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7 O PROJETO DE LEI Nº 252/2003

7.4 Dos editais (Capítulo II – Seção III)

Nesta seção inova o legislador ao incluir mais requisitos ao conteúdo mínimo do edital, alguns dos quais a UFRN já cumpre. Abaixo destacamos as informações que hoje não são contempladas no art. 19 do Decreto nº 6.944/2009, norma vigente, e a sua adoção ou não pela Instituição de Ensino nos certames atuais:

Quadro 6 – Novos requisitos obrigatórios do edital propostos pelo PL nº 252/2003 (Continua)

REQUISITOS DO EDITAL (PL nº 252/2003) CONTEMPLAÇÃO NOS EDITAIS DA UFRN

Direitos e prerrogativas resultantes do exercício do cargo ou do emprego, bem como as proibições e impedimentos legal e administrativamente imputados ou imputáveis aos seus titulares;

NÃO

Indicação do local e órgão de lotação dos aprovados; SIM

Indicação do peso relativo de cada prova; SIM

Indicação da matéria objeto de cada prova, de forma a permitir ao candidato a perfeita compreensão do conteúdo programático que será exigido;

SIM

Indicação da bibliografia adotada e, quando for o caso, das leis e regulamentos exigidos e do órgão jurisprudencial de referência;

NÃO

(A indicação bibliográfica é opcional)

Regulamentação dos mecanismos de divulgação dos resultados, com datas, locais e horários;

SIM (para os mecanismos de

divulgação e locais)

NÃO (para as datas e horários)

Disciplina objetiva das hipóteses de remoção; NÃO

Havendo previsão de prova discursiva, o edital deverá conter de forma objetiva os temas, os prazos de execução e os critérios de correção e atribuição dos pontos.

SIM

Havendo diversidade de provas, o edital deverá indicar de forma

objetiva as eliminatórias e as classificatórias. SIM

Com relação aos cargos reservados a candidatos com deficiência:

Conter o número de vagas inicialmente correspondentes à reserva

destinada à pessoa portadora de deficiência. SIM

Conter as atribuições e tarefas essenciais dos cargos SIM

Conter a previsão de adaptação das provas, conforme a deficiência do

Quadro 6 – Novos requisitos obrigatórios do edital propostos pelo PL nº 252/2003 (Conclusão)

REQUISITOS DO EDITAL (PL nº 252/2003) CONTEMPLAÇÃO NOS EDITAIS DA UFRN Com relação aos cargos reservados a candidatos com deficiência:

Conter a exigência da apresentação, pelo candidato portador de deficiência, ao final do certame e em caso de aprovação, de laudo médico atestando a espécie e o grau ou nível da deficiência e as

limitações decorrentes, com expressa referência ao código

correspondente da Classificação Internacional de Doença - CID, bem como a provável causa da deficiência.

SIM (para a exigência de

apresentação de laudo médico)

NÃO (para a apresentação ao final

do certame, mas sim no período de inscrições)

Prever o número de candidatos com deficiência que participarão das etapas seguintes, quando o concurso possuir mais de uma etapa.

N/A

(A UFRN não impõe cláusula de barreira nos concursos do

magistério) Fonte: Elaborado pelo autor.

Ressalte-se que além desses requisitos mínimos são estabelecidos ao longo do texto do PL nº 252/2003 outras exigências obrigatórias para o edital normativo, demandando a atenção da Administração ao elaborar esse instrumento, e que serão complementadas no curso do trabalho ao se analisar as demais seções do projeto.

Deve-se atentar para a proposta de entrega do laudo médico pelo candidato deficiente ao final do certame e somente em caso de aprovação. Tal dispositivo é bastante temerário e afronta os princípios da isonomia, da moralidade, da competitividade e da razoabilidade. Isso porque em concursos públicos constituídos de mais de uma etapa, a exemplo dos concursos para o Magistério Federal, poderá o candidato não deficiente, valendo-se da má-fé, ser beneficiado com condições especiais ou com tempo adicional para a realização das provas. Por mais que não seja aprovado no resultado final, tal lacuna legal tornará o concurso suscetível de questionamentos, ficando a Administração Pública prejudicada na apuração dos fatos por não dispor de nenhum documento comprobatório da real deficiência do candidato.

Outro ponto que merece destaque e que deveria compor requisito mínimo do edital de abertura diz respeito às cotas raciais instituída pela Lei nº 12.990, de 9 de junho de 2014. Entende-se a omissão na proposta legislativa em razão da lei ter sido publicada em momento posterior ao texto substitutivo apresentado na CCJC da Câmara dos Deputados. Todavia, nas próximas revisões do texto deve a mesma ser contemplada.

O PL dirime a dúvida quanto ao caráter atribuído à prova de títulos, se classificatória ou eliminatória, posicionando-se pela primeira alternativa. A prova de títulos somente poderá ser exigida para cargos de nível superior, a exemplo dos concursos para o Magistério Federal,

onde poderá ser atribuído até 30% (trinta por cento) do total de pontos do certame. Considerando a existência de uma seção no Projeto de Lei que trata especificamente da prova de títulos (Seção XV, do Capítulo II), entende-se que os dispositivos estão deslocados numa seção relativa ao edital, até mesmo porque seus preceitos são novamente reiterados na seção específica, tornando a norma repetitiva de maneira desnecessária.

Outro ponto que merece comentários diz respeito aos critérios de discrímen nos editais. Não se questiona a vedação por critérios de idade, orientação sexual, estado civil, raça, naturalidade, proveniência ou moradia. Contudo, há casos em que é razoável a discriminação positiva por critérios de sexo, condição física ou deficiência, desde que devidamente fundamentado, a depender do cargo a ser assumido e desde que a condição também esteja prevista em lei. Corroborando nesse sentido, tem-se o posicionamento firmado pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário nº 528.684/MS, publicado em 26/11/2013, que ratificou o entendimento de que é possível que o edital preveja critério de discriminação de gênero, desde que devidamente fundamentado e ante previsão legal. A seguir segue parte do julgado:

[...] a imposição de discrímen de gênero, para fins de concurso público, só é compatível com a Constituição nos excepcionais casos em que reste inafastável a

fundamentação proporcional e a legalidade da imposição. [...] A simples

restrição, sem motivação e independentemente de qualquer critério, para afastar a participação de mulheres dos quadros da polícia militar, retira a sua admissibilidade constitucional, em face do princípio da igualdade.(grifos nossos).

Citando exemplos corriqueiros na seara dos concursos públicos, tem-se como proporcional a exigência de candidatas do sexo feminino para o cargo de agente penitenciário direcionado a um complexo de detenção exclusivamente feminino (discriminação de gênero), ou ao exigir-se a inexistência de determinada deficiência física para o cargo de salva vidas do corpo de bombeiros, sob pena de inviabilizar o desempenho das atividades. Neste último exemplo, não obstante a sua razoabilidade, deve ser ressaltada a existência de dispositivo legal direcionado aos cargos da Administração Pública Direta e Indireta da União, a saber, o art. 40 do Decreto Federal nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamenta a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência:

Art. 40. É vedado à autoridade competente obstar a inscrição de pessoa portadora de deficiência em concurso público para ingresso em carreira da Administração

Pública Federal direta e indireta.(grifos nossos).

Desta forma, o PL nº 252/2003 ao vedar terminantemente qualquer critério de discriminação com base no sexo ou por condição física, sem levar em consideração a existência de leis específicas que as preveem, fundamentadas em razões sólidas e convincentes, estará incorrendo em erro e indo de encontro com o entendimento da Corte

Maior deste país. A motivação do ato de discrímen torna-se obrigatória nos termos da Súmula nº 684 do Supremo Tribunal Federal: ―É inconstitucional o veto não motivado à participação de candidato a concurso público‖.

Outrossim, é importante trazer-se as sugestões do PL nº 252/2003 em relação aos prazos atrelados ao edital. Atualmente, tais períodos são estabelecidos de acordo com o critério discricionário da Administração, à exceção do prazo de antecedência mínima da publicação do edital para a realização da primeira prova do concurso, estando esse último previsto no Decreto nº 6944/2009, mas que na nova proposta legislativa sofrerá alteração. Abaixo segue quadro esquematizado com os prazos propostos e os seus efeitos para o concurso público:

Quadro 7 – Prazos Editalícios e seus Efeitos (PL nº 252/2003)

Etapa/Procedimento Prazos/Efeitos Atuais Prazo/Efeitos Propostos (PL nº 252/2003)

Publicação integral do Edital de Abertura em DOU

60 dias de antecedência para a

primeira prova (art. 18, I, do Decreto nº 6.944/2009), momento

em que passa a produzir efeitos.

90 dias de antecedência para a

primeira prova, momento em que passa a produzir efeitos.

Prazo de recurso contra o edital Prazo inexistente 10 dias, contados da publicação em

DOU.

Análise do recurso contra o edital

5 dias, podendo ser dilatado em

dobro, mediante comprovada justificação (art. 24 da Lei nº

9.784/99)

Até 15 dias

Alterações no Edital Prazo inexistente

Permitido até 30 dias antes da primeira prova, implicando a alteração nos prazos, providências

e atos de referência do edital.

Período de Inscrições Prazo inexistente

Mínimo de 10 dias, somente

podendo ser iniciada após transcorridos 15 dias da resposta

aos recursos contra o edital Fonte: Elaborado pelo autor.

Com relação ao prazo de antecedência mínima de publicação do edital para a realização da primeira prova, entende-se como razoável a manutenção do período mínimo de 60 (sessenta) dias. A dilação desse prazo implicará em uma procrastinação desnecessária no cronograma do concurso, impactando principalmente naqueles certames destinados a cargos que prestam serviços essenciais à sociedade, a exemplo dos cargos na área da saúde e educação, já tão carentes de profissionais. Corroborando nesse sentido, destaca-se a existência da Portaria MEC nº 243, de 3 de março de 2011, publicada no DOU nº 45, de 04/03/2011 (Seção 1, p. 17), a qual reduziu para 30 (trinta) dias o prazo mínimo de antecedência para a

primeira prova, contado da publicação do edital, nos termos do art. 18, § 2º do Decreto nº 6.944/2009:

Art. 1º. Admitir a redução do prazo de que trata o Art. 18, do Decreto nº 6.944,

de 21 de agosto de 2009, no âmbito das instituições federais de ensino vinculadas

ao Ministério da Educação, observado:

I - o mínimo de 30 (trinta) dias, para a realização de concursos públicos para Professores do Magistério Superior Federal, Professores de Educação Básica, Técnica e Tecnológica e Técnico-Administrativos em Educação.

II - o mínimo de 10 (dez) dias, para a realização de processos seletivos simplificados para a contratação de professores substitutos e temporários, observadas as hipóteses, condições e requisitos de contratação previstas na Lei nº 8.745, de 09 de dezembro de 1993 e na forma de regulamento a ser aprovado pelo Conselho Superior das Instituições Federais de Ensino, vinculadas ao Ministério da Educação. (grifos nossos).

Assim, optando o legislador por manter o prazo de antecedência mínima de 90 (noventa) dias, faz-se necessária a inclusão de um parágrafo único à redação do art. 33, prevendo, à semelhança do atual Decreto nº 6.944/2009, a possibilidade de sua redução, mediante ato motivado do Ministro de Estado sob cuja subordinação ou supervisão se encontrar o órgão ou entidade responsável pela realização do concurso público. No que tange aos demais prazos, não se verifica nenhuma irregularidade, estando em conformidade com o princípio da razoabilidade.