• Nenhum resultado encontrado

IV. Sites e referências bibliográficas I Introdução

1.2. Limites à ordem/execução de detenção: a Constituição e a Le

Poder-se-ia, neste ponto do trabalho em que nos encontramos e num apontar direto ao coração desta exposição, incluir neste subtítulo e a seguir a “detenção”, as palavras “pelo Ministério Público”.

Tal não se faz, apenas para salientar a ideia de que todos os limites existentes para a ordem de detenção fora de flagrante delito aplicáveis ao Juiz, são fundamentalmente os mesmos que se impõem quando a ordem imana do Ministério Público, com a única “nuance” de que, neste último caso, exige-se que para o crime indiciado se preveja a prisão preventiva, como abstratamente aplicável.

Numa abordagem simplista mas também como auxílio à estrutura do raciocínio que se pretende seguir, dir-se-á que os limites se encontram na Constituição da República Portuguesa e na Lei processual penal que os densifica.

Tais limites, que se confundem em grande medida com os pressupostos para deter, deverão afirmar-se, tanto no momento em que se ordena a emissão de mandados de detenção, como também, de forma particularmente criteriosa, na sua execução23 e

duração, de que aliás são especiais exemplos os preceitos legais constantes dos artigos 258.º a 261.º do C.P.P.

Ora, como vimos da sua definição, a detenção priva a liberdade do visado.

Sendo a liberdade um direito fundamental e com reflexo constitucional nos seus artigos 27.º, 28.º e 31.º, mas também com respaldo no artigos 3.º e 9.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos e no artigo 5.º, n.º 1, alínea c), da Convenção Europeia dos Direitos Humanos – que por força dos artigos 8.º e 16.º são de aplicação direta no nosso ordenamento jurídico – fácil se torna concluir que a detenção terá de ter, em qualquer circunstância, como fonte legitimadora, um outro interesse constitucionalmente protegido a salvaguardar.

Ademais, mesmo perante esta fonte legitimadora, deverá a ordem para deter garantir o equilíbrio e a proporcionalidade necessária entre o interesse que se salvaguarda e o interesse que se sacrifica, sempre no respeito integral pelo princípio da legalidade, da tipicidade constitucional e da reserva da jurisdição, conforme se extrai dos artigos 18.º e 28.º, do nosso diploma legal superior.

7. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

Com efeito, toda a detenção fora de flagrante delito, mesmo que sobre a aparência do respeito dos pressupostos que resultam do C.P.P. e que necessariamente terão de ser preenchidos com os elementos de facto que se observam, se não se mostrar temperada pelas normas e princípios constitucionais a que acima fizemos referência, facilmente resvala para um quadro de abuso, desadequação e desnecessidade para o fim visado, logo, para lá dos seus limites e sujeita às reações que decorrem dos artigos 31.º da C.R.P. e 220.º do C.P.P.

Ora, no que à nossa lei processual penal diz respeito, desde logo se vislumbra, aliás como emanação da nossa própria Lei Fundamental, que em todos os casos previstos – também eles, porque se apresentam como pressupostos materiais, primeiros e naturais limites à detenção24 – no n.º 1 do artigo 257.º do C.P.P., a lei anuncia o requisito da

imprescindibilidade como sendo a fonte de legitimidade para a detenção25.

Na verdade, a detenção fora de flagrante delito exige o preenchimento de pressupostos formais e materiais, os primeiros fundamentalmente estabelecidos no respeito pelo conteúdo do mandado inserto no artigo 258.º26, os segundos assentes na conjugação de

princípios e normas dispersas da C.R.P. e do C.P.P., alguns já aflorados27.

Com pertinência, estando as finalidades da detenção fora de flagrante delito intimamente ligadas às necessidades cautelares e à consequente aplicação de medidas de coação que se oponham de forma adequada aos perigos e circunstâncias que procuram debelar, é também nos princípios subjacentes e às condições legais previstas à aplicação destas mesmas medidas de coação que encontramos também os limites materiais à detenção. A este respeito, pensamos no princípio da legalidade (artigo 191.º do C.P.P.), da ausência de fundados motivos para crer na existência de causas de isenção da responsabilidade ou de extinção do procedimento criminal (artigo 192.º, n.º 2, do C.P.P.), assim como dos princípios da indiciação (artigos 192.º, n.º 1, 58.º, 141.º, e 194.º do C.P.P.) necessidade, adequação e proporcionalidade (artigo 193.º do C.P.P.).

Por seu lado, tais princípios limitadores, que são fundamentalmente intrínsecos à própria dignidade humana, deverão ser transportados para a fase da execução do mandado da detenção e da sua duração, mesmo quando a lei não se mostra, como não se poderia mostrar, exaustiva para prever todo o tipo de situações possíveis.

24 Com interesse relativamente ao requisito hoje previsto no n.º 1 alínea a) do artigo 257.º do C.P.P., atente-se ao teor do Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães, de 08-09-2008, proferido no processo n.º 1439/08-1, aí se consignando que “a letra do artigo 257.º basta-se com fundadas razões, sejam elas de que natureza for, de que o arguido se não apresentaria e não que não se apresentou”;

25 Cfr. Maia Costa, in ob. cit., na anotação ao artigo 257.º, pág. 902.

26 Aqui se concretiza o princípio do contraditório que pressupõe, para a sua efetividade, o direito à informação sobre os motivos que determinam a detenção – cfr. artigos 27.º, n.º 4, e 28.º, n.º 1, parte final da C.R.P. e 194.º do C.P.P.

27 SILVA, Germano Marques da in “Curso de Processo Penal II, 4ª edição, Verbo, Universidade Católica Portuguesa, 2008, pág. 271.

7. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

Ora, se relativamente à duração da detenção, o que melhor indagaremos abaixo, o artigo 254.º do C.P.P. refere-se expressamente às 48 horas como sendo o seu prazo máximo, já relativamente ao modo como a mesma se efetiva, os artigos 258.º e seguintes, assim como o artigo 28.º, n.º 3, da C.R.P. e o 143.º, n.º 4, do C.P.P.28 a contrario, oferecem-nos

algumas formalidades a observar29 sem contudo especificar como se executa, em toda

sua plenitude e no normal da vida, a ordem de detenção.

Pensamos, claro está, no como se detém, na hora a que se detém, na presença de quem (crianças ou outros familiares dependentes ou especialmente vulneráveis), o estado de saúde do visado, e outras especificidades que a criatividade da vida podem oferecer ao momento em que se consuma a detenção.

Ora, na ausência natural, diga-se, de um mapa legal definido, também aqui, a execução deverá estar limitada/conformada pelos princípios da adequação e proporcionalidade30, no

sentido, de que a ordem e a execução da detenção não deve prejudicar o exercício de direitos fundamentais que não forem incompatíveis com as exigências cautelares que o caso requer, até porque, tais princípios são corolário da exigência da menor intervenção possível, são princípios de ordem geral, constitucionalmente conformados, e, em consequência, convocados e aplicáveis quando esteja em causa tanto o momento que alicerça a ordem para deter como o momento em que ela se a executa.

1.3. O Ministério Público e a detenção fora de flagrante delito de arguido para interrogatório

Outline

Documentos relacionados