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Momento para decidir sobre a repercussão geral

3 – REPERCUSSÃO GERAL

4 PROCEDIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL 4.1 Preliminar no recurso extraordinário

4.2. Momento para decidir sobre a repercussão geral

Logo após a entrada em vigor da Lei nº 11.418/2006, houve algum debate sobre qual seria o momento correto de exame do requisito da repercussão geral, diante do silêncio legislativo. Questionava-se se o exame da repercussão geral deveria ser prévio ou posterior ao exame dos requisitos de admissibilidade do recurso extraordinário.

Para uma primeira corrente, a análise da repercussão geral deveria ser prévia à admissibilidade propriamente dita, em sentido técnico. O fundamento para tanto se encontrava no próprio texto constitucional, ao prever que o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais “a fim de que o Tribunal examine a contra a decisão que o inadmitiu na origem (13, V, c, e 327, caput e § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). 3. Cuida-se de novo requisito de admissibilidade que se traduz em verdadeiro ônus conferido ao recorrente pelo legislador, instituído com o objetivo de tornar mais célere a prestação jurisdicional almejada. 4. O simples fato de haver outros recursos extraordinários sobrestados, aguardando a conclusão do julgamento de ação direta de inconstitucionalidade, não exime o recorrente de demonstrar o cabimento do recurso interposto. 5. Agravo regimental desprovido”.

307 Em sentido contrário, posicionando-se favoravelmente à tese acolhida pelo STF no aludido precedente,

admissão do recurso”. Filiaram-se a essa corrente de entendimento Arruda Alvim308 e Rodolfo de Camargo Mancuso309.

Diferentemente, entendendo que a repercussão geral deveria ser decidida após a prévia avaliação da presença dos demais requisitos de admissibilidade, pois o contrário corresponderia a um procedimento demasiadamente desgastante ao STF, que poderia ter envidado esforço inútil de seu Pleno caso em seguida houvesse negativa de seguimento do recurso, manifestaram-se Elvio Ferreira Sartório, Flávio Cheim Jorge310, José Rogério Cruz e Tucci311, Clara Moreira Azzoni312 e Gláucia Mara Coelho313.

Analisando-se a questão de forma abstrata, antes do início da vigência da novel legislação, poderia se imaginar que o exame prévio da repercussão geral, caso fosse positivo, resultaria na perda de atividade dos Ministros na hipótese do recurso vir a ser julgado deserto ou mesmo intempestivo, não sendo raros os recursos extraordinários mensalmente inadmitidos pelo STF.

Todavia, todo o contexto normativo levou à (correta) interpretação de que o exame da repercussão geral deve ser realizado previamente ao exame dos requisitos de admissibilidade previstos na Constituição e na legislação processual314.

Em primeiro lugar, como já visto, a própria redação do texto constitucional leva à conclusão de que o exame deve ser prévio, pois será realizado a fim de admissão do recurso. E no artigo 543-B, §3º, do CPC foi inserida a exigência de arguição preliminar da repercussão geral.

Ademais, o exame da repercussão geral não gera efeitos apenas em relação ao recurso extraordinário em que houve o exame da questão constitucional, de forma que a sua eventual inadmissibilidade não resultará na perda de qualquer atividade por parte dos Ministros: (i) o Presidente do Supremo315 está autorizado a despachar, antes da distribuição, os recursos extraordinários e agravos cuja matéria tenha sido destituída de repercussão geral, segundo precedente do Tribunal (artigos 543-B do CPC e 327 do

308 A EC nº 45, p. 64.

309 Rodolfo de Camargo Mancuso, Recurso extraordinário, p. 185.

310 Elvio Ferreira Sartório e Flávio Cheim Jorge, O recurso extraordinário, p. 186. 311 José Rogério Cruz e Tucci, Anotações sobre a repercussão geral, p. 158. 312 Clara Moreira Azzoni, Recurso especial, p. 189.

313 Gláucia Mara Coelho, Repercussão geral, p. 108.

314 Rodolfo de Camargo Mancuso, Recurso extraordinário, p. 183-185.

315 De acordo com dados disponíveis no sítio eletrônico do STF, em 2007 foram devolvidos 348 processos

com fundamento no artigo 543-B do CPC. Em 2008, foram 11.202. Em 2011, totalizaram 24.237. De tal modo que, em janeiro de 2012, apontava-se redução de 71% no número de processos recursais distribuídos.

RISTF); (ii) igual competência caberá ao relator sorteado, quando o recurso não tiver sido liminarmente recusado pela Presidência (artigo 327, §2º, do RISTF); (iii) o Presidente do Tribunal a quo está autorizado a negar seguimento a recursos que tratem de questões cuja repercussão geral já tenha sido afastada pelo STF; e (iv) a divulgação dos temas já examinados em sede de repercussão geral gera inequívoco efeito dissuasório, desestimulando a interposição de novos recursos sobre os temas com repercussão geral já negada.

Diante das disposições normativas presentes na Constituição, no CPC e no RISTF, concluímos que a repercussão geral, tratando-se de mais um requisito de admissibilidade do recurso extraordinário, a princípio deveria ser examinada previamente aos demais pressupostos de admissibilidade, até porque este é o sentido do texto constitucional. Contudo, caso o ministro relator verifique a ausência de algum outro requisito de admissibilidade previamente ao exame da repercussão geral, negará seguimento de plano ao recurso, nos termos dos artigos 557 do CPC. Não há, segundo a nossa visão, um procedimento legal rígido para tanto, inexistindo prejuízo quanto à ordem de verificação dos vários pressupostos de admissibilidade exigidos, genéricos ou especiais, para o julgamento de mérito dos recursos extraordinários. Ademais, não se olvide que exigir o exame prévio da repercussão geral, de modo inflexível, seria procedimento contrário à razoabilidade e ao princípio da duração razoável dos processos, tendo em vista que o exame da repercussão geral é muito mais complexo e demorado que o exame dos demais requisitos de admissibilidade. E, em se tratando de questões de ordem pública, a inadmissibilidade do recurso poderá ser reconhecida de ofício e a qualquer tempo, até o julgamento definitivo.

De qualquer forma, atualmente o STF vem observando o procedimento previsto no artigo 323 de seu Regimento Interno, que prevê o juízo de repercussão geral posteriormente à prévia análise do Ministro Relator ou do Presidente sobre os demais pressupostos de admissibilidade. Ao assim estabelecerem no RISTF, os Ministros da Corte tiveram como objetivo evitar eventual desperdício de trabalho no exame de repercussão geral relativo a recurso extraordinário inadmissível.

Porém, como ponderado, parece que nessas situações não haveria exatamente “perda de tempo”, pois os julgamentos sobre a repercussão geral de temas constitucionais geram efeitos sobre muitas outras demandas, e não apenas sobre o recurso extraordinário

que inicialmente levou o debate à Corte. Contestável, portanto, a alegada economicidade no procedimento que vem sendo adotado pelo Supremo.

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