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I. Introdução I Objectivos

3. Relação funcional entre o Ministério Público e os OPC em sede de inquérito 1 A coadjuvação sob o signo da dependência funcional

3.2. A delegação de competências

3.2.1. Da polissemia conceptual ao âmbito processual penal – uma leitura com visão constitucional 4. Prática e gestão processual

4.1. A importância do primeiro despacho de inquérito

4.2. A direcção efectiva de inquérito – algumas particularidades em nome das boas práticas processuais penais 5. Conclusão

I. Introdução

Independentemente das diferenças de modelo processual penal existente, o Ministério Público tem assumido um protagonismo crescente no concerto dos sistemas judiciários1. Sujeito processual com

uma panóplia de funções, quer de raiz históricas quer renovadas, mas invariavelmente repletas de flexibilidade, impostas pela reestruturação do Estado de Direito e pela complexidade social. Estão, pois, em cena, novas exigências de eficácia processual, e para que o modelo português permaneça inalterado, é necessário reafirmar, desde logo, a importância do papel e estrutura do Ministério Público em três vertentes fundamentais: a separação da magistratura judicial, o autogoverno e a autonomia relativamente ao Ministério da Justiça.

A actuação do Ministério Público é, indubitavelmente, a primeira a evidenciar o carácter antitético das finalidades do processo penal, e é nesta capacidade de ouvir, de dialogar, de promover, é neste espaço de mediação entre a sociedade e os tribunais, que os magistrados do Ministério Público fazem raiar a razão de ser da sua função e o seu espaço de realização social2.

1CLUNY, António, “Prefácio”, in João Paulo Dias e Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo (coord.), O Papel do Ministério Público – Estudo comparado dos países latino-americanos, Coimbra, Almedina, 2008, pág. 11.

2 Assim, MOURA, José Souto de, “Discurso do Procurador-Geral da República”, in Procuradoria-Geral da República (org.), 25 Anos do Estatuto

do Ministério Público (sessão comemorativa), Coimbra, Coimbra Editora, 2005.

Por mais fragmentária que tenha que ser a presente exposição, não pode prescindir, por isso, de um ponto de vista centralizador e englobante, referenciador dos principais diplomas legais que regem a actividade, e sobretudo, indicador preciso da posição constitucional do Ministério Público, sob o prisma da direcção efectiva de inquérito e do exercício da acção penal. Almejando-se a efectividade do exercício da acção penal e, desta forma, a protecção dos direitos dos cidadãos, reconhece-se ao Ministério Público, garante por imperativo constitucional da legalidade democrática, a determinação de “o se” e “o como” da intervenção jurídico-criminal.

A titularidade e direcção do inquérito, enquanto fase processual teleologicamente vinculada a uma decisão sobre a dedução de acusação, não implica, todavia, a realização material e directa de todos os actos processuais que o integram. Atenta a diversidade e complexidade dos fenómenos criminais, aliada à incapacidade operacional para exercer pessoalmente todas as diligências necessárias, o Ministério Público é coadjuvado por Órgãos de Polícia Criminal (doravante OPC), em fusão funcional de dois tempos distintos: o da prevenção (criminal stricto sensu) e o da investigação (repressão penal).

Desta forma, é perfeitamente elucidável a concessão de poderes de coordenação e orientação, ao Ministério Público, consubstanciados, desde logo, na possibilidade de delegação de actos e/ou investigações, que lhe permitam influenciar a actuação dos OPC, em prol, para além do mais, da identificação do objecto do processo. Sem prejuízo da prática dos actos de inquérito que sempre competirá ao Magistrado titular do inquérito, o desafio que se coloca é o de encontrar o equilíbrio entre a direcção efectiva do inquérito e uma certa autonomia técnica e táctica da actuação dos OPC, tendo sempre em apreço as especificidades de cada caso e a eficácia da investigação.

Estruturado, assim, o quadro legal em que o objecto do presente estudo se move, cumprirá, a final, não tanto problematizar as questões teoréticas, onde os caminhos poderão divergir, quanto em conjunto, percorrer a prática e gestão processual, por forma a dotá-las de uma mais larga base de consenso no processo da sua aplicação, na descoberta da verdade material e a realização da Justiça, com fundamento e limite na protecção de direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

II. Objectivos

Este trabalho visa proceder a uma análise interpretativa das normas relativas à delegação de competências nos OPC por parte do Ministério Público e suas repercussões no decurso de investigação e acção penal, almejando corresponder a um contributo na resolução de questões práticas que as mesmas poderão suscitar.

Tem como principais destinatários os operadores judiciários, sendo que se encontra particularmente vocacionado para os Magistrados do Ministério Público, uma vez que versa sobre temáticas relacionadas com a direcção do inquérito, exercício da acção penal e prática de delegação de competências nos OPC.

III. Resumo

A estrutura do estudo que ora se apresenta delimita-se em quatro partes. A primeira das quais é dedicada à caracterização e localização sistemática da Magistratura do Ministério Público na Constituição da República Portuguesa. Em perspectiva dialéctica, orientada pela investigação criminal, com menção das atribuições do Ministério Público no processo penal, em especial, os poderes de direcção efectiva do inquérto, sem os apartar do Princípio da Legalidade e das suas distintas valências. A segunda parte, voltada aos OPC, resulta de uma visão transistémica da prevenção e repressão criminal. Acompanha a investigação, uma tentativa de conceptualização dos OPC ao nível processual penal, passando pela delimitação do seu âmbito de actuação, até à identificação de eventuais incidentes na divisão de competências de coadjuvação, concretizadas por leitura crítica à Lei de Organização e Investigação Criminal (LOIC), face às opções legislativas expressas nas alterações efectuadas no Direito penal material e processual.

Na parte terceira privilegiou-se a relação de direcção que se estabelece entre o Ministério Público e os OPC, sob o primado da dependência funcional e a consequente afirmação de investigação com garantia judicial, em detrimento de policialização do processo. Para tanto, afloraram-se as controvérsias conceptuais que continuam, ainda hoje, a cunhar a interpretação da noção de delegação de

competências e de coadjuvação. Por contraposição, a um espaço de iniciativa própria dos OPC,

enquanto direito de primeira intervenção, máxime as medidas cautelares e de polícia.

Relativamente à actividade processual dos OPC, por via do despacho de delegação do Ministério Público, encontra-se a mesma elaborada à luz da sua abrangência – específica ou genérica – sendo quanto a esta modalidade abordada a Directiva n.º 1/2002 da PGR.

Na quarta parte, em jeito de apreciação final, perpassou-se as linhas de prática e gestão processual em discurso aberto, voltado à expectativa de fomentar uma cultura de proximidade entre os agentes do sistema de justiça e da inscrição projectada, não do interesse em que dada pretensão proceda, mas o interesse em que se faça Justiça.

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