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7 O PROJETO DE LEI Nº 252/2003

7.7 Da aplicação das provas (Capítulo II – Seção VI)

Na Seção VI são definidos alguns procedimentos de segurança para a aplicação das provas que geralmente não constam nas normas internas dos órgãos da Administração Pública, delegando-se tal atribuição para os editais. O PL 252/2003 não traz muita novidade ao que já é praticado pelas grandes organizadoras de concursos públicos no país, mas ao prever de forma expressa, reforça a sua importância de modo a garantir maior lisura no

certame, tais como: acompanhamento e divulgação do tempo transcorrido na aplicação das provas – propõe-se a instalação obrigatória de relógios nas salas; tempo de permanência mínima do candidato no local de provas e descrição dos materiais que serão permitidos – a serem estabelecidos em edital; disponibilização do caderno de provas aos candidatos; e proibição de identificação papiloscópica ou outro processo de reconhecimento considerado vexatório. Neste último exemplo, seria de bom alvitre que a norma previsse também a possibilidade do uso do nome social por candidatos transgêneros, tendo a matéria sido regulamentada no âmbito dos Ministérios da Educação e do Planejamento, Orçamento e Gestão, conforme Portaria MPOG nº 233, de 18 de maio de 2010 e Portaria MEC nº 222, de 21 de novembro de 2011, já sendo utilizado, inclusive, no Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM desde o ano de 2014. Com a publicação do recente Decreto nº 8.727, de 28 de abril de 2016, a adoção do nome social no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional passou a ser um procedimento obrigatório.

Contudo, nesta seção, o que poderá causar maior impacto nos concursos públicos em geral e especificamente para os do Magistério Federal dá-se com a redação conferida aos arts. 58 e 61 do Projeto de Lei, a seguir reproduzidos:

Art. 58. O local de realização das provas deverá ser acessível às pessoas com deficiência e contar com:

I – condições ambientais e instalações que não impliquem desgaste físico ou

mental ao candidato ou lhe prejudiquem a concentração;

II – serviço de atendimento médico de emergência. [...]

Art. 61. As provas serão realizadas, preferencialmente, aos domingos, vedada a sua

realização em dias úteis.

Parágrafo Único. As provas escritas objetivas serão aplicadas em pelo menos uma capital por região geográfica na qual houver mais de cinquenta candidatos

inscritos. (grifos nossos).

Entenda-se que a acessibilidade do local de provas deve ser disponibilizada apenas se requisitada pelo candidato no ato de inscrição, momento em que declarará possuir alguma deficiência ou condição especial para a realização das provas. Contudo, a banca organizadora do certame não terá como garantir totalmente a existência de instalações que não prejudiquem a concentração do candidato no dia da prova, podendo haver situações de caso fortuito ou força maior, externas à vontade da organizadora, a exemplo de uma passeata ou carro de som transitando no local. Assim, da forma em que está redigido o dispositivo, qualquer distúrbio poderá ensejar questionamentos por parte dos candidatos. Quanto a presença de serviço médico de emergência no local de realização das provas não se vislumbra de todo despropositada, implicando em custos adicionais ao certame. O que se põe em dúvida é se a

organizadora do concurso, principalmente aquelas que o executam de forma direta, podem se valer do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), criado nos Municípios e Regiões do Território Nacional, conforme art. 1º do Decreto nº 5.055, de 27 de abril de 2004, abaixo transcrito, suprindo, assim, a exigência do artigo, ou se, necessariamente, devam contratar à parte um serviço de atendimento médico, exclusivamente para o certame em curso:

Art. 1o Fica instituído, em Municípios e regiões do território nacional, o Serviço de

Atendimento Móvel de Urgência - SAMU, visando a implementação de ações com maior grau de eficácia e efetividade na prestação de serviço de atendimento à

saúde de caráter emergencial e urgente. (grifo nosso).

Com relação à proibição de realização das provas em dias úteis tem-se que os concursos direcionados às carreiras do Magistério Federal serão bastante afetados, pois historicamente o realizam em dias úteis. Dentre as Universidades Federais contempladas na amostra comparada desta pesquisa (capitais no Nordeste), constata-se que todas, sem exceção, realizam alguma etapa do concurso em dia útil, até mesmo por inexistir qualquer dispositivo legal em contrário. Em sede jurisprudencial localizou-se sobre o assunto apenas uma recomendação do Conselho Nacional de Justiça ao julgar recurso no Procedimento de Controle Administrativo nº 0003903-19.2013.2.00.0000:

RECURSO ADMINISTRATIVO. PROCEDIMENTO DE CONTROLE

ADMINISTRATIVO. PEDIDO CONSUBSTANCIADO NA ALTERAÇÃO DE

PROVA DE CONCURSO PÚBLICO DA MAGISTRATURA POR TER SIDO MARCADA EM DIA ÚTIL E COM ALTERAÇÃO DE DATA PARA 12 DIAS

APÓS A REPUBLICAÇÃO DE APLICAÇÃO DAS PROVA OU NA ANULAÇÃO DA FASE. AUSÊNCIA DE IRREGULARIDADES. RECURSO

IMPROVIDO.

1.Trata-se de procedimento de controle administrativo (PCA), contra possíveis irregularidades no concurso público para provimento de cargos de juiz de direito substituto do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO AMAZONAS (TJAM), regido pelo edital 1, de 11 de março de 2013.

2. Argumenta o requerente que a realização da prova em dia útil e o exíguo lapso temporal de doze dias entre a publicação do ato e as provas dificultam o deslocamento e a hospedagem dos candidatos que não residam no Estado do Amazonas. Invoca o princípio da razoabilidade, publicidade e isonomia. Pede a anulação do ato de retificação do edital do certame e a remarcação da prova objetiva com antecedência mínima.

3. O Conselheiro anterior, em decisão monocrática, indeferiu o pleito do Requerente sob o argumento de que a Resolução 75/2009 do Conselho Nacional de Justiça não estabelece prazo mínimo de convocação para as provas objetivas. Fixa-o tão- somente para as provas escritas da segunda etapa‖.

4. Inconformado com a decisão acima, o Requerente pugnou, em síntese, pela reconsideração da decisão proferida, bem como colacionou trechos do Projeto de Lei nº 74/2010 que versa sobre regulamentação de concursos públicos.

5. Não há nos autos argumentos mínimos suficientes para ensejar a modificação da decisão monocrática ora proferida pelo Conselheiro antecessor. Ademais, os prazos

foram respeitados e não há notícias de irregularidades.

ACÓRDÃO: ―O Conselho, por unanimidade, negou provimento ao recurso, com recomendação ao Tribunal que futuramente marque as provas em finais de semana e com antecedência mínima de quinze dias, nos termos do voto da Relatora.

Ausentes, justificadamente, os Conselheiros Guilherme Calmon e Saulo Casali Bahia. Ausente, circunstancialmente, o Conselheiro Joaquim Barbosa. Presidiu o julgamento o Conselheiro Francisco Falcão. Plenário, 6 de maio de 2014.‖ (Conselho Nacional de Justiça. Procedimento de Controle Administrativo nº 0003903-19.2013.2.00.0000. Relatora: Luiza Cristina Fonseca Frischeisen. Data de Julgamento: 06/05/2014) – grifos nossos.

Com relação às provas em dia de sábado e a possibilidade de sua alteração por motivo de crença religiosa é importante ressaltar a existência da tramitação junto ao Supremo Tribunal Federal do Recurso Extraordinário nº 611874/DF, relatado pelo Ministro Dias Toffoli, onde a Colenda Corte reconheceu a existência de repercussão geral da matéria, conforme ementa abaixo reproduzida:

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PRETENDIDA AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE

ETAPA DE CONCURSO PÚBLICO EM HORÁRIO DIVERSO DAQUELE DETERMINADO PELA COMISSÃO ORGANIZADORA DO CERTAME POR FORÇA DE CRENÇA RELIGIOSA. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

EM CONFLITO. MATÉRIA PASSÍVEL DE REPETIÇÃO EM INÚMEROS PROCESSOS. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. (grifos nossos). Todavia, não obstante o reconhecimento, ainda é preciso aguardar que o STF fixe a tese de repercussão geral, encontrando-se o processo concluso ao relator desde 10/03/2016, conforme acompanhamento processual disponibilizado na página eletrônica daquele Pretório Excelso.

Assim, caso venha a ser aprovada a vedação, deverão as Instituições Federais de Ensino readequar seus normativos, tendo como implicação um retardamento considerável até que se obtenha um resultado final, ante a existência de diversas etapas próprias do certame. A intenção da proposição legislativa é a de permitir que o maior número de candidatos tenha condições de comparecer às provas, seja por questões de trabalho ou de crença religiosa, estando, assim, em consonância com o princípio da competitividade. Do ponto de vista da Administração, há aqueles que defendem a inviabilidade de realização de concursos públicos apenas em finais de semana, não só pela demora na finalização do certame, mas também pelo prejuízo imposto à sociedade enquanto o cargo não é provido, implicando na má prestação dos serviços públicos. Assim, a possibilidade de realização dos certames em dias úteis encontraria algum respaldo no princípio da supremacia do interesse público.

O PL não se pronunciou acerca da realização de concursos em feriados nacionais ou locais. Todavia, infere-se a sua possibilidade, uma vez que a limitação está adstrita aos dias úteis.

No entanto, o que causará maior complexidade na execução do concurso certamente será a obrigatoriedade imposta no parágrafo único do art. 61, isto é, havendo mais de cinquenta candidatos inscritos e optando a organizadora por realizar provas objetivas, deverão as mesmas ser aplicadas em pelo menos uma capital por região geográfica, o que implicará em pelo menos mais cinco capitais (Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul). Pelas mesmas razões expostas no item 6.5, a aplicação de provas em diferentes regiões do país somente é justificada quando há previsão de lotação de cargos em diversas capitais ou regiões do país, dada a característica de abrangência e atuação do órgão ou entidade. As universidades públicas possuem a delimitação de sua competência restrita aos seus respectivos campi, isto é, dentro dos limites territoriais do Estado, o que tornaria desproporcional e desrazoada a exigência de aplicação de provas em diversas capitais do país. Dentre as universidades comparadas86, apenas a UFRN e a UFC preveem em seus normativos internos – Resolução nº 108/2013-CONSEPE e Resolução nº 02/2016-CEPE – a possibilidade de a prova escrita ser tanto objetiva como discursiva. As demais instituições adotam apenas a opção de prova discursiva nesta fase. Assim, caso seja mantida na redação e aprovada essa imposição do Projeto de Lei nº 252/2003, serão as IFE compelidas a não mais realizar provas objetivas em seus concursos públicos, por inviabilização desse procedimento.