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Juízo de admissibilidade: sistema bipartido

1.12. Apontamentos sobre o recurso extraordinário

1.12.2. Juízo de admissibilidade: sistema bipartido

De acordo com o artigo 541 do CPC, reintroduzido no Código pela Lei nº 8.950/94, o recurso extraordinário será interposto em petição separada do recurso especial, perante o

presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petição que conterá a exposição do fato e do direito, a demonstração do cabimento do recurso interposto e as razões do pedido de reforma da decisão recorrida.

Verifica-se, deste modo, que há um fracionamento da competência de admissibilidade do recurso extraordinário (que também ocorre no procedimento do recurso especial), com o objetivo de filtrar os recursos interpostos já na instância de origem, em tentativa de se evitar o acúmulo de recursos nas instâncias superiores.

Porém, tal fracionamento, na realidade, corresponde mais a uma cumulação de competências do que realmente a uma divisão, pois o julgamento de admissibilidade realizado pelo órgão ao quo não tem o condão de vincular o Supremo Tribunal Federal, que realizará novo julgamento de admissibilidade quando os autos em que interposto recurso lá chegarem.

O juízo de admissibilidade perante a instância originária será realizado pelo presidente ou vice-presidente do tribunal ou, se interposto contra decisão de Turma Recursal, pelo presidente do respectivo Colégio Recursal. Sendo que, neste momento, caberá a análise de todos os requisitos de admissibilidade do recurso extraordinário, salvo quanto à existência de repercussão geral da questão constitucional invocada.

Como sintetiza José Carlos Barbosa Moreira, os requisitos genéricos de admissibilidade dos recursos

92 O STF tem admitido recursos extraordinários em situações em que o tribunal a quo não ventilou todas as

questões constitucionais debatidas, a despeito da oposição de embargos de declaração pelas partes, buscando justamente que isso ocorresse. No entanto, a Corte apenas admite tais recursos se as questões suscitadas nos embargos de declaração não forem inéditas, pois caso contrário a omissão terá sido da parte recorrente, e não do acórdão embargado. Neste sentido: “Os segundos ou outros seguintes embargos de declaração não podem procurar tema novo, mas apenas se justificam se, no anterior, não tiver sido suprida a omissão, desfeita a contradição, espancada a dúvida ou afastada a obscuridade, na hipótese de alguma dessas deficiências realmente ter ocorrido” (STF, 2ª Turma, RE 99978 ED-ED-ED-ED / PR, Rel. Ministro Aldir Passarinho, j. 5.5.1987).

podem classificar-se em dois grupos: requisitos intrínsecos (concernentes à própria existência do poder de recorrer) e requisitos extrínsecos (relativos ao modo de exercê-lo). Alinham-se no primeiro grupo: o cabimento, a legitimação para recorrer, o interesse em recorrer e a inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer. O segundo grupo compreende: a tempestividade, a regularidade formal e o preparo93.

Entretanto, não se podendo olvidar que a admissibilidade do recurso extraordinário envolve também requisitos específicos, como o prequestionamento e a arguição de repercussão geral das questões constitucionais, conclui-se que juízo de admissibilidade do recurso extraordinário envolve a necessidade de se verificar o:

a) preenchimento, como em todos os recursos, dos pressupostos genéricos, objetivos e subjetivos; b) atendimento, no âmbito do interesse em recorrer, da exigência de cuidar-se da ‘causa decidida em única ou última instância’; c) implemento das especificações de base constitucional (art. 102, III), matéria que se poderia aglutinar sob a égide do ‘cabimento’, propriamente dito94.

Uma questão interessante se refere à possibilidade do presidente do órgão a quo, quando do juízo de admissibilidade, adentrar no mérito do recurso extraordinário e examinar se houve efetiva violação da Constituição pela decisão objeto do recurso. José Carlos Barbosa Moreira e Rodolfo de Camargo Mancuso, dentre outros doutrinadores, apontam que eventual análise do mérito nessa fase preliminar de admissibilidade corresponderia à usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal95.

Por outro lado, existem alguns precedentes do Superior Tribunal Justiça autorizando que o presidente do tribunal a quo verifique, no juízo de admissibilidade do recurso especial, se houve negativa de vigência à legislação federal, pelo acórdão recorrido, “na medida em que o exame de sua admissibilidade, pela alínea a, em face dos seus pressupostos constitucionais, envolve o próprio mérito da controvérsia”96.

A jurisprudência do Supremo, todavia, firmou-se no sentido de que ao presidente do tribunal a quo compete verificar se o recorrente alegou adequadamente a contrariedade da decisão recorrido aos dispositivos constitucionais invocados, assim como se foram tais dispositivos corretamente prequestionados (na realidade, como visto, ventilados pela decisão objeto da irresignação):

93 Comentários ao código de Processo Civil, v. V, p. 263.

94 Rodolfo de Camargo Mancuso, Recurso extraordinário e especial, p. 214.

95 Barbosa Moreira, Comentários, v. V, p. 608. Rodolfo de Camargo Mancuso, Recurso extraordinário e recurso especial, p. 161.

96 STJ, Ag. Reg. no REsp 713020/RS, Primeira Turma, Rel. Min. Franciso Falcão, j. 14.6.2005, DJ

distinção necessária entre o juízo de admissibilidade do RE, ‘a’ - para o qual é suficiente que o recorrente alegue adequadamente a contrariedade pelo acórdão recorrido de dispositivos da Constituição nele prequestionados - e o juízo de mérito, que envolve a verificação da compatibilidade ou não entre a decisão recorrida e a Constituição, ainda que sob prisma diverso daquele em que se hajam baseado o Tribunal a quo e o recurso extraordinário97.

No tocante à repercussão geral, em regra, caberá ao presidente do tribunal a quo tão-somente verificar se houve arguição formal, em preliminar do recurso extraordinário (artigo 543, §2º, do CPC), não lhe competindo verificar se de fato há ou não repercussão geral das questões invocadas, hipótese em que ingressaria em competência exclusiva do Supremo. Porém, como será melhor abordado em capítulo próprio, caberá ao presidente do tribunal a quo negar seguimento ao recurso extraordinário quando o STF já houver decidido pela ausência de repercussão geral das questões ali discutidas.

Da decisão do presidente que não admitir o recurso extraordinário, caberá agravo, no prazo de dez dias, para o Supremo Tribunal Federal, conforme previsto no artigo 544 do CPC. Trata-se do denominado agravo de admissão que, após a Lei nº 12.322/2010, passou a ser interposto nos próprios autos (no regime anterior cabia agravo de instrumento).

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