Portaria MPOG nº 450, de 6 de novembro de 2002

De acordo com os ensinamentos de Cretella Júnior68, portarias são determinações ou ordens emanadas por agentes administrativos caracterizados (hierarquicamente superiores), objetivando providências oportunas e convenientes para o bom andamento do serviço público, possuindo efeitos tanto na órbita interna da Administração, regulando o funcionamento dos serviços, como também na órbita externa, impondo normas de conduta ao público. Ressalte-se que essa é a nova concepção desse ato administrativo, visto que parte da doutrina ainda se apega à definição de portaria apenas como ato administrativo meramente interno, produzindo efeitos apenas no âmbito da repartição e a seus subordinados. Assim, nos apropriamos do conceito do ilustre administrativista, abaixo transcrito:

Como se depreende das observações anteriores, o conceito de portaria alargou-se, sendo, hoje, o ato administrativo, geral ou especial, interno ou externo, que se impõe coativamente a quem quer que seja dirigida, o funcionário público, ou ao particular,

secundum legem, interpretando o texto legal ou regulamentar, com fins executivos,

descendo a hipóteses não explicitadas no diploma legal anterior.

Com a publicação do Decreto Federal nº 4.175, de 27 de março de 2002, que estabeleceu limites para o provimento de cargos públicos efetivos no âmbito dos órgãos e entidades do Poder Executivo, dentre outras providências, foi delegada a competência ao Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão para autorizar a realização de concursos públicos e a nomeação de candidatos, bem como para estabelecer as respectivas normas e procedimentos, nos termos do seu art. 2º, abaixo reproduzido:

Art. 2º. Fica delegada competência ao Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão para autorizar a realização de concursos públicos e a nomeação de candidatos, bem como estabelecer as respectivas normas e

procedimentos, exceto para ingresso na carreira de Diplomata, que serão

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CRETELLA JÚNIOR, José. Valor Jurídico da Portaria. Revista de Direito Administrativo, n. 117, jul./set. de 1974, p. 453-454. Rio de Janeiro. Disponível em:

autorizados pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, e nas carreiras de Advogado da União, de Procurador da Fazenda Nacional, de Assistente Jurídico da Advocacia-Geral da União e de Procurador Federal, que serão autorizados pelo Advogado-Geral da União. (Grifos nossos).

Assim, o objetivo da Portaria MPOG nº 450/2002 foi justamente a de estabelecer as normas e os procedimentos dos concursos públicos no âmbito da Administração Pública Federal Direta, Autárquica e Fundacional. Para tanto, estipulou algumas diretrizes dentre as quais se destacam:

I. A realização do concurso público necessitava de autorização prévia do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, devendo o edital de abertura ser publicado no prazo de 6 (seis) meses após a referida autorização;

II. Estabeleceu requisitos mínimos e obrigatórios para os editais de concursos, quais sejam: o número de vagas disponível em cada cargo ou emprego público; o número de vagas reservadas aos portadores de deficiência; a denominação do cargo ou emprego público, a classe de ingresso e a remuneração inicial; a descrição das atribuições do cargo ou emprego público; o período e o(s) local(is) de inscrição; o valor da inscrição; a documentação a ser apresentada no ato de inscrição; indicativo sobre a existência e condições do curso de formação, se for o caso; e a validade do concurso;

III. Passou a ser obrigatória a publicação do edital em DOU, na íntegra, bem como por meio eletrônico;

IV. Os concursos de provas ou de provas e títulos poderiam ser realizados em duas etapas, sendo a primeira etapa constituída de provas e a segunda etapa constituída de programa de formação;

V. Definiu que prova de conhecimentos gerais e específicos possuiria caráter eliminatório e classificatório e que a avaliação de títulos, deveria possuir caráter apenas classificatório;

VI. Limitou a validade dos concursos públicos em até 1 (um) ano, permitida sua prorrogação por igual período;

VII. A homologação do resultado limitava a relação dos aprovados em até duas vezes o número de vagas previsto em edital; e

VIII. O valor cobrado a título de inscrição no concurso deveria ser de no máximo 2,5% (dois e meio por cento) do valor da remuneração inicial do cargo ou emprego público prevista no edital;

Para Maia & Queiroz69, a Portaria MPOG nº 450/2002 é determinante para a Administração Federal Direta e meramente indicativa para os entes autárquicos e fundacionais, tendo em vista o regime jurídico que lhes é peculiar, sob pena de subversão dos cânones regentes da política de descentralização que norteia a atividade estatal.

Não obstante a referida Portaria se encontrar na condição de vigente no sistema de consulta de atos normativos da Administração Pública Federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão – CONLEGIS (https://conlegis.planejamento.gov.br), entende-se que a mesma perdeu sua eficácia com o advento do Decreto nº 6.944, de 21 de agosto de 2009. Isso porque a referida norma revogou expressamente em seu art. 32, V, o Decreto nº 4.175/2002, base legal da criação e fundamento de validade da Portaria MPOG nº 450/2002. Tal revogação também se encontra implícita na redação do art. 29 do Decreto nº 6.944/2009, in verbis:

Art. 29. Aos concursos públicos autorizados até a data da publicação deste

Decreto aplicam-se as disposições do Decreto no 4.175, de 27 de março de 2002, e os procedimentos complementares estabelecidos pelo Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão. (grifo nosso).

Considerando que o Decreto nº 6.944/2009 abarca toda a matéria tratada na Portaria MPOG nº 450/2002 e que, por sua própria natureza, está hierarquicamente superior a uma portaria, mero ato administrativo, não vislumbra-se a possibilidade de aplicação dos preceitos estabelecidos na Portaria MPOG nº 450/2002 nos atuais concursos públicos da Administração Federal Direta e Indireta.