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Declaração de inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (artigo 102, inciso III, alínea “b”, da Constituição)

3 – REPERCUSSÃO GERAL

3.6. Repercussão geral presumida (artigo 543-A, §1º, do CPC)

3.6.2. Situações em que há maior probabilidade de reconhecimento da repercussão geral

3.6.2.4. Declaração de inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (artigo 102, inciso III, alínea “b”, da Constituição)

Dentre as hipóteses de cabimento do recurso extraordinário previstas no artigo 102, inciso III, da Constituição, está a interposição de recurso contra a decisão que declarou a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal. Trata-se de uma solução drástica prevista no sistema de controle de pesos e contrapesos do direito brasileiro: a declaração, pelo Poder Judiciário, de inconstitucionalidade de uma lei editada pelo Poder Legislativo ou de um tratado por ele ratificado, por meio de Decreto-legislativo288.

No direito argentino, as demandas envolvendo a declaração de inconstitucionalidade de uma norma são entendidas como transcendentes pela Suprema Corte Argentina, para fins de admissibilidade do recurso extraordinario. Trata-se da hipótese de gravedad institucional vista no capítulo 2. E também a Suprema Corte Americana reconhece, em diversos precedentes, a necessidade de admissibilidade do writ

of certiorari quando os tribunais inferiores declaram a inconstitucionalidade de uma lei federal289.

Com relação à repercussão geral, há precedentes do STF em que os Ministros mencionam que haveria repercussão geral em todas as hipóteses de interposição do recurso extraordinário com fundamento no artigo 102, inciso III, alínea “b”, da Constituição:

entendo ficar configurada a repercussão geral toda vez que é proclamada a inconstitucionalidade de ato normativo na origem,

287 Barbosa Moreira, Ações Coletivas na Constituição Federal de 1988, p. 188-189.

288 “O controle de constitucionalidade configura-se, portanto, como garantia da supremacia dos direitos e

garantias fundamentais previstos na Constituição que, além de configurarem limites ao poder do Estado, são também uma parte da legitimação do próprio Estado, determinando seus deveres e tornando possível o processo democrático em um Estado de Direito” (Alexandre de Moraes, Direito constitucional, p. 719).

vindo o recurso extraordinário a ser interposto a partir da alínea b do inciso III do artigo 102 da Constituição Federal, a revelá-lo adequado quando declarada inconstitucionalidade de tratado ou lei federal290.

Nesta linha, Pedro Miranda considera que também a hipótese do artigo 102, inciso III, alínea “b”, da Constituição deve ser objeto de presunção de repercussão geral, pois seria inconcebível que “determinado dispositivo de lei federal estivesse em vigor em todo o País, menos na Região Sul, diante da declaração de inconstitucionalidade proferida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região”291. No que é seguido por Bruno Dantas, para quem a “repercussão geral é imanente”292 diante de tais situações.

Porém, embora seja forçoso reconhecer que a declaração de inconstitucionalidade de uma lei federal ou tratado tende a justificar a relevância sob, no mínimo, o aspecto jurídico, entendemos que continua se tratando da mesma presunção já existente sobre toda e qualquer questão constitucional. Apesar da relevância jurídica em tese, pode-se questionar, por exemplo, a sua transcendência. Eventualmente, o Supremo poderá também recusar a repercussão geral sob o fundamento de já ter decidida questão semelhante em sede de controle concentrado.

Como mencionado pelo próprio Ministro Marco Aurélio, no RE 611.639 acima mencionado:

a par desse aspecto (‘entender configurada a repercussão geral toda vez que é proclamada a inconstitucionalidade de ato normativo na origem’), há o interesse jurídico a repercutir em inúmeras situações. O Tribunal de Justiça declarou a inconstitucionalidade do § 1º do artigo 1.361 do Código Civil, presente o artigo 236 da Constituição Federal, e assentou a obrigatoriedade de gravames a incidirem sobre veículos automotores serem levados a registro no cartório de títulos e documentos.

Tanto é assim que no julgamento de admissibilidade do RE 614.406, de relatoria da Ministra Ellen Gracie, cujo entendimento posteriormente foi reiterado no RE 612.232 e no RE 669.196, este último relatado pelo Ministro Dias Toffoli, a Corte decidiu que a decisão do tribunal de origem pela declaração de inconstitucionalidade de tratado ou lei federal evidencia o caráter constitucional da questão levada ao Supremo. No entanto, para justificar o reconhecimento da repercussão geral nestes precedentes, os Ministros apresentaram circunstâncias outras que não somente a própria hipótese de cabimento do

290 RE 611.539, Rel. Ministro Marco Aurélio, j. 9.12.2010. 291 Pedro Miranda, Recurso extraordinário, p. 316. 292 Bruno Dantas, Repercussão geral, p. 258.

recurso: “reconhecida a relevância jurídica da questão, tendo em conta os princípios constitucionais tributários da isonomia e da uniformidade geográfica”293.

Os três precedentes acima citados envolviam a reapreciação da Corte a respeito da repercussão geral de questões que, anteriormente, haviam sido entendidas como desprovidas de tal pressuposto de admissibilidade, uma vez que tratavam da interpretação de normas infraconstitucionais. Os recursos extraordinários que deram ensejo a essas primeiras decisões estavam fundamentados no artigo 102, inciso III, alínea “a”, de nossa Carta Magna. Posteriormente, as respectivas normas infraconstitucionais foram declaradas inconstitucionais pelos tribunais de origem, possibilitando a interposição de recursos extraordinários com fundamento no artigo 102, inciso III, alínea “b”.

Ora, em síntese, o que os Ministros decidiram foi que tal circunstância nova seria apta a possibilitar novo julgamento pelo STF sobre o tema, até porque, com tais decisões reconhecendo a inconstitucionalidade de lei federal, restava finalmente caracterizada uma questão constitucional294.

Todavia, a relevância e transcendência destas questões constitucionais não estão automaticamente reconhecidas. Por isso a fundamentação apresentada nos respectivos votos, pelo reconhecimento da repercussão geral e mencionando os princípios constitucionais tributários da isonomia e da uniformidade geográfica como evidenciadores da relevância jurídica das questões tributárias ali discutidas. Enfim, não há uma relação necessária entre tal hipótese de cabimento do recurso extraordinário e o instituto da repercussão geral. Até porque, como defendemos no presente trabalho, apenas a lei poderia assim determinar.

293 STF, Pleno, RE 614.406, j. 20.10.2010. Consta, ainda, da ementa: “a interposição do recurso

extraordinário com fundamento no art. 102, III, b, da Constituição Federal (...) constitui circunstância nova suficiente para justificar, agora, seu caráter constitucional e o reconhecimento da repercussão geral da matéria”.

294 No RE 669.196: “Realmente, aqui estamos a tratar de resolução que inova na ordem jurídica, uma vez que

dispôs de forma primária sobre a exclusão do REFIS, sem intermediação de lei. Nesses casos, a Corte tem admitido o controle de constitucionalidade. Diante do exposto, considerando que a superveniência de declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo por Tribunal regional retira do mundo jurídico tais normas - ao menos pra efeito de aplicação no seu âmbito territorial continuando essas válidas e aplicáveis nas demais regiões do país. Na esteira do precedente consubstanciado no RE nº 614.406, manifesto-me pela existência de questão constitucional, bem como reconheço a repercussão geral da questão constitucional suscitada”.

Ressalva-se, entretanto, o posicionamento do Ministro Marco Aurélio, que em mais de uma oportunidade afirmou entender que todo recurso extraordinário fundamentado no artigo 102, inciso III, alínea “b”, da Constituição, é provido de repercussão geral295.

3.6.3. Artigo 324, §2º, do RISTF: hipótese de presunção de inexistência de

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