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6 Prática docente: Narrativas dos professores sobre algumas de suas ações

7.2 Da acolhida docente ao convívio com os pares na instituição

Um dos momentos mais importantes, e até esperado por um professor ,quando chega a uma nova instituição, é aquele em que alguém organizou-se para recebê-lo e dar-lhe, no mínimo, algumas orientações sobre o funcionamento da instituição e do curso em que atuará. Esse momento é essencial, tanto para docentes oriundos de outro contexto institucional (escolas da educação básica, faculdade ou universidade) como para os docentes iniciantes na profissão, que só conhecem essa realidade da época em que foram estudantes. Normalmente, independentemente do nível de ensino, esse momento é chamado de acolhida institucional.

Quanto à acolhida institucional66 e/ou dos colegas ao ingressar na

Unifesspa, apenas três, dentre os dez professores entrevistados, disseram que foi uma ação institucional.

O professor Paulo relatou que

logo que entrei em exercício e junto com um grupo de professores que estava entrando, fomos acolhidos inclusive pelo reitor [...] depois, nós conhecemos o Instituto e fui recebido pelo que, na época, era o vice-diretor. Ele passou as informações do Instituto que eu precisava saber, inclusive me ajudou em questões de moradia e aluguel. E depois a última coisa que conheci foi a faculdade em que eu trabalho. Recebi todo o apoio. Foi um ótimo acolhimento!

No mesmo sentido, Felipe fala de um evento organizado especialmente para recepcionar “um grupo grande” de docentes, quando receberam orientações, desde

66 A Divisão de Capacitação e Acompanhamento de Desempenho de Carreira (DICADC), vinculada à

Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas (PROGEP), é responsável por organizar e desenvolver o acolhimento institucional, que será retomado ainda neste capítulo.

a infraestrutura institucional até a forma de abordar o ensino, a pesquisa e a extensão. Felipe conta que

tivemos o acolhimento com os pró-reitores de graduação e de pesquisa e a diretoria de ensino também. Era um grupo grande de vários professores. [...] tivemos vários tipos de palestras. Foram dois dias de acolhimento. Nós tivemos um primeiro momento para conhecer a instituição e no segundo momento as boas-vindas das pró-reitorias. [...] conhecemos como é a dinâmica da instituição, quais eram os nossos deveres, nossas obrigações e nossos direitos. Disseram como poderíamos agir em determinadas situações, nos orientaram quanto ao tripé da universidade, que é pesquisa, ensino e extensão e como deveríamos abordar cada um desses eixos.

É importante destacar que o comprometimento da instituição em acolher e orientar os docentes quando ingressam constitui-se em um momento valoroso e imprescindível para a ambientação e conhecimento da cultura institucional. Para os docentes em geral, e não só para o docente iniciante, essa pode se configurar em uma ação significativa no sentido de contribuir para desenvolver o sentimento de partícipe daquele contexto, de “comprar o local”, como disse Anastasiou (UNIFESSPA, 2017).

Apesar de destacarem que não foi um evento institucional, os demais professores relatam que também tiveram algum tipo de acolhimento, sinalizando as pró-reitorias e os professores do Instituto/Faculdade onde ingressaram como os mediadores dessa ação. Há indicativos nos relatos dos professores de que esse acolhimento perpassa desde o espaço institucional ao social67.

[...] logo quando cheguei liberaram um computador para que eu pudesse trabalhar. A faculdade sempre me fez sentir integrado em termos de ir me passando as orientações, em especial, para as funções burocráticas. (Frederico).

Do ponto de vista da faculdade, dos professores mais próximos, houve uma social, mas nada institucional (André).

Na verdade, o dia em que cheguei ao campus, todos estavam muito ocupados. Mas no dia seguinte se desculparam e a gente conversou sobre a nossa área de pesquisa, sobre as aulas que eles estavam trabalhando e como eu poderia contribuir. Foi uma conversa não formal. Mas foi muito bom (Cássia).

Quando eu cheguei aqui estava no recesso. Então, não tinha quase ninguém na universidade. [...] no retorno das pessoas foi que começaram a me guiar um pouco [...]. Mas senti aquela falta de uma recepção de alguém responsável, que venha e mostre tudo (Denise).

67 O social refere-se a encontros fora do espaço institucional e outras atividades para além da

docência. Por exemplo: “No natal teve um encontro de todos os docentes do curso na minha casa” e “[...] até o meu imposto de renda os professores me ajudaram a fazer” (Flávia).

O acolhimento foi quando nós estivemos na sede e foi uma conversa com as pró-reitorias (Marcos).

[...] foram os professores que realmente me acolheram. Então consegui me integrar melhor. Mas institucionalmente não houve acolhimento quando cheguei (Jorge).

[...] Quando fui chamada não teve aquele ato de posse, porque era muita gente nos concursos, mas poucas pessoas foram chamadas na minha época. Então, foi só mesmo na pró-reitoria de recursos humanos e um professor que me recepcionou e me deu as boas-vindas (Lúcia).

Eu fui muito bem recebida. Não foi acolhida institucional, foi só da Faculdade e foi muito bom. [...] ainda hoje a maioria se junta e organiza alguma coisa, tanto na Faculdade como fora dela. Sempre que preciso tirar alguma dúvida, de alguma coisa, sempre um ou outro pode me ajudar. (Flávia).

Pelo relato dos professores, percebi que esse acolhimento inicial funciona como um canal de comunicação e, inclusive, solidariedade que os professores dos Institutos/faculdades/cursos adotam como estratégia para o seu bom funcionamento. Mesmo sendo uma ação não programada previamente e/ou institucionalizada, é possível perceber o quanto de importância e contribuição traz ao docente que está iniciando na profissão e na instituição. São ações internas, aparentemente simples, porém necessárias ao docente que está iniciando.

Entendo que quando essa atividade de acolhida ao docente é desenvolvida antes do início de suas atividades, poderá auxiliá-lo a se sentir parte da instituição e a ambientar-se, o que pode contribuir para amenizar os sentimentos de angústia e tensão que marcam a trajetória inicial do docente, conforme sinalizados nos estudos de Huberman (2000) e Marcelo Garcia (2008).

Cabe ressaltar que em geral o que ocorre no contexto das universidades, por entendimento de que o professor que está ingressando está preparado para exercer sua profissão, é da ação de acolhida se resumir à recepção inicial e depois os professores seguem sem nenhum tipo de acompanhamento e/ou orientações quanto à profissão.

Friso a importância dos momentos da acolhida para além das boas-vindas para os docentes que estão ingressando na instituição, seja qual for a sua origem: iniciante ou veterano. Porém, os iniciantes necessitam de orientação e acompanhamento específicos, principalmente no que tange às atividades de ensino e aprendizagem que passam a assumir e, logo de imediato, já entendem que não sabem como desenvolvê-las.

Quanto ao convívio entre os professores do curso na Unifesspa, há concordância de que eles têm uma convivência tranquila (Denise), a gente tem um

bom relacionamento (Cássia), hoje a convivência é bem melhor [...] (Jorge), a convivência na Faculdade que trabalho é muito boa (Lúcia). E ainda:

[...] Eu que estava vindo de fora e cheguei meio tímido [...] mas hoje consegui estabelecer uma relação de amizade boa com meus colegas de trabalho (André).

Nós estamos agora com sete professores, por isso a relação fica próxima, boa mesmo. Tem um momento de café da tarde, do lanche, eles chamam e você participa. [...] inclusive, outros professores que não são da disciplina nesse momento participam (Marcos).

Temos um convívio muito bom. Temos bastante facilidade de acesso, [...] é fácil até para conversar com o reitor. Ano passado quando assumi a coordenação, tivemos que conversar com o reitor por conta de um problema que estava ocorrendo aqui e somente ele poderia solucionar o caso. Foi muito tranquilo! Os pró-reitores também [...] nos atendem em qualquer momento que a gente precisar. É bem tranquilo! Não tem aquela questão: “ah, para eu falar com fulano, primeiro tem que passar por tal protocolo”. (Felipe).

O próprio ambiente já me fez sentir parte do grupo. Cheguei e me disseram: "olha, tu és um de nós e vamos trabalhar aqui". Hoje em dia já ajudo a fazer o mesmo para os que estão chegando (Frederico).

É um convívio tranquilo! Tanto dentro da universidade, em atividades institucionais, como fora, em atividades de lazer, o convívio é muito bom (Flávia).

O convívio na faculdade sempre foi muito bom. A gente tem essa sorte de ter um grupo muito bem entrosado [...] sempre teve uma harmonia muito grande (Paulo).

Destaco a fala de Frederico, quando frisa que o grupo de docentes que o recebeu disse: “tu és um de nós”. O acolhimento e a sensação de pertencimento, revelado pelo professor, é tanta que ele declara que passa a fazer o mesmo com os docentes quando ingressam na instituição. Considero que essa atitude, para qualquer ambiente profissional e em qualquer estágio da profissão em que se encontra um sujeito, torna-se primordial para romper com as agruras iniciais. É o que Paulo fala ao frisar que tem “harmonia” na convivência entre os professores, característica que é fundamental para as relações humanas.

Dependendo do convívio estabelecido entre os docentes no interior da instituição, será possível constituir o que Nóvoa (2009) denomina de “cultura profissional”. Segundo o autor, “é na escola e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão” (p. 30).

Portanto, a convivência harmoniosa entre os docentes pode se tornar um canal de interação e reflexão das ações desenvolvidas, bem como o planejamento de ações futuras. Trata-se de um importante fator a contribuir para o desenvolvimento profissional do docente.