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Juízo de admissibilidade pelo órgão a quo

3 – REPERCUSSÃO GERAL

4 PROCEDIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL 4.1 Preliminar no recurso extraordinário

4.8. Juízo de admissibilidade pelo órgão a quo

De início, cabe esclarecer que se procedeu a uma pequena inversão de ordem no presente trabalho. Embora o juízo de admissibilidade do recurso extraordinário inicialmente passe pelo crivo do órgão a quo (normalmente pelo Presidente do Tribunal de origem), o presente capítulo se iniciou com a apresentação do julgamento da repercussão geral pelo Supremo Tribunal Federal, tendo em vista que as diferentes possibilidades de apreciação da repercussão geral na fase de admissibilidade perante o órgão a quo dependem da existência, ou não, de pronunciamento anterior do STF sobre o tema (em razão dos possíveis efeitos decorrentes dos precedentes deste último).

4.8.1. Previamente à manifestação do STF sobre a repercussão geral

Diante da competência exclusiva do Supremo para deliberar sobre a presença ou não de repercussão geral sobre as questões constitucionais do recurso extraordinário, não poderia, em hipótese alguma, haver tal decisão por parte do Presidente do Tribunal a quo ou do magistrado responsável pelo juízo de admissibilidade (no caso dos juizados especiais), sob pena de usurpação da competência do STF.

No entanto, caberá ao órgão jurisdicional a quo verificar, juntamente com os demais pressupostos formais de admissibilidade do recurso extraordinário, se o recorrente arguiu preliminar demonstrando a repercussão geral.

Como é evidente, tal juízo de mera verificação formal não se confunde com o julgamento do mérito da repercussão geral sobre dado tema. “Em outros termos, estará o

Presidente ou Vice-Presidente apenas controlando um requisito de admissibilidade do recurso extraordinário (formalidade), da mesma maneira que o faz em face dos demais pressupostos (tempestividade, preparo, etc.)”340.

E assim vem decidindo o Supremo Tribunal Federal, desde o julgamento da Questão de Ordem no AI 664.567, de relatoria do Min. Sepúlveda Pertence, em 18 de junho de 2007341:

inclui-se no âmbito do juízo de admissibilidade - seja na origem, seja no Supremo Tribunal - verificar se o recorrente, em preliminar do recurso extraordinário, desenvolveu fundamentação especificamente voltada para a demonstração, no caso concreto, da existência de repercussão geral (C.Pr.Civil, art. 543-A, § 2º; RISTF, art. 327). 2. Cuida-se de requisito formal, ônus do recorrente, que, se dele não se desincumbir, impede a análise da efetiva existência da repercussão geral, esta sim sujeita “à apreciação exclusiva do Supremo Tribunal Federal” (Art. 543-A, § 2º).

4.8.2. Após a manifestação do STF sobre a repercussão geral

Além do juízo de admissibilidade do recurso extraordinário nos termos do que foi dito acima, se já houver precedente do Pleno do Supremo a respeito da repercussão geral de determinado tema constitucional, o órgão a quo poderá deixar de admitir um recurso extraordinário por ausência de repercussão geral das questões debatidas, caso neste sentido seja o precedente.

Contudo, como se percebe, trata-se de mera repetição do quanto já decidido pelo STF, não se podendo dizer, neste caso, que o órgão a quo estaria usurpando competência constitucional reservada à Corte Constitucional. “Nesse caso, o tribunal a quo não estará propriamente apreciando a existência ou não da repercussão geral, mas sim reproduzindo o pensamento da Corte”342.

A norma do 5º do artigo 543-A, do CPC não se aplica apenas ao Presidente e Ministros do Supremo, mas também aos órgãos a quo, quando do juízo de admissibilidade: “negada a existência da repercussão geral, a decisão valerá para todos os recursos sobre

340 Pedro Miranda de Oliveira, Recurso extraordinário, p. 329.

341 A decisão foi reiterada em diversos outros precedentes, dentre os quais: STF, 1ª Turma, ARE 677042 AgR

/ SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Dje 19.12.2012.

matéria idêntica, que serão indeferidos liminarmente, salvo revisão da tese, tudo nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal”.

4.8.3. Recorribilidade da decisão do órgão a quo

Da decisão que inadmitir o recurso extraordinário, caberá recurso de agravo, dirigido ao próprio Supremo Tribunal Federal. Alterado pela Lei nº 12.322/2010, tal recurso, que antes da reforma era interposto na forma de instrumento, passou a ser apresentado nos próprios autos e doutrinariamente denominado de “agravo de admissão”. Será dirigido à presidência do tribunal de origem e continua isento de custas. O prazo é de dez dias, cujo termo inicial é a intimação do decisum impugnado.

Desta forma, parte da doutrina defendeu a possibilidade de interposição do agravo do artigo 544 do CPC contra a decisão do órgão a quo que nega seguimento ao recurso extraordinário com fundamento na ausência de repercussão geral sobre o tema debatido343.

Eduardo Talamini entende que, se o órgão a quo negar seguimento a recurso extraordinário usurpando a competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, ou seja, sob o fundamento de que a questão constitucional não apresenta repercussão geral, nas hipóteses em que isso não é permitido (o órgão a quo poderá negar seguimento apenas em razão da ausência de preliminar formal ou se já houver precedente do STF sobre o mesmo tema reconhecendo a inexistência de repercussão geral), poderá a parte interpor agravo (artigo 544 do CPC) ou então ajuizar reclamação (artigo 102, inciso I, da Constituição e artigo 13 da Lei nº 8.038/1990)344.

Entretanto, na Questão de Ordem no AI 760.358, o Supremo Tribunal Federal decidiu que apenas cabe eventual recurso para o próprio órgão a quo, sendo incabível eventual recurso ao STF para discutir a decisão do Presidente do Tribunal a quo que negou seguimento a recurso extraordinário com fundamento em decisão anterior da Corte sobre o tema: “não é cabível agravo do art. 544 do CPC ou reclamação da decisão do tribunal de origem que, em cumprimento ao disposto no § 3º do art. 543-B do CPC, aplica ao caso concreto a sistemática da repercussão geral”.

343 Neste sentido, Eduardo Talamini, Novos aspectos da jurisdição constitucional, p. 58. 344 Eduardo Talamini, Novos aspectos da jurisdição constitucional, p. 50.

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