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Como já mencionamos, os anos de 1972 e 1973 foram de muita proclamação e expansão da visão do discipulado através de viagens e conferências. Em 1974, porém, começaram a surgir problemas tanto na Argentina quanto nos EUA. Na Argentina surgiram os problemas menci­ onados acima. Nos EUA a mensagem do discipulado causou uma explo­ são semelhante à que seria produzida atirando-se um fósforo num de­ pósito de gasolina. Inicialmente parecia ser a resposta ideal para a ca­ rência que milhares de carismáticos sentiam de disciplina, aliança e desenvolvimento em maturidade. Devido a vários fatores, porém (como

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entusiasmo dos americanos em aplicar idéias novas em grande escala, pessoas imaturas ocupando posições de autoridade, ênfase exagerada na cadeia de comando dentro do discipulado, “embriaguez” com os fantásticos sucessos iniciais em termos da expansão numérica do movi­ mento levando à arrogância, e a tendência natural das igrejas atoladas no “status quo” de atacarem qualquer movimento revolucionário), logo surgiu um grande conflito entre os carismáticos com muitas acusações, difamações, mentiras e exageros.

Dada esta situação nos EUA, os irmãos na Argentina acharam mais sábio deixar de viajar por um tempo e dedicar-se mais à prática

local. Depois puderam constatar que esta decisão foi de muita valia para

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desenvolvim ento prático da visão. Perceberam que a visão do discipulado ainda estava numa fase experimental quando fora divulgada nos EUA e em outros lugares e que muitos ajustes precisavam ser feitos. Devido à natureza mais desconfiada do povo argentino, o sistema de discipulado expandia mais lentamente do que nos EUA, e isto foi bom porque deu tempo de evitar extremos e desequilíbrios e, conseqüente­ mente, escândalos e polêmica.

Outra diferença entre o movimento na Argentina e nos EUA foi a ênfase que os pastores em Buenos Aires deram à xmidade entre todos os pastores em cada cidade, o que não era o caso nos EUA, onde havia cadeias distintas de autoridade e submissão na mesma cidade.

CONCLUSÃO

Se você já leu nosso livro “A História do Avivamento na Argenti­ na” ou outra literatura sobre o assunto, certamente concordará que a Argentina tem sido visitada por Deus com avivamentos multo expressi­ vos. 0 Movimento de Discipulado, porém, que acabamos de descrever, representa algo diferente. É verdade que começou como um verdadeiro avivamento a partir das reuniões de segunda-feira na casa de Albert Darling, que acabaram produzindo as reuniões de sábado dos diversos pastores que, mais tarde, foram usados por Deus para conduzir o movi­ mento. Entretanto, rapidamente ultrapassou as características de um avivamento, tornando-se um dos movimentos de reforma mais signifi­ cativos do século XX.

Segundo uma mensagem que Jorge Himitian ministrou num en­ contro naArgentina, em 1974, há três características da obra de Deus no mundo que provam que não é apenas avivamento que Deus deseja, e sim uma total restauração da igreja: 1) O Espírito Santo não está restau­ rando verdades isoladas, e sim recuperando o conjunto completo da verdade de Deus e do seu propósito; 2 ) Não está havendo movimentos locais ou isolados, e sim uma renovação universal que está ocorrendo em nossos dias; 3) Não se trata de uma simples recuperação de concei­ tos ou teorias, e sim de que o Senhor está movendo para levantar um povo para sl, capaz de encarnar estas verdades. Isto significa que, mais

que crer ou anunciar uma verdade, o Senhor quer levar-nos à necessi­ dade de experimentá-la e encarná-la.

Com certeza, os irmãos naArgentina não alcançaram uma restau­ ração plena da doutrina e prática apostólica, e eles seriam os primeiros a concordar com isto. No epílogo do livro “Tiem pos de Restauracíón” , Orville Swindoll diz: “Humildemente cremos que temos uma contribui­ ção a fazer para o presente processo de restauração da igreja. Entretan­ to, reconhecemos que necessitamos das contribuições de outras partes da igreja que estão experimentando uma renovação espiritual.” '“*

Gostaríamos de sugerir aqui, em síntese, três deficiências bási­ cas que im pediram a tentativa de reforma naArgentina de alcançar di­ mensões apostólicas, essenciais para a restauração total da igreja.

1) A /alta da revelação da gra ça de Deus. Jesus não pregou so­ bre a graça. Ele proclamava palavras duras! Mas ele era a graça de Deus. Se quisermos obedecer aos mandamentos de Jesus, teremos de entender e aceitar sua graça. Não é possível formar discípulos ou obedecer à Palavra de Deus nas nossas vidas sem ser através da pura graça de Deus, sem ne­ nhuma mistura de esforço humano (Rm 8:2-4; G15:4-5).

Apesar de os evangélicos, de m odo geral, possuírem uma fé teó­ rica nesta graça, ninguém está demonstrando o poder de uma verdadei­ ra revelação dela na prática hoje. Os irmãos na Argentina, ao reagirem contra a “graça barata” tão predominante no meio evangéUco hoje, toca­ ram em pontos de equilíbrio vitais ao enfatizarem o senhorio de Cristo e os princípios do discipulado. Mas, para voltarmos à autêntica vida cristã demonstrada na primeira igreja, precisamos de algo mais do que isto. Necessitamos da revelação da graça de Deus no m esmo nível que os apóstolos (principalmente Paulo) receberam e proclamaram. Somen­ te graça pura levará à obediência pura!

2) A ausência de um a ênfase na verdad eira com unhão do

E sp írito Santo. Cremos que a comunhão entre o Pai e o Filho na Divin­

dade é

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Espírito Santo, e que esta comunhão do Espírito forma o corpo de Cristo (I Co 12:13). Se dermos ênfase à obediência à Palavra por um lado, ou à liberdade no exercício dos dons do Espírito, por outro lado, sem cultivarmos assiduamente a comunhão no E spírito (que não é algo social ou superficial), teremos apenas um outro “movimento”,

com todas as limitações humanas, e não o corpo de Cristo. 0 Espírito Santo é uma pessoa, e ele precisa ter espaço em cada vida, relaciona­ mento e reunião. Não cremos que a obediência à Palavra de Deus ou a formação de discípulos será eíicaz sem este elemento da verdadeira comunhão (At 2:42; 2 Co 13:13; Fp 2:1).

Apesar de os irmãos naArgentina terem alcançado um admirável entendimento e prática do equilíbrio entre a Palavra escrita e o Espírito, mais uma vez notamos que falta algo para atingir a verdadeira doutrina apostólica. É possível escapar da rigidez e morte da letra e dos extremos e fanatismos do uso destemperado dos dons do Espírito e, mesmo assim, não alcançar a palavra viva (Hb 4:12). Não é suficiente misturar Moisés (a Palavra) e Elias (o Espírito) para produzir o evangelho. É necessário um terceiro elemento, Jesus (o evangelho encarnado — Mt 17:1-5).

Não dispomos de tempo ou espaço para discorrer sobre isto aqui, mas cremos que este terceiro elemento hoje tem a ver com a comunhão do Espírito Santo mencionado acima. Esta comunhão existe, em poten­ cial, no meio da igreja hoje, mas o problema é que por não ser enfatizada, reconhecida ou esperada, ela íica sem ação ou expressão. Estamos tão ocupados em estudar, interpretar ou pregar a Palavra ou em buscar e exercer os dons do Espírito que não sobra espaço ou tempo para nutrir e desenvolver esta comunhão.

3) A p ro cu ra da unidazde do corpo de C risto na base da união dos p astores na localidade. Se por um lado isto pode trazer muitos

benefícios no sentido de quebrar barreiras denominacionais, orgulho, sectarismo etc., por outro lado pode cair no ecumenismo e no sacrifício da verdade em função da unidade. Apesar de precisarmos ser quebra­ dos em nossos preconceitos e “reinos próprios”, também precisamos tomar cuidado para não unirmos a igreja de uma maneira humana.

A verdadeira unidade do corpo de Cristo tem de ser centralizada na pessoa de Cristo. À medida que cultivamos a comunhão do Espírito eoesp írito (n ã oa letra ) d aPalavra(2 Co 3:6), o Cristo vivo se revelará em nosso meio (Mt 18:20) e sua igreja será formada em cada localidade — um corpo, um Espírito, um Senhor (E f 4:4-5).

Ao ressaltar, porém, estes aspectos que, ao nosso ver, constituem deficiências, não queremos de m odo nenhum depreciar o significado

das contribuições positivas que o mover de Deus naArgentina tem para nos oferecer. Em prim eiro lugar, precisamos dizer que estes aspectos que estão faltando na visão dos irmãos naArgentina também estão fal­ tando de m odo geral na igreja no mundo. Em segundo lugar, é certo que qualquer prosseguimento na obra de restauração da igreja hoje depen­ derá da Incorporação dos princípios fundamentais proclamados pelos irmãos, tais como: 0 evangelho do reino, o senhorio de Cristo, os prin­ cípios gerais do discipulado (não uma cadeia humana de autoridade, mas os princípios que Jesus aplicou ao discipular os doze), a restaura­ ção da normalidade divina para toda a vida do homem (família, empre­ go etc. — não apenas a vida religiosa) e o alvo de Deus de unir sua igreja na terra para que o mundo creia (Jo 17:21-23).

C a p ítu lo 9

O MOVIMENTO DE