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6 Prática docente: Narrativas dos professores sobre algumas de suas ações

7.5 Envolvimento dos docentes nas ações de formação

Quando iniciei este capítulo, trouxe ponderações que indicam a importância do envolvimento do docente nas ações de formação, sejam elas desenvolvidas pela/na instituição e/ou em outros espaços. Quando a formação é colocada e compreendida na dimensão do desenvolvimento profissional docente, considero esse envolvimento como primordial.

78 A DIFDAD/CADD funciona com apenas três funcionárias, sendo que uma delas divide a função no

No entanto, pelos resultados do ForGrad Norte79, esse tem sido o ponto

nevrálgico das experiências de programas/propostas de formação desenvolvidas na maioria das instituições, quando a participação dos docentes ainda é muito reduzida.

Em alguns casos, a participação tem sido analisada como possibilidade de ser obrigatória para os docentes iniciantes na instituição e atreladas à avaliação do estágio probatório, visando ter, de certa forma, assegurada a participação do docente.

É preciso cuidado para que a não participação do docente tenha caráter punitivo, o que considero desfavorável quando se fala em processo formativo, em especial do docente, considerando sua função. Ressaltando que a indicação do programa de formação docente, em um mecanismo legal, representa um importante passo para sua institucionalização. Santos (2012, p. 117) destaca que a instituição de sua obrigatoriedade, definida no plano de reestruturação e expansão universitária, inclusive na resolução revogada, pode resultar “na resistência do professor para participar, a incompreensão da proposta e da necessidade do Programa para seu trabalho”.

Questionei o docente se ele se envolve com as ações de formação

docente, organizados pelo setor de formação de professores da Unifesspa, como se

envolve e se sua participação é obrigatória. Por unanimidade, os docentes responderam que a participação, nas ações de formação, é de livre adesão e que, na maioria das vezes, o convite é feito via e-mail institucional e/ou pelo diretor da faculdade, que recebe a inscrição dos interessados e a envia ao setor de formação (DFIDAD/CADD).

Esclareci que, ao falar em envolvimento nas ações de formação desenvolvidas, estava referindo-me a um movimento para além de frequentar e/ou assistir as ações. Que eu estava falando de assumir uma postura atenta, no sentido de “apropriar-se do mundo de ser professor” (ISAIA; BOLZAN, 2004, p. 129). Esse envolvimento parte do interior, do desejo de cada sujeito a ser envolvido em cada ação, que por consequência poderá propiciar o comprometimento com todo o processo.

79 O Fórum Regional de Pró-Reitores de Graduação, Norte, o ForGrad Norte, foi realizado nos dias 25

e 26 de fevereiro de 2016, no município de Santarém, estado do Pará, e trouxe para discussão o tema “Formação de professores para o Ensino Superior”.

Nesse sentido, os professores André, Paulo e Felipe detalham suas formas de participação, evidenciando que se colocam numa situação de aprendizes, quando falam de situações/problemas, relacionados ao ensino que desenvolvem.

Eu participo dos eventos realizados, tento adequar e aplicar nas minhas aulas. Tudo o que assisti era voltado para didática do ensino superior e trouxe coisas que nós precisamos saber. Eu sempre procuro colocar situações minhas para tirar dúvidas e aprender mais (André).

Eu fico atento aos convites e sempre procuro participar dos eventos. Sempre que participo me envolvo mais quando são trazidas questões relacionadas aos problemas que enfrento e que sozinho não sei como resolver (Felipe).

Eu participo e me envolvo nos eventos que me mostram e me ensinam como ensinar melhor, como organizar minhas aulas melhor. Procuro usar o que aprendo, por isso fico atento e busco esclarecer minhas dúvidas nos momentos dos eventos (Paulo).

Nos relatos, os professores revelam que o envolvimento é quando procuram fazer associações entre o que é desenvolvido nas ações de formação e situações que vivenciam em aula, trazendo-as para serem exemplificadas e refletidas em momentos de discussão. Essa é uma forma de o docente sentir que está falando de uma situação que lhe é comum. Entendo que, quando trabalha-se com a formação do professor, é preciso dar ao docente um tempo necessário para assimilar, compreender e refletir sobre os aspectos relacionados à educação. Afinal, esse é um importante momento em que está em construção sua competência pedagógica, de onde surge, espontaneamente, o comprometimento vinculado com as questões do ensino e da educação (VASCONCELOS, 2009).

Revelando um envolvimento mais intenso, a professora Cássia diz: Eu sou

nova na instituição e estou me envolvendo agora. Mas me envolvo muito e até fiz o relato de experiência do que estou desenvolvendo no Campus. Foi muito bom para mim e pude aprender muito com os outros relatos também.

Extrapolando o contexto de sala de aula, o professor Jorge volta a frisar que seu envolvimento maior foi no sentido de aprender sobre a organização do curso, pois faço parte do NDE do meu curso e tenho muitas dúvidas sobre o projeto

pedagógico, por isso procuro captar os detalhes de cada coisa que ensinam, porque realmente não sei nada daquilo.

Importante ressaltar que, na proposta de formação desenvolvida pela DIFDAD/CADD, consta ação que se relaciona com a discussão em relação à

organização do curso, intitulado “Curso sobre Projeto Pedagógico de Curso80”.

Envolver-se com ações dessa natureza pressupõe pensar o desenvolvimento profissional como possibilidade de intervir no contexto em que está inserido.

Referindo-se às ações de formação realizadas nos pequenos grupos (institutos/faculdades/cursos) e por campi81, o professor Paulo disse:

[...] me envolvo muito mais quando as ações são no âmbito da faculdade ou do curso, porque me sinto mais à vontade para expor no pequeno grupo as dificuldades, que, às vezes, é a dúvida de outro professor também. Ali mesmo tentamos encontrar possíveis soluções.

Vejo que Paulo revela, ainda que não intencionalmente, a importância da construção do “conhecimento pedagógico compartilhado”, que, segundo Isaia e Bolsan (2004), são indispensáveis para a obtenção de um avanço sobre as questões formativas, que ocorre “à medida que buscamos compreender as relações recíprocas existentes entre o domínio do saber (conhecimento científico) e o domínio do saber fazer (conhecimento prático) [...]” (p. 124).

É possível constatar que os professores demonstram despertarem para participação nas ações de formação desenvolvidas pela instituição. No entanto, uma situação que as professoras Denise, Flávia e Lúcia apresentaram é a ocorrência das

ações de formação em paralelo às aulas, pois não há previsão delas no calendário acadêmico. Isso dificulta a participação dos docentes. Entendo que esse é um

aspecto que precisa ser considerado.

Nesse sentido, retomo o alerta de Cunha (2014) e Pimenta e Anastasiou (2010) sobre a necessidade de se institucionalizar os programas de formação. Friso que o envolvimento e o comprometimento institucional não estão vinculados apenas às intenções e projeções das ações, a institucionalização é imprescindível para que a proposta passe a fazer parte da cultura institucional, para que se constitua em tempo/espaço de aprendizagem para o docente e a instituição e, também, para viabilizar a captação/previsão/destinação de recursos financeiros para o

80 Propõe abordagens em torno de questões que compõem os PPCs dos cursos de graduação da

Unifesspa, mais especificamente, daquelas que dizem respeito aos aspectos curriculares e didático- pedagógicos.

81 São espaços criados para tratar ora de temáticas mais específicas, que visam ao atendimento de

demandas de institutos, de faculdades e/ou campi ou, ainda, que sejam de interesse específico do docente, ora de temáticas que, embora se configurem como demandas e/ou necessidades amplas da universidade, necessitam de abordagens e metodologias em grupos menores. São previstos: seminários por área do conhecimento; oficinas institucionais de formação docente; roda de conversa com os núcleos docentes estruturantes; curso sobre projeto pedagógico de curso; minicurso sobre projetos de ensino, pesquisa e extensão. Essas ações de formação estão explicitadas na síntese inserida no apêndice F.

desenvolvimento de todo o processo. Enfim, institucionalizar propostas de formação é essencial para que se consolide como proposta institucional e potencialmente represente ganho para a instituição, para o docente e para o discente.

É importante que os professores sintam-se estimulados a participar pela importância que atribuem a esse tipo de atividade, considerando o seu desenvolvimento enquanto profissional. Ao destacar algumas variáveis que julgam ser consideradas em qualquer processo formativo, Sánchez Moreno e Mayor Ruiz (2006, p. 943) salientam que “a participação deve ser um ato voluntário [...]”.

O que se espera tanto dos docentes quanto de uma instituição, ao propor ações de formação, é que esse envolvimento ocorra de forma consciente da contribuição que trará para o desenvolvimento de ambas. Nesse sentido, Sánchez Moreno e Mayor Ruiz (2006) salientam que os programas de formação de professores universitários requerem o compromisso institucional sério e que estimulem a participação dos docentes.

Quanto às contribuições das ações de formação realizadas pela instituição para o seu desenvolvimento como profissional, os professores relatam:

Foram feitas discussões sobre questões de sala de aula, do projeto pedagógico do curso, do NDE e até do estágio. Todas foram bem esclarecedoras. Esses são momentos importantes para todos os docentes (André).

Trabalharam questões sobre a elaboração do plano de ensino e projetos de pesquisa e extensão, que são sempre orientações pertinentes para todos os docentes (Felipe).

Minha dificuldade maior é ter certeza de que o aluno está tendo uma formação de maneira prazerosa. Então, eles sempre falam da didática e, de certa forma, ajuda a entender como trabalhar com a motivação do aluno (Frederico).

Eu mexo no SIGAA com mais segurança. Hoje eu já consigo me comunicar melhor com os alunos. Já consigo me posicionar um pouco melhor do que quando iniciei (Paulo).

Os professores destacam contribuições de ações de formação vinculadas ao seu fazer cotidiano, que abarcam desde aspectos vinculados ao projeto pedagógico do curso até ao uso do sistema acadêmico destinado ao registro das atividades acadêmicas. Convém ressaltar que os resultados são obtidos em longo prazo e são perceptíveis quando o docente consegue olhar para sua prática, reverberá-la e, numa associação consciente de suas aprendizagens, é capaz de redimensioná-la frente aos objetivos previstos e não atingidos. Esse momento é individual, mas

quando o docente já passou por um processo de aprendizagem coletivo, pode não ser mais tão solitário. Portanto, ao propor ações de formação para o docente, isso deve ser levado em consideração, para que elas não se tornem momentos estanques e desconectados do contexto em que o docente se insere.

Trazendo novamente a sua participação em um momento de socialização da prática, a professora Cássia disse: Eu pude trazer para discussão uma experiência

de minhas aulas, e isso é muito importante. Pude, também, participar de um relato de experiências e me senti valorizada.

Entendo que, ao fazer o relato de experiência, Cássia está se predispondo a trazer para serem reverberadas as situações que vivencia enquanto docente e aprendiz dessa profissão. Isso pode ser um desafio para o professor, iniciante e/ou veterano, que acaba por expor sua “intimidade pedagógica82”, isto é, aquilo que

acontece no interior da sala de aula é compartilhado com um grupo e está, portanto, sujeito à análise positiva e/ou negativa. No entanto, desnudar/dispor-se é uma oportunidade de, na interação/comunicação com seus pares, refletir e (re) construir outras/novas formas de ensinar o conteúdo que domina como sua área de conhecimento. Ao passar por esse momento, o professor traz consigo uma aprendizagem que tem forma/significado e que pode permitir-lhe fazer uma (re) leitura de sua própria prática. Além disso, torna-se um momento precioso, também, para aqueles que participam, escutam e analisam a experiência compartilhada/socializada. É um momento de aprendizagem mútua.

Alguns indicadores importantes aparecem ainda como expectativas não contempladas/desenvolvidas, tais como a falta de tempo e espaço garantidos para que as ações de formação aconteçam e maior investimento em ações no âmbito dos Institutos/Faculdades/Cursos. Esses podem ser objetos de análise por parte da equipe responsável pela formação.