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5 DA ATUAL REGULAMENTAÇÃO DOS CONCURSOS PÚBLICOS

5.2 Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de 2009

Na conceituação de Marçal Justen Filho70, decreto é ―o ato administrativo unilateral pelo qual o Chefe do Poder Executivo (federal, estadual, distrital ou municipal) exercita competência administrativa que demande forma escrita, para qual não seja adequada outra forma específica‖. Contudo, é importante diferenciar os decretos legislativos dos decretos executivos. Os primeiros emanam do Poder Legislativo, seguindo todos os trâmites a que são submetidos os projetos de lei, consagrando medidas de caráter administrativo ou político, de interesse individual ou transitório. Já os decretos executivos, nos dizeres de Cretella Júnior71, são as fórmulas gerais dos atos governamentais e administrativos do Presidente da República, tendo por objeto: pôr em execução uma disposição legal; estabelecer medidas gerais para

69 MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurídico do concurso público e o seu

controle jurisdicional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 89.

70

FILHO, Marçal Justen. Curso de Direito Administrativo. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 288.

71 CRETELLA JÚNIOR, José. Curso de Direito Administrativo. 18ª ed. Revisada e atualizada. Rio de Janeiro:

cumprimento da lei; providenciar sobre matéria de ordem funcional; resolver sobre interesse da Administração; decidir sobre algum interesse de ordem provada, que se prendia ao da Administração; criar, modificar, limitar ou ampliar uma situação jurídica; e organizar, reformar ou extinguir serviços públicos dentro da competência do poder executivo.

O Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de 2009 se enquadra na categoria de decreto executivo, nos termos do art. 84, VI, alínea ―a‖, da CF/88. O referido normativo possui o seu Capítulo II voltado exclusivamente para os concursos públicos.

A exemplo do Decreto nº 4.175/2002, foi também delegada ao Ministro de Estado do MPOG a autorização para a realização de concursos públicos nos órgãos e entidades da Administração Pública Federal Direta, Autárquica e Fundacional e decidir sobre o provimento de cargos e empregos públicos, bem como expedir os atos complementares necessários para este fim. Todavia, os provimentos nos cargos efetivos do magistério, assim como a contratação de professor substituto, ficaram dispensados dessa autorização, tendo em vista a existência do Banco de Professor-Equivalente, criado por força da Portaria Interministerial MPOG/MEC nº. 22/2007, conforme mencionamos no tópico 4.1 deste trabalho.

A partir da edição do Decreto nº 6.944/2009 passou a ser permitida, em caráter excepcional, a abertura de concurso público na condição de cadastro de reserva, ou seja, sem que haja cargos vagos no momento da publicação do edital. Para tanto, é necessária a autorização prévia do MPOG.

Como dito anteriormente, o Decreto nº 6.944/2009 reitera alguns pontos tratados na Portaria MPOG nº 450/2002, a exemplo da necessidade de autorização prévia do concurso e a possibilidade de realização do concurso em duas etapas, mas também inovou em alguns dispositivos, os quais seguem elencados abaixo:

I. Quando houver prova de títulos, a apresentação destes deverá ocorrer sempre em data posterior à da inscrição, a ser estabelecida em edital, salvo disposição em lei contrária. Ademais, a prova de títulos deverá ser realizada em etapa posterior à prova escrita;

II. Havendo prova oral e/ou defesa de memorial, estas deverão ser realizadas em sessão pública e gravadas para efeito de registro e avaliação;

III. Optando-se pela realização de provas físicas, deverá o edital indicar o tipo de prova, as técnicas admitidas e o desempenho mínimo de classificação. Tratando- se de provas de conhecimentos práticos específicos, deverá haver indicação dos instrumentos, aparelhos ou das técnicas a serem utilizadas, bem como da metodologia de aferição para avaliação dos candidatos;

IV. Previu a legalidade da denominada ―cláusula de barreira‖, isto é, o edital pode prever uma limitação prévia objetiva para a continuidade no concurso dos candidatos aprovados em sucessivas fases, condicionando a aprovação em determinada etapa à, simultaneamente, obtenção de nota mínima e obtenção de classificação mínima na etapa;

V. Condicionou a realização de avaliação psicológica à existência de previsão legal específica, devendo estar prevista também em edital, bem como sua realização deve-se dar somente após a aplicação das provas escritas, orais e de aptidão física;

VI. Estabeleceu que valor cobrado a título de inscrição no concurso publico será fixado em edital, levando-se em consideração os custos estimados indispensáveis para a sua realização, ressalvadas as hipóteses de isenção nele expressamente previstas. Assim, foi excluída a antiga exigência de limitação ao percentual máximo de 2,5% (dois e meio por cento) do valor da remuneração inicial do cargo ou emprego público, prevista na Portaria MPOG nº 450/2002; VII. Criou um Anexo limitando o número máximo de aprovados no certame de acordo

com o número de vagas postas em edital;

VIII. O edital deve ser publicado na íntegra no DOU, com antecedência mínima de 60 (sessenta) dias da realização da primeira prova, salvo se autorizado a redução pelo Ministro de Estado do MPOG, bem como deve ser divulgado no sítio oficial do órgão ou entidade responsável pela realização do concurso;

IX. Estabeleceu requisitos mínimos e obrigatórios para os editais de concursos, alguns similares ao estabelecido na Portaria MPOG nº 450/2002, quais sejam: identificação da instituição realizadora do certame e do órgão ou entidade que o promove; menção ao ato ministerial que autorizar a realização do concurso público, quando for o caso, visto que para a carreira do magistério federal não será necessária; número de cargos ou empregos públicos a serem providos; quantitativo de cargos ou empregos reservados às pessoas com deficiência e critérios para sua admissão; denominação do cargo ou emprego público, a classe de ingresso e a remuneração inicial, discriminando-se as parcelas que a compõem; lei de criação do cargo, emprego público ou carreira, e seus regulamentos; descrição das atribuições do cargo ou emprego público; indicação do nível de escolaridade exigido para a posse no cargo ou emprego; indicação precisa dos locais, horários e procedimentos de inscrição, bem como das

formalidades para sua confirmação; valor da taxa de inscrição e hipóteses de isenção; orientações para a apresentação do requerimento de isenção da taxa de inscrição, conforme legislação aplicável; indicação da documentação a ser apresentada no ato de inscrição e quando da realização das provas, bem como do material de uso não permitido nesta fase; enunciação precisa das disciplinas das provas e dos eventuais agrupamentos de provas; indicação das prováveis datas de realização das provas; número de etapas do concurso público, com indicação das respectivas fases, seu caráter eliminatório ou eliminatório e classificatório, e indicativo sobre a existência e condições do curso de formação, se for o caso; informação de que haverá gravação em caso de prova oral ou defesa de memorial; explicitação detalhada da metodologia para classificação no concurso público; exigência, quando cabível, de exames médicos específicos para a carreira ou de exame psicotécnico ou sindicância da vida pregressa; regulamentação dos meios de aferição do desempenho do candidato nas provas, observado o disposto no Estatuto do Idoso; fixação do prazo de validade do concurso e da possibilidade de sua prorrogação; e disposições sobre o processo de elaboração, apresentação, julgamento, decisão e conhecimento do resultado de recursos.

X. Estipulou que a escolaridade mínima e a experiência profissional, quando exigidas, devem ser comprovadas no ato de posse no cargo ou emprego, sendo proibida a exigência de comprovação no ato de inscrição no concurso público ou em qualquer de suas etapas, ressalvado o disposto em legislação específica. Outro ponto que merece destaque é que com a promulgação da Lei nº 12.990, de 9 de junho de 2014, que instituiu a política de cotas raciais nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da Administração Pública Federal Direta e Indireta, passou-se a ter mais uma obrigatoriedade nos editais, complementando as disposições do Decreto nº 6.944/2009, de modo que os mesmos devem prever a reserva de 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas para os candidatos que se autodeclararem negros.

Vislumbra-se que o Decreto nº 6.944/2009 regulamenta apenas alguns aspectos gerais do concurso público, dando destaque para os requisitos mínimos do instrumento editalício, sendo um passo adiante em relação à Portaria MPOG nº 450/2002. Não se pode negar o esforço nesse sentido. Contudo, a Administração Pública ainda carece de um maior detalhamento das regras desse instituto, enfocando em pontos específicos não só do edital,

mas também das próprias avaliações, da definição de prazos, dentre outros aspectos, no intuito de uniformizar os procedimentos e garantir o cumprimento dos princípios constitucionais envolvidos, conferindo, assim, maior segurança jurídica aos interessados e à Administração. Caminhando nesta direção é que surge a importância de Projetos de Lei, a exemplo do PL nº 252/2003, regulando os concursos públicos no âmbito federal, o qual será tratado no capítulo a seguir.