por água e condução perigosa de navio por água, e crimes de destruição ou captura de espécies protegidas de fauna e flora.

O âmbito das competências investigatórias da Polícia Marítima suscita dúvida devido à existência de possível coincidência entre as suas competências e as competências de outros órgãos de polícia criminal como a GNR e a PSP. Veja-se, por exemplo, a situação de ser encontrada droga num bar da praia ou de um nadador-salvador ter droga na sua posse. Releva nestes casos atender que órgão de polícia criminal terá competência para proceder à investigação. Parece que, nestes casos a competência para a

investigação criminal será da Polícia Marítima nos casos em que este órgão de polícia criminal tenha competência para a investigação do crime em causa e tenha sido cometido no espaço marítimo sob jurisdição nacional.

2.4.4. Autoridade de Segurança Alimentar e Económica

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) é um órgão de polícia criminal de competência específica não reservada. Com efeito, a ASAE deve ser considerada como entidade policial pois das suas atribuições resulta clara a função de defesa da legalidade, da segurança dos cidadãos e da prevenção do crime no exercício das actividades económicas, nos sectores alimentar e não alimentar. Assim, no âmbito das actividades antieconómicas a ASAE investiga, por exemplo crimes previstos no Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro, como os crimes de Açambarcamento (artigo 28.º), Exportação ilícita de bens (artigo 33.º), Ofensa à Reputação Económico (artigo 41.º), o crime de Especulação (artigo 35.º) e Fraude sobre Mercadorias (artigo 23.º). No âmbito por exemplo no jogo ilícito compete-lhe investigar os crimes previstos no Decreto-Lei n.º 422/89 de 2 de Dezembro de Exploração Ilícita de Jogo (artigo 108.º), Prática ilícita de jogo (artigo 110.º); Presença em local de jogo ilícito (artigo 111.º); Coacção à prática de jogo (artigo 112.º); Jogo fraudulento (artigo 113.º); Usura para jogo (artigo 114.º); Material de jogo (artigo 115.º). Compete-lhe ainda a investigação, por exemplo, do crime de Contrafacção, imitação e uso ilegal de marca (artigo 320.º da Lei n.º 110/2018, de 10 de Dezembro). A ASAE é um serviço central da administração directa do Estado que tem por missão, em todo o território nacional, a fiscalização e prevenção do cumprimento da legislação reguladora do exercício das actividades económicas, nos sectores alimentar e não alimentar. As competências de investigação criminal estão atribuídas à Unidade Nacional de Informações e Investigação Criminal, nos termos do artigo 4.º da Portaria n.º 35/2013 que fixa a Estrutura Nuclear da ASAE.

Constituem autoridades de polícia criminal o inspector-geral, os subinspectores-gerais, os inspectores- directores, os inspectores-chefes e os chefes de equipas multidisciplinares, nos termos do artigo 15.º, n.º 2, da LOASAE.

Outline

Documentos relacionados