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7 O PROJETO DE LEI Nº 252/2003

7.13 Dos títulos (Capítulo II – Seção XV)

Visando dirimir outra controvérsia na seara dos concursos públicos, quanto ao caráter classificatório ou da possibilidade de conferir caráter eliminatório à avaliação dos títulos, estabeleceu o Projeto de Lei nº 252/2003, em seu art. 106, a filiação à primeira corrente, delimitando um percentual máximo de pontos a serem conferidos:

Art. 106. Na hipótese de constar dos editais normativos de concurso público a previsão de pontuação por títulos, os critérios de contagem serão os seguintes: I – o resultado terá caráter exclusivamente classificatório, sendo facultada ao candidato a ausência de cômputo, caso em que apenas não lhe serão atribuídos eventuais pontos;

II – aos títulos somente poderão ser atribuídos os pontos correspondentes ao

percentual máximo de dez por cento com relação ao somatório da pontuação

obtida no conjunto das provas, respeitados os limites do §2º (sic)89 do art. 24 desta

Lei. [...] (grifos nossos).

Desta forma, verifica-se que a sobredita redação se encontra alinhada com o atual posicionamento do Supremo Tribunal Federal, não obstante existir posicionamento contrário adotado por alguns Tribunais de 2º Grau, conforme jurisprudência colacionada a seguir:

CONCURSO PÚBLICO. PROCURADOR DO TRABALHO. PROVA DE

TÍTULOS. CARÁTER ELIMINATÓRIO. CONSTITUCIONALIDADE. 1. Nos

termos do edital respectivo a prova de títulos no concurso público de Procurador do Trabalho tem caráter eliminatório. Precedente específico desta Corte. 2. Não é

inconstitucional o caráter eliminatório da prova de títulos. Precedentes desta

Corte, do TRF da 4ª Região, do STJ e do STF. 3. Irrelevância, na apreciação da aprovação da impetrante, do fato de a banca examinadora ter conferido a todos os candidatos que comprovaram o exercício de advocacia, pública ou privada, a mesma quantidade de pontos, porquanto resguardado o caráter isonômico desse ato, bem como porque ela não apresentou sequer um título. 4. Apelação improvida. (TRF 1ª

Região. Apelação em Mandado de Segurança nº 2432/DF 96.01.02432-8. Relator: Leão Aparecido Alves. DJU: 09/07/2001).

CONCURSO PÚBLICO - TÍTULOS - REPROVAÇÃO. Coaduna-se com o princípio da razoabilidade constitucional conclusão sobre a circunstância de a

pontuação dos títulos apenas servir à classificação do candidato, jamais definindo aprovação ou reprovação. Alcance emprestado por tribunal de justiça à

legislação estadual, em tudo harmônico com o princípio da razoabilidade, não se podendo cogitar de menosprezo aos critérios da moralidade e da impessoalidade. (STF. Segunda Turma. AI nº 194188 AgR, Relator: Min. MARCO AURÉLIO,

julgado em 30/03/1998, DJ 15-05-1998).

DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO PARA PROVIMENTO E REMOÇÃO DE OUTORGAS DE CARTÓRIOS EXTRAJUDICIAIS. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. PEDIDO DE INTERVENÇÃO DE TERCEIRO. INCOMPATIBILIDADE COM O RITO DO MANDADO DE

89Entendemos a ocorrência de equívoco por parte do legislador ao atribuir a ressalva ao § 2º do art. 24, visto que

a mesma se encontra estabelecida no § 3º do mesmo artigo, vejamos: ―§3º Os concursos destinados a selecionar

candidatos para a área acadêmica podem atribuir até trinta por cento do total de pontos do certame à prova de títulos.‖

SEGURANÇA. INDEFERIMENTO. PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE REJEITADA. WRIT IMPETRADO DENTRO DO PRAZO DECADENCIAL DE 120 DIAS (LEI Nº 12.016/09, ART. 23). INVALIDADE JURÍDICO- CONSTITUCIONAL DA ATRIBUIÇÃO DE CARÁTER ELIMINATÓRIO A PROVAS DE TÍTULOS EM CONCURSOS PÚBLICOS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 37, II, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NECESSIDADE DE COERÊNCIA NORMATIVA DO CNJ NO TRATAMENTO DOS CERTAMES PARA INGRESSO NA CARREIRA DE MAGISTRADO E NA CARREIRA DE NOTÁRIO. APARENTE INCOMPATIBILIDADE ENTRE OS REGIMES FIXADOS PELAS RESOLUÇÕES CNJ Nº 75/09 E 81/09. ERRO MATERIAL NA FÓRMULA MATEMÁTICA CONSAGRADA PELA RESOLUÇÃO Nº 81/09 DO CNJ. NULIDADE DO ATO DE ELIMINAÇÃO DA IMPETRANTE NO 7º CONCURSO PARA OUTORGA DE DELEGAÇÕES DE NOTAS E DE REGISTRO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ORDEM CONCEDIDA. 1. As provas de títulos em concursos públicos para provimento de cargos efetivos no seio da Administração Pública brasileira, qualquer que seja o Poder de que se trate ou o nível federativo de que se cuide, não podem ostentar natureza eliminatória, prestando-se apenas para classificar os candidatos, sem jamais justificar sua eliminação do certame, consoante se extrai, a contrario sensu, do art. 37, II, da Constituição da República. (STF. 1ª Turma. Mandado de Segurança nº

32074/DF. Relator: Min. Luiz Fux. DJE: 05/11/2014) – grifos nossos.

De igual maneira se posiciona a doutrina majoritária. Para Maia & Queiroz90 a prova de títulos é de caráter meramente classificatório, consistindo na avaliação cultural do candidato, a partir de sua efetiva produção científica, técnica ou artística pregressa, conforme os critérios estabelecidos no regulamento e no edital do concurso público. Conforme artigo do eminente Ministro Carlos Ayres Britto (apud TOURINHO, 200891), intitulado Concurso Público: Requisitos de Inscrição (In: Revista Trimestral de Direito Público, São Paulo: Malheiros, 1994, n. 6, p. 69), as avaliações de títulos:

Servem tão somente como critério de classificação dos candidatos, até porque, se

ostentassem natureza eliminatória, fariam com que os candidatos carecedores de denso currículo (os mais jovens e os mais pobres, principalmente) já entrassem para a prova de conhecimento com a obrigação de saber mais do que os outros. E é intuitivo que tal ‗obrigação antecipada‘ de saber mais lesionaria o princípio da

igualdade. (grifo nosso)

Todas as Universidades Federais das capitais do Nordeste estabeleceram em seus normativos o caráter meramente classificatório da prova de títulos. Entretanto, é de extrema importância destacar que a Resolução nº 108/2013-CONSEPE, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ao estabelecer em seu art. 31 a fórmula de cálculo da Nota Final Classificatória, momento em que se aplicam os pesos de cada avaliação, acaba por conferir à Prova de Títulos o caráter também eliminatório em razão do disposto em seu art. 32, ex vi:

Art. 31. A CE atribuirá a cada candidato uma nota final classificatória (NFC), de

acordo com a seguinte fórmula:

90 MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurídico do concurso público e o seu

controle jurisdicional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 132-133.

91 TOURINHO, Rita. Concurso Público no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

NFC = 0,4 . PE + 0,3 . PD + 0,1 . PT + 0,2 . MPAP

Em que: PE corresponde à nota final obtida na prova escrita; PD, à nota final da prova didática; PT, à nota final da prova de títulos; MPAP, à nota final da avaliação de memorial.

Parágrafo único. No cálculo da NFC, o resultado será apresentado até a segunda

casa decimal, arredondando-a para mais quando o dígito subsequente for igual ou superior a 05 (cinco).

Art. 32. Serão considerados aprovados os candidatos que obtiverem a NFC igual ou superior a 7,00 (sete). (grifos nossos).

Percebe-se, pois, que se o candidato for aprovado em todas as etapas eliminatórias com a nota mínima necessária (7,00 pontos), obrigatoriamente para que seja considerado aprovado no certame terá que obter no mínimo 7,00 (sete) pontos na Prova de Títulos. Caso contrário, estará automaticamente reprovado, nos termos do parágrafo único do art. 31 c/c o art. 32 da sobredita resolução, consoante cálculos demonstrativos a seguir:

HIPÓTESE NOTA FINAL CLASSIFICATÓRIA SITUAÇÃO

FINAL

Candidato que obteve nota 7,00 em todas as etapas

NFC = 0,4 . 7,00 + 0,3 . 7,00 + 0,1 . 7,00 + 0,2 . 7,00 NFC = 2,8 + 2,1 + 0,7 + 1,4

NFC = 7,00

APROVADO

Candidato que obteve nota 7,00 nas etapas eliminatórias (escrita, didática e MPAP), mas

nos Títulos ficou com nota abaixo de 7,00

NFC = 0,4 . 7,00 + 0,3 . 7,00 + 0,1 . 6,50 + 0,2 . 7,00 NFC = 2,8 + 2,1 + 0,65 + 1,4

NFC = 6,95

REPROVADO

Nesse contexto, se a prova de títulos está a exigir uma pontuação mínima, perde-se o caráter meramente classificatório. Situação análoga a esta já foi apreciada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal na análise do Mandado de Segurança nº 32074/DF, relatado pelo Ministro Luiz Fux, do qual extraímos trecho da decisão, de cunho bastante elucidativo:

Com efeito, o Edital do 7º Concurso Público de Provas e Títulos para outorga de Delegações de Notas e de Registro do Estado de São Paulo dispõe que a prova de títulos será de caráter apenas classificatório (cf. item 5.2 do Edital: “A prova

objetiva de Seleção terá caráter eliminatório. As demais terão caráter eliminatório e classificatório, e o Exame de Títulos, apenas classificatório” - grifou-se). Ocorre

que os itens 9.1 e 9.2 do citado Edital acabam por atribuir à prova de títulos caráter eliminatório, na medida em que seu peso é tomado como decisivo para fins de reprovação do candidato. Confira-se a redação dos aludidos itens:

―9.1. A nota final do candidato será a média ponderada das notas das provas e dos pontos dos títulos, de acordo com a seguinte fórmula: NF = [(P1X4) + (P2X4) + (TX2)] / 10 onde:

NF = Nota Final

P1 = Prova Escrita e Prática P2 = Prova Oral

T = Títulos

9.2. A classificação será feita segundo a ordem decrescente da nota final, considerado aprovado o candidato que alcançar a média igual ou superior a 5,0 (cinco)‖.

É de clareza meridiana que a fórmula matemática empregada pelo Edital pode, a depender da interpretação que lhe seja atribuída, conferir natureza eliminatória à prova de títulos. Basta imaginar o candidato que obtivesse nota mínima suficiente para aprovação nas demais provas (nota igual a 5,0 pontos, conforme itens 5.6.3 e 5.6.15 do Edital) e não apresentasse qualquer título. Obviamente a média final desse candidato hipotético seria inferior a 5,0 (cinco). Na forma estrita dos itens 9.1 e

9.2. do Edital, essa circunstância ensejaria sua reprovação, contrariando a dicção expressa do item 5.2 do mesmo ato administrativo.

Essa antinomia editalícia, porém, admite apenas uma solução administrativa compatível com a Constituição da República. Isso porque, consoante já decidiu essa e. Corte, a prova de títulos em concursos públicos somente possui natureza classificatória (jamais eliminatória). (grifos nossos).

Para corrigir essa distorção, é necessário que a nota da Prova de Títulos seja somada ao final com o resultado das médias ponderadas das provas eliminatórias, conforme sugestão de melhorias do normativo interno a ser apontada no Capítulo 8 (tópico 8.2.12) deste trabalho. O Projeto de Lei nº 252/2003 prenuncia a possibilidade de o edital conferir aos anos de experiência profissional uma pontuação correlata à da titulação acadêmica, desde que guardem relação com as atribuições do cargo, conforme art. 106, III:

Art. 106. [...]

III – poderão ser atribuídos pontos à experiência profissional em atividades que guardem relação com as atribuições do cargo em disputa, vedada a exigência de experiência em um órgão, entidade ou cargo específico, obedecendo-se à seguinte equivalência:

a) cinco anos de experiência profissional: pontuação equivalente a um título de especialista;

b) dez anos de experiência profissional: pontuação equivalente a um título de mestre;

c) quinze anos de experiência profissional: pontuação equivalente a um título de doutor;

Nos editais normativos das Universidades Federais em estudo92 não se constatou nenhuma que se utilize desse artifício.

Com relação ao inciso VIII (sic93) do art. 106 do Projeto de Lei, verifica-se que a redação conferida já está contemplada no art. 30, § 2º, razão pela qual não se vislumbra a sua necessidade, de modo a não tornar o texto legal redundante.

No que concerne ao art. 107 da proposta legislativa, ao final reproduzida, não se verifica razoável a publicação do resultado da avaliação dos títulos no órgão oficial de

92 Universidades Federais das Capitais do Nordeste (UFAL, UFBA, UFC, UFMA, UFPB, UFPE, UFPI e UFS).

93 No site da Câmara dos Deputados

(http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=105464), a versão do texto substitutivo do Projeto de Lei nº 252/2003, apresentado em 09/10/2013, possui um pequeno erro na sequência dos incisos do art. 106. Assim, onde se lê inciso VIII, leia-se inciso IX.

imprensa, uma vez que tal procedimento não é realizado nas demais etapas do concurso público:

Art. 107. O resultado da avaliação dos títulos pela banca examinadora será

publicado no sítio eletrônico da entidade organizadora do concurso e no órgão oficial de imprensa. (grifos nossos).

No Diário Oficial da União deve ser publicado apenas o resultado final do certame, para fins de homologação e produção de efeitos.