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7 O PROJETO DE LEI Nº 252/2003

7.11 Das provas orais (Capítulo II – Seção XIII)

Nos concursos públicos para o Magistério Federal enquadram-se no conceito de provas orais as Provas Didáticas e as Defesas de Memorial e/ou Projeto de Atuação Profissional, recebendo esta última outras denominações de acordo com a definição adotada pela Instituição de Ensino, a exemplo: Memorial e Projeto de Atuação Profissional (UFRN), Defesa do Plano de Atividades Acadêmicas (UFAL), Seminário ou Defesa de Projeto de Pesquisa ou de Extensão (UFC) e Plano de Trabalho (UFPB). Deve ser ressaltado, contudo, que nem todas as IFE aplicam Prova de Memorial, como a Universidade Federal de Pernambuco.

Pelo Projeto de Lei nº 252/2003, a avaliação de provas orais deve estar prevista em edital, sendo permitida apenas para os cargos de nível superior. A banca examinadora deverá ser constituída por, no mínimo, três especialistas na área, requisito este satisfeito por todas as Universidades Federais abarcadas no estudo comparado88. Reitera também a obrigatoriedade de filmagem das provas, a exemplo do Decreto nº 6.944/2009 (art. 13, § 3º).

Um dos pontos que se questiona nesta seção diz respeito ao acesso ao local das provas orais por todos os candidatos, permitindo-lhes assistir à arguição dos demais

concorrentes. A seguir, expomos a situação regulamentada nas Universidades Federais das capitais do Nordeste:

Quadro 14 – Universidades Federais das capitais do Nordeste – Acesso ao local das provas orais pelos demais candidatos

IFE

PERMITE-SE O ACESSO DOS DEMAIS CANDIDATOS AO LOCAL DAS PROVAS ORAIS?

NORMATIVO ANALISADO

UFRN NÃO Resolução nº 108/2013-CONSEPE

UFAL NÃO Edital de Condições Gerais nº 11/2016

UFBA SIM (*) Resolução nº 03/2013-CONSUNI

UFC NÃO Resolução nº 02/2016-CEPE

UFMA SIM (**) Resolução nº 120/2009-CONSUN

UFPB NÃO Resolução nº 74/2013-CONSEPE

UFPE NÃO Resolução nº 22/2013-CCEPE

UFPI NÃO Resolução nº 039/2008-CONSUN

UFS NÃO Resolução nº 23/2007-CONSU

(*) A Resolução nº 03/2013-CONSUNI não faz nenhuma referência à presença dos demais candidatos nas

sessões públicas, razão pela qual se infere a sua possibilidade.

(**) Permitida a presença apenas dos candidatos que já realizaram a prova.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Não obstante se tratar de sessão pública, a presença dos demais concorrentes nas provas orais, nos moldes atuais, fere o princípio da isonomia por desigualar a situação entre os candidatos. Isso porque aqueles que ainda não se submeteram à avaliação serão privilegiados, pois terão uma noção do padrão de arguição e das respostas esperadas pela banca examinadora. Ademais, o fator psicológico advindo com a presença dos candidatos concorrentes deve ser considerado, visto que poderá causar a perda da concentração na apresentação, seja com um olhar de reprovação ou com gestuais de hostilidade e sarcasmo.

Como uma forma de amenizar essa distorção, propõe o PL nº 252/2003 a adoção de ―listas de questões‖ pela banca examinadora, ou seja, questões pré-elaboradas, que serão sorteadas pelos candidatos, ficando a arguição limitada e objetivada por essa listagem. Não bastasse isso, a proposta legislativa estende a sua aplicabilidade, de forma expressa, também aos concursos públicos para provimento de cargos da carreira acadêmica universitária (Magistério Federal) e de pesquisa científica, bem como às denominadas provas de tribuna, bastante utilizadas em certames para cargos da área jurídica, conforme transcrição a seguir:

Art. 91. Os critérios de avaliação e pontuação dos candidatos nas provas orais serão obrigatoriamente fundamentados, com demonstração objetiva da correção ou incorreção das respostas e sustentação, sendo vedada a análise sucinta ou insubsistente.

§1º As questões a serem resolvidas de forma oral pelos candidatos serão previamente elaboradas pela banca examinadoras, na forma de listas de questões. §2º Haverá tantas listas de questões quantos forem os candidatos convocados para a realização das provas orais.

§3º O candidato, ao ser chamado para a sua arguição, sorteará um número, que corresponderá ao de uma das listas de questões.

§4º O número de questões orais e o tempo para resposta de cada uma delas constará

obrigatoriamente do edital normativo.

Art. 92. Aplicam-se integralmente os dispositivos dos artigos 90 e 91 desta Lei às chamadas entrevistas aplicadas nos concursos para provimento de cargos da

carreira acadêmica universitária e de pesquisa científica, assim como às denominadas provas de tribuna.

Parágrafo único. É vedada a realização de entrevista reservada ou em que os demais candidatos não possam ter acesso. (grifos nossos).

Entende-se que tal procedimento pode até funcionar para a maioria dos cargos do serviço público federal, onde a prova oral resumir-se-ia apenas no questionamento pela banca examinadora e resposta pelo candidato às questões sorteadas.

Ocorre que nos concursos públicos para as carreiras do Magistério Federal tal premissa não é verdadeira. Considerando que a prova oral nos certames consiste ao menos na realização de uma prova didática, a qual possui um viés prático, pois se afere a competência no exercício da atividade fim do magistério, é necessário que o candidato ministre uma aula acerca do assunto sorteado para, somente depois, ser arguido pela comissão examinadora. Assim, a arguição deve ter correlação com o que foi apresentado previamente, podendo a banca, eventualmente, questionar pontos não abordados pelo candidato, mas também, principalmente em se tratando do universo acadêmico, considerar na arguição os elementos didático-metodológicos e o emprego apropriado desses recursos.

É nítida a necessidade de se estabelecerem regras para tais avaliações com certo grau de objetividade. Contudo, deve o legislador tomar o cuidado necessário para não engessar por completo a atuação da banca examinadora. A simples resposta a questões pré-determinadas não vão aferir, por exemplo, a capacidade em ministrar aulas. Corre-se o risco de termos ao final do certame candidatos aprovados que detenham o conhecimento teórico, mas que na prática não saberão ministrar uma aula, por não possuírem os conhecimentos didático- pedagógicos, prejudicando o corpo discente pela incapacidade de transmissão do saber. Frise- se também a importância da arguição na atividade cotidiana do magistério, visto que tais

profissionais são constantemente questionados pelos alunos, característica inerente do processo de aprendizagem.

Certo grau de subjetividade sempre irá existir nas provas orais, por ser inerente à avaliação, devendo o legislador assegurar apenas que essa discricionariedade não venha se tornar uma arbitrariedade, ou seja, isento de fundamentação plausível.

Na presente Seção, mais uma vez o PL nº 252/2003 estabelece um requisito obrigatório do edital normativo, qual seja, a definição do número de questões orais e o tempo de resposta de cada uma delas, reforçando a especial atenção da Administração na elaboração do instrumento editalício.