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A China é basicamente uma nação camponesa ligada à tradição, especialmente a do Confucionismo. Havia um forte elo entre governante e súdito, pai e filho, marido e esposa. Em bora Mao se propusesse a melhorar a sorte dos camponeses, ele sentiu que esses laços, junto com os laços da religião, capitalismo e autocracia, eram os maiores obstácu­ los para estabelecer uma nova sociedade marxista, e assim decidiu des­ truí-los. Para isso conclamou sua famosa Revolução Cultural em 1966,

que acabou se tornando um dos fatores mais importantes para o mover de Deus na Chtaa.

Por não confiar no exército nem no partido, Mao convocou um mi­ lhão de jovens, os chamados Guardas Vermelhos, e os comissionou para viajar através da nação destruindo velhos conceitos, costumes e hábitos, esmagando tudo o que suspeitassem estar tomando um rumo capitalista.

A revolução tornou-se praticamente um “quebra-quebra” . Casas foram saqueadas, velhos foram abusados, pessoas inocentes condenadas. Os jo v e n s G u ard a s V erm elh o s eram , m u itas ve ze s, to ta lm en te indisciplinados. É dito que um milhão de bebês ile^timos nasceram du­ rante este período. Obras de arte de valor incalculável foram destruídas. Embora a Revolução Cultural fosse o período mais difícil para os cristãos chineses, desde a tomada comunista em 1949, a igreja da China esteve sob perseguição. Os comunistas tornaram bem claro que o novo regime não queria nada com missionários e, no início de 1952, todos eles, exceto os católicos romanos, tinham deixado o país. Muitos líde­ res cristãos chineses que não concordaram em apoiar a igreja oficial controlada pelo Movimento Patriótico de TrípUce Autonomia (programa do governo para controlar a igreja que pregava governo, sustento e dis­ seminação autônomos), foram para a prisão (entre eles Watchman Nee). Mas, sem dúvida, a pior fase veio com a Revolução Cultural, es­ pecialmente quando os jovens Guardas Vermelhos estiveram no contro­ le ( 1966-69). Porém, todo o processo durou 10 anos, presidido no final pela “ Gangue dos Quatro”. No final, todas as igrejas, até m esmo as que estavam sob a autoridade do Movimento de Tríplice Autonomia e todos os outros prédios religiosos (os tem plos e lugares sagrados do Confucionismo e Budismo), foram fechados e até destruídos. No meio desta revolução, Jiang Qing, esposa de Mao e líder da “Gangue dos Quatro”, declarou: “0 Cristianismo na China foi colocado num museu. Não existem mais cristãos na China.”

Wang Mingdao, líder na época da maior igreja em Pequim, fora constantemente uma pedra no sapato dos comunistas. No início, as au­ toridades tinham dificuldade em achar uma acusação contra ele. Ele se recusara a freqüentar um seminário, por sentir que era dominado pelos missionários, e nunca fora ordenado ou sustentado financeiramente pelos missionários estrangeiros. Como Watchman Nee, ele multas vezes criti­

cava os métodos dos missionários ocidentais. Sua única formação para

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ministério viera do Espírito Santo. Como um homem de Deus, os comunistas não podiam achar falta nele.

Talvez Wang tenha pregado para mais chineses do que qualquer outro homem. Sua igreja estava sempre lotada e muitas vezes havia mil ou mais pessoas do lado de fora para ouvir a palavra que era transmiti­ da por alto-falantes. No dia do seu julgamento, toda sua congregação foi forçada a assistir. Ele foi acusado de ser contra o governo, contra o Movimento Patriótico de Tríplice Autonomia, e de pregar mensagens erradas. Ura quarto dos cristãos e outros presentes, por causa da pres­ são da igreja oficial, pediu a sentença de morte. Não foi dada a ele nenhuma oportunidade de se defender, mas tão forte era o sentimento público em seu favor que as autoridades foram forçadas a libertá-lo.

Mais tarde, ele foi novamente levado a julgamento. Embora nunca falasse contra o regime, Wang criticou destemidamente os clérigos de te­ ologia liberal e os que participavam do Movimento de Tríplice Autonomia, aos quais ele acusou de trair a Cristo. Ele recebeu uma sentença de 15 anos de prisão e imediatamente foi submetido ao processo de reeducação co­ munista. Dois turnos de “experts” policiais trabalharam com ele dia e noite. Depois de treze meses de tortura mental, ele cedeu e assinou uma confis­ são, que teve de ler publicamente para uma grande audiência. Sua capitula­ ção virou manchete nas páginas de todos os jornais: “Eu sou um criminoso anti-revolucionário. Estou grato ao governo por perdoar-me e salvar-me das profundezas do pecado...”, e assim por diante.

Poucos dias depois da sua libertação, ele foi visto caminhando para baixo e para cima nas ruas de Pequim gritando: “Eu sou um Judas, eu traí meu Senhor.” Na verdade, sua confissão não envolvera uma negação de Cristo. Poucos dias depois, quando o equilíbrio de sua mente foi restaura­ do, ele foi com sua esposa para as autoridades governamentais e retirou sua confissão. “Prendam-me se quiserem”, ele disse, “mas não trairei meu Senhor.” Imediatamente ele foi enviado de volta para a prisão junto com sua esposa e lá este corajoso homem de Deus permaneceu vinte e dois anos de sua vida, sendo libertado somente em 1980 com 80 anos de idade.

Experiências desse tipo se repeüram muitas vezes na história da igreja da China Vermelha. Muitas histórias nunca foram contadas. Os santos que sofreram não eram todos líderes e muitos nomes nunca vira-

ram manchetes. Através da longa noite escura, eles nunca vacilaram em sua lealdade a Cristo.

Em Julho de 1976, Mao Tsé-tung, o homem que fora idolatrado e cujos pensamentos do Llvrinho Vermelho se tornaram a bíblia do povo chinês, morreu, deixando uma nação desanimada e desiludida. Eis as palavras de um jovem escritas num dos jornais chineses:

“A palavra ‘amanhã’ tem sido uma palavra de grande fascínio para

mim. Quando eu estava na escola primária, o ‘Grande Salto Para Frente’ (política lançada por Mao para industrializar o país rapidamente) era o sonho do amanhã; nós viveríamos felizes em prosperidade. Mas o que conseguimos? Desastres!

“Depois veio a Revolução Cultural: o amanhã significava total li­ beração e que nós conquistaríamos o mundo. 0 que conseguimos? De­ sastre! Agora os jovens da China podem apenas aprender esta lição: Não espere muito! Não seja otimista! Não pense no amanhã!”