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Meios de impugnação ao sobrestamento

5 – JULGAMENTO DE RECURSOS MÚLTIPLOS – ARTIGO 543-B DO CPC

5.6. Meios de impugnação ao sobrestamento

A legislação processual e regulamentar a respeito do julgamento por amostragem não previu qualquer remédio contra a decisão que incorretamente determinar o sobrestamento de algum recurso.

Apesar disso, segundo José Miguel Garcia Medina, “havendo sobrestamento indevido da tramitação de algum recurso extraordinário pela presidência do tribunal a quo, deverá ser admitido agravo de instrumento para o STF (cf. artigo 544 do CPC)”381. Posição seguida por Luiz Rodrigues Wambier, Teresa Arruda Alvim Wambier382, Pedro Miranda de Oliveira383, Bruno Dantas384 e Carolina Brambila Bega385.

381 José Miguel Garcia Medina, Prequestionamento e repercussão geral, p. 347.

382 Luiz Rodrigues Wambier, Teresa Arruda Alvim Wambier e José Miguel Garcia Medina, Breves comentários, p. 251.

383 Pedro Miranda de Oliveira, Recurso extraordinário, p. 366. 384 Bruno Dantas, Repercussão geral, p. 347.

Aliás, Bruno Dantas considera que, se houver sobrestamento indevido de agravo, então será cabível um novo agravo, desta vez com a finalidade de dar prosseguimento ao primeiro agravo, e não ao recurso extraordinário inadmitido386.

Distintamente, Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero mencionam que, antes da interposição de agravo, “acaso determinado recurso seja sobrestado de maneira equivocada, a solução está em requerer-se, diretamente ao Tribunal de origem, demonstrando-se a diferença entre as controvérsias, via agravo regimental”387.

Adotando um terceiro posicionamento, Fredie Didier Junior e Leonardo José Carneiro concluíram que, “ao determinar o sobrestamento, o Presidente do Tribunal de origem restou por impedir o encaminhamento do caso para o STF. Cabível, então, a reclamação constitucional”388. No entanto, ressalvam, “em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas”, a possibilidade de se admitir “o agravo de instrumento (CPC, art. 544), ou, até mesmo, a medida cautelar, da mesma forma que sucede com a retenção ordenada indevidamente (CPC, art. 542, §3º)”389.

Por fim, considerando válidos todos os posicionamentos acima, Guilherme Beux Nassif Azem opina pela admissibilidade de medida cautelar, de reclamação, de agravo e também de simples petição, dirigidos ao STF. Para chegar a tal conclusão, recorre a “uma interpretação sistemática”, buscando, “por similitude, a solução encontrada para os casos de retenção do recurso extraordinário, prevista no artigo 542, §3º, do CPC”. Solução também apontada como correta por Eduardo Talamini, o qual salienta que “a parte apenas tem do direito de atacar a indevida suspensão do andamento recursal, amparada na diversidade entre a questão versado no recurso-amostra e aquela veiculada no seu recurso”390.

O Supremo, todavia, não tem admitido qualquer meio de impugnação judicial de tal decisão que seja direcionado à Corte, remetendo as partes sempre ao próprio órgão que proferiu a decisão de sobrestamento. De acordo com a fundamentação destes precedentes, não há previsão legal de recurso nestes casos, sendo que o sobrestamento e a inadmissão são provimentos distintos, com consequências também distintas, de modo que incabível a interposição do agravo previsto no artigo 544 do CPC. Ademais, a jurisdição da Corte

386 Bruno Dantas, Repercussão geral, p. 347.

387 Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, Repercussão geral, p. 71. 388 Fredie Didier Junior e Leonardo José Carneiro, Curso, v. 3, p. 339. 389 Ibdem.

apenas se iniciaria com a manutenção de decisão contrária ao entendimento firmado no julgamento de repercussão geral, conforme artigo 543-B, §4º, do CPC. Assim, o simples sobrestamento de um recurso extraordinário seria medida estranha ao conhecimento do STF391.

Todavia, tais decisões parecem estar fundadas muito mais em razões de ordem prática do Tribunal do que na técnica processual. Ora, instituído um procedimento para amenizar a enorme quantidade de recursos julgada pela Corte, mediante a possibilidade de julgamentos por amostragem, realmente seria infrutífero se admitir recursos em cada um destes processos, apenas substituindo a causa de pedir recursal: em vez da reforma do acórdão, por contrariedade a dispositivos constitucionais, a reforma das decisões sobre a

391 “Bem examinados os autos, verifico a manifesta inadmissibilidade desta ação reclamatória. Consigno,

inicialmente, que o sobrestamento do recurso extraordinário na origem é medida regularmente instituída pela sistemática da repercussão geral. A remessa do RE sobrestado ao Supremo Tribunal Federal somente encontra cabimento caso, após julgado o mérito do recurso paradigma, o tribunal de origem não venha a se retratar, conforme dispõem o art. 543-B do Código de Processo Civil e o art. 328-A do Regimento Interno desta Corte. Nesse mesmo sentido, confira-se a Rcl 12.127/SP, de minha relatoria. Ademais, o Supremo Tribunal Federal já se pronunciou, em mais de uma oportunidade, pelo não cabimento da reclamação ajuizada com o específico propósito de corrigir eventuais equívocos na aplicação, pelos Tribunais, do instituto da repercussão geral. Asseverou o Plenário, no julgamento da Rcl 7.569/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, e do AI 760.358-QO/SE, Rel. Min. Gilmar Mendes, que a correção de possíveis desacertos deve ser realizada pelo próprio Tribunal de origem, ‘seja em juízo de retratação, seja por decisão colegiada’, já que ‘não está exercendo competência do STF, mas atribuição própria’ (grifei). Esse posicionamento foi posteriormente ratificado pelo Plenário desta Casa no julgamento de diversos feitos, dos quais aponto os seguintes: Rcl 9.471-AgR/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes; Rcl 9.155-AgR/SP, Rel. Min. Ayres Britto; Rcl 11.250-AgR/RS, de minha relatoria; Rcl 12.124-AgR/PR, Rel. Min. Rosa Weber; Rcl 10.090-AgR/MA, Rel. Min. Dias Toffoli; Rcl 7.578-AgR/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa; Rcl 12.701-AgR/RJ, Rel. Min. Celso de Mello; e Rcl 15.165-AgR/MT, Rel. Min. Teori Zavascki. Os dois últimos precedentes citados possuem as seguintes ementas: ‘RECLAMAÇÃO - DECISÃO QUE NEGA TRÂNSITO AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO PORQUE NÃO RECONHECIDA A EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL DA MATÉRIA CONSTITUCIONAL NELE SUSCITADA - ALEGADA USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA DESTA SUPREMA CORTE - INOCORRÊNCIA - INADMISSIBILIDADE DO USO DA RECLAMAÇÃO COMO INSTRUMENTO DESTINADO A QUESTIONAR A APLICAÇÃO, PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, DO SISTEMA DE REPERCUSSÃO GERAL - PRECEDENTES FIRMADOS PELO PLENÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (RCL 7.547/SP, REL. MIN. ELLEN GRACIE - RCL 7.569/SP, REL. MIN. ELLEN GRACIE - AI 760.358-QO/SE, REL. MIN. GILMAR MENDES) - INCOGNOSCIBILIDADE DA RECLAMAÇÃO RECONHECIDA PELA DECISÃO AGRAVADA - LEGITIMIDADE - CONSEQUENTE EXTINÇÃO ANÔMALA DO PROCESSO DE RECLAMAÇÃO - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO’ (grifos meus). ‘CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DECISÃO DENEGATÓRIA DE SEGUIMENTO. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL DA MATÉRIA RECONHECIDA. NÃO CABIMENTO DE RECURSO OU RECLAMAÇÃO PARA O STF. 1. O Plenário desta Corte firmou o entendimento de que não cabe recurso ou reclamação ao Supremo Tribunal Federal para rever decisão do Tribunal de origem que aplica a sistemática da repercussão geral, a menos que haja negativa motivada do juiz em se retratar para seguir a decisão da Suprema Corte. Precedentes. 2. Agravo regimental a que se nega provimento’ (grifos meus). No presente caso, prevalece, com maior razão ainda, a orientação já consolidada nesta Casa quanto à inadmissibilidade da via reclamatória, tendo em vista a inexistência, na origem, de qualquer decisão colegiada sobre a questão deduzida nestes autos. Veja-se que o reclamante, para esse fim específico, sequer provocou o Conselho Especial do TJDFT mediante a eventual interposição de agravo interno. Isso posto, nego seguimento a esta reclamação, nos termos do art. 21, § 1º, do RISTF, ficando prejudicada, por conseguinte, a apreciação do pedido de medida liminar” (Rcl 16353/DF, Rel. Ministro Ricardo Lewandowski, j. 16.10.2013).

aplicação do próprio instituto. Tanto que é esta a ratio decidendi em diversos outros precedentes392.

Por outro lado, de forma coerente, o STF admite a interposição de embargos de declaração ou mesmo agravo regimental contra as decisões monocráticas de seus próprios Ministros, a respeito do sobrestamento agravos e recursos extraordinários393.

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