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6 Prática docente: Narrativas dos professores sobre algumas de suas ações

7.6 Sugestões para a continuidade das ações de formação

Procurei saber as sugestões que os professores entrevistados têm para as próximas ações de formação, considerando que este estudo poderá ser tomado

82 Uso essa expressão significando a vivência do professor do processo de ensino e de

como fonte de contribuição para que a instituição tenha um referencial para avaliar o processo que vem sendo desenvolvido, bem como a sua continuidade. Foram indicadas sugestões de diferentes enfoques.

Uma questão que ainda ficou recorrente e permanece com o professor André é em relação ao ajuste do tempo da aula aos conteúdos. Ele sugere que se estude [...] como ajustar o meu tempo de aula ao tempo dos alunos. Difícil! Trago

essa problemática desde que comecei. Já me deram algumas orientações, mas preciso melhorar muito ainda. De forma semelhante, o professor Marcos sugere que tenham ações que ajudem o professor a encontrar formas de trabalhar com tantos conteúdos em curto espaço de tempo das aulas.

Considero pertinente a insistência dos professores quanto a esse aspecto, pois quando se fala em como adequar o volume do conteúdo à carga horária, parece que “encontramo-nos diante de um jogo de xadrez” (GAETA; MASETTO, 2013, p. 77), em que o tempo precisa ser cuidadosamente observado. O programa a ser cumprido é extenso demais e a carga horária da disciplina, na maioria das vezes, não permite que se estude todo o conteúdo que está previsto na ementa da disciplina. Além disso, é preciso que haja a incorporação de temas mais atualizados e que tenham relação com os conteúdos estudados. Também é indicado procurar interagir com outras disciplinas e/ou outras áreas de conhecimento, a fim de evitar repetição e para que os assuntos sejam desenvolvidos de forma mais adequada e os alunos possam assimilá-los.

Demonstrando sentir necessidade da aprendizagem da docência, o professor Jorge sugere que continuem trazendo pessoas para discussões com foco

em como ensinar nossos alunos para que eles aprendam o que sabemos e que é necessário na profissão que escolheram.

Sugerindo ações no âmbito dos cursos, o professor Paulo diz que poderia ter

oficina didática para atender os casos específicos dos cursos, porque a demanda é muito grande e fica mais reservado para expormos nossas dúvidas [...]. No mesmo

sentido, o professor Frederico sugere que tenha alguma coisa voltada para práticas

de sala de aula, mas que ocorram no nosso curso para ficarmos mais à vontade de participar. Ainda nesse enfoque, a professora Lúcia sugere que tenham mais ações, no âmbito da nossa faculdade, voltadas para uso de recursos pedagógicos, que ajudem a melhorar as aulas e motivar os alunos, o que é bem difícil.

Compreendo que ações de formação, que acontecem em pequenos grupos e envolvendo professores do mesmo Instituto/Faculdade/Curso, possibilitam que os professores compartilhem dúvidas que têm em comum e, por consequência, as possibilidades de saná-las possam ser mais bem definidas e viabilizadas. Sem desconsiderar a importância dos momentos de formação em grandes grupos (todos os docentes da instituição participando juntos de uma mesma ação de formação, como nos seminários institucionais, por exemplo), entendo que a comunicação e interação podem ser mais bem estabelecidas quando ocorre em grupos menores e com características em comum.

Sánchez Moreno e Mayor Ruiz (2006) indicam que o trabalho em equipes de docentes ajuda aos professores a integrar-se socialmente em seu grupo, em seu departamento, considerando que além de aprenderem sobre os conhecimentos compartilhados, compreendem também sobre os valores, atitudes e expectativas que esse grupo possui e manifesta.

Revelando preocupação com ações que atendam questões voltadas para a área de conhecimento em que atua, a professora Cássia sugere:

[...] alguma coisa mais voltada às áreas exatas, porque a teoria de como ser um bom professor, ela parece que não é geral. Parece que ela não considera muito nós, professores, que temos que dar as disciplinas mais puxadas. As disciplinas que os alunos não gostam muito. Fica um pouquinho mais difícil de adaptar todos os conceitos que são trabalhados nas oficinas e discutidos nas conferências, embora tudo seja muito bom e a gente sempre tente aplicar.

O relato da Cássia traz uma situação recorrente em encontros de formação, em que os docentes são de diferentes áreas de conhecimento e questionam sobre a aplicabilidade dos conteúdos pedagógicos desenvolvidos nas ações de formação. Aos poucos Cássia foi salientando que sua fala está no sentido de o trabalho, nas ações de formação, ser composto pela teoria e a prática. Que ao trabalhar a elaboração de objetivos para os planos de ensino e de aulas, por exemplo, seja explicado todo conteúdo que subsidia, mas que seja vinculado a exemplos de objetivos elaborados a partir das disciplinas que os professores desenvolvem. Em nossa conversa, Cássia destacou que nesses encontros poderiam ser ensinados os “macetes” para aprender esse conteúdo que não é familiar para ela e seus colegas, da mesma forma como ela procura ensinar aos seus alunos os “macetes” para aprenderem certos conteúdos dessa área de exatas e que são de difícil entendimento. Cássia fez questão de dizer: não me refiro a receitas prontas, mas

aqueles macetes, aquelas dicas, aquele famoso pulo do gato, que só quem sabe muito do conteúdo consegue mostrar.

Ressalto que é muito comum encontrar professores que esperam que as ações de formação docente tragam fórmulas prontas de como desenvolver as aulas. Santos (2012) constatou em suas pesquisas, que prevalece a visão de que a formação de professores está fortemente relacionada à noção de treinamento, que proporciona o conhecimento de técnicas eficientes, de instrumentos e ferramentas que podem ser utilizadas em sala de aula. Destaco que é fundamental que as ações de formação docente incluam a dimensão técnica, porém esta deve estar sempre articulada à teoria, isto é, à sustentação teórica que os conhecimentos pedagógicos proporcionam e ao desenvolvimento do senso crítico, que permite que o professor se aproprie dele e o incorpore à sua forma de articulá-los aos conteúdos de suas aulas.

O professor Felipe apresenta um aspecto de igual importância dos demais e que, ao mesmo tempo, perpassa-os, que é a questão cultural. Ele considera que agora já conheço melhor a instituição, sugiro que trabalhem coisas relacionadas à

cultura dos alunos que recebemos. Muitos alunos chegam até a gente com suas opiniões já formadas e tentar modificá-las é um grande desafio.

Vejo que aqui tem um duplo desafio: de um lado o professor que chega de outra região/estado/município e encontra-se com uma cultura local, na qual o aluno já está inserido; e de outro, o professor que já está na instituição e encontra o aluno que, considerando as atuais condições de acesso83 à educação superior, vem de

outra região/estado/município, trazendo consigo outra cultura. São choques culturais que precisam ser respeitados e trabalhados.