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Deliberação eletrônica

3 – REPERCUSSÃO GERAL

4 PROCEDIMENTO DA REPERCUSSÃO GERAL 4.1 Preliminar no recurso extraordinário

4.4. Deliberação eletrônica

Como a finalidade da repercussão geral é justamente desafogar o STF, não seria tão producente exigir que o Plenário também se reunisse para deliberar sobre tal pressuposto de admissibilidade, pois nesta hipótese haveria inequívoca duplicidade das pautas, ao menos em relação a todos os recursos extraordinários que chegassem à Corte330.

328 “Havendo decisão monocrática (do Presidente da Corte Constitucional ou do relator) acerca da

repercussão geral, caberá agravo interno, pois o órgão competente para dar a última palavra sobre o assunto é o Pleno do STF” (Pedro Miranda de Oliveira, Recurso extraordinário, p. 341).

329 “Na hipótese de provimento, continuará a tramitar, de acordo com as regras pertinentes, aquele recurso,

que se submeterá oportunamente ao exame do órgão ad quem” (José Carlos Barbosa Moreira, Comentários, p. 686).

330 “Com o processamento eletrônico da repercussão geral, afastam-se os inconvenientes que seriam

Para contornar tamanho inconveniente, nos termos do artigo 323 do RISTF, a emenda regimental nº 21 introduziu a possibilidade de deliberação eletrônica dos Ministros, quanto à verificação da existência ou não de repercussão geral.

De acordo com o procedimento previsto, apenas a repercussão geral poderá ser objeto de deliberação eletrônica, de modo que qualquer outro fundamento para a inadmissibilidade do recurso extraordinário obrigatoriamente submeterá a sua apreciação em sessão plenária regular, fisicamente.

Não sendo o caso de inadmissibilidade do recurso por outra razão, o Ministro relator então “submeterá, por meio eletrônico, aos demais ministros, cópia de sua manifestação sobre a existência, ou não, de repercussão geral”. Em seguida, diz o artigo 324 do RISTF, após o recebimento do voto do relator, os demais ministros terão prazo comum de 20 dias para também apresentarem suas manifestações. Se, passado o prazo, não houver manifestação de algum ou alguns ministros, o silêncio será interpretado favoravelmente ao reconhecimento da existência de repercussão geral (artigo 324, §1º, do RISTF).

Isso em regra, havendo exceção na hipótese do relator se manifestar contrariamente ao reconhecimento da repercussão geral, sob fundamento de que a matéria é infraconstitucional, isto é, de que inexiste questão constitucional. Neste caso, o §2º do mencionado artigo 324 determina que o eventual silêncio dos Ministros será entendido como manifestação contrária à existência de repercussão geral (ou seja, favorável à manifestação do relator).

Após a deliberação, o relator providenciará a juntada de todas as manifestações ministeriais, quando se tratar de autos físicos (pois na hipótese de autos informatizados, os respectivos pronunciamentos automaticamente farão parte dos autos). E se reconhecida a repercussão geral, em seguida o relator deverá providenciar o julgamento monocrático do recurso, quando for o caso (artigo 557 do CPC), ou então solicitar data para julgamento colegiado, após vista ao Procurador-Geral da República (artigo 325 do RISTF). Se negada a repercussão geral, apenas “formalizará e subscreverá a decisão de recusa do recurso”.

Além disso, o §1º do artigo 323 do RISTF afasta tal procedimento caso a Corte já tenha se manifestado pela existência de repercussão geral em questão idêntica ou quando desempenhe, de modo eficaz, a sua função de diminuir o excessivo volume de feitos perante o STF” (Gláucia Mara Coelho, Repercussão geral, p. 127).

impugnar decisão contrária a súmula ou a jurisprudência dominante do STF, “casos em que se presume a existência de repercussão geral”.

4.4.1. Questionamentos sobre a deliberação eletrônica

A primeira dúvida se refere à legitimidade da decisão tácita por parte do Supremo. Contrariamente, o artigo 93, inciso IX, da Constituição exige a fundamentação de todas as decisões judiciais.

No entanto, parece que fundamentação sempre haverá. Isso porque o RISTF é expresso ao prever que o relator deverá preparar manifestação para ser encaminhada aos demais Ministros. Manifestação esta que terá os necessários fundamentos para justificativa de seu posicionamento, sejam favoráveis ou contrários ao reconhecimento da repercussão geral.

Ademais, as manifestações tácitas permitidas pela Emenda Regimental 21 são entendidas como favoráveis à repercussão geral, sendo tal solução em conformidade com a presunção de repercussão geral das questões constitucionais prevista pela EC nº 45/2004. Sendo que as manifestações, no sentido da inexistência de repercussão geral, deverão ser fundamentadas e expressas331.

Eduardo Talamini também responde favoravelmente sobre a viabilidade de se impor prazo próprio aos Ministros do Supremo, sob o fundamento de que a presunção de repercussão geral justifica essa exceção (em regra, os prazos para os juízes são impróprios).

A terceira pergunta por ele respondida se refere à constitucionalidade do processamento eletrônico:

ponderando-se os valores contrapostos (razoabilidade e celeridade do procedimento versus plenitude do contraditório, compreendido inclusive como dever de debate do juiz com as partes), a resposta é positiva, desde que se confira plena publicidade a cada passo do processamento eletrônico (...). O fundamental é garantir a publicidade plena do incidente em exame332.

331 “Afigura-se legítimo o sistema adotado pela Emenda Regimental 21. A premissa é de que a Constituição

estabelece o princípio da presença da repercussão geral no recurso extraordinário (CF, art. 102, §3º: ‘somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros’)” (Eduardo Talamini, Novos aspectos

da jurisdição constitucional, p. 54).

Contudo, em seguida conclui que a deliberação eletrônica não pode ser estendida à generalidade dos demais julgamentos colegiados. Apenas a presunção de repercussão geral é que autorizaria tal procedimento mais célere, com a imposição de preclusão temporal aos Ministros do Supremo. De acordo com Talamini, “abolir a deliberação em sessão do colegiado era um imperativo de razoabilidade”, tendo em vista que seria um contrassenso prever procedimento mais complexo e moroso que aquele previsto para o julgamento do próprio recurso extraordinário. Ao se determinar que as questões constitucionais devem passar por prévio exame quanto à sua repercussão geral, a EC pretendeu agilizar o julgamento destes recursos, e não o contrário.

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