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7 O PROJETO DE LEI Nº 252/2003

7.1 Das disposições preliminares (Capítulo I)

A redação original do PL nº 252/2003 se propunha a regulamentar as normas gerais relativas a concursos públicos de provas ou de provas e títulos no âmbito da Administração Pública Direta e Indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, conforme texto a seguir reproduzido:

Art. 1º. Esta Lei estabelece normas gerais sobre a realização de concursos públicos de provas ou de provas e títulos no âmbito da administração direta e indireta da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (grifos nossos).

81 No site da Câmara dos Deputados

(http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=105464), a versão do texto substitutivo do Projeto de Lei nº 252/2003, apresentado em 09/10/2013, possui um pequeno erro na sequência das seções do Capítulo II, repetindo duas vezes a numeração da Seção XVIII.

Todavia, ao ser apreciado na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, teve a redação do seu art. 1º alterada sob a alegação de aprimoramento, conforme texto substitutivo apresentado em 15/03/2013 pelo relator, Deputado Policarpo (PT/DF), destacando em parágrafo específico a sua aplicação também no âmbito das empresas públicas dependentes, consoante definição estabelecida na Lei de Responsabilidade Fiscal, ex vi:

Art. 1º. Os concursos públicos promovidos por órgãos e entidades da administração

direta e indireta de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios são regidos pelas normas gerais desta Lei, por leis

específicas de cada ente e pelos respectivos editais.

§ 1º Aplica-se o disposto nesta Lei aos concursos efetivados no âmbito das

empresas públicas dependentes, assim definidas conforme conceito da Lei

Complementar nº 101/2000.

§ 2º A aplicação do disposto nesta Lei independe do regime jurídico ao qual será submetido o servidor aprovado após a nomeação.

§ 3º Não se submetem a esta Lei, sendo regidos pelos respectivos editais, observados os dispositivos constitucionais que lhes sejam aplicáveis:

I – os concursos públicos promovidos por empresas públicas e sociedades de

economia mista não dependentes de recursos públicos;

II – os processos seletivos para admissão de servidores contratados temporariamente, nos termos do inciso IX do art. 37 da Constituição e da legislação pertinente;

III – os processos seletivos públicos para admissão dos agentes descritos no § 4º do art. 198 da Constituição e da legislação pertinente. (grifos nossos).

As empresas públicas dependentes, que na LC nº 101/2000 recebem a terminologia de empresas estatais dependentes, são as empresas públicas e sociedades de economia mista que recebem do ente controlador recursos financeiros para pagamento de despesas com pessoal ou de custeio em geral ou de capital (orçamentos fiscal e da seguridade social), à exceção daqueles provenientes de aumento de participação acionária.

Infere-se do exposto que, ao se separar as empresas públicas e as sociedades de economia mista em parágrafo à parte, o conceito de Administração Pública Indireta, estabelecido no caput do artigo, compreenderia tão somente as autarquias e fundações públicas.

Segundo trabalho de Laércio Mendes Vieira82, um dos ganhadores do VII Prêmio SOF de Monografias 2014, idealizado pela Secretaria de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em parceria com a Escola de Administração Fazendária – ESAF, o conceito de empresa estatal dependente típica pode ser resumido como ―empresa

82VIEIRA, Laércio Mendes. EMPRESAS ESTATAIS E TRANSPARÊNCIA ORÇAMENTÁRIA: Casos de

Informação Parafiscal e Extraorçamentária. 2014. p. 21. Disponível em:

<http://www.esaf.fazenda.gov.br/assuntos/premios/premios-1/ix-premio-sof-de-monografias/monografias- premiadas-em-edicoes-anteriores-premio-sof> Acesso em: 02 mar. 2016.

pública ou sociedade de economia mista que não pertença ao setor financeiro, que não seja exploradora de atividade econômica e que não tenha seu capital aberto”.

Desta forma, ao se utilizar de uma terminologia própria da Lei de Responsabilidade Fiscal, que nos dizeres de Marçal Justen Filho83 ―adotou uma outra distinção para diferenciar o regime jurídico das entidades da Administração indireta‖, acabou o legislador por limitar a abrangência da lei, excluindo, consequentemente, de sua incidência, as empresas estatais beneficiadas apenas com orçamento de investimento (empresas não dependentes), a exemplo da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Petrobrás, Eletrobrás, dentre outras elencadas em tabela elaborada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão84.

O PL, ao ser submetido posteriormente à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania – CCJC, sofreu nova alteração na redação do seu art. 1º, excluindo a sua incidência sobre os concursos públicos promovidos pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, uma vez que à União somente compete regulamentar os concursos na sua esfera, sob pena de violação do pacto federativo, corroborando nesse sentido com os ensinamentos de Gasparini85:

O mesmo ocorreu com alguns Estados e Municípios, pois cada ente federado

legisla nessa matéria com liberdade, respeitando apenas a Constituição Federal e

os pertinentes princípios jurídicos. Nesse particular, Celso Antônio Bandeira de Mello (Regime dos Servidores da Administração Direta e Indireta. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 1995, p. 69) ao discutir a natureza da lei a que se refere o inc. II do art. 37 da Constituição Federal, para saber se se trata de lei federal ou de lei de cada

um dos entes federados para dispor sobre tais investiduras, acentua que: ―Estamos em que a segunda alternativa é a correta, não só pelas respectivas autonomias na organização dos próprios serviços, quanto pelo fato de que o dispositivo em causa não haver estabelecido a restrição óbvia – se o desejasse –, caso em que mencionaria lei federal. Como não o fez, há de prevalecer a regra – não exceção –,

ainda que se pudesse preferir solução diversa‖. (grifos nossos).

Todavia, mantiveram em seu texto os conceitos de empresas estatais dependentes e não dependentes para reforçar o âmbito da sua incidência:

Art. 1º Os concursos públicos promovidos por órgãos e entidades da

administração direta e indireta de qualquer dos poderes da União são regidos

pelas normas gerais desta Lei e pelos respectivos editais.

83

FILHO, Marçal Justen. Curso de Direito Administrativo. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 183.

84 MPOG. Empresas Estatais com Orçamento de Investimento. Disponível em:

http://planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/dest/empresas_estatais/140911_empresas_orc_invest_gr upo.pdf/view Acesso em: 02 mar. 2016.

85

GASPARINI, Diógenes. Concurso Público – Imposição Constitucional e Operacionalização. In: MOTTA, Fabrício (Coord.) Concurso Público e Constituição. 1ª edição. 2ª tiragem. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2007, p. 21-22.

§1º Aplica-se o disposto nesta Lei aos concursos efetivados no âmbito das

empresas estatais dependentes, assim definidas conforme o art. 2º, III, da Lei

Complementar nº 101/2000.

§2º A aplicação do disposto nesta Lei independe do regime jurídico ao qual será submetido o servidor aprovado após a nomeação.

§3º Não se submetem a esta Lei, sendo regidos pelos respectivos editais, observados os dispositivos constitucionais que lhes sejam aplicáveis:

I – os concursos públicos promovidos por empresas públicas e sociedades de

economia mista não dependentes de recursos públicos;

II – os processos seletivos para admissão de servidores contratados temporariamente, nos termos do inciso IX do art. 37 da Constituição e da legislação pertinente;

III – os processos seletivos públicos para admissão dos agentes descritos no § 4º do art. 198 da Constituição e da legislação pertinente. (grifos nossos).

Portanto, apenas os órgãos e entidades da Administração Direta da União, as autarquias e fundações públicas federais e as empresas estatais dependentes terão que se submeter aos regramentos da lei geral de concursos públicos, ficando as empresas estatais não dependentes regidas apenas por seus editais. A título informativo registre-se que o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão disponibiliza em sua página eletrônica a relação de empresas estatais dependentes do Tesouro Nacional, consoante quadro abaixo:

Quadro 4 – Empresas Dependentes do Tesouro Nacional

Nome da Empresa Sigla da Empresa

Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. - AMAZUL AMAZUL

Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada - S.A. - CEITEC CEITEC

Companhia Brasileira de Trens Urbanos - CBTU CBTU

Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - CODEVASF

CODEVASF

Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais - CPRM CPRM

Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB CONAB

Empresa Brasil de Comunicação S.A. - EBC EBC

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA EMBRAPA

Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares - EBSERH EBSERH

Empresa de Pesquisa Energética - EPE EPE

Empresa de Planejamento e Logística S.A. - EPL EPL

Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. - TRENSURB TRENSURB

Hospital de Clínicas de Porto Alegre - HCPA HCPA

Hospital Nossa Senhora da Conceição S.A. - CONCEIÇÃO CONCEIÇÃO

Indústria de Material Bélico do Brasil - IMBEL IMBEL

Indústrias Nucleares do Brasil S.A. - INB INB

Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A. - NUCLEP NUCLEP

VALEC - Engenharia, Construções e Ferrovias S.A. VALEC

MP/DEST 22/02/2016

Fonte: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Disponível em:

(http://planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/dest/empresas_estatais/160225_empresas-dependente- tesouro-nacional.pdf/view)

Isto posto, verifica-se que os concursos públicos para o ingresso nas carreiras do Magistério Federal realizados pelas Universidades Federais, na qualidade de autarquias federais, enquadrar-se-ão nos regramentos da futura legislação.

Nas disposições preliminares também são destacados os seguintes pontos:

 Necessidade de observância dos princípios jurídico-constitucionais, em especial os da vinculação ao edital (art. 1º, § 4º), da publicidade, da competitividade e o da seletividade (art. 2º), conforme já ressaltado no Capítulo 3;

 Proibição de abertura de concurso público para cadastro de reserva (art. 3º), ou seja, sem vagas imediatas para provimento, estando em consonância com os princípios constitucionais, mormente os da motivação e da moralidade. Da motivação, pois a abertura de concurso público pressupõe a necessidade de contratação imediata e existência de código de vaga, de modo a não incorrer em desvio de finalidade. A moralidade é mitigada em caso de não surgimento de código de vaga durante a validade do certame, ocasionando locupletamento ilícito pela Administração, em decorrência dos valores pagos a título de inscrição dos candidatos. Entretatnto, convém destacar que o Decreto nº 6.944/2009, em seu art. 12, prevê a possibilidade de abertura de concurso para cadastro de reserva em caráter excepcional e para cargos cujas atividades sejam de natureza administrativa ou de apoio técnico operacional;

 Prevê a escolha da banca organizadora por meio de processo de licitação (art. 4º), sendo o assunto melhor detalhado na Seção II (art. 10);

 Tipifica ilícitos administrativos graves em decorrência da prestação de informações relativas ao certame, derivados dos princípios da publicidade e da eficiência;

 Previsão expressa do princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição para todos os atos do concurso;

 Define o prazo de validade do concurso em até 2 (dois) anos, prorrogável uma vez por igual período, tendo o candidato aprovado no número de vagas estabelecidas em edital o direito líquido e certo à nomeação, coadunando-se com o princípio da vinculação ao instrumento editalício. Com relação aos candidatos aprovados além do número de vagas estabelecidas em edital, terão apenas o direito subjetivo de nomeação, sendo a matéria melhor esmiuçada no tópico 6.15 deste trabalho.