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4.3 A opção pela abordagem qualitativa: a definição dos sujeitos e

4.3.2 Procedimentos para a coleta e tratamento dos dados

Para coletar e tratar os dados que me auxiliaram a elucidar a problemática, realizei cinco grandes fases que descreverei a seguir:

A) Primeira fase: Trata-se da análise de documentos, que se constitui, de acordo

com Godoy (1995, p. 21), no “exame de materiais de natureza diversa, que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que podem ser reexaminados, buscando-se novas e/ ou interpretações complementares”. O uso de documentos constitui fonte estável e rica, podendo ser consultado várias vezes, servindo de base a diferentes estudos, o que dá mais estabilidade aos resultados obtidos. Os documentos constituem fonte de onde podem ser retiradas evidências que venham a fundamentar afirmações e declarações do pesquisador. Nessa fase, busquei no acervo da DIFDAD, da PROEG/Unifesspa, os registros das ações de formação para docentes, visando ao entendimento da organização/planejamento/execução de todo o processo. Assim, foram priorizados alguns documentos, tais como: Estatuto pro

tempore da Unifesspa; Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da Unifesspa

(versões pro tempore e aditado); Resolução nº 11, de 24 de junho de 2015 da

ações de formação docente36; o questionário e relatório da pesquisa docente

realizada pelo setor de formação; cronogramas de ações de formação37 2016 e

2017 e os relatórios de acompanhamentos das ações de formação 2016 e 2017. Os documentos me permitiram uma interlocução com o discurso oficial e realizar a análise e reflexão das informações obtidas.

B) Segunda fase: Privilegiei as entrevistas semiestruturadas, para coletar as informações dos docentes universitários, que são iniciantes na docência e que

estavam participando das ações de formação promovidas pela PROEG/Unifesspa. Utilizei-as também, em um momento posterior, para obter as informações dos

gestores que têm envolvimento com o processo de formação docente em vigor.

Optei por esse instrumento para coletar os dados, por concordar que, “ao mesmo tempo que valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação” (TRIVIÑOS, 1987, p.146). Além disso, procura respostas por meio de um roteiro com questões básicas e não fechadas e que dão margem para que o pesquisador explore ao longo de seu desenvolvimento outras interrogativas, à medida que recebe respostas de seus sujeitos de pesquisa. Realizei as entrevistas em dois momentos e obedeci a algumas etapas, a saber:

a) Momento de entrevista com os docentes38: foi desenvolvido nas seguintes etapas:

- Inicialmente, agendei com apenas dois dos professores selecionados para fazer a pré-testagem, que ocorreu em março de 2017. Esse momento me permitiu perceber a recepção da pesquisa pelos docentes, a abrangência e a quantidade de questões elaboradas. De posse dos resultados, revisei algumas questões e inseri outras no roteiro que eu havia preparado.

- Com o instrumento revisado, agendei com todos os professores, via WhatsApp, e realizei a entrevista presencial, que aconteceu nos meses de abril e setembro de 2017, em local e horário com anuência dos professores, por meio do termo de consentimento livre e esclarecido39, que integra o processo investigativo aqui

36 A síntese da Proposta de ações de formação da Unifesspa está inserida no apêndice A.

37 O quadro-síntese dos relatórios de acompanhamento das ações de formação desenvolvidas pela

Unifesspa, em 2016 e 2017, está inserido no apêndice B.

38 O roteiro da entrevista aos docentes está inserido no apêndice C.

descrito. A duração ocorreu de acordo com a narrativa de cada professor, perfazendo, aproximadamente, de uma hora e trinta minutos a duas horas cada entrevista. Fui recebida e acolhida pelos professores com muito respeito e todos manifestavam o desejo e empolgação de conversar sobre suas experiências docentes iniciais. Eles também relataram que sabiam a importância do momento que eu estava vivendo como pesquisadora, pois todos haviam recém-concluído a pós- graduação. Ressaltaram, ainda, a relevância do tema pesquisado, fato que contribuiu para dar conteúdo, forma e significado aos dados encontrados durante a pesquisa. Em quase todos os casos, após concluir a entrevista, o docente me indicava outro professor que ele conhecia e sabia que era iniciante também. Dessa forma, pude confirmar o levantamento prévio da quantidade de docentes que eu havia realizado.

- As entrevistas foram gravadas em áudio e, posteriormente transcritas, com a concordância dos professores. Optei por não retornar a entrevista transcrita aos colaboradores, mas coloquei-me à disposição para, a qualquer momento, esclarecer dúvidas sobre o processo da pesquisa.

b) Momento de entrevista com os gestores40: foi desenvolvido nas seguintes etapas:

- Com o instrumento elaborado/revisado, agendei com todos os gestores, via WhatsApp, e realizei a entrevista presencial, que aconteceu em fevereiro de 2018, em local e horário acordados pelos gestores e a partir de sua anuência por meio do termo de consentimento livre e esclarecido. A duração ocorreu de acordo com a narrativa de cada gestor, perfazendo, aproximadamente, de uma hora a uma hora e trinta minutos cada entrevista. Como eu já estava em contato com os gestores, desde os momentos de estudos da equipe, que antecederam a elaboração e execução das ações de formação, a recepção e a entrevista ocorreram em um clima de muita transparência e confiança. Ressaltaram o entendimento da importância da pesquisa e a expectativa de que os resultados possam contribuir para a instituição. - As entrevistas também foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas, com a concordância dos gestores. Optei por retornar a entrevista transcrita aos colaboradores.

C) Terceira fase: Procedi à análise dos dados. Para isso, tomei como referência a

análise de conteúdo, que, para Minayo (2010, p. 74), pode ser “compreendida muito mais como um conjunto de técnicas”. Na visão da autora, constitui-se na análise de informações sobre o comportamento humano, possibilitando uma aplicação bastante variada, com duas funções: verificação de hipóteses e/ou questões e descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos. Tais funções podem ser complementares, com aplicação tanto em pesquisas qualitativas como quantitativas. Ressalto que, no que tange às diferentes etapas inerentes à análise de conteúdo, autores utilizam diferentes terminologias, as quais são bastante semelhantes (Triviños, 1987). Diante dessa diversificação e também aproximação terminológica, segundo Bardin (2006), a análise de conteúdos pressupõe etapas básicas: a pré-

análise, em que o pesquisador realiza uma organização da análise; exploração do material, que é composta pela codificação em que são feitos os recortes (escolha

das unidades a serem estudadas); pelas agregações (escolha das categorias de análise) e enumerações (escolha das regras de contagem); categorização, que consiste na classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e reagrupamento segundo o gênero (analogia) com critérios previamente definidos; inferências, que são as deduções que o pesquisador faz a partir do tratamento dos dados. Para essa terceira fase, respeitei essas etapas e as realizei da seguinte forma:

a) Pré-análise: Digitalizei os dados, organizei-os e os preparei para análise. Essa etapa demandou muito tempo, devido ao tamanho das entrevistas. Cada transcrição teve sua primeira versão digitalizada, em aproximadamente 25 páginas.

b) Exploração: Essa etapa também demandou bastante tempo, pois li atentamente os dados por várias vezes, busquei aproximação entre eles, fiz diversas divisões e classificações usando cores. Procurei classificar categorias e agrupá-las respeitando as questões da entrevista e as narrativas dos colaboradores. Em seguida, organizei as dimensões e vinculei-as aos objetivos, obtendo o seguinte quadro:

Quadro 3 – Classificação e agrupamento das categorias da pesquisa

OBJETIVOS DIMENSÕES

DE ANÁLISE

EIXOS QUESTÕES DE PESQUISA

Identificar e analisar alguns referentes que configuram a constituição do docente universitário nos primeiros anos de ingresso na carreira. Docência universitária - Opção, início e expectativas em relação à docência universitária. - Desafios e estratégias nos primeiros anos da docência. - Passagem de estudante a docente.

- Você teve experiência profissional e/ou docente antes de ingressar na universidade?

- Como você se tornou docente universitário? - O que te levou a optar por essa profissão? - Como foi o seu início na docência universitária?

- Quais expectativas você tinha em relação a essa profissão ao ingressar?

- Quais desafios você enfrentou nos primeiros momentos da profissão?

- Quais estratégias você utilizou/a para vencer os desafios encontrados?

- Que sentimento você tem, atuando como professor iniciante na educação superior?

- Como é essa passagem de estudante a docente na sua percepção? Analisar e compreender as narrativas dos docentes iniciantes sobre o desenvolvimento de algumas de suas ações profissionais. Prática docente - Atuação do docente iniciante em uma instituição nova. - Referências para a configuração do perfil do docente universitário. - Conhecimentos e saberes necessários para ensinar. - Planejamento das aulas. - Articulação entre ensino, pesquisa e extensão.

- Imagine um docente que está iniciando a carreira como docente universitário. Como é ser professor em uma universidade que está se constituindo?

- Quais as principais ações desenvolvidas pelos docentes que estão iniciando a profissão?

- Você teve alguma referência de docência que serviu para nortear o seu início na profissão?

- Quais são os conhecimentos/saberes que você considera necessários para atuar como docente na educação superior?

- Conte-me um pouco sobre suas aulas: O que toma como referência para planejá-las? Como são organizadas? Como escolhe a metodologia de trabalho?

- Fale-me sobre a articulação entre ensino, pesquisa e extensão: Consegue articulá-los? Como os articula?

Analisar alguns referentes que evidenciam os envolvimentos do docente iniciante e da instituição na caminhada formativa. Formação Docente - Importância do conhecimento específico para exercer a docência. - Da acolhida dos docentes ao convívio com os pares na instituição. - Necessidade de espaço para discutir a prática docente. - O setor de formação institucional: das expectativas do docente às contribuições das ações desenvolvidas. - Envolvimento dos docentes nas ações de formação. - Sugestões para continuidade das ações de formação. - Dizeres de um docente iniciante àquele que está por iniciar a docência.

- Qual a importância do conhecimento específico, obtido no percurso acadêmico, para exercer a docência?

- Realizou monitoria na graduação? Conte-me como foi? - Realizou estágio de docência na pós-graduação? Conte-me como foi?

- Teve acolhimento ao ingressar na universidade? Como foi? E atualmente como está esse convívio com os colegas?

- Em algum momento, você sentiu necessidade de ter um espaço específico para discutir sobre suas práticas? Como você os imagina: seriam momentos individuais, coletivos e/ou mediatizados por uma equipe especializada?

- A universidade possui um setor responsável por coordenar a formação dos professores, você o conhece? Recorreu a ele em alguma situação? Qual? Tinha expectativas em relação a esse setor? Tem contribuído de alguma maneira para seu desenvolvimento como docente? De que maneira contribui? Pode exemplificar?

- Você se envolve com as ações de formação organizadas pelo setor de formação de professores da IES? Sua participação é obrigatória e controlada por algum setor? Como se envolve?

- Imagine um docente que está iniciando a carreira como docente universitário. O que você diria para ele? Qual seria o seu “recado”?

Fonte: Elaborado pela autora.

c) Tratamento dos resultados, inferência e interpretação: Busquei entender os achados à luz da teoria. Essa foi a etapa em que o tempo destinado para leitura,

reeleitura, escrita e reescrita nunca parecia ser suficiente. Dispunha de aproximadamente 250 páginas de narrativas somente dos docentes. Depois se somaram a essas mais 30 páginas das narrativas dos gestores.

D) Quarta fase: De posse da categorização e exploração do material obtido nas

entrevistas e análise documental, realizei a interlocução com a teoria. Essa fase permitiu a organização dos achados da pesquisa e obtenção dos elementos que me ajudaram a analisar a hipótese de tese, resultando em três capítulos que serão apresentados na sequência deste estudo. Confesso que os resultados desta pesquisa trouxeram uma riqueza de informações que em muitos momentos me deixaram hesitante entre os “excertos41” ou “recortes”42 a serem retirados das

narrativas que respondiam cada questão. Por esse motivo, alguns fragmentos são mais extensos que outros nos capítulos destinados ao trabalho com os achados da pesquisa.

E) Quinta fase: Elaboração do relatório final, ou seja, a escrita da tese: Aqui

organizei o trabalho escrito, estabelecendo uma articulação entre a introdução, o referencial teórico, a metodologia, as análises e as conclusões da tese.

Enfatizo que a disponibilidade, cordialidade e confiança dos docentes e gestores convidados a colaborarem com esta pesquisa foi fundamental para os resultados obtidos. O momento das entrevistas com os docentes foi muito significativo, pois pude sentir a emoção e até a necessidade que cada um deles demonstrava ao se expressar. Quando falavam preocupavam-se em detalhar e exemplificar cada resposta, sem preocupação com o tempo. Com os gestores, tive a percepção de que, à medida que respondiam às questões, ponderavam cada ação desenvolvida, fazendo uma espécie de balanço avaliativo e carregado de significado para o trabalho que estão a desenvolver. Comprometi-me a compartilhar os resultados finais deste estudo com os docentes e os gestores que colaboraram, visando contribuir com suas práticas docentes e, principalmente, com a retroalimentação da proposta das ações de formação em desenvolvimento.

41 Quando retirei o fragmento relevante da narrativa do colaborador integralmente, sem recortes. 42 Quando retirei o fragmento, mas devido ao tamanho, excluí trechos que considerei que não

afetariam a narrativa e não prejudicariam o entendimento do fragmento, usando reticências para indicar onde ocorreu a exclusão.

5 Constituição da docência universitária: referentes presentes nas vozes dos